Capítulo 1

1413 Words
Ir para a faculdade sempre foi um sonho, e esse dia chegou; passei na universidade, vou cursar odontologia. — Acho perca de tempo fazer faculdade, você deveria arrumar um emprego e um marido. Já tem 18 anos, está ficando velha — diz. Ela não entende que quero estudar e andar com minhas próprias pernas, conquistar minhas coisas por mérito próprio. Para ela, um homem rico resolve todos os problemas, não penso assim, entretanto. — Eu estudei muito para isso, mãe, não vou desistir agora — sou firme para que ela entenda de uma vez por todas.  Minha mãe tem 38 anos e ainda é muito bonita; a pele branca, cabelos loiros, olhos verdes e um corpo de dar inveja a muitas meninas de 20 anos. Contudo, sendo sua filha, não herdei suas características, pois sou magra, meus cabelos são cor de cobre e olhos castanhos — inegavelmente semelhante ao meu pai. Já minha irmã mais velha, Amanda, puxou à ela, tendo um corpo lindo, s***s fartos, olhos verdes e cabelos loiros. Aos olhos da minha mãe, ela é perfeita para conquistar um homem rico, sonho esse que ela tanto almeja. Passar para a faculdade não foi fácil. Estudei muito, tive que enfrentar muitos desafios e obstáculos pelo caminho até conquistar uma bolsa de estudos completa e conseguir uma vaga no alojamento da universidade, uma vez que pagar um lugar seria impossível, além do fato de não ter como contar com a ajuda de ninguém.  Saio de casa e vou para o antiquário do seu Augusto, lugar onde trabalho desde os quatorze anos. No passado, quando estive fora vivendo com minha tia Beth, ele não contratou ninguém para que preenchesse minha vaga, disse que me esperaria voltar, e aqui estou novamente. Ajudo ele com a limpeza e na loja também, sou seu braço direito e o esquerdo, como o mesmo gosta de dizer. Seu Augusto é um senhor de 70 anos, com cabelos grisalhos e óculos redondos. Ele sempre me tratou como uma filha, até melhor  que  minha própria família. Ajudou-me muito nos estudos, também, e quando precisava de orientação ele sempre estava lá me apoiando, mesmo quando eu estava longe ele me ligava para saber se estava bem ou precisando de alguma coisa.  Passo pela porta e o soninho anuncia minha chegada. Seu Augusto, que está atrás do balcão, logo ergue o olhar para mim.  — Oi, minha filha, chegou cedo hoje — diz ao ajeitar os óculos  — Só cansei de ficar em casa.  — O que te preocupa? Você parece cansada — ele pergunta. Chego a desconfiar que minha cara está péssima.  — Só estou ansiosa com a chegada da universidade — explico a ele, com meias verdades. Minha vontade é desabafar os problemas, mas sinto vergonha de o fazer.  — Vai dar tudo certo, menina. — Ele toca meu ombro em um gesto de carinho.  — Obrigada. O salário que ganho aqui fica praticamente todo para as despesas da casa, já que minha mãe não trabalha e Amanda segue o exemplo dela. Não  que não tenha dinheiro — ela tem —, mas nunca para o essencial. O dinheiro dela sempre é voltado para sapatos, roupas, cabelo, maquiagem, festas e essas coisas que ela considera prioridade. Amanda nunca trabalhou, sempre que quer algo mamãe dá a ela, como forma de investimento no futuro.  Volto para casa no fim do dia e assim que chego no portão vejo um carro de luxo muito bonito, todo preto e com quatro portas parado ali. Quem poderia ser? Peguei minha chave na bolsa, porém o portão está aberto. Parando em frente a porta ouço a voz animada da minha mãe junto com uma voz masculina.  Abro a porta devagar.  — Filha, você chegou! — saudou-me com euforia. — Vem, deixa eu te apresentar. Esse é o Eduardo, um amigo da mamãe. — Sua mão se fecha em meu braço ao compasso em que ela me arrasta para dentro.  A sala está impecável de tão arrumada, uma mesa muito bem feita com frios, vinhos e frutas. Um homem que aparenta ter uns 50 anos usa um terno cinza de marca e sob medida. Aproximando-se, ele estende a mão para mim e, quando aceito, ele leva minha mão aos lábios e a beija com delicadeza.  — Muito prazer. Você deve ser a Briana, certo?— pergunta, olhando-me dos pés a cabeça  — Sim. — Afasto-me dele rapidamente.  Minha mãe está maravilhosa em um vestido vermelho que vai até o meio das coxas e um salto preto enorme. Amanda surge na porta com um vestido preto colado e muito curto, com outro homem ao seu lado, este mais jovem. Ele tem cabelos castanhos bem cortados em um moicano que deixam ele com uma aparência perigosa, o que mais me chama atenção são olhos de verde cristalino hipnotizante. Ele é muito alto, está usando uma calça jeans clara com camisa polo escura. — Esse com a Amandinha é o Elijah, filho do Eduardo. — O olhar dele encontra o meu, o mesmo me observa de forma fixa como se eu fosse uma presa prestes a ser abatida.  Ele se aproxima de mim, estendo a mão para ele, com educação, mas o ato é ignorado. Segurando minha mão e me puxando para perto, beija meu rosto, e o beijo pega o lado da minha boca. Meu corpo inteiro se arrepia com a proximidade e ousadia.  — Prazer, Briana — ele me saúda com uma voz rouca.  — Se me derem licença, tenho umas coisas pra fazer — falo e saio dali o mais rápido possível.  Entro no quarto e tranco a porta.  Minha mãe ultrapassou todos os limites do bom senso ao trazer um dos seus amantes para casa. Amanda é igual a ela, pelo visto minha mãe está conseguindo o que sempre sonhou; esse Eduardo parece ter dinheiro e, pela pose de playboy do filho dele, não é pouco.  Do quarto, consigo ouvir as risadas deles até pegar no sono.  “Estou correndo, correndo muito. Atrás de mim está um homem com uma arma na mão, ele usa um terno preto, não consigo ver seu rosto. O desconhecido chega cada vez mais perto de mim, e tento ir mais rápido, mas não consigo. Também tento gritar, pedir ajuda, mas não obtenho êxito. O grito fica preso na minha garganta quando viro em um beco e esbarro em um homem alto com um capuz preto que cobre seu rosto. O sujeito segura meus braços com força e olho para cima, entretanto não consigo ver seu rosto — a sombra do capuz não permite.  — Você está segura agora, Briana — ele diz com uma voz rouca.”  Acordo com o despertador tocando, estou um pouco tonta.  Nossa, que sonho louco.  Meu corpo está tremendo, o sonho foi muito real. Levanto e tomo um banho, arrumando-me para sair. A sala está uma completa bagunça e não há ninguém em casa, provavelmente estenderam a festa para outro lugar, o que foi, sem dúvidas, melhor para mim. Tomo meu café e saio, já planejando chegar bem tarde hoje, pois me recuso a ajudar a arrumar essa bagunça.  Passo pelo portão e sigo para a loja do seu Augusto, chegando com meia hora de antecedência.  — Bom dia seu, Augusto! — desejo-o, vendo que está atrás do balcão lendo o jornal com uma caneca de café na mão. Ele levanta os olhos para mim.  — Bom dia, minha filha. Animada para seu último dia aqui? — indaga, pegando uma caneca de café para mim.  — Vou sentir saudades do senhor — confesso e lhe dou um abraço. Hoje é meu último dia de trabalho aqui. E o seu Augusto me ajudou tanto por todos esses anos, que me despedir dele não é fácil, irei levar ele no coração como meu avô.  Chego em casa e tudo está da mesma forma, a sala completamente bagunçada e nenhum sinal da minha mãe ou Amanda. Aquela é minha última noite ali, elas sabem disso e não fazem questão de estar presentes para se despedir, e não estou surpresa ou frustrada com isso, só o que eu preciso fazer é seguir em frente com minha vida e esquecer tudo isso aqui.  Arrumo minha mochila, não tenho muito o que levar. Poucas peças de roupas, alguns livros, não há nenhuma fotografia ou algo do tipo que seja importante suficiente para ser levado junto.  As boas lembranças que tenho aqui são tão poucas que simplesmente cabem perfeitamente na memória.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD