Tristian continuou pensando em mais razões para não gostar de Ashton. Ele até tinha pedido ao seu tio Robert, que era advogado, para fazer uma investigação minuciosa sobre o passado dele. Robert Hart tinha confirmado que ele vinha de uma família com dinheiro, mas não tanto quanto o que eles tinham. Ainda assim, Tristian tinha de admitir que era o suficiente para impedir que ele quisesse namorar com a irmã só pelo dinheiro.
Descobriu, no entanto, que Ashton Fox tinha um cadastro criminal de algum gênero, mas estava selado. Robert tinha dito que provavelmente era algo menor, como conduzir embriagado na adolescência. Ashton também era estudante de medicina, apesar de parecer mais um anúncio ambulante do jeans Calvin Klein, com seu cabelo louro platinado, pele bronzeada e olhos de um azul gelado.
Tristian fez uma careta ao pensar que se Ashton e Angel tivessem idades mais próximas podiam quase ser gêmeos, a não ser pelo fato de o cabelo de Angel ser mais comprido. Mesmo agora, estavam os dois a fazer aquela coisa de sorrir um para o outro o que já estava começando a irritá-lo. Tristian afundou-se no seu lugar e decidiu olhar pela janela.
Ele grunhiu silenciosamente perguntando-se qual visão era pior.
*****
Isabel Hart pousou a sua chávena quando ouviu o helicóptero à distância. Ela quis correr para a janela para vê-los chegar, mas aguentou-se sabendo que tinha um papel a desempenhar este fim de semana, o da frágil avó que precisava da família em casa.
Ela tinha tido um ligeiro ataque cardíaco recentemente, o que tinha sido suficiente para convencer Malcolm e Angel a voltarem, ainda que fosse só durante o feriado do dia da independência. Quase fez a experiência assustadora valer a pena. Ela tinha até fechado o Resort a pessoas de fora e combinado com Tristian deixar os empregados folgar o fim de semana para que a casa parecesse mais aconchegante para a família.
Se fosse à sua maneira, convenceria o seu filho e neta desaparecidos a mudarem-se definitivamente para o Santuário... mesmo que tivesse de fingir que estava morrendo.
Todos os seus filhos tinham vivido aqui com as suas famílias. Era uma tradição que o divórcio do Malcolm tinha quebrado. Seu filho mais velho, Robert, tinha-se tornado um advogado casando-se com sua paixão do ensino médio, Dianne. Eles tinham tido gêmeos, Devin e Damien, que tinham agora vinte anos e trabalhavam para ela como instrutores no ginásio que ocupava uma área enorme no piso térreo do resort.
Ela tinha estado de olho no Robert porque ele era muito como o pai. Ganancioso e calculista. Ela estava ciente de que ele já estava se preparando para competir pelo seu último Testamento quando ela morresse, mesmo sabendo ela que ele não estava certo quanto ao conteúdo do testamento.
Mal sabia que não lhe serviria de nada! Aquele testamento era pétreo em todos os sentidos. Ela também tinha deixado de lhe entregar a papelada do resort quando o tinha apanhado falsificando livros e desviando parte dos lucros para uma de suas contas bancárias. Ele tinha-se tornado uma grande desilusão nos últimos dois anos.
A sua segunda filha mais velha, a única moça, Carley, e seus três filhos também viviam aqui. Mas Carley não era nem um pouco parecida com Robert.
Sua família estava cheia de crianças mimadas que pensavam ser melhores que os outros porque viviam do fundo fiduciário que ela tinha preparado para eles. Tiffany tinha dezessete anos, Paris vinte e dois e Jason vinte. Mas ela não podia culpar as crianças por serem preguiçosas quando a mãe deles não passava de uma alcoólatra. Entre os quatro, tinham se livrado do pobre marido de Carley há anos.
Três anos se passaram desde que o seu marido, John, tinha falecido, depois perdeu Malcolm e Angel, logo no ano seguinte. John tinha sido um homem arrogante, de mão pesada, e a verdade era que não sentia nenhuma saudade dele. Mas, com todos os restantes membros tão ocupados com as próprias vidas, Isabel tinha sido deixada sozinha na sua avançada idade.
Os únicos que lhe davam atenção eram Tristian e os dois rapazes indianos que ele e a sua irmã gostavam tanto... Hunter e Ray Rawlins.
Ela realmente não queria saber o que o resto da família fazia. Somente Angel e Tristian eram importantes para ela. Não a incomodava que um dos irmãos não fosse de sangue, era o coração que contava. Quando Tristian fora adotado, ela tinha avisado aos outros membros da família que se alguma vez lhe contassem sobre a adoção, seriam deserdados e expulsos do Santuário sem pensar duas vezes. Até agora a ameaça tinha aguentado.
Tristian e Angel não como saber, mas um dia o Santuário passaria a pertencer somente a eles.
Olhando para cima, Isabel sorriu para si mesma vendo Lily Hart petrificada no canteiro de flores. Ela tinha permitido que Lily continuasse a viver aqui com o filho quando Malcolm mudara para a outra ponta do país. Tinha consentido que a mulher ficasse apenas para ter Angel de volta o mais frequentemente possível, e ter Tristian vivendo aqui.
No que dizia respeito a Isabel, era bem feito que Lily estivesse infeliz. Malcolm tinha-a amado mas ela tinha tido uma atitude fria e insuportável, pois afastava Malcolm sem lhe dizer porquê. Achava que Lily só tinha ficado aqui porque era estúpida o suficiente para pensar que um dia seria dona de uma parte do Santuário.
Malcolm fora um mulherengo antes do casamento, dormindo com metade do staff indígena que tinha trabalhado no hotel até ter maiores ambições.
Deixou a vida de malandro quando se casara, por isso ela sabia que não era essa a razão para o divórcio. Ele tinha sempre amado as mulheres, mas Isabel soube que quem ele amava mais era a Lily por causa de sua beleza: ela ainda era muito bonita. Fria e bonita, tão privada de emoções que nunca se dera ao trabalho de ser uma mãe verdadeira para os filhos, mesmo quando eram pequenos.
Pelo ar pálido na cara de Lily, Isabel percebeu que Malcolm tinha chegado, finalmente. Ela havia dito ao piloto do helicóptero, de forma bem clara, que seria despedido caso se atravesse a voltar para buscar alguém antes que o fim de semana terminasse. Também tinha pago Ray para que ele inutilizasse todos os veículos da propriedade, de uma forma ou de outra, de modo que ninguém pudesse sair.
Pela primeira vez a família estaria toda reunida aqui, gostassem ou não.
*****
Ray Rawlins ouviu o som do helicóptero à distância quando fechou o capô do último carro estacionado na garagem. Olhou à sua volta para todos os veículos de luxo que agora estavam inutilizados com uma sensação de satisfação. Isabel Hunter conseguia ser tão implacável quanto o seu falecido marido quando queria.
Saindo do edifício de alvenaria, afastou o longo cabelo n***o dos olhos enquanto observava a descida lenta do helicóptero para o heliporto. Seus pensamentos voltaram-se para Hunter, perguntando-se se seu irmão conseguiria manter a calma agora que tinham descoberto que Angel trazia o namorado da Califórnia para passar a semana no Santuário.
Ashton Fox não fazia ideia da teia de aranha em que acabara de entrar.
Na sua opinião, a maioria das pessoas que tinham nascido no topo desta montanha mereciam cair dela. Angel e Tristian eram as exceções. Quando eles estavam crescendo, ele e Hunter os tinham acolhido debaixo da asa e protegido, tanto quanto possível, da maldade em que nasceram. Mesmo a querida avó deles conseguia ser traiçoeira quando queria alguma coisa.
Encostou-se à parede de alvenaria lembrando-se da infância que tinham tido. Ele e Hunter eram apenas dois anos mais velhos que os irmãos, mas os quatro sempre foram inseparáveis. Iam juntos para os bosques quase todos os dias, e ele e Hunter os ensinavam técnicas índias de sobrevivência, embora Tristian e Angel pensarem que aquilo não passava de uma brincadeira.
A sua visão do passado desapareceu quando Angel saiu correndo do helicóptero com o namorado atrás. Ele abanou a cabeça quando o vento do helicóptero fez seu cabelo platinado voar como se ela estivesse no meio de uma tempestade invisível.
Ele olhou para a imensa propriedade conhecida como Santuário. Sabia que as pessoas lá dentro que diziam ser da família dele estavam prestes a jogar um novo jogo. Um jogo demasiado perigoso para a pequena moça jogar sozinha.
Ray tirou o pequeno cantil que Hunter lhe tinha presenteado e deu um gole para desobstruir a mente. Ele precisaria de toda a sua concentração se fosse impedir que Angel ficasse em perigo.
*****
Tristian esperou até que todos saíssem do helicóptero antes de se inclinar para o piloto, ganhando sua atenção. “Lembre-se do que Isabel Hart disse”, seu rosto perdeu o sorriso enquanto seus olhos verdes estreitaram em aviso. “Vá passar umas férias e não se preocupe conosco. Não precisamos de você esta semana, entendeu?”
Angel sorriu, feliz, quando Tristian se juntou a ela e todos fugiram do vento das hélices. Ela sentiu-se muito melhor assim que se virou para ver a malvada máquina partir levando junto seu som insuportável.
“Bons ventos te levem para um tornado” ─ Angel fez uma saudação trocista. Se ela soubesse que ninguém cairia na pele dela, teria levantado as mãos para o céu e agradecido por ter chegado bem.
Ashton passou os dedos pelo seu cabelo louro e sedoso, adorando a sensação. “Oh, você está chateada porque o helicóptero despenteou seu lindo cabelo ─ ele sorriu, perguntando-se como é que seus dedos corriam sem atingir um único nó. Ela era a coisa mais próxima da perfeição que ele já havia encontrado, e quando ela lhe contou que passaria uns dias em casa ele tinha sido esperto o suficiente para não a querer fora de vista.
Reparando que seu pai e Felícia já tinham entrado, Ashton passou o braço pelos ombros dela e começaram a subir a colina para a propriedade.
“Então, chapeuzinho vermelho, vamos ver sua vovó primeiro?” Observou tentando não parecer arrebatado pelo tamanho da mansão. Tinha ouvido o pai dela gabar-se, mas agora que via a propriedade percebeu que a tinha subavaliado.
Tristian piscou o olho para Angel antes de dizer. “Acho que está na hora de mostrar o quarto a Ashton e deixá-lo instalado, certo? Não precisamos testar o lobo mau além da conta. Vovó já teve um ataque cardíaco e acho que apresentar seu namorado logo na chegada pode ser demais para ela.
O sorriso de Angel desvaneceu ao ser mencionado o ataque cardíaco da sua avó. Ela quase voou para casa no segundo em que Tristian tinha lhe contado, mas seu pai tinha concordado em vir para passar o dia da independência, por isso esperou. Tristian havia dito pelo telefone que Hunter foi quem tinha encontrado a avó deles no último segundo, provavelmente salvando-lhe a vida.
Seu coração bateu acelerado ao pensar em Hunter... Hunter Rawlins. Ela sempre o vira como seu melhor amigo, mas quando foi para Los Angeles, lentamente percebeu que tinham sido mais do que amigos, muito mais. Ela sentira tantas saudades de Hunter como do próprio irmão.
“Oh, tudo bem”, Tristian resmungou prendendo-a nos braços e dando-lhe um abraço carinhoso. “Não quis dizer isso”, disse recuando e pegando seu rosto, fazendo com que levantasse a cabeça para olhar para ele. “Você me prometeu que ficaria alegre a semana inteira”, lembrou-lhe com o olhar fixo no dela.
“Eu sei”, sorriu Angel de volta, mas não se sentiu à vontade. “Vou ficar bem assim que vir, com os meus próprios olhos, que vovó está bem. Você pode sair com o Ash e se divertir. Eu verei vocês mais tarde.
Ela inclinou-se na ponta dos pés e beijou Ashton na face antes de se virar e caminhar para a entrada lateral onde sabia que sua avó estaria.
Ashton viu Angel ir embora, não gostando de serem separados quase no minuto em que colocaram os pés na montanha. Durante a sua estada em Los Angeles o pai dela nunca a tinha solicitado, então ele a tinha sempre para si. Ele não era muito amigo de partilhar com os outros.