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1203 Words
Devagar em seu carro, Cassandra Lynn Addams passava em frente ao luxuoso portão dos estúdios Phoenix, em Hollywood. O lugar sempre teve uma parte muito importante em sua vida. Fora lá que os pais, a atriz Sabrina Lynn e o produtor Christopher Addams, haviam encontrado fama, fortuna e o amor. Até então, quase doze anos depois da morte dos pais em um acidente de avião, eles ainda continuavam a ser lembrados e reconhecidos como grandes astros das últimas décadas. Cassie havia passado muito tempo nos estúdios quando criança. Brincava no playground que fora especialmente montado para ela e, sem perceber, absorvia toda a magia na produção dos filmes ao admirar o trabalho dos pais. Porém, durante a adolescência tivera poucas oportunidades de visitar os estúdios. Só há dois anos, quando completara vinte e dois anos de idade, tivera a oportunidade de voltar ali, desta vez para trabalhar. Conseguira um emprego como assistente de produção na produtora cinematográfica de Brand Lowe, o jovem diretor que prestava bons e lucrativos serviços para a Phoenix. A produtora estava muito bem localizada em um terreno arborizado, e providencialmente ao lado dos estúdios. Cassie gostava muito do lugar, e só lamentava a dificuldade que encontrava todos os dias para estacionar ali. Nesse dia, quando finalmente encontrou uma vaga, estacionou o veículo e começou a dirigir-se até seu local de trabalho. Enquanto andava, lembrava-se de como tudo acontecera. Pouco tempo atrás havia sido promovida como assistente pessoal de Brand Lowe. A promoção a deixara exultante, pois lhe proporcionava a chance de conhecer todo o processo criativo dos filmes. Sabia também que o novo cargo implicava em tarefas pouco agradáveis, desde levar as roupas do chefe à lavanderia a contratar uma empresa especializada para cuidar da manutenção de seu caríssimo carro esporte italiano. Enquanto andava olhava seu reflexo nos espelhos dos inúmeros carros parados ali. A imagem que via não lhe agradava muito. Os cabelos cor de fogo caíam-lhe com insistência no rosto e ela os afastava, tentando alisar um pouco as mechas revoltas. Talvez devesse dar uma passada rápida em um cabeleireiro. No entanto, a idéia não a atraía muito. Ainda podia se lembrar das intermináveis horas que passara ao lado da mãe nos lotados salões de beleza. Uma vez, Cassie se atrevera a esperar horas em um salão. No final, o resultado não lhe agradou muito. Depois de passar pelo cabeleireiro, pela manicura e pelo maquiador, sua aparência ganhara um ar um tanto artificial, e ela sempre optara por um beleza natural, sem truques. Balançou a cabeça, tentando afastar esses pensamentos. Uma lufada de vento frio a fez arrepiar-se. A temperatura estava um pouco abaixo do que o normal no final de maio em Los Angeles e por sorte usava um leve suéter azul sobre a camisa de seda branca, que fazia um descontraído conjunto com a calça jeans. Ao chegar ao prédio em que trabalhava, ouviu uma voz familiar chamando-a. — Cassie! Ela se virou lentamente e viu Leonard, o produtor executivo da Lowe Empreendimentos. Com aproximadamente trinta anos, Lee, como ela o chamava, era um homem muitíssimo atraente. Os cabelos encaracolados davam-lhe um charme todo especial. — Oi, Lee — Cassie cumprimentou com um sorriso. — Temi não ter a chance de me despedir antes que fosse embora. Tive de resolver uma série de problemas antes de vir ao trabalho. — Lowe irá nos separar — Lee interrompeu, a voz denotando um tom de conspiração. — Sei disso — ela concordou. — Ele me pediu para fazer seu serviço enquanto estiver no Texas. — Mas o verdadeiro motivo da nossa separação não é profissional — ele sussurrou. — É pessoal. — Está imaginando coisas — Cassie falou, dando uma risada. Ela apreciava a companhia do colega, mas não havia entre eles nada além de amizade. — Imaginando? — Lee repetiu. — Ele arquitetou minha partida desde que elogiei suas pernas na primeira vez em que a vi usando saia. Cassie ainda podia se lembrar de como havia corado, embaraçada com o comentário. E o quanto a surpreendera a reação de Lowe, que desaprovara abertamente o comentário. O chefe olhara-a de um modo estranho, e Cassie não conseguira decifrar que emoções passavam por aqueles belos olhos azuis de Lowe. Lembrava-se apenas de ter puxado a saia para baixo dos joelhos, envergonhada. — Lembra-se? — Lee perguntou. — Infelizmente, sim — ela respondeu, dando de ombros e mudando rapidamente de assunto. — O que irá fazer no Texas? — Não pergunte a mim. Não sei o que Brand está preparando — ele respondeu. — Não consigo entender por que ele está filmando Indomável aqui, em Los Angeles. Indomável era a última produção de Brand e um projeto que significava muito para ela. — Está sendo filmado aqui porque assim é preciso — falou — Poderá aproveitar o Texas para fazer outras filmagens, mas não Indomável. Pelo visto está passando muito tempo ao lado de Brand ele comentou. — Desculpe, não entendi. — Bem, na última vez que estive com Brand ele usou quase as mesmas palavras que você. Ora, nós nunca discutimos este assunto, mas... Mas vocês pensam da mesma forma — ele concluiu. — É, já tinha notado! Agora tenho de ir, telefonarei amanhã, está bem. — Claro. Tenha uma boa viagem. Tentarei sobreviver — ele brincou, ao se afastar. Mas, no momento em que abria a porta, virou-se novamente. — Ah, só mais uma coisa. — O que é? — Tente não tomar muito o tempo de nosso chefe. Talvez seja por isso que Lowe não escolheu os protagonistas do filme ainda. — Ele sabe o que faz, Lee. — É verdade — concordou. — Mas nós sabemos que ele ficará insuportável quando decidir o protagonista e tentar acertar a participação dele no filme. Lee saiu e Cassie entrou no luxuoso conjunto de escritórios de Lowe. Abria a janela quando alguém exclamou: — Cassie! A mulher de meia-idade estava sentada atrás da pequena mesa na recepção do escritório. Chamava-se Noreen, e trabalhava para Brand havia mais de dez anos. Quando Lowe viera produzir o primeiro filme para a televisão, ele a trouxera consigo. A secretária era muito eficiente e decidida. — Oi, Noreen — Cassie respondeu e virou-se para cumprimentar também a recepcionista: — Bom dia, Tina. — Oi. Já viu o... — Tina ia dizendo, afobada. — Ele quer vê-la em seu escritório, Cassie — Noreen interrompeu a moça, sem nem sequer precisar dizer de quem se tratava. — Agora? — Já. — Como está o humor dele hoje? — Cassie perguntou, com um sorriso maroto. — Acho melhor se prevenir. Que tal uma armadura para se proteger? — Será que fiz algo errado? — Não sei, mas, se fez, com certeza logo ficará sabendo. — Brand não estava bem-humorado quando o encontrei esta manhã — Tina comentou. — É, Lee já me adiantou alguma coisa. Encontrei-o há pouco. Ele acha que o poderoso chefe está preocupado com Indomável. — Indomável? — Noreen mostrou-se surpresa. — Mas não há motivo para se preocupar com este filme. Cassie concordou com um gesto, e então caminhou rumo à sala de Brand. — Lá vou eu — anunciou. — Avisem meu tio se eu não voltar — brincou.
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