Capítulo 3 - O confronto

2000 Palavras
Respirei fundo acostumada à aquele tipo de rotina, apertei meus coturnos vesti uma blusa térmica por baixo da que eu estava usando e fiz um novo coque em meu cabelo, tudo isso de costas para os meus companheiros de quarto. Claro que a vergonha estava me corroendo por dentro, mas aquilo não era mais doloroso do que um tiro ou uma facada. E meus companheiros de quarto eram até que muito respeitosos em comparação com outros homens com quem eu já havia topado em meu antigo quartel. Ao menos a vergonha de estar me trocando na frente deles me fez esquecer momentaneamente o incidente com o capitão. – Quer uma dica? Coloque uma meia extra... Ravi sussurrou assim que me viu apertar os coturnos e eu olhei em volta vendo que Carlo e Damon faziam o mesmo, me fazendo agradecer em um sussurro e colocar outra meia por cima das que eu já estava usando. E bem, posso dizer que Ravi estava certo. Estava muito frio e o céu estava tão nublado que nem parecia ser de manhã, mas mesmo assim já estávamos em formação no campo de treinamento. Todos os os oficiais estavam de trajes de cor preta, me fazendo crer que todos eram de alguma forma também de equipes interligadas às forças especiais. O discurso que se seguiu apenas confirmou isso: – Bom dia, senhoras e senhores. Gostaria de dar as boas vindas aos nossos novos integrantes das forças especiais. O coronel gritava na frente daquele batalhão que unia as três equipes que permaneciam estáticos mesmo com a neve caindo sobre nossos ombros. Meu corpo tremia de frio, mas minhas mãos permaneciam paradas ao lado do meu corpo enquanto eu esperava em posição de sentido impaciente pelo momento em que começariamos a marchar e meu corpo esquentaria. Contudo, o coronel não parecia com a menor vontade de apressar seu discurso já que ele continuou: – Vocês são a excelência do exército, não temos iniciantes aqui, somente oficiais, então não espero nada além da perfeição vindo de vocês. O coronel falava lentamente como se ele não estivesse sentindo o frio do local e eu já podia escutar algumas pessoas ao meu lado murmurando e reclamando, atraindo minha atenção para quem eram os indivíduos que estavam ao meu lado. E movendo meus olhos lentamente para sanar minha curiosidade, percebi que ao meu lado esquerdo estava Carlo e ao direito, como uma piada do destino, o capitão da nossa equipe. Sim, o homem que me xingou. Aquele da cicatriz sinistra. E ele parecia muito mais assustador parado daquele jeito ao meu lado recebendo toda aquela neve sobre seus ombros sem nem mesmo se estremecer. – Capitão Zervas, conduza o batalhão. O coronel, depois de muito falar, atribuiu a responsabilidade ao homem que estava ao meu lado e ele prestou continência. – Sim, senhor! Ele gritou com aquela voz super grave e começou a dar ordens como um verdadeiro superior, mas o ritmo daquela marcha era insano. Não chegava a ser corrida, mas também não era uma marcha comum. – Vamos, seus vermes, não aguentam nem marchar?! Impulsionando os oficiais ao seu redor ele dizia em um sotaque puxado que eu não sabia identificar de onde era mas só deixava ele mais assustador. Meus pulmões queimavam pelo esforço e pelo ar gelado que entrava e saía com dificuldade, mas me mantive no ritmo até a última volta no quartel. Ao todo foram dez. Com toda certeza a maior marcha matinal que eu já havia feito em toda a minha vida, considerando que aquele quartel-general era imenso. – Woah, parece que o capitão está de mau humor mesmo! Ravi comentou baixinho enquanto caminhávamos para dentro da área comum para nos aquecer enquanto observávamos o capitão ainda do lado de fora punindo alguns oficiais com exercícios ainda mais puxados por eles terem desistido da marcha no meio do caminho. Mesmo estando acostumada com a crueldade do exército aquilo ainda sim parecia desumano aos meus olhos. – Ele é sempre assim? Não hesitei em perguntar a Ravi que me estendeu uma garrafa d'água que ele havia conseguido. – c***l? Sim. Mas hoje ele parece especialmente inspirado. Com um um risinho bobo, Ravi bebeu sua água enquanto eu agradeci e também bebi a minha sentindo minha garganta agradecer pela água morna. Eu estava destruída e ainda estávamos na metade do dia. – Mas por quê ele é assim? A curiosidade estava me matando, tinha que haver um motivo para aquele homem se comportar daquela forma, certo? – Sinceramente, eu sei quase tanto quanto você. Eu conheci o Capitão Dimitri fazem menos de seis meses. Dimitri, então esse era o nome dele. Pensei olhando pela janela da área comum vendo o capitão se aproximar de onde estávamos. – Opa, acho que é hora de irmos! Ravi riu tomando a iniciativa de sair dalí e eu também não me demorei a fazer o mesmo. Não estava disposta a passar a mesma vergonha de hoje cedo. [...] – Então você morou na Itália? Damon perguntou com interesse genuíno e eu sorri enquanto estávamos almoçando todos juntos, exceto pelo capitão que não havia dado as caras desde o último exercício. – Sim, por sete anos. Respondi dando uma garfada em minha comida e Carlo suspendeu as sobrancelhas animado com aquela informação. – Então tu parla italiano! Ele disse alegre de boca cheia e eu afirmei fazendo um gesto de "pouco" com as mãos. Era entendível, já que conhecer alguém que fala nosso idioma em um lugar como esses é uma garantia de que teria pelo menos um pouco de sua terra natal consigo. – E que outras línguas você fala, tenente? Ravi perguntou curioso e eu dei de ombros. – Podem me chamar só de Marie quando não estivermos em campo. Disse com um sorriso amigável e suspirei emendando: – E eu falo inglês, italiano e alemão. Pontuei vendo eles parecerem bem interessados. Me senti um pouco bem, como uma criança que estava se enturmando em uma nova escola. – E vocês? Qual é a posição de vocês na equipe? Me esquivei do assunto, quanto menos perguntas sobre mim melhor. – Eu sou uma humilde combatente comum. Comentei com um sorriso sabendo bem que isso era apenas uma meia verdade, mas por hora era a única coisa que eles precisavam saber. – Eu sou especialista em conflito antiterrorista, Carlo é atirador de elite e Ravi é o nosso antibombas! Damon explicou e eu fiquei realmente surpresa ao perceber que aqueles caras, que até então eram tão inofensivos e gente boa, eram realmente matadores assim como eu. – E suponho que você não seja uma combatente comum, ou você não estaria sentada nessa mesa com a gente agora. Carlo deu um sorriso ladino ao dizer aquilo e antes que eu pudesse inventar alguma outra coisa para sair daquela conversa, Dimitri apareceu se sentando ao lado de Ravi que permaneceu imóvel como uma estátua. – Parece que o nível realmente baixou, Carlo. Estão deixando qualquer um entrar no esquadrão hoje em dia. Com tamanha arrogância que certamente não caberia em um container, aquele homem que se dizia o capitão da nossa equipe me provocou mais uma vez e eu respirei fundo. Não vale a pena, Marie. Isso é causa perdida. – Se me dão licença, preciso de um banho. Me levantei pegando minha bandeja e dando as costas para a mesa. Narradora POV Naquela mesa ficou um silêncio denso e tanto Carlo quanto Ravi se retiraram deixando os dois irmãos sozinhos e ainda em silêncio até que Damon finalmente teve a capacidade de dizer algo. – Você está pegando pesado com ela, Niko. O gêmeo de cabelos mais curtos se pronunciou e Dimitri nem mesmo se deu ao trabalho de erguer os olhos para encarar o irmão. – Ela é um fardo pra essa equipe. Mulheres não servem para isso. Ditou o capitão com a mesma raiva de sempre incutida em sua voz. Que ele vivia sempre com raiva isso era algo normal, mas Dimitri estava sendo irracionalmente rude com a recém chegada e Damon não sabia por onde começar a ajudar a pobre garota. – Isso não é verdade e você sabe disso, Niko. Damon disse quase que em um suspiro, cansado da maneira teimosa que seu irmão vivia e ele parecia piorar a cada dia que se passava. – Para de me chamar assim, eu sou seu superior. Ralhou o outro terminando de comer e Damon soltou uma risada. – Conta outra, Dimitri. Damon se levantou deixando o irmão para trás, nem mesmo ele conseguia entender como pode alguém viver daquela forma odiosa o tempo inteiro. E agora ele estava preocupado com a recém chegada que certamente estava passando por muitos conflitos em sua mente por causa daquele i****a do seu irmão. Por sua vez, Marie tentava entender o que tinha de tão errado com ela para que o capitão estivesse a tratando desse jeito. Tudo bem que ela era mulher e que ele não queria mulheres em sua equipe, mas ele não poderia pelo menos manter a política da boa vizinhança e tratar ela com o mínimo de educação? – Marie, tá tudo bem? Ravi, o único que realmente havia percebido a maneira como ela tinha ficado chateada, se aproximou dela assim que eles voltaram ao dormitório. – Tá sim, Ravi. Obrigada por se preocupar. Ela disse educada enquanto fingia mandar mensagens para alguém em seu celular apenas para que ele não fizesse mais perguntas. De fato aquilo havia atingido ela, mas ela não estava triste e nem magoada, e sim com raiva. Com uma raiva ardente e feroz, que a impulsionava a querer tirar satisfações. Mas ela não podia fazer isso, iria contra a promessa que fez ao seu pai de "se comportar" e arrumar um problema com seu capitão no primeiro dia na nova equipe não era um bom exemplo disso. Como todo o resto do dia eles haviam sido liberados por causa de uma nevasca que havia começado, ela se manteve em sua cama lendo ou fazendo qualquer coisa que tirasse sua mente dos acontecimentos recentes. Carlo e Damon estavam jogando baralho no chão do dormitório e Ravi parecia assistir algo em seu celular enquanto Dimitri se mantinha calado e escrevendo algo em algo que parecia ser um caderninho. – Vem jogar com a gente, amore mio. Carlo convidou Marie com aquele seu mesmo sorriso encantador de sempre e a Tenente olhou para eles dois no chão por cima de seu livro. – Ah, eu não sei jogar... De fato ela não sabia, nunca havia se interessado por coisas assim. – Podemos te ensinar! Damon ofereceu e isso fez com que o olhar de Dimitri pairasse sobre aquela cena. E percebendo a maneira que o capitão havia olhado para eles com desprezo, Marie fez sua decisão rapidamente. – Tudo bem então. Ela desceu de sua cama se juntando a eles e aprendendo pouco a pouco aquele jogo com os dois homens que a tratavam como uma verdadeira irmã mais nova. Marie se sentia até mesmo um pouco deslocada ao perceber que estava se divertindo mais do que o habitual e que não era para ela criar vínculos emocionais com aquela equipe, mas Carlo era engraçado demais e Damon inteligente demais e Ravi gentil demais. – Ele tá roubando! Ravi apontou para Carlo que começou a discutir e tanto Marie quanto Damon riam daquela cena, e a noite teria terminado em paz e com um clima amigável se Dimitri não tivesse se levantado e chutado o baralho de cartas para longe, fazendo as cartas se dispersarem pelo quarto. – Silêncio, já tocaram o toque de recolher! Ainda abismados com a grosseria e com a maneira com que Dimitri estava estranhamente mais rude, os homens que estavam alí nem mesmo perceberam quando Marie havia levantado e ido até o capitão com sua raiva já descontrolada. – Com licença, Capitão, mas que o senhor pensa que é para tratar seus companheiros assim, hein?! A voz dela ecoou pelo quarto.
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