Irresistível

Prólogo

De pé no deque espaçoso, que se debru­çava sobre as águas do Golfo do México, ele observava a paisagem deslumbrante sob o sol forte de agosto. A tarde estava quente e abafada, a praia de areias muito brancas se estendendo a perder de vista. Lembrava-se de brincar ali, construindo castelos de areia com a avó, ou sendo carregado de um lado para o outro nos ombros do avô.

Mas será que se lembrava mesmo?

— Eu me lembro — ele murmurou angustiado. — Eu me lembro.

Porém não se recordava o bastante. Apenas frag­mentos de doze anos atrás, quando não passava de um garotinho de três, ou quatro anos. Não se recordava de sua tia Amy. Ou daquela a quem chamavam Lauren, cuja foto enfeitava o piano na sala de estar ricamente decorada de Paraíso do Mar, a casa de seus avós. Mary Anne e John Paul Hardaway o estavam observando agora, de uma das janelas do andar superior. Podia sentir os olhos de ambos às suas costas, curiosos e descon­fiados. Sem dúvida estariam se perguntando se ele era, realmente, quem se dizia ser. Também não tar­dariam a telefonar para sua mãe, avisando-a de que o filho perdido aparecera na soleira da porta. Ressur­gido dos mortos.

Não conseguia se lembrar de como era sua mãe. Ape­nas ecos distantes de uma voz suave e amorosa e de braços firmes que o protegiam dos monstros sob sua cama, que teimavam em aparecer sempre que a luz do quarto era apagada. Monstros imaginários, não aquele de carne e osso que havia controlado sua vida nos últimos doze anos. E seu pai? Apenas lembranças nebulosas da fotografia de um homem, vestindo farda branca.

Maggie e Noah Trevor.

Todas as outras lembranças lhe tinham sido arran­cadas. Até mesmo seu nome. Chamava-se Erik agora. Temia se dar a conhecer de outra forma. Mas, bem no fundo do coração, nunca havia se esquecido de quem verdadeiramente era. Derek Noah Trevor. E, certa vez, há muito tempo, vivera ali, em Paraíso do Mar, Hurricane Beach, Flórida.