FASE 1 - I O início
Narrado por Alessandra
Viver na margem de uma sociedade preconceituosa é basicamente a entrada para o inferno. Ser mulher, pobre e lésbica é pedir para não estar no inferno, mas o que eu poderia fazer? Essa sou eu, minha essência, minha vida.
Meu pai sempre me disse que os vencedores mais fortes, eu não entendi o que ele queria dizer, pode me julgar, mas eu só tinha sete anos. O homem que deveria ser meu herói era um malandro de esquina, vivia dando golpes em mulheres ricas, usar sua beleza e carisma para isso, e como idiotas caiam direitinho, pelo menos que é herdeiro dele, beleza, carisma e simpatia, e convênios, uma malandragem também.
O Brasil é um país agradável de viver, para quem tem dinheiro e poder, é claro, esse é o meu meta, esse é o meu sonho, e como eu só sei fazer uma coisa da vida, você segue os passos do meu pai, mas dessa vez, grave ou golpe da minha vida, com o alvo ideal, com dinheiro e consequentemente com o poder.
Bom, eu chamo Alessandra Costa Ferraz, tenho vinte e cinco anos, natural do Brasil, Rio de Janeiro, cidade da malandragem. Meu pai chama Caio Ferraz, tem quarenta e nove anos, já não tem o mesmo charme de antes, mas aqui ou ali ainda consegue alguma i****a para tirar dinheiro.
Minha mãe faleceu quando eu tinha cinco anos, vítima de câncer de mama. Sou branco, cabelos brancos, negros, olhos claros, um metro e setenta e quatro de altura, e um corpo para parar o trânsito, isso não é modesto, é verdade, eu sei quem é bonito, sei usar essa realidade para quem eu quero, e nesse momento eu quero obter uma maneira de me aproximar da mulher. Ela é o meu alvo, ela é a minha vítima, mas será a última, com ela eu poderei orgulhar meu pai, ter uma vida que eu sempre desejarei. Meu objetivo hoje é descobrir se ela gosta de mulheres, depois disso é só sair para uma conquista.
Narrador
Camila Colins Albuquerque, jovem de vinte e dois anos, cabelos cacheados e castanhos, com um tom de pele que faz menção ao n***o de seu pai e brancura de sua mãe, uma mestiça, morena para nomear, de olhos castanhos, um metro e sessenta e nove de altura, magra, uma mulher bonita aos olhos de todos. Filha única, herdeira de uma fortuna que não pode ser enumerada.
A mesma perdeu seus pais e irmão quando tinha dezesseis anos, em um acidente de carro, depois disso passou a viver sua vida de forma isolada, dedicou-se aos estudos, fez faculdade de administração. Quando completou dezoito anos passou a trabalhar na empresa de sua família, que agora é dela, que até então era presidida por seu tio André, irmão de sua mãe, o mesmo passou a ajudar a sobrinha, deixá-la ciente dos acontecimentos da rede de calçados Colins Calçados CC, essa que é a maior do Brasil e quinta maior do Mundo. Sua prima Carla, uma linda ruiva de vinte e quatro anos, estudou moda, é a designer oficial da empresa, talentosa, tanto que seus desenhos são cobiçados por outras grandes marcas, mas ela é exclusiva da CC.
Após terminar a faculdade, Camila dedicou-se exclusivamente aos negócios, entrou de cara no papel de empresária, do qual exerce com maestria, o mercado a tem, apesar da pouca idade, tornou-se respeitada no meio, esse respeito fez com que a imagem de mulher fria, calculista e sem coração se empregasse, mas ela prefere assim, deixar seu verdadeiro eu exposto não é uma opção, apenas pessoas de sua família, a senhora Marta, que chama de babá, sabem da sua fraqueza, que é a solidão, o medo, e insegurança.
Por conta disso a mesma nunca teve um relacionamento sério, não abre seu coração a ninguém, ela na verdade é frágil, sensível, carente. A perda de sua família foi um golpe muito grande, nunca superou, por isso a exclusão se fez a melhor opção para ela.
Festas só quando se tratam de negócios, sua cobertura de luxo de dois andares é grande o suficiente para nunca esbarrar em qualquer pessoa, assim é sua vida, uma completa solidão.
Pelo menos até hoje, pois sua prima a obrigou a acompanha-la em uma festa, fazer Camila sair de sua prisão interior, conseguiu, estão na boate, o som alto, pessoas se “comendo” com a boca, drogas, bebidas, e as duas sentadas à mesa na área vip.
- Vamos, Camila, se anime.
- Carla, você sabe muito bem que eu nem queria vir.
- Mas veio, então, por favor, mude essa cara porque aquele gatinho ali está te encarando desde a hora que chegamos.
- Carla, pare com isso, eu não estou interessada. – Camila não olha para o lado.
- Pare você, ele é lindo, e está vindo para cá.
- O que?
Nesse momento o tal “gatinho” chega até elas.
- Oi. Boa noite.
- Oi, me chamo Carla, essa é minha prima, Camila, e está louca para tomar alguma coisa.
- Carla! – A morena a repreende, em vão.
- Não se preocupe, ela é tímida.
- Bom, sobre a bebida eu posso resolver, mas sobre a timidez... Chamo-me Lucas. – Ele fala, estendendo a mão para Camila.
- Oi, Lucas, prazer, Camila.
- Bom eu me retiro, segurar vela não é o meu forte.
- Carla, não ouse sair daqui. – Camila está evidentemente assustada e incomodada.
- Calma, gatinha, eu pagarei sua bebida. – A mulher não sabe por que, mas a voz de Lucas a deixa enojada.
- Viu só, Camila, está em boas mãos. – Carla fala e sai rapidamente de perto do casal.
- Você é linda, sabia? – Para Lucas aquela será uma conquista fácil.
- Obrigada.
- O que quer beber?
- Na verdade nada, estou só na Coca-Cola, eu trabalho muito cedo.
- Sério? É uma pena, porque gostaria de aproveitar a noite com você. – O rapaz loiro diz se aproximando mais do que devia de Camila.
- Pare. – Ela tenta o empurrar, mas ele é mais forte.
- Ah, qual é, gatinha? Vamos aproveitar. - Lucas tenta beijá-la.
Camila se ver desesperada, gritar é em vão, procurou por Carla e nada, o rapaz irá beijá-la a força. Até que...
- Amor, tudo bem aqui? – Uma mulher entra em cena, segurando na cintura de Camila e fazendo o homem se afastar.
- Oh, sim, querida, o Lucas estava conversando. – Camila resolve entrar na atuação, nesse momento só quer se livrar do inoportuno, por isso se deixa ser abraçada pela desconhecida.
- Desculpe-me, ela não me disse que estava acompanhada, e nem que é gay. – O rapaz diz, até envergonhado.
- Tudo bem, vamos, amor?
A mulher diz, segurando a mão de Camila e a puxando para longe. Elas se encaminham para o outro lado da área vip e ocupam outra mesa. Até que a mulher solta a mão de Camila.
Narrado por Camila
- Desculpe, eu vi que estava em apuros, a coisa que mais odeio são homens metidos a garanhão que não sabem como tratar uma mulher de verdade. – A linda mulher finalmente fala.
- Oh, tu...tudo bem, eu que... que agradeço.
Gaguejei, agora em um lugar com mais luminosidade pude observar a beleza da desconhecida, ela é linda, cabelos negros, olhos claros, pele branca, de um sorriso encantador e um corpo que... Céus, desde quando eu observo corpo de mulher?
- Bom, como eu sou diferente dele, e sei como tratar uma mulher tão bela como você, perguntarei primeiro, você deseja beber algo? Ah, e antes que me esqueça, prazer, me chamo Alessandra, Alessandra Ferraz.
Ela fala ao estender a mão, é impressão minha ou ela está flertando comigo? Pare Camila, olha para essa mulher, ela nunca irá querer algo com você, e mais, quem disse que eu quero algo com ela?
- Prazer, Camila Colins. – Falo e retribuo seu aperto de mão, lançando um sorriso.
- Você fica ainda mais linda sorrindo, sabia? – Ela me diz e fico sem graça, ela realmente está dando em cima de mim.
- O... Obrigada, você também é muito bonita.
- Nada comparado a você. E então quer beber algo? – Até a voz dela é sexy.
- Eu realmente não quero, estou só na Coca-Cola, mas obrigada.
- Tudo bem, então acompanharei você.
- Não precisa, percebi que estava bebendo uísque.
- Eu insisto, nunca deixaria uma dama bebendo sozinha. – Ela diz e me lança o mesmo sorriso sedutor de antes.
Durante alguns minutos um silêncio constrangedor se manifesta entre nós, ela insiste em beber apenas o refrigerante, o que de certa forma me agrada, ter alguém bêbado é péssimo, e uma desconhecida gostosa será pior ainda. Espera, o que? Gostosa? Eu estou reparando que ela é gostosa?
- Camila... Camila...
- Oh, desculpe, sim?
- Você está bem? Eu te chamei e você não respondeu.
- Sim, sim, eu só me perdi em pensamentos. – Pensamentos insanos sobre o quanto você é gostosa. Caramba, o que está acontecendo comigo?
- Ok, e então, o que você faz da vida, quantos anos tem?
- Eu sou empresária, e tenho vinte e dois anos, e você?
- Ah, eu tenho vinte e cinco e sou autônoma, na verdade vivo muito viajando, minha mãe faleceu quando eu tinha cinco anos, ela era policial, então eu recebi uma boa quantia em dinheiro, quando fiz dezoito peguei e soube onde investir, assim me sustento, desses investimentos, resumindo, não preciso trabalhar, apenas ser inteligente.
- E muito modesta também. – Eu falo, baixo, mas infelizmente ela me ouve.
- Não ser modesta não é um defeito, reconhecer o seu valor é uma qualidade, eu sei que sou inteligente, bonita também, porque eu não iria falar em voz alta coisas que eu escuto o tempo todo?
Ela diz ao me encarar com aqueles olhos maravilhoso, cheios de segurança, muito diferente de mim.
- Desculpe, não quis ser inconveniente.
- Não se preocupe, sua beleza me faz esquecer de qualquer coisa que seja desagradável.
- Ok, Alessandra... – Preciso acabar com isso.
- Só Ale se preferir. – Ela me interrompe.
- Certo, Ale, você está sendo muito gentil, mas tenho que ir, minha prima sumiu e...
- Seria aquela ali se agarrando com aquele cara? – Ela fala e aponta para o lado. Carla está se “comendo” com um moreno.
- Oh, meu Deus, essa garota não tem jeito, é uma irresponsável mesmo.
- Você tem alguma coisa contra beijos, Camila? Eu os considero uma das coisas mais agradáveis do mundo, ainda mais quando se faz com uma pessoa que sabe o fazê-lo e quando levam para a segunda fase, ah, isso é inevitavelmente tentador.
Caramba, aquele olhar. Realmente está falando de sexo? E para mim!?
- Oh, não, nada contra sexo, só não acho certo ficar se agarrando com uma pessoa desconhecida em uma boate.
- Então você não se agarraria comigo só por não me conhecer?
- Eu... Eu... – Ela me deixa terrivelmente nervosa.
- Calma, estou brincando, não que eu não gostaria de me agarrar com você, mas nunca faria isso sem sua permissão.
- Eu não tenho nada contra me agarrar com você, eu só não gosto da ideia de trocar saliva com alguém que nunca vi, e provavelmente nunca mais verei. – É de fato estranho pensar em beijar outra boca de uma pessoa que não conheço.
- Eu te entendo, mas para que uma simples ficada em uma festa qualquer se transforme em um relacionamento, deve haver um primeiro passo. – Ela fala se aproximando de mim no sofá. – E para que você pense em ter um segundo encontro deve haver o primeiro. – Ela está muito próxima. – Então como eu disse, nunca faria nada que não queira, portanto, essa é a hora de me parar, porque nesse momento eu quero muito te beijar, e se não me impedir irei te mostrar que trocar saliva pode ser muito mais do que imaginou com alguém que sabe beijar.
O ego dessa mulher é altíssimo, mas ela sabe disso. Eu não sei o que eu estou fazendo, mas eu quero realmente beijá-la. Ela está olhando fixamente para meus lábios, e eu para os dela. Eu quero senti-los, e vou. Alessandra espera que eu faça algum movimento, então resolvo não resistir aos meus instintos. Coloco minha mão em sua nuca e a puxo para mim, de onde tirei essa ousadia? Não importa, seus lábios são doces, macios, perfeitos, aos poucos o simples tocar de bocas se transforma, ela coloca suas mãos em minha cintura e puxa-me ainda mais para si, estou quase em seu colo, Ale passeia sua língua por meus lábios, pedindo permissão para adentrar, eu prontamente dou.
Deuses e mais Deuses! Essa mulher sabe usar a língua, isso é viciante, imagina o que ela pode fazer em outras partes do corpo? Pare Camila, você não é assim, pare com isso. Meus pensamentos pervertidos foram interrompidos. A falta de ar já se faz presente, por isso ela separa nossas bocas.
- Nossa, eu sabia que você poderia ser uma delícia, mas não imaginava que seria tão viciante.
Ela diz e depois beija mais uma vez meus lábios, feroz, selvagem, daqueles que melam a calcinha te deixando muito excitada. Depois de um tempo ela se afasta novamente.
- Vamos sair daqui. – Seus olhos hipnotizantes me encaram.
- Para onde? – O que? Eu realmente estou cogitando sair com essa desconhecida?
- Não sei, para onde se sentir segura. Poderia ser meu apartamento, mas você decide.
- Pode ser o meu, é aqui perto.
Ela não responde, apenas se levanta e me puxa em direção a porta. Eu devo estar louca, estou saindo da boate com uma desconhecida para t*****r. Isso é muita loucura!
Saímos do lugar, pegamos um taxi, onde não paramos de nos beijar dentro do automóvel. Logo estamos em frente ao meu prédio. Essa será a noite mais louca da minha vida, e o mais incrível é: estou adorando.