O meu nome é Talita, vou contar um pouco sobre mim, ao contrário do que as pessoas costumam imaginar ao ouvir o meu sobrenome, eu não cresci numa família feliz, unida ou amorosa. Eu nasci numa casa grande, cheia de quartos, cheia de empregados, cheia de portas trancadas e segredos escondidos embaixo de tapetes persas. Eu nasci na família Baltazar, filha de um juiz conhecido em todo o estado e de uma delegada influente, respeitada, temida e ovacionada em entrevistas e jornais sensacionalistas, reconhecida por prender os mais perigosos bandidos, não so daqui do Rio de Janeiro, em vários outros estados. Cresci cercada de títulos, status, riqueza e poder. Mas nunca cresci cercada de amor, não o amor de pai e mãe que eu deveria ganhar.
Meu pai, o famoso juiz Baltazar, sempre foi o homem que os outros admiravam. Postura rígida, fala firme, orgulho estampado no peito. Minha mãe, Delegada Joana Baltazar, era a mulher que os outros temiam. Fúria contida, olhar de gelo, autoridade em cada passo. Juntos, eram quase um símbolo. Um casal exemplar na mídia, em reuniões, em campanhas sociais, em palestras. Mas dentro de casa? Dentro de casa, eles eram dois estranhos. Dois rostos sempre virados para longe de mim, que nunca me falaram um te amo.
Eu tenho dois irmãos, o mais velho o Caio, seguiu o caminho do meu pai e trabalha como investigador. Um prodígio, dizem que ele sempre foi o favorito dele. A minha irmã a Beatriz ela é idêntica a mim, já que somos gêmeas, virou policial, como a minha mãe. Não uma policial qualquer. Ela é a chefe do BOPE do Rio de Janeiro. Aquela que aparece mascarada em reportagens, liderando operações em comunidades, entrando com postura de guerra nos morros, com voz firme e olhar que não vacila. Ela é temida pela cidade inteira. Eu cresci vendo todos se curvarem ao nome dela, menos eu, desde pequenas temos algumas coisas em comum outras não, eu não me lembro se alguma vez eu e meus irmãos se temos bem, pelo que a Sónia me fala que quando éramos pequenos a gente se dava super bem, os dois me protegia, mas depois que fomos crescendo, e as minhas ideias não batiam igual as deles tudo foi mudando, até meus pais mudaram.
Eu nunca quis ser ela, nunca quis ser meus pais, nunca quis ser nenhum deles. Desde pequena, eu sabia que gostava de cuidar de pessoas, eu me encantava ouvindo histórias de mulheres que ajudavam pessoas, que davam carinho, que curavam as dores. Eu gostava de crianças. Sempre gostei. Talvez porque, de certa forma, eu nunca deixei de ser uma por dentro. Talvez porque parte de mim sempre esperou receber daquele amor que as mães costumam dar aos filhos.
O meu sonho era ser médica pediatra. Não para ganhar status, não para aparecer em fotos de jaleco sorrindo, mas porque eu queria cuidar de crianças que, como eu, precisavam de alguém que enxergasse além da aparência. Eu queria ser para elas o que ninguém foi para mim, e também queria pode ajudar eles a se curarem, mas esse sonho nunca foi aceito na minha casa.
Na minha família, existia apenas um caminho: lei, polícia, força. Quem não seguisse, era tratado como fracasso. E eu era o fracasso. A filha inútil. A que não servia para moldar a imagem perfeita da família. A peça fora da engrenagem, e talvez por isso, eu nunca recebi amor, não me lembro se algum dia recebi isso, só me lembro das surras que levei, por algo que não fui eu quem fiz.
Quem cuidou de mim foi minha babá. Dona Sônia. A única pessoa naquela casa que via a minha dor e o meu sofrimento. A única que sabia quando eu chorava escondido, trancada no closet, para que ninguém ouvisse para não apanhar.A única que colocava uma mantinha sobre mim, quando eu dormia lendo algum livro de biologia infantil. A única que me chamava de “minha menina” que me dizia que me amava.
Mas o resto dos funcionários da casa… esses eram diferentes. Eles me tratavam como peso. Alguns batiam-me quando ninguém estava olhando. Outros ofendiam-me. Outros simplesmente me ignoravam. Eu reclamava. Eu chorava. Eu pedia para os meus pais olharem para mim. Para acreditarem. Para me ouvirem. Mas eles sempre diziam a mesma frase, com a mesma frieza:
— Eles estão ajudando a criar você, porque eles são os nossos olhos dessa casa, então pare de reclamar e começa agir, larga de ser chorona aqui não tem ninguém para mimar você.
Como se violência criasse caráter. Como se abandono moldasse respeito. Como se amor fosse algo desnecessário porque havia dinheiro. Eles sempre repetiam que eu não devia reclamar, afinal, não me faltava comida, roupa, estudo, casa. Era como se amor fosse um extra. Algo opcional. Algo que eu não precisava, mas eu precisava, queria o amor que eles sempre deram para meus irmãos.
Eu lembro de ver meus pais acompanhando cada conquista dos meus irmãos. Na escola, nas apresentações, nas viagens, nas férias. Era sempre eles três. E eu ficava, às vezes, eles até me levavam, mas só quando queriam impressionar alguém. Quando havia um jantar social, um evento importante, ou quando algum político ou promotor levava a família. Eu era o enfeite, a filha para sorrir na foto, a peça do cenário, mas quando as câmeras desligavam, o sorriso deles também desligava. E aí voltava o silêncio, mesmo eu estando ali junto com eles eu ainda era esquecida.
Beatriz minha irmã, sempre foi c***l, ela me usava para os planos dela. Para enganar, para manipular, para mentir. E quando eu tentava falar, quando eu tentava-me defender, quando eu dizia a verdade, meus pais só diziam que era “crise” minha, que eu era dramática, exagerada, fraca. Eles nunca escutavam, e ela só ria, ela podia sair para onde quisesse menos eu, quando ela estava tranquila ou queria aprontar mesmo eu sabendo que iria sobrar para mim eu era obrigada a ir junto, eu cresci aprendendo a engolir a dor, o choro, aprendi a engoli por muito tempo, até o dia em que tudo piorou, eu me lembro muito bem do que aconteceu aquele dia, e eu não pude reclamar, não tive quem me defendia.
Eu tinha uns dezesseis anos quando aconteceu, a Bea decidiu levar-me com ela e algumas amigas chatas dela, para um baile no morro da Rocinha. Eu nunca tinha ido em baile nenhum, e detalhe meus pais sempre souberam que elas subiam o morro, mas fingiam não ver, não era meu ambiente, eu sempre fui quieta, medrosa. Não sabia beber, não sabia dançar do jeito que ela me fazia dançar sensualizando os funk de p*****a que ela amava, principalmente aqueles que falam que as patricinha de asfalto gostam de subir o morro, para sarrar da glock dos bandidos, para sentar para eles, então só fui porque ela insistiu muito, me prometeu que depois nisso meus pais iriam mudar comigo, e assim eu achei que, talvez naquele dia, eu pudesse ser incluída. Que talvez ela estivesse tentando me aproximar dos nossos pais, eu queria acreditar nisso. Eu queria tanto e assim foi, ela pediu para meus pais deixar eu ir ao salão com ela, compra roupa e assim foi, passei um dia incrível com ela, acho que esse foi o nosso e o último que tivemos, pude me sentir livre um pouco, vi pessoas, conversei, e sorrir de verdade, eu tenho o meu celular, mas ele toda a semana meus pais olham tudo.
A noite a gente se arrumou, e depois descemos pra pegar o uber, íamos encontrar as amigas dela lá enfrente ao morro, o baile era aberto para todos, chegando ali eu me deparei com vários homens armados, uns eram gato demais, cara de bandido mesmo, outros eram meio feios, as amigas dela já estavam ali esperando, eu fiquei da minha vendo elas cumprimentando os rapazes ali numa i********e que só, já vi um entregando a elas maconha já bolado, e até uns pino de pó, sim, eu sabia que isso ia dar r**m, mas não falei nada, porque se ela ficasse brava poderia me acertar um tapa ali mesmo da frente de todos, isso já me aconteceu da balada, que ela me fez ir junto e como não quis beijar um amigo dela ela me humilhou e ainda me deu dois tapas ali da frente de todo mundo, então fiquei da minha.
E assim subimos até o alto do morro, numa quadra, estava lotado de gente ali, logo elas encontraram um rapaz que tem fez questão de se apresentar a mim, e tem eu a ele, e assim subimos para um tal de camarote, ali elas pareciam que reinava, dançavam sensualizando, bebiam, fumava e cheguei até vem minha irmã cheirando, e também vi ela comendo um rapaz pelos olhos, mas como estava escuro da parte onde eu escolhi ficar, eu não vi quem era, passou um tempinho, as amigas da minha irmã chegou com bebidas ali, colocaram da mesa, todas rindo, prepararam um copão de whisky com gelo e energético pra mim, e me fizeram beber, e eu bebi, mesmo não estando acostumada, depois me fizeram sair da parte que eu estava até que um homem muito lindo chegou perto de mim.
_ E aí paty suas parceiras deixaram tu aí sozinhas, e foram se divertir, qual o seu nome- ele me perguntou tranquilo
_ Eu me chamo Talita, e elas são minhas amigas, tem queria estar aqui- falei dando de ombro
_ Tendi, aí tu é gata em, tu namora, tu é a cópia da sua irmã- ele fala sorrindo
_ Acho que sim, não eu não namoro, e você já ficou com a minha irmã também, qual o seu nome- perguntei e ele negou
_ Não é por nada não gata, mas não sou fã de garotas igual sua irmã é as suas amigas, que vem de lá de baixo, só pra sentar para nós, de porte alto está ligado, aí me chamo Wesley, mas todos me chamam de Finin, sou o dono daqui-ele me fala e eu abro a boca e ele rir
_ c*****o, aí desculpa, espera vocês não são de falar nomes, só vulgo porque contou pra mim
_ Porque eu sei em quem eu posso ou não confiar, aí me dar o seu celular- ele fala sério e ei dou
Então ele pega e coloca o seu número ali, e salva ele com o seu nome, e depois manda um oi pra ele, e salva o meu número, como princesa, e assim me entrega o meu celular, e sorrir pra mim
_ Aí está o meu número, se um dia você precisar de mim, pode contar comigo, eu irei até onde você estiver, toma cuidado, não aceita bebida de estranhos, e tem das amigas ou da sua irmã, elas já estão doidinhas, agora vou dessa meus aliados estão me chamando, fé pra tu aí princesa- ele fala faz um toque comigo, me dá um beijo da testa e saí, me deixando ali sozinha, fico ali olhando tudo ao meu redor, as amigas da minha irmã tudo já subiram, eu vi um homem me olhando, mas tem olhei muito já abaixei a cabeça, fiquei ali esperando a minha irmã, que chegou com um sorriso que me deixava com medo, ela veio até mim com o seu copo da mão.
_ Olha só eu preciso que me espere aqui, se começar a amanhecer e eu não chegar desce o morro e vai embora, e só confirma que pedi pra você ir embora, que eu ia dormir da casa da Luana, aí e meu amigo ali quer lhe conhecer, cuidado com que você for falar com ele- ela me fala e eu nego
_ Eu não quero ficar aqui, me deixa ir embora, eu falo para nossos pais que você vai dormir da Luana- falei e ela me olhou feio
_ Escuta aqui, só faz o que eu estou mandando, eu só vou ir até o motel com o gato que conheci, vou dar gostoso pra ele, porque ele tem uma pegada perfeita e bruta, verdade a santinha não sabe o que é isso, vai que hoje você não conhece alguém que de faz mulher de verdade, e cuidado com que vai falar de mim e das meninas para os nossos pais- ela fala já me ameaçando.
Simplesmente ela virá às costas e sai andando, me deixando ali, olho de r**o de olho, e vejo ela falando com o homem que sorrir pra ela, e me olha com malícia, então eu me levanto dali, e sigo lá pra baixo, a procura de um banheiro, e depois eu vou embora.
Achei o banheiro, mas sinto que estou bêbada, eu entro ali do banheiro faço o meu xixi, dou descarga e depois saio para lavar as minhas mãos, e quando sai no banheiro eu senti alguém me puxando, e um perfume forte amadeirado entrou do meu nariz, e quando vi era o homem que tinha passado a noite toda me olhando, os seus olhos estavam vermelhos, o cheiro de bebida e maconha estava dele, e a ponta do seu nariz meio-branco, então ele cheirou, ele não é velho, mas também não é novo, pela aparência tem uns 30 anos, eu gelei ali, o medo me cercou, eu senti o medo percorrer em mim.
_ Aí precisa ficar com medo de mim não, a sua irmã me contou que você quer ficar comigo, mas é cheia de vergonha- ele me fala com a voz fria
_ Ela mentiu eu tem sei quem é você, e eu não quero ficar com você- falei seria, mas com medo, e ele riu
_ Fala sério garota, eu sou o Coringa do Alemão, sou o dono de lá, vocês patricinhas amam se fazer de difícil, atiça e depois quer cair fora- ele fala bravo
_ Olha só Coringa, eu não quero ficar com você, minha irmã mentiu para você, por favor me solta quero ir embora- falei segurando o meu choro