CAPÍTULO 2

1375 Palavras
DUAS SEMANAS DEPOIS Certo! Não sei porque estou aqui, mas estou aqui. Nunca visitei a Luana no trabalho e aqui estou eu, parado em frente ao prédio da empresa dela, segurando um saco de lanche. A verdade é que não estou aqui por ela, mas sim por olhos azuis que não saem da minha cabeça. Tentei me manter longe e sem pensar em Priscila, como minha irmã pediu. Mas, caramba! O fato de não poder é que me instiga. Por que não posso? Por que me manter longe? Luana não quis me dar motivos e apenas me disse pra ficar longe. Vai descobrir hoje que não consigo me afastar. O lanche é justamente para não surtar comigo. Entro no prédio e me apresento na recepção. Recebo um crachá de visitantes e me informam o andar onde a Luana trabalha. A empresa é muito grande. Entro no elevador e aperto o andar que tenho que ir. Não demora muito e já estou no andar, olhando tudo e procurando uma pessoa. Vejo uma recepção e ando até ela. - Miguel! Me viro e vejo Luana me olhando como se eu fosse um ET. - Oi! Ergo o lanche como se estivesse chamando a atenção de um animal faminto. - Me trouxe um lanche? - Sim! - Por que? - Por que te amo e sou seu irmão. Estreita os olhos pra mim e as pessoas em volta nos observam. - Vem pra minha sala. Vira-se brava e respiro fundo. O lanche não deu certo. O animal faminto descobriu o plano. Ando atrás dela e entramos em uma sala. Assim que passo pela porta, minha querida irmã a fecha com um pouco de violência. - Senta! Sua voz é autoritária. Sento-me em uma das cadeiras de frente para a dela. Luana passa por mim, retira o lanche da minha mão e vai se sentar. - Você nunca veio me ver. - Sempre tem uma primeira vez. Abre a sacola e tira o triplo bacon com cheddar da embalagem. - Eu sei o que veio fazer aqui. Dá uma enorme mordida no lanche e fica com a boca suja de cheddar. - Vim te ver! Balança a cabeça negativamente. - Veio saber da Priscila. Sua boca ainda está cheia de comida quando diz isso. - Claro que não! Falo bufando. Sim, vim saber da Priscila, mas da boca dela. Imaginei que cruzaria com Priscila ou que pudesse falar com outra pessoa sobre essa linda mulher. Sabia que ela desconfiaria, mas não que ficaria brava. Acho que está brava. Não consigo decifrar muito agora, já que não para de comer. - Te falei pra ficar longe. - Estou longe. Nesse momento estou aqui com você. Dou um pequeno sorriso e recebo uma bela revirada de olhos. - Você veio aqui por ela e não por mim. Taca o lanche de volta no saco e chupa os dedos. - Não quero te ver sofrer. Sua voz muda de brava para preocupada. - Priscila não é pro seu bico. - Por que? - Porque você é um i****a que se apaixona fácil. Tem um coração lindo e não merece sofrer. - Não me apaixono fácil. Tanto que nunca amei. Dou de ombros e ela se levanta, vindo até mim. Senta no meu colo e me abraça pela cabeça. - Você é um homem maravilhoso que merece ser feliz. Merece um amor pra vida toda. - Por que acha que Priscila não pode ser meu amor para a vida toda? Solta um longo suspira e me solta. Sai do meu colo e arruma seu vestido, evitando me olhar. - Apenas fique longe. - Não posso me manter longe sem uma explicação. - Pode sim! - Me pedir pra se afastar e não me dar motivos, só me faz querer entrar de cabeça nisso. Saber o que Priscila tem que não posso tê-la. - Miguel a coisa é mais complicada que sua birra para fazer o que te mandam não fazer. - Não é birra! Digo me levantando. - Gostei dela! Faz muito tempo que não me interesso por alguém como me interessei pela Priscila. - Ela não! Fala firme comigo. - Por que? - Porque... porque... Se afasta respirando fundo e anda até sua enorme janela. - Me diz porque ficar longe e vou analisar se devo. Vira e me olha de um jeito triste e vazio. - Me dê um motivo. - Priscila está morrendo. Parece que tudo a minha volta parou de rodar e o tempo parou. A frase de Luana ecoa e se repete muitas e muitas vezes. - O que? Minha pergunta quase não sai. - Ela está morrendo. Seguro o encosto da cadeira e minha cabeça parece que vai explodir. - Isso é brincadeira, certo? Nega com a cabeça e não gosto da forma como está me olhando. - Priscila tem um problema grave no coração. Já passou por cirurgias e não resolveu. Seu coração agora bate cada vez menos, podendo parar a qualquer momento. - Meu Deus! Digo ainda sem acreditar e Luana tem lágrimas nos olhos. - Ela está aguardando um doador, mas os médicos já disseram que será quase impossível achar um a tempo. Me sento na cadeira e encaixo minha cabeça entre minhas mãos, não acreditando no que estou ouvindo. Uma mulher linda que tem o mundo pela frente, condenada a morte precoce. - Se afasta dela... O pedido de Luana é carregado de medo. - Não quero te ver sofrer. Não quero te ver em luto por perder o amor. - Os médicos disseram quanto tempo de vida ela tem? - Não dá pra estimar. Seu coração está parando e um dia, ela talvez pode não mais acordar. - O transplante não tem como ocorrer rápido? - Existe uma fila para aguardar e Priscila não é prioridade. - Ela vai levando a vida dela assim? Um dia de cada vez? - Sim! Hoje por exemplo se sentiu m*l e foi pra casa. - Sozinha? - Sim! - Não é perigoso? - Miguel! Me repreende por estar me preocupando. - Deixe Priscila no caminho dela e siga o seu. Me levanto da cadeira e pareço sem rumo. - Acho que vou embora. - Não queria jogar a bomba em você assim. Tentei te privar disso tudo. - Tudo bem! Ando até ela e beijo sua cabeça. - Preciso ir! *************** São quase 20h da noite e não faço ideia do que vim fazer aqui. Saio do carro e encaro a enorme casa que parece ser de vidro. Olho em volta e a casa está em uma área bem isolada. Não se vê nenhuma outra residência por perto. Me pergunto como seria a casa na claridade do dia. Será que se pode ver dentro? Paro em frente a porta e toco a campainha. Espero e nada de barulho. Começo a ficar preocupado. Toco novamente a campainha e minhas pernas estão inquietas. Escuto um barulho na porta, que logo se abre. Olhos azuis cansados me encaram em choque. - Oi! Digo sem graça e ganho um sorriso bem suave. - Oi! O que faz aqui? Priscila está enrolada em sua coberta e parece tão frágil. - Luana me contou que não estava se sentindo bem. - Só isso que ela te contou? Seus olhos tristes para mim me quebram por dentro. - Me contou o necessário. - Necessário para que? - Para vim cuidar de você. - Não acho que exista cuidados para mim, Miguel! Estou bem sozinha. - Acho que temos um problema aqui. - Que problema? Pergunta confusa. - Você quer me afastar e quero ficar. - Não quero que fique por dó. Me aproximo mais dela e paro a sua frente. - Dó do que? Morde o lábio e ficamos nos olhando. - Não quero saber da sua doença. Acho que podemos esquecê-la e apenas... Me encosto no batente da porta. - Apenas tomar um bom vinho e admirar a noite. Se não me engano é disso que gosta. - Estou proibida de beber. - Então apenas vamos nos sentar e ver a noite. - É sério! Não precisa fazer isso. Mesmo aparentemente abatida e cansada, ainda é linda demais. - Agora já é tarde demais. Já estou aqui e não vou embora.
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