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907 Palavras
Capítulo 1 Hellen narrando O motor do carro ainda estava ligado, mas eu não prestava atenção no ronco. Estava ali, estacionada em frente ao prédio que um dia abrigou o meu escritório. Meu nome ainda estava na placa de vidro ao lado da entrada. “Dra. Hellen Medeiros – Advocacia Criminal.” Agora parecia uma piada c***l. Eu esperava por ele. Aquele desgraçado. Jonas. O homem que não apenas me destruiu profissionalmente, mas arrancou cada pilar que sustentava a minha vida. O celular tocou, e no visor, o nome da Aline piscava. Respirei fundo antes de atender. — Onde você está? — ela perguntou, com aquela voz entre preocupada e exausta. — Eu vim dar uma volta — menti, sabendo que ela me conhecia bem demais para acreditar. — Hellen, pelo amor de Deus, você não está na frente do seu antigo escritório de novo, né? — Eu tenho certeza que ele tem outra — rebati, olhando para a porta de vidro, esperando aquele miserável aparecer. — Hellen — a voz dela suavizou, tentando me puxar de volta pra realidade — por favor, volta pra casa. Você já tem um processo nas costas por causa do escândalo no dia da posse. Não piora as coisas. Desliguei sem responder. Aline sempre teve esse talento irritante de dizer exatamente o que eu não queria ouvir. Permaneci ali, firme, mãos trêmulas de raiva, coração disparado. Até que a porta se abriu. Ele apareceu. Sozinho. Saí do carro como se fosse puxada por um ímã. — Jonas! — gritei. Ele se virou, me olhou com aquele desprezo frio que só ele conseguia encarnar. — Você quer ser presa, Hellen? — ele perguntou com desdém — Não sei se você lembra, mas tem uma medida protetiva contra você. — Você é o filho da p**a aqui — rosnei, me aproximando — Você destruiu a minha vida. — Eu? — ele levantou uma sobrancelha, fingindo inocência — Eu não fiz nada. — Retira o processo — exigi, cruzando os braços com firmeza. — Quem mandou você invadir a cerimônia de posse e fazer aquele escândalo? — ele respondeu com aquele tom calculado, cada palavra afiada como lâmina — Você se colocou nessa posição. — Você me tirou tudo. Me deixou no fundo do poço. Estou prestes a perder até a casa onde moro. — Problema seu, Hellen. Não meu — ele respondeu seco, e acionou o alarme da BMW com um toque de ostentação. Meu sangue ferveu. Olhei para o lado e vi um cabo de vassoura encostado num muro. Num impulso cego, peguei o cabo e comecei a acertar o carro dele com força, gritando, chorando, misturando tudo. — Você está maluca?! — ele gritou, correndo até mim e me segurando pela cintura — Eu vou te processar! Você vai pagar por isso! Vou te colocar na cadeia! — ME COLOCA, SEU FILHO DA p**a! — gritei em resposta, lutando contra o aperto dele — SEU CORNO, SEU TROUXA, SEU BOSTA! — algumas pessoas começaram a parar para assistir à cena. — Você só tem esse carro, esse terno, esse status porque me tirou tudo! Se não fosse por isso, você estaria na lama igual a mim! Ele me empurrou levemente para longe e passou a mão no terno amassado. — Vai embora, Hellen. A gente se vê na justiça. — Com todo prazer — cuspi — Eu vou provar pra todo mundo o lixo que você é. Ele riu, aquele riso sarcástico que sempre me tirava do sério. — Eu vou te colocar atrás das grades, nem que isso seja a última coisa que eu faça. Encarei ele com um sorriso irônico, como quem aceita a guerra. Voltei para o carro e dirigi até minha casa. Quando estacionei, Aline já me esperava na calçada, os braços cruzados, a testa franzida. — O que você aprontou agora? — ela perguntou, olhando meus cabelos bagunçados e a expressão fora de controle. — Nada — respondi, empurrando a porta para entrar. — Você já viu a quantidade de contas vencidas? A sua casa vai pra leilão! E ainda tem tempo de causar barraco com o Jonas? — Estou nessa situação por causa dele! — rebati, largando a bolsa no sofá. — Esquece o Jonas! Aliás, nem dá pra esquecer, porque ele está te processando pelo barraco que você fez. — Com razão — falei, erguendo o queixo — Eu não estou errada. — Hellen, Jonas tem um cargo alto agora. Ele é influente. Você tem noção do que ele pode fazer com sua vida se quiser? Você precisa de clientes de verdade, urgente. — Eu tenho clientes. — Ladrões de galinha que m*l te pagam R$ 1500, e muitos nem isso! — ela rebateu — Se toca, Hellen. Ninguém vai contratar uma advogada que parece saída de uma novela policial de fim de noite. Antes que eu pudesse responder, meu celular tocou. Um número desconhecido. Atendi no reflexo. — Alô? — É a advogada Hellen Medeiros? — Sim, ela mesma. — Meu nome é Luan. Meu irmão foi preso e precisamos de uma advogada. Você está disponível? — Claro — respondi, sentindo o coração acelerar — Onde ele está? — Na 14ª DP. — Estou indo pra aí. Desliguei. — Desse jeito? — Aline apontou para minha roupa amarrotada — Vai atender cliente assim? Quem é agora? Outro ladrão de galinha? — Não enche o saco, Aline — respondi, pegando a chave e saindo.
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