PONTO DE VISTA DE PHERA
Eu batia constantemente o pé no chão da floresta enquanto Josh e eu esperávamos nossa vez de passar pelo portal. Era preciso apresentar os papéis antes de cruzar para o multiverso dos lobos para garantir se humanos ou lobos que passavam faziam parte de uma alcateia. Humanos não tinham conhecimento da presença do mundo sobrenatural, a menos que estivessem ligados a um lobo. O portal precisava ser guardado vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, caso houvesse algum contratempo inesperado. Não que um humano pudesse ver aquela coisa branca brilhante, mas era melhor prevenir do que remediar.
A ansiedade que Josh conseguira acalmar estava voltando lentamente ao meu coração. Em apenas alguns momentos, estarei do outro lado do portal, no multiverso dos lobos e depois na Alcateia da Lua Vermelha. Eu não tinha voltado a nenhum dos dois lugares desde que fui para a Califórnia. Alguma coisa havia mudado na alcateia? Será que a Beth e o Reese estão iguais? Mesmo que conversássemos pelo FaceTime e mensagens de texto todos os dias, não era a mesma coisa do que nos encontrarmos pessoalmente. E, mesmo no mais profundo canto do meu coração, eu me perguntava se os trigêmeos ficariam felizes em me ver. Inferno, eles me reconheceriam? Fui tirada dos meus pensamentos quando o guarda ao lado do portal gritou comigo para me aproximar em voz alta. Caminhando até ele, ele nem se incomodou em olhar na minha direção e estendeu a mão para pegar os papéis que eu entreguei.
— Qual alcateia? — Ele perguntou.
— Alcateia da Lua Vermelha, sob o comando dos trigêmeos alfa — Eu disse.
Sua atitude indiferente imediatamente mudou assim que eu disse para onde estava indo. Ele se endireitou imediatamente e olhou para mim. Ele me encarou por um segundo, algo como reconhecimento brilhou em seus olhos, e ele me devolveu os papéis.
— Pode passar, Srta. Evans — Disse o guarda respeitosamente e deu um sorriso.
Que diabos foi isso?
Por que ele passou de ser um i****a para ser respeitoso?
Pelo que me lembro, isso não era protocolo. Os guardas de plantão deveriam fazer algumas perguntas e verificar o símbolo de afiliação. Mas o cara não se incomodou com nada disso.
— Ahn, tem certeza? Quer ver o símbolo de afiliação? — Perguntei.
Não precisava de problemas do outro lado só porque o guarda aqui estava sendo preguiçoso.
— Não, está tudo certo, Srta. Evans. Pode passar — Disse o guarda.
Ok, acho que sim. Virei-me para ver onde Josh estava. O vi ao lado de um guarda corpulento enquanto este verificava seus documentos. Parecia que o guarda estava lhe dando problemas desnecessários. Assim que eu estava prestes a ir até ele, o guarda que verificou meus documentos me impediu.
— Srta. Evans, você não pode voltar. Uma vez que todos os documentos forem verificados, você tem que passar pelo portal. Caso contrário, você não poderá entrar até depois de vinte e quatro horas — Disse o guarda.
Ah, agora ele lembra do protocolo.
— Mas só queria ver se meu namorado precisa de ajuda. Ele vai comigo para a minha alcateia... — Antes que eu pudesse terminar, o guarda me interrompeu, desta vez com uma voz firme.
— Como eu disse, Srta. Evans, se você voltar, não poderá passar até depois de vinte e quatro horas. Agora, por favor, passe. Há outras pessoas na fila — Disse o guarda.
Que diabos!
Babaca!
Assim que eu estava prestes a dizer umas boas verdades para ele, vi Josh acenando na minha direção, virei para olhá-lo e ele me deu um sorriso tranquilizador. Ele me pediu silenciosamente para passar e que logo estaria lá. Embora eu não quisesse passar sem ele, apenas no caso de ele não conseguir passar, eu sabia que mamãe e papai estavam do outro lado esperando. Além disso, Josh pareceu estar lidando bem com a situação. Eu provavelmente acabaria brigando com o guarda que estava falando com ele e piorando as coisas. Suspirando, dei um aceno com a cabeça e passei pelo portal.
Assim que passei, senti pressão na cabeça, fazendo meus ouvidos estalarem. Passar por ali era como voar de avião, só que levava alguns segundos em vez de horas, mas esses segundos sempre me davam uma dor de cabeça imensa. O que era engraçado, já que como loba, eu tinha sentidos aguçados e habilidades curativas, então uma dor de cabeça deveria ser a menor das minhas preocupações. No entanto, não era esse o caso ao viajar pelo portal. Assim que passei e saí do outro lado, meus sentidos estavam em alerta para o novo ambiente. Bem, não era novo, mas haviam se passado oito anos desde que pisei no multiverso dos lobos.
Olhando ao redor, era tudo igual desde que eu saí, com poucas mudanças na construção, apenas mais verde nos bosques ao redor do portal. Eu podia ver as árvores recém-plantadas e a nova trilha, que provavelmente levava até a borda do bosque onde eu encontraria meus pais. Eu cogitei esperar por Josh exatamente aqui, mas pela maneira como os guardas me encaravam, duvidava que eles me deixassem fazer isso. Mas isso não era o que eu achava estranho, para todas as pessoas à minha frente que passaram pelo portal foram solicitadas a mostrar seus papéis e símbolos de afiliação, mas no meu caso, eles apenas me fizeram sinal para seguir em frente. Até mesmo recebi alguns olhares curiosos dos lobos ao meu redor. Eu estava tão confusa quanto eles com esse tratamento especial. Talvez fosse porque eu era da Lua Vermelha; papai mencionou o quanto de poder que a alcateia possui agora após o trabalho árduo dos trigêmeos ao longo dos anos tanto no reino dos lobos quanto na terra. Além disso, eu era a única m****o da Lua Vermelha que vivia no multiverso humano, então, eles não devem me ver como uma ameaça. Eu estava apenas soltando ideias aleatórias na minha cabeça sobre o motivo desse tratamento, mas honestamente, eu não sabia qual era. Teria que perguntar ao Nate ou aos meus pais sobre esse incidente ou se eles tinham algo a ver com isso.
Depois de esperar e tentar andar o mais devagar possível, na esperança de que o Josh me alcançasse, desisti. Logo quando estava prestes a começar a me dirigir para a borda da floresta, senti um braço ao redor do meu ombro. O contato me fez congelar. Justo quando estava prestes a acertar o meu cotovelo na barriga da pessoa, ouvi o Josh.
— Calma aí, bonita. Sou só eu — Disse Josh.
Virando-me para encará-lo, empurrei-o brincando.
— Não chegue perto de mim desse jeito, você estaria no chão agora se não tivesse falado — Disse eu.
Ele apenas riu e levantou as mãos em rendição. Eu ri e o empurrei, deixando o braço dele ao redor do meu ombro novamente, seguimos nosso caminho para fora.
— O que te segurou tanto tempo? Pelo menos sete pessoas chegaram antes de você, e você estava bem atrás de mim — Perguntei.
Josh franzia um pouco o cenho e se pronunciava.
— Não sei. O guarda estava sendo um verdadeiro i****a! Mesmo eu tendo todos os meus documentos, insígnia do bando e até mesmo um convite para o seu bando, e tendo dito para ele que sou o futuro beta do bando da lua azul, ele estava me dando muita dor de cabeça — Disse ele.
O que diabos estava acontecendo com a patrulha hoje? Eles eram novos ou apenas os malas? Antes que eu pudesse dizer outra palavra, ouvi meu nome ser chamado e, de repente, senti o ar ser expulso de mim quando fui esmagada em um abraço forte. Mas, diferente de antes, eu permaneci calma e ri, envolvendo meus braços em torno da pessoa que, sem dúvida alguma, era minha mãe. O cheiro de rosas e mel dela preencheu meu nariz, me acalmando. Eu me aninhei em seu pescoço enquanto sentia suas lágrimas em meus ombros.
— Você voltou, meu amor. Ah, como você cresceu — Disse mamãe.
Me desvencilhando, segurei suas mãos e lhe dei um sorriso gigante.
— Senti tanta falta de você, mamãe — Disse eu.
— Sentimos sua falta, querida. Todos nós — Disse mamãe, apertando minhas mãos.
— E quanto a mim, querida? Já se esqueceu de seu velho? — Ouvi papai dizer atrás de mamãe.
Revirei os olhos e ri antes de pular em seus braços estendidos, me aninhando nele.
— Você é tão dramático, papai. Tanto você quanto mamãe me viram há um ano — Disse eu.
— Ei, não me responda, jovem senhorita. Um ano é muito tempo sem ver minha filhote — Disse papai enquanto me soltava e colocava o braço ao redor do meu ombro.
Vi Josh pelo canto do olho, ao lado. Ele ficava quieto com um sorriso educado, esperando eu o apresentar aos meus pais. Deixando os braços do papai, aproximei Josh. Assim que ele ficou ao meu lado, virei-me para mamãe e papai, que pareciam curiosos.
Mamãe e papai sabiam que Josh e eu éramos melhores amigos, mas eu ainda não tinha dito a eles que agora estávamos namorando. Meus pais sempre enfatizavam sobre esperar pelo companheiro e toda essa ladainha. E, por mais que eu concordasse com eles, não havia nada de errado em namorar alguém se você ainda não tivesse encontrado o seu companheiro, especialmente considerando como era o meu relacionamento com Josh, duvido que isso faria alguma diferença.
— Josh, esta é minha mãe, Lara Evan; e meu pai, Beta Larry Evans. E, mamãe e papai, este é o Josh, meu melhor amigo e namorado — Disse eu, tentando diminuir a velocidade dos batimentos do meu coração enquanto apresentava Josh a eles.
Se eles ficaram chocados, não mostraram. Surpreendentemente, eles agiram como se já soubessem. Eu estava esperando uma reação de total incredulidade por parte deles, mas ambos sorriram, apertaram as mãos de Josh e fizeram perguntas sobre ele enquanto íamos em direção ao carro. Até mesmo a caminho do Bando da Lua Vermelha, minha mãe e Josh conversavam constantemente, até contavam pequenas piadas um para o outro. Este dia apenas continuava ficando melhor e melhor, pensei sarcasticamente.
No entanto, tudo foi esquecido quando vi as fronteiras do Bando da Lua Vermelha se aproximando, e no momento em que cruzamos a fronteira, senti meu lobo inquieto em minha mente. Sacudindo o pensamento de estar de volta depois de tantos anos, me acalmei, mas isso era eu sendo iludida, como sempre.
Assim que o carro parou e papai me ajudou a descer, três dos cheiros mais deliciosos invadiram meu nariz. O primeiro, de pinheiro e almíscar; o segundo, de cedro e almíscar; e o terceiro, de grama e almíscar. Esses cheiros arrepiaram todo o meu corpo. Então, ouvi meu lobo gritar a única palavra que eu havia esperado por tanto tempo.
— COMPANHEIRO!
Mas minha felicidade foi breve quando ouvi não apenas uma, mas três reivindicações idênticas, rosnando “companheira” na frente da sede do bando. Meus olhos se encontraram com as pessoas que me destruíram há quase uma década: os trigêmeos alfas.