Normalmente a mãe de Elisa respeitava a primeira manhã das férias da filha, para que ela dormisse até mais tarde. Dona Marília era exigente com as filhas, ou pelo menos tentava. Mas de vez em quando pegava leve com elas.
Entretanto, naquela manhã, a própria garota despertou cedo, o corpo ainda acostumado com a rotina da escola. Mesmo olhando no relógio e se lembrando de que podia voltar a dormir, não conseguiu ficar na cama com o sol batendo contra a janela.
Era sábado, mas Helena tinha aula, a última antes da semana das provas finais. Então, sobrou para Elisa tomar o café da manhã sozinha. Ela teria o dia de folga na loja do pai também, começaria apenas na segunda-feira. Portanto, para o restante do dia poderia ficar deitada na rede lendo seu livro de assassinato, sem outros compromissos.
Essa era a ideia, até que as garotas de sua sala começaram a se movimentar no grupo do w******p. Estavam planejando uma ida ao shopping mais a tarde.
Gabriela, que era uma das amigas mais próximas de Elisa no colégio, fez uma ligação de vídeo para garantir que ela também fosse à reunião das alunas no primeiro dia de férias delas. Iam fofocar, comer, talvez assistir algum filme no cinema, coisas de garotas.
Elisa não deu certeza, precisava falar com a mãe primeiro. Que surpreendente disse sim de primeira e ainda lhe deu uma gorda mesada para gastar no passeio. Nos fins de ano, a loja do pai sempre vendia bem, então, às vezes sobrava um pouco mais para gastos supérfluos.
Ela avisou para as amigas que estaria lá no horário combinado e deu uma pausa no livro para arrumar a roupa que iria usar. Tinha algumas peças guardadas para essas ocasiões, só precisava se certificar se estava limpa e se precisaria passar. Elisa também precisava começar a se arrumar cedo, as meninas moravam perto do shopping. Ela não. Precisava contabilizar o tempo do ônibus para chegar lá.
E organizada que era, entrou no shopping cinco minutos depois do horário marcado. Bem antes da maioria das amigas. Apenas Gabriela e Júlia já estavam ali presentes.
– Estou tão feliz que você veio! – Disse Gabriela, vindo ao seu encontro de braços abertos.
– Já estava com saudades de vocês – respondeu Elisa, abraçando também Júlia.
– Um dia se passou e já sinto falta da escola, como pode? – Gabriela confessou, com a testa franzida.
– Não sinto falta nenhuma de acordar cedo – disse Júlia.
– Eu acordei cedo hoje, acredita? – Elisa contou.
– Eu também! – Gabriela disse animada.
– Vocês são loucas. Se eu pudesse estava dormindo até agora – Júlia balançou a cabeça, em choque pelas amigas.
Mariana chegou atrasada e toda agitada.
– Vamos comigo naquela loja de biquínis ali? Acabei de passar por ela e tem um lindo na vitrine – chamou, após abraçar as outras colegas.
Todas toparam e pareciam interessadas nesse tipo de diversão, fazer compras com as amigas.
– Para qual praia você vai, Mari? – Gabriela quis saber.
– Jericoacoara.
– Onde fica? – Perguntou Elisa.
– No Ceará.
– Eu amei aquele lugar quando eu fui – contou Gabriela.
– Meu pai odiou. Disse que era tudo longe demais, passou a semana toda emburrado já pensando na volta – Júlia disse.
As quatro entraram na loja e Mariana foi direto na peça que havia selecionado. Empolgadas, as outras também acabaram escolhendo um biquíni para experimentar. Apenas Elisa ficou de lado, só observando.
– Pega um para vestir também – insistiu Gabriela.
– Não vou comprar mesmo – deu de ombros.
– E o quê que tem? É só pela diversão.
Elisa ficou meio incerta, mas a vendedora surgiu com vários modelos e a encorajou a testar algum deles.
Logo, eram as quatro colocando e tirando biquínis nos provadores da loja. Mas só três saíram com sacolas.
– O que você vai fazer nas férias, Elisa? – Perguntou Júlia.
– Nada. No máximo, ajudar meu pai na loja. Essa época do ano as coisas ficam apertadas lá e não podemos viajar.
– Ele não tem ninguém que possa cuidar dos negócios para ele, enquanto estiver fora?
– Meu pai não confia em ninguém. Ele costuma dizer que é o olho do dono que engorda o boi.
– Isso é h******l! Ele não tira férias nunca? – Gabriela parecia apavorada.
– Nunca. Essa é a minha vida – suspirou fundo.
– Bom, eu vou para Itacaré na Bahia, como sempre – contou a melhor amiga de Elisa. – Não sei o que seria da minha vida sem a praia.
– Esse ano vamos para Natal – disse Júlia.
– Seria tão lindo se todo mundo fosse para o mesmo lugar – sonhou Gabriela. – Talvez a gente devesse marcar uma viagem nossa.
– Quem sabe no fim do terceirão? – Mariana sugeriu.
As garotas decidiram ir tomar um milk-shake. As mais atrasadas chegaram depois e se juntaram a elas. Continuaram fofocando, contando dos planos para os próximos meses e se divertindo juntas.
Mais tarde, Elisa chegou exausta em casa. Tinha perdido o ônibus e precisou esperar por mais meia hora pelo próximo.
– Como foi com suas amigas? – A mãe dela perguntou, assim que ouviu a porta sendo fechada.
– Ótimo – disse sem ânimo nenhum na voz.
Elisa foi direto para o quarto e se jogou na cama. Helena estava ali, deitada e lendo um livro. Pausou a leitura para olhar para a irmã.
– O que foi? – Ela sabia que tinha algo perturbando Elisa.
– Nada.
– Está bem, não quer falar? Não fala.
– Parece que todo mundo tem as férias como recompensa – desabafou.
– Mas é essa a ideia.
– Não! Para gente férias é trabalho também. Ou tédio. Mas para um monte de gente é um prêmio pelo esforço feito no ano todo.
Helena ficou alguns segundos em silêncio, absorvendo o que a irmã disse.
– Hmm, parabéns pela crítica social. Já pode postar no Twitter.
– Você é insuportável – jogou a almofada na cara dela.
– O que você quer que eu diga? “Isso aí, irmãzinha, é a pobreza destruindo nossos sonhos mais uma vez”?
– Não, eu só queria que dessa vez fosse tudo diferente. Que eu pudesse viver um verão digno de virar um livro.
– Um livro dos meus, ou dos seus?
– Um com um final feliz, mas sem garotos envolvidos.
– É só pedir para o Papai Noel, quem sabe ele não te ouve.
Antes que Elisa reclamasse com a chatice da irmã mais nova, Helena já tinha voltado sua atenção toda para o livro em suas mãos.
Mas naquela noite, Elisa fez o que ela disse e antes de dormir, pediu em um mantra por um verão diferente de tudo que ela já havia vivido.
No dia seguinte, acordou com o celular vibrando sem parar. Achou que era o despertador, depois que percebeu se tratar de uma ligação. Atendeu.
– Falei com meus pais e eles me deixaram te chamar para viajar com a gente – gritava uma voz empolgada do outro lado.
Elisa não entendeu nada, precisou afastar o aparelho dos ouvidos para conferir com quem estava falando. Era o nome da Gabriela na tela.
– O que aconteceu? – Perguntou com a voz embargada de sono.
– Você vai para Itacaré comigo. Se quiser, é claro.
– Eu? – Continuava confusa.
– Sim!
A informação foi sendo processada aos poucos. Elisa com os olhos, agora, arregalados, ia juntando as peças.
Seu pedido havia sido atendido.
Mas antes precisava convencer seus pais a deixarem que ela fosse.
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Obrigada por acompanhar mais essa história. Amanhã tem mais um capítulo, então não deixa de colocar o livro na sua biblioteca e me seguir por aqui para não perder as notificações, tá?
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