Por Bianca
Eu não conseguia respirar direito.
As palavras de Pedro ainda ecoavam na minha cabeça, repetindo-se como um disco quebrado.
"Eu te amo. Sempre amei."
Isso não podia estar acontecendo.
Passei as mãos no rosto, tentando organizar meus pensamentos. O jantar, Marcos do outro lado da rua, o olhar de Pedro, a discussão no carro… e então, aquela confissão.
Eu queria acreditar que tinha ouvido errado. Mas não tinha.
Pedro me amava.
Pedro, o meu melhor amigo. O homem que esteve comigo nos meus piores momentos. O cara que eu sempre admirei, sempre confiei, sempre me senti segura ao lado.
Mas… eu nunca o vi assim.
Ou será que vi e nunca quis admitir?
Suspirei, sentindo o peso dessa dúvida me esmagar.
A verdade é que, até Marcos aparecer, eu nunca havia pensado nessas possibilidades. Pedro sempre foi uma presença constante na minha vida, mas eu nunca me permiti imaginá-lo como algo além disso.
E agora tudo estava bagunçado.
Olhei para o celular na mesa. Nenhuma mensagem. Nenhuma ligação.
Pedro não falava comigo desde aquela noite.
E Marcos? Bom, ele não era do tipo que desaparecia.
O que ficou claro quando, na tarde seguinte, ele entrou na minha loja como se fosse um cliente qualquer.
Meu coração disparou quando o vi. Ele vestia uma jaqueta preta sobre uma camiseta justa e jeans escuros, e o jeito como caminhava, cheio de confiança, irritantemente atraente, só me deixava mais confusa.
Marcos parou na frente do balcão e sorriu.
— Você andou fugindo de mim.
Cruzei os braços.
— Eu não estava fugindo.
— Não? — Ele arqueou uma sobrancelha. — Então quer dizer que ignorar mensagens e evitar lugares onde sabe que posso estar é o quê? Coincidência?
Revirei os olhos.
— O que você quer, Marcos?
Ele apoiou os antebraços no balcão e me encarou.
— Quero saber o que tá acontecendo aqui.
— Aqui onde?
— Entre a gente.
Engoli em seco.
— Não tem "a gente".
Ele sorriu de lado.
— E ainda assim, você está nervosa.
Ótimo. Ele percebeu.
Marcos suspirou, como se estivesse se divertindo com a situação.
— Eu vi vocês dois aquela noite. Você e Pedro.
Meus músculos se contraíram.
— E daí?
— Daí que eu sei o que aconteceu depois.
Meu coração parou por um segundo.
— Como assim?
Ele se inclinou um pouco mais perto, a voz baixa, rouca.
— Ele finalmente disse, não disse?
Minha respiração travou.
— Eu…
— Ele te ama. — Marcos disse isso como se já soubesse, como se fosse óbvio. Como se não se importasse. — E você?
Tentei ignorar a forma como meu estômago se revirou.
— Eu… eu não sei.
Marcos me observou em silêncio por alguns segundos. E então, ele sorriu.
Mas não era um sorriso divertido.
Era um sorriso de quem já tinha vencido um jogo antes mesmo de ele começar.
— Isso significa que ainda há espaço para dúvida.
Me afastei, sentindo o peito apertado.
— Eu não quero jogar, Marcos.
Ele segurou minha mão antes que eu pudesse sair de perto.
— Eu também não.
Meu corpo inteiro arrepiou.
Era isso que me assustava.
Pedro era amor, segurança, proteção.
Marcos era perigo, desejo e mistério.
E eu estava presa entre os dois.