Capítulo um

4384 Words
— O que você quer dizer com "não"? Vamos lá, Sarah — persuadia Liam, esticando seu braço no encos­to do sofá com motivos florais. — Preciso de você. Sarah Winston manteve com dificuldade os olhos no livro que estava lendo, encolhendo rapidamente as pernas sob o corpo e mergulhando mais fundo na pol­trona macia. — Estou certa de que não precisa. Não realmente. Devem existir muitos outros que podem te ajudar. — Estou pedindo a você. — Desculpe, não posso fazer isso. — Por que não pode? Agora você não está trabalhando. — Não é esta a questão, mesmo que não esteja, não é? — respondeu, arriscando um olhar para a sorridente e autoconfíante face de Liam Montgomery. A segurança na voz dele já era irritante, mas sua expressão a deixava realmente zangada. Claramente ele sentia que precisava apenas transpirar um pouco de seu bem conhecido charme e ela despencaria. — Não quero fazer isso. — Por quê? — Porque detesto isso. Você está sendo péssimo. E eu estou ficando aborrecida. Se quisesse ser sua secre­tária, teria de estar pronta para esse trabalho — fechou o livro e o jogou para o lado. — Na verdade, não posso pensar em coisa pior. Estou irritada com Seb por ter sugerido isso. — Ele estava tentando ajudar. — Ajudar a quem exatamente? — perguntou, virando-se para encará-lo com todo seu metro e sessenta de indignação. Isto era tão típico! — Sei que vocês dois são amigos há muito tempo, mas sou a irmã dele. Você sabia que ele me colocaria nisso para te ajudar. Logo que disse isso, percebeu que não fazia sen­tido. Seb não poderia ver nada de errado em ofere­cer a ajuda da irmã ao melhor amigo, por mais in­convenientes que isso lhe trouxesse. Ela o amava um bocado, mas ele nunca teve qualquer considera­ção com os sentimentos dela nem se mostrou pronto para fazer qualquer dos sacrifícios que ela faria por ele. Jamais tinha ocorrido a Seb que precisava avisar a irmã que ele iria passar o fim de semana na casa dela. Se provocado, poderia sem dúvida dizer que tinha todo o direito de estar ali, desde que se tornou dono da terça parte do chalé de sua mãe em Henley-on-Thames. Mas teria sido educado se tivesse tido a gentileza de dar um telefonema antes. Afinal o chalé do século XVII que eles herdaram também era sua casa. Os longos dedos de Liam traçavam círculos na mesa de mogno ao seu lado. Estava completamente despreo­cupado com a explosão dela. — É apenas por duas semanas. Pense no dinheiro. Pagarei bem. — Não preciso dele. — Você deve ser a primeira estudante a dizer isso. — Não sou mais estudante. Sou bacharel em Artes, com honras. — Atualmente desempregada. Ela lhe disparou um olhar de desprezo. — Sem ambições de ser uma secretária, e muito menos a sua. — Sarah, por favor. Realmente preciso de sua ajuda — disse com um sorriso franco, os olhos brilhando com uma reluzente centelha de puro s*x appeal. O estômago dela revirava após pensar se existiria alguém capaz de recusar alguma coisa a Liam Montgomery. A mãe dele certamente não seria. Era o menino de ouro, a perfeição em pessoa. Sarah poderia lhe dar uma nova visão sobre o assun­to, contando a ela sobre as numerosas ex-namoradas que o filho tinha dispensado sem a menor piedade, ao primeiro sinal de aborrecimento. Com um metro e no­venta e seis de altura, uma musculatura de esportista nato e um carisma que fazia todos o seguirem, Liam fora abençoado com mais qualidades que seria justo ter um homem. No entanto tinha sérios desvios de personalidade. Desvios encorajados, sem dúvida, por fazer tudo do jeito que quis praticamente desde que nasceu. Era muito difícil lembrar de quando alguém confrontou o charme de Liam — particularmente aquele charme que ele re­servava a mulheres com formas esculpidas e pernas que chegam aos ombros. Na verdade, toda a situação parecia um bocado en­graçada quanto mais ela pensava no assunto. Liam de­veria estar realmente desesperado se despendia tanto tempo com a irmãzinha de Seb. Não fazia nada assim desde que quebrou a janela do reverendo Adderton com uma bola de críquete e a convenceu de não contar. Os lábios dela travaram. — Mais. — Mais o quê? — perguntou, confuso. — Não pare ainda. Estou gostando de ver você im­plorar. — Se é o que você quer, é o que terá — ele sorriu lentamente, aprofundando as covinhas nas bochechas. — Querida Sarah... — Não exagere. Está me dando vontade de vomitar. Liam recostou-se na cadeira, certo do sucesso. — Logo que Seb sugeriu, sabia que você seria per­feita. E antes que você fique brava novamente, saiba que ele não estava pensando na oportunidade de traba­lho. Era algo mais... era para me proteger. — Do quê? — como se ela precisasse saber. Os pro­blemas de Liam sempre envolviam mulheres e este não deveria ser exceção. — Se você quer minha ajuda tem de me contar o que realmente está acontecendo. Va­mos logo, fale a verdade. — A verdade? Ela cruzou os braços. — Se você pode lidar com isso. Olhe, se você só pre­cisa de uma secretária pode ligar para uma agência ou pedir alguém emprestado de outro departamento. Não sou uma completa i****a. Ele sorriu. — Nunca pensei que fosse. A verdade é que... a in­formação é sigilosa. — Surpreenda-me. — Descobri alguma coisa na agência que não sei se é ou não... fofoca — Liam parou novamente de falar, procurando as palavras. — Sobre? — sugeriu, olhando bem de perto para o rosto de Liam. Normalmente ele era o típico "Sr. Certinho". Sempre no controle. Mas desta vez alguma coi­sa realmente o incomodava. — Espero evitar que qualquer um saiba... — ele foi baixando a voz novamente, com os olhos apertados mi­rando além dela outros chalés nas redondezas. — Sobre? — repetiu com firmeza. — Sobre... uma mulher. — Ah. Ele disparou um olhar de irritação. — Não sei o que você quer dizer com esse 'Ah'. Não existe 'Ah' sobre isso. Isto nunca aconteceu comigo antes e estou atrás de uma maneira de conter... o pro­blema. — Um problema com uma mulher? — Sarah encos­tou-se na cadeira e graciosamente cruzou as pernas. Estava ficando melhor a cada momento. Ela gostava de Liam. Sempre gostou dele. Era divertidíssimo. Um ótima conversa. Mas só tratava as mulheres com atenção para vê-las cair em sua teia. Ela balançou a cabeça em desaprovação. — Que surpresa. Continue. Quando Seb lhe deu a idéia de procurar sua irmã, ele convenientemente se esqueceu do quanto Sarah era irritante. Ela sabia digitar, era leal e era quase da família. Eram todas as credenciais de que ele necessitava, mas estava completamente irritado por estarem rindo dele. A situação estava se tornando tudo, menos engra­çada. Por outro lado, Sarah ainda era a melhor opção. Na verdade, a única opção. Respirou profundamente. — Esta... mulher, telefonemas, mensagens... cartas e... presentes no escritório. Ela é c... — Casada! Eu podia adivinhar. — Sarah o interrom­peu levantando-se rapidamente. — Não farei isso! Você pode ajeitar sozinho sua própria confusão. Não vou fi­car sentada em seu escritório mentindo por você. — Eu... — Você deveria saber que eu não poderia fazer nada para ajudá-lo se você destruiu algum casamento. De­pois de tudo o que vi... — Você pode ficar quieta e me ouvir? Já é difícil o bastante sem você me interromper todo o tempo. Sen­te-se e deixe-me explicar. — Vá em frente, então — disse melindrada, sentan­do-se em frente a ele. — É por isso que preciso de sua ajuda. Ou não farei isso. Ela o encarou com uma ruga entre as sobrancelhas. — Não fazer o quê? Não compreendo. Por... — Mulher casada nunca foi meu negócio, Sarah. E mesmo se fosse não haveria a menor chance de ser se­duzido por esta. — Então qual é o problema? Os olhos azuis de Liam encontraram os castanhos de Sarah. _ — Fazer Sonya Laithwaite aceitar o fato — disse francamente, observando bem de perto a reação dela. Os lábios de Sarah se abriram e fecharam um par de vezes antes dela conseguir dizer: — Sonya Laithwaite? Liam sentou-se. Finalmente conseguiu a atenção dela. Diabos, isto era muito mais embaraçoso que poderia imaginar. Odiava dizer até o nome da mulher. Odiava imaginar o que poderia acontecer com Richard se descobrisse o que sua mulher era capaz e com quem. Ele duvidava que sua amizade com aquele homem pu­desse sobreviver. E aquilo era um problema para ele. Richard era mui­to mais que um patrão. Esteve presente em todas as difíceis reviravoltas da vida de Liam, ajudando a guiar o futuro, e quando ele chegou à maturidade se torna­ram amigos. Nada poderia ser tão bem planejado para ferir Richard do que aquilo que Sonya estava fazendo. Liam via a boca de Sarah se abrir e fechar mais al­gumas vezes antes de lhe dizer secamente: — Pare de imitar um peixe. É sério, Sarah. Realmen­te preciso de sua ajuda. Isso a trouxe de volta. — Sonya Laithwaite? A mulher de meu padrinho? Liam assentiu. — Mas eles se casaram em maio passado. — E ela já está entediada e procurando diversão — disse, levantando-se e caminhando para a janela. Po­dia sentir os olhos dela em suas costas. Julgando-o. — Honestamente, Sarah — disse virando-se rapida­mente. — Que Deus seja minha testemunha de que não fiz coisa alguma para encorajá-la. Sem qualquer dificuldade, Sarah conjurou a imagem de Sonya em sua mente. No dia de seu próprio casa­mento, ela estava sentada com um vestido bufante e um excesso de diamantes, na primeira e única vez que a tinha visto. Sonya tinha deixado uma marcante lem­brança. Era uma ruiva espalhafatosa vestida de rosa bebê com um b***o que poderia arrancar seu olho fora, se ela se virasse de repente e você não tivesse tempo de se esquivar. Não era o tipo de mulher que precisasse ser encorajada para fazer qualquer coisa, a julgar pelo jei­to que dançava com Seb. Mesmo assim devia ter acon­tecido alguma coisa. Alguma coisa que Liam fez para convencê-la de que estava interessado. Não era preciso pensar demais naquilo. Ele devia demais a Richard Laithwaite. Quando o pai de Liam morreu, tinha sido Richard, um velho amigo da famí­lia, quem se aproximou daquele confuso menino de 12 anos e o tirou do vazio. Como Liam poderia pensar em retribuí-lo daquela maneira? — Você não pode ter um caso com Sonya. Você não pode fazer isso com Richard. Ele acreditou em você, ajudou você desde o início. Não acredito que você descesse tão baixo. — Exatamente. É isto que estou dizendo. Não posso. Mesmo se quisesse, não poderia, disse com os olhos duros e determinados encontrando os dela. — Você não quer, quer? — Não. A resposta fora inequívoca, mas ela ainda o olhava com um pouco de dúvida. Homens investiam em Sonya, apesar de tudo, e Liam era facilmente mais por um par de pernas que a maioria deles. — Você não está nem um pouco tentado? — Claro que não. Ela é a mulher de Richard. Acho que ele tem sido um completo i****a por se casar com uma mulher 27 anos mais jovem que ele — particularmente uma como Sonya. Também acredito que ela vá encontrar alguém que aceitará sua oferta sem demora. Mas estou igualmente certo que não será eu. Você deve ter uma péssima opinião a meu respeito para pensar que eu poderia tratá-lo dessa maneira — disse no final, subitamente tomado de ira. Sarah permaneceu imóvel. — Você já pensou em dizer a ela que não está interessado? — Ela acha que estou sendo nobre. — Então ela não conhece muito bem você! — disse quase perdendo o controle. — Pare, Sarah. Não é engraçado. Ela está convencida de que estou me sentindo culpado por Richard. A única coisa que pode me impedir de revelar tudo é o medo do que as pessoas vão pensar. — Ah, é só dizer a ela que você não quer se envolver com uma mulher casada. Diga a ela que é muito complicado se envolver com a mulher do chefe. Se fosse tão simples. Liam pensou nas numerosas conversas que teve com Sonya e quanto desejou contá-las a Sarah. Ele se virou para ela. — Não é tão fácil. Se falo com ela, ela pensa que a estou incentivando. Toda vez que tentei foi um desas­tre. Ela não desiste. Sarah fechou a cara no momento que percebeu a mudança no tom de voz de Liam, e a vontade de rir evaporou-se. — Você está tentando me dizer que ela está te ameaçando? — Não estou certo do que você quer dizer com ameaçar — respondeu. — Não creio que ela seja perigosa, mas estou tentando dizer que ela está tornando a minha vida uma desgraça. Minha secretária tem sido fantástica me ajudando. Quando sabemos que Sonya está no prédio, Bárbara trabalha até mais tarde só para descermos juntos. Se tenho muito trabalho, ela traz sanduíches para comermos juntos em sua mesa. Mas quando ela tem de sair, fico vulnerável. — A empresa não poderia empregar Bárbara em tempo integral? — Somente se eu explicasse o que está acontecendo. Sonya é a mulher do diretor executivo, como você sabe. Ela está no prédio o tempo todo. Que desculpa poderia dar para não querer ficar sozinho ao lado dela? — Há quanto tempo isto está acontecendo? — Há uns dois meses. Três talvez. Não penso muito sobre isso. Nada acontece durante algum tempo e en­tão há dois incidentes no mesmo dia. Ela tem sido muito... explícita. — Posso imaginar — a voz de Sarah estava seca. — Fale mais. Deve haver um detonador, algo que fez com que isso se tornasse mais sério. Ele pensou naquilo por alguns momentos, relembrando as ocasiões em que Sonya estava na empresa e pensando no momento no qual passou a persegui-lo com a tenacidade de um terrier. Mas não existia nada. Nada de concreto ao menos. Suas suspeitas eram baseadas em conjecturas quase in­tangíveis. — Não consigo me lembrar de um único incidente que pudesse explicar o que está acontecendo. Sarah já estava de mau humor. Richard Laithwaite era um homem adorável. Ele fez parte da infância de Sarah desde quando ela podia se lembrar, uma fonte inesgotável de sorvete e o melhor narrador do Ursinho Puff que conhecia. Mas casar com ele? Não! Era algo que sequer poderia imaginar. Não havia dúvida do porquê Sonya havia casado com ele — dinheiro. Anos e anos preocupado exclusi­vamente em adquirir mais posses fizeram de Richard fabulosamente próspero. Por que ele tinha decidido re­pentinamente abandonar a vida de solteiro era mais um mistério. E agora Sonya estava entediada. Tinha um estilista, um lindo carro, uma mansão elisabetana em Oxfordshire e ainda não era o bastante. E então surgiu Liam. Sarah tinha de admitir que era uma opção tentadora. Jovem e bonito, com incríveis olhos de um azul profundo e um toque de malícia. s**o puro e quase irresistível. Para ser imune a Liam, você tinha de conhecê-lo muito bem. Pobre Richard. Sarah sentia um aperto no coração ao imaginar a dor que Richard sentiria ao descobrir o quanto Sonya desejava Liam. Ele amava aquele rapaz como o filho que nunca teve. Isto seria a traição definitiva. — O que você está pensando em fazer? — perguntou calmamente. — Esperar. Só por um tempo. Preciso manter Richard seguro contra as fofocas do escritório e é por isso que preciso de você — Liam deu um meio sorriso. — Sonya acredita que Bárbara é minha "rotweiller" e está convencida que estou inibido por minha antagônica secretária. — E você acha que serei um bom cão de guarda? Muito obrigado, eu acho. Liam abriu um grande sorriso, quando deu um pe­queno toque no queixo de Sarah, escondido entre as sardas e os cabelos esvoaçantes que fugiam do r**o de cavalo. — Penso que você tem o potencial de um filhote de rotweiller. O mais importante, porém, é que acredito que você não vá dizer nada a ninguém. — Hesitou antes de acrescentar. — E se estou sendo completamente honesto agora, devo dizer que não é só com os sentimentos de Richard que estou preocupado. — O que você quer dizer com isso? — Acredito que Sonya possa ser vingativa. Terei de ser duro no fim de tudo e, se estiver sozinho com ela, existe uma possibilidade das pessoas acreditarem no que ela disser a respeito. Mesmo se não acreditarem completamente que contribuí para que isso acontecesse. Esse é um risco que não quero correr. E até que Richard esteja aposentado, prefiro agir de uma maneira mais delicada. Não quero vê-lo ferido nem quero minha reputação destruída por uma coisa tão desastrosa. — Vejo que você precisa de ajuda. Mas não creio que seja uma boa idéia. Não sou uma secretária treina­da. Liam aproveitou a situação de fraqueza e avançou. — São apenas duas semanas. Ela hesitou. — Não é que não queira fazer, Liam. É... — era difí­cil pôr em palavras exatamente quais eram as objeções de Sarah. A vida sempre foi fácil para Liam. Estudos, mulhe­res, negócios, tudo o que ele queria sempre caía em suas mãos como se algum deus benevolente estivesse sorrindo para ele. — Só duas semanas — sussurrou, encarando o rosto dela bem de perto. — Ao menos você vai ficar por den­tro de tudo enquanto ninguém mais sabe de nada. — De onde você arrumou a idéia que devo ser grata por isso? Só pode ter sido Seb. Isso explica porque tudo foi deixado pra última hora. — Ele só disse coisas que eram boas para você. — E como poderia saber? — perguntou indignada. -Não tem aparecido aqui há semanas. Seb empurrou a porta carregando perigosamente três xícaras de chá enquanto mergulhava os saquinhos na água quente. — Mas você vai fazer, não? — sorriu grosseiramente para a irmã. — Você é a primeira das flores. — Machista! — disse Sarah enquanto limpava a mesa dos jornais de domingo. Seb balançou os ombros. — Certamente vai. — Certamente, não — ela disparou um olhar de puro desprezo ao irmão favorito. — Quero ser uma pesquisadora. Não quero ser se­cretária e mesmo que quisesse jamais escolheria traba­lhar para Liam. Seb sentou-se numa cadeira de couro. — Pense em suas dívidas, irmãzinha. Liam está de­sesperado. Diga o seu preço. Sarah prendeu os cabelos soltos por trás das orelhas. — Que tipo de coisas Sonya faz? — Faz? Sarah concordou balançando a cabeça. — É agressiva? Chora? Se aceitar, quero saber de que tipo de coisas terei de te proteger. — Não é nada disso. Ela é tranqüila e muito confian­te. Totalmente convencida de que existe uma atração s****l entre nós. — Mesmo sem você dar bola? — perguntou incré­dula. — Ela imagina que exista algo. Não tem dúvidas de que a desejo. — Certamente tem persistência e está ficando me­nos sutil — disse Seb enquanto pegava um punhado de biscoitos. — Conte a ela a respeito do pacote de sexta-feira. — O correio da manhã entregou uma pequena enco­menda. — Liam começou a contar com relutância, antes de interromper a história ao ouvir o telefone tocar no hall. — Logo agora que estava ficando picante. Segurem a imaginação. Voltarei em um instante. — Então? — Sarah perguntou tão logo a porta se fe­chou atrás do irmão. — Ela enviou um pacote de camisinhas, junto ao en­dereço de um hotel, com data e hora. — Não acredito nisso — disse Sarah, surpresa. — Nem Bárbara acreditou. — Isso é... tão... grosseiro, vulgar... — Não é mesmo? — concordou. Seb abriu a porta da sala de estar. — Liam, é Callie. Ela quer falar com você. — Silen­ciosamente esperou na porta aberta até que Liam obe­decesse a seu comando. Seb sentou-se no lugar que ficara vazio e apanhou sua xícara. — Perdi muita coisa? — Nada que já não soubesse. Não acredito que ela enviou ao trabalho de Liam uma caixa de camisinhas. — Camisinhas variadas — Seb acrescentou. — Faz diferença? — Fez para a secretária de Liam. Você nunca deve tê-la encontrado, mas ela é uma completa carola. Pro­vavelmente nunca tinha visto uma c*******a na vida, imagine uma variedade daquelas. Sei que não é engra­çado, mas não consigo deixar de pensar em Bárbara Shelton abrindo o pacote. Sarah já tinha visto a dor causada por um casamento destruído. Sofrimento bastante para toda uma vida. A mãe realmente nunca se recuperou depois que o pai de Sarah a deixou. A traição a levara à depressão e deixara uma ferida que não cicatrizou até o dia que morreu. Se acompanhar Liam pudesse evitar a dor do padrinho, ela não poderia deixar de ajudar. — Pobre Richard — disse olhando as flores do abacateiro pela janela. Aquilo tudo era tão triste, como se a vida de todos tomasse um rumo errado. Richard esperou um longo tempo antes de decidir se casar, e então se apaixonou por Sonya. — Sinto-me culpado por Liam também. Sei que você não gosta muito dele, mas a verdade é que isto está ficando sério. Virou-se para o irmão. — Não é que não goste dele. — Aceite-o então. Ele adora garotas, mas desta vez o problema é bem diferente. Essa mulher me dá arrepios. Não importa o que ele lhe diga, ela sempre volta a insistir. — Mas... — Não há mais tempo para "mas". Ele precisa de alguém que o proteja enquanto a secretária não está por lá. Não creio que seja demais o que está pedindo. Você sabe que, se mamãe estivesse viva, ela colocaria você porta a fora para ajudá-lo. — Não é justo usar mamãe — protestou sem muita convicção, sabendo que a mãe seria a primeira a ofere­cer os serviços da filha. Recolocou a xícara vazia so­bre a mesinha. — Apenas não consigo acreditar que Liam não consiga resolver o problema sozinho. Tenho visto ele se envolver com mulheres fingindo ignorar completamente os sentimentos delas desde que tinha 8 anos de idade. Talvez antes até, mas eu era jovem de­mais para lembrar. — Sonya tem a pele de um rinoceronte. Não seria afugentada nem por Callie e olhe que ela é de causar medo. — A mulher ao telefone? Ele assentiu. — Calantha Rainford-Smythe. A última do Liam. Di­nheiro e contatos jorrando de cada poro. Não a conhe­ceu no Natal? Era difícil esquecer uma mulher como Calantha. Era alta como um mastro, uma loura de elegante perfeição. Uma típica conquista de Liam. — Acho que conheci — disse calmamente. — Desig­ner de jóias, não? Os olhos castanhos de Seb se apertaram. — Gosta de pensar que é. Na verdade, outra pessoa faz o serviço e ela põe o nome por cima. — O que ela acha da atitude de Sonya? — perguntou, enquanto desenhava com a ponta dos dedos na poeira sobre o piano. — Você pode perguntar a ela pessoalmente. A me­nos que esteja ligando para dizer que desistiu de aju­dar Liam. Ela queria ir a Bruxelas, mas deixou de viajar para vir à Henley Royal Regatta. Era uma gran­de oportunidade de ver e ser vista. Seu negócio depende disso — disse imitando a voz sem expressão de Calantha. Sarah sorriu. — Você não gosta dela, não é verdade? — Não é o meu tipo. Não sei o que ela pensa sobre Sonya. Você terá de perguntar a ele. — Perguntar o quê? — disse Liam, abrindo a porta. — A opinião de Callie sobre Sonya — respondeu Seb, tirando o pé da mesa para deixá-lo passar. — Como ela sabia que você estaria aqui? — Ela acabou de sair da casa de minha mãe — dis­se. — Vou terminar meu chá e voltar para lá. Preciso pegar meu blazer e uma gravata. Acho que Jasper e Ben estão vindo nos ver. Não sei que horas eles pla­nejam chegar. — O que ela acha de Sonya? Houve um pequeno silêncio antes da resposta. — Callie não sabe sobre os problemas de saúde de Richard nem compreende meu relacionamento com ele. Sua perspectiva é... diferente — disse cuidadosamente. — Isso quer dizer...? — Quer dizer que ela pensa que eu deveria contar a Richard o que está acontecendo. Se o casamento está condenado não há razão para prolongá-lo — ele pegou a xícara e bebeu o último gole. — Oh — disse Sarah, rompendo o silêncio. Não ha­via compaixão ali. Nem empatia. Richard fora um t**o, mas não merecia ser publicamente humilhado pelas pessoas que amava. — Sonya e Richard virão para a regata? — Richard não está nada bem. Sua angina tem lhe causado muito desconforto ultimamente, mas ele não quer admitir isso. — Você vai ajudar, maninha? — perguntou Seb sor­rindo da expressão da irmã. Ela mastigou o lábio inferior. O irmão a conhecia muito bem. — Teoricamente... acredito que poderia. Mas só por duas semanas... e vou cobrar caro. — Excelente — respondeu Seb com vivacidade. — Sa­bia que você o faria. Sarah deixou os dois conversando e foi para o quar­to. Pulou na cama coberta por uma colcha de retalhos feita pela mãe no verão anterior à sua morte. Vinte e três anos e desempregada — como Liam tinha dito. Isso era deprimente. Ao menos não estaria desempregada por muito tempo. Mas se ele imaginou que Sarah pre­pararia chá e completaria as ligações para futuras na­moradas, ficará desapontado. E protegê-lo de Sonya? Isso ela faria. Saiu da cama e foi escolher um vestido e olhou desesperadamente para suas miseráveis roupas. O único vestido que tinha ali era um que batia abaixo do joe­lho. Era agradável, mas era tão sem graça quanto ela própria se sentia. Mas quem ela estava enganando? Bastou Liam fi­xar os lindos olhos azuis em Sarah que ela se esqueceu do quanto ele era baixo e arrogante com sua insultuosa atitude com as mulheres. Imune a Liam? Claro que não era! Nunca fora. Ela precisava ser imune a Liam, precisava ser com­pletamente resistente àqueles olhos sexy e ao sorriso envolvente — mas não era. Pelo menos fazia um ótimo trabalho escondendo isso de todos. Sarah atirou o vestido sobre a cama antes de se ver no reflexo de um espelho que revelava como se sentia consigo mesma.  
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