Chegando em Jersey, fui direto para casa, precisava muito descansar e no caminho de casa, já mandava mensagem para minha terapeuta marcando um horário, precisava muito conversar com alguém que não fosse próximo a mim. E que não iria contar a ninguém sobre o que fizesse.
No dia seguinte, acordei cedo, pois tinha sessão com a terapeuta antes de ir a delegacia. Tomei um banho e me vesti, peguei café e fui até o consultório dela. Assim que cheguei, ela já me esperava.
- Bom dia Srta. Alice. - disse ela tranquila enquanto se ajeitava na cadeira e eu forcei um sorriso. - Então, o que aconteceu de tão importante que precisou adiantar essa sessão?
- Muita coisa nos último dias. - suspirei e ela assentia.
- Algo no trabalho? - perguntou calma.
- Também, mas vamos começar pelo fato de que dormi com aquele cara, Jesse. - ela assentiu e eu prossegui. - Porém, não falamos sobre isso, digo eu e ele. Não trocamos uma palavra sequer e não que eu estava esperando algo, me sinto péssima na verdade.
- Por que? - perguntou confusa e eu respirei fundo.
- Porque não contei a ele sobre nós dois, e agora, definitivamente, não sei se um dia ele me perdoa por não ter contado. -
- Eu acho que independente dele perdoar ou não você, você precisa contar. Acredito que saiba que é egoísmo próprio seu, não contar a ele algo que diz respeito a ele, só porque tem medo que ele não a perdoe.
- Eu sei. Mas, não sei como iniciar essa conversa com ele, ou se ele realmente vai querer saber, ou se eu significo algo para ele. O problema, é que tenho que ir para o trabalho hoje e nem sei como devo agir,
- Alice, acho que você precisa tomar uma decisão. Se vai ou não contar, e o que você pretende para você futuramente.
- Eu sei. - falei bufando e ela riu em silêncio. - mas sinto dentro de mim dizendo que não é o momento. Não agora.
- Tudo bem sentir isso, ouça seu coração, mas não espere que todos ao seu redor estejam no mesmo ritmo que você.
- Desculpe. - falei pegando meu telefone que não parava de tocar. Eram inúmeras mensagens do Parker que estava na cena de um crime. - eu preciso ir. - falei levantando imediatamente e ela fez o mesmo.
- Te vejo na próxima semana? - ela perguntou e eu apenas assenti.
Sai do consultório e peguei meu carro no estacionamento. Parker já tinha mandado a localização, cheguei o mais rápido que pude, já haviam demarcado a área em volta da casa, tinha claramente sinais de lutas do lado de fora, os vizinhos olhavam curiosos e vi Kyera, Matthew, Jessica e Jesse fazendo perguntas a eles.
- Alice. - disse Parker quando me viu. - Vem cá. - entrei na casa e tinha um cheiro forte a amônia. Muito sangue espalhado e a perícia colhia provas.
- O que aconteceu? - perguntei calma o seguindo pelo corredor, no quarto a mulher estava perfeitamente posta a cama, a cena era estranhamento diabólica.
- Os vizinhos notaram a bagunça do jardim e que não tinha visto os Carrow saírem, eles costumavam acordar cedo e ir para o trabalho logo após uma caminhada matinal, ligaram para polícia e os oficiais se depararam com isso. - disse olhando a mulher na cama.
- Ela morreu como? - perguntei e Howard apareceu atrás de mim.
- Decapitada. - disse ele e eu o olhei incrédula. - limparam o corpo depois e costuraram a cabeça ao corpo de volta. - meu estômago embrulhou.
- Nojento - disse Parker. Howard e eu o encaramos. - O que? - revirei os olhos e ele balançou os ombros.
- Mas cadê o esposo? - perguntei notando que só o corpo dela estava na cama.
- No quintal, enterraram ele.
- O que acha? - perguntei olhando para Howard.
- Serial Killer, acerto de contas, psicopata, muitas probabilidades. - suspirou profundamente. - Vamos virar a vida deles de cabeça para baixo e precisamos achar quem fez tamanha brutalidade. - apenas assenti. - é bom ter vocês de volta. - disse ele quase sem expressão e saiu.
- É a primeira vez que vejo ele falar algo tão próximo de um sentimento. - disse Parker e rimos.
- Vamos trabalhar. - falei e ele assentiu.
Saímos da casa indo em direção ao meu carro e Jesse voltava acompanhado de Jessica de uma casa vizinha e entraram no carro dele. Entrei e Parker me encarava sorrindo, apenas balancei a cabeça e dei partida no carro.
- Vocês ardem um pelo outro e negam isso - disse animado e eu dei risada.
- Parker, por favor. - falei calma e eu assentiu.
- E a terapia? - ele perguntou tranquilo e eu forcei um sorriso.
- Está tudo indo bem. - respondi calma prestando atenção no trânsito.
- Espero que continue te ajudando muito, Alice. Só quero seu bem.
- Você me obrigou - revirei os olhos. - Mas admito que tem sido bom.
- Que bom que está gostando. Você até que evoluiu bastante – disse Parker e eu ri.
- Ei, May mandou mensagem para eu ir jantar hoje na casa de vocês – ele me encarou com um meio sorriso e o olhei de soslaio. - O que foi?
- Ela pergunta bastante dos dias que fiquei fora e acha que estou escondendo algo sério dela. - suspirou e eu o encarei. - Ela convidou Jesse e a Jessica, acha que um vai entregar alguma coisa.
- Sinto muito – falei sorrindo e ele assentiu. - Prometo que vou tentar ela esquecer disso, mas realmente sinto muito por ter que esconder dela. O problema era todo meu.
- Não se preocupa, vai ficar tudo bem.
- Chegamos na Delegacia, logo após Jesse e Jessica estacionarem. Descemos do carro e subimos todos juntos, eu fiquei em silêncio apenas escutando os três falarem sobre a janta.
Quando chegamos no quinto andar, tive a maior surpresa que poderia ter, era estranho admito ver ele novamente, considerando nosso último encontro. Jesse e Parker se postaram na minha frente.
- O que faz aqui? - perguntou Parker sério e Jessica me olhou preocupada.
- Não vim falar com você – respondeu Parker de forma a*******e. - Não sabia que tinha seguranças. - disse me encarando e eu passei entre Parker e Jesse.
- E não preciso, o que faz aqui? - perguntei no mesmo tom que usou com Parker e ele me olhou indiferente.
- Podemos conversar em particular? - suspirei e apontei para a cozinha.
- Vai ficar bem? - perguntou quase num sussurro Jesse e eu apenas assenti.
Fomos para a cozinha e ele se sentou, fechei a porta e me servi um pouco de café, ele colocou uma pasta sobre a mesa, tinha meu nome nela.
- Porque meu nome está nessa pasta? - perguntei e ele me olhou.
- Me enviaram isso – abri a pasta e tinha apenas uma folha, pesquisando por vários nomes meus utilizados antes e nada constava. - Apagaram a sua existência de todos os dados, tanto militar como nas agências, é como se você nunca tivesse existido.
- E porquê a preocupação com isso? Você não deixou claro que não era mais meu pai?
- Eu sinto muito, passei dos limites e apesar das nossas desavenças, me importo com você. Sempre será minha filha. - o encarei indiferente e ele suspirou. - minha preocupação é que ninguém sabe porque apagaram você.
- Obrigado por avisar, mas depois de todo esse tempo. Você realmente sente só pelo que me disse aquele dia? - ele se mexeu incômodo na cadeira e baixou o olhar. - foi o que pensei.
- Alice! - disse ele firme quando me levantei e eu o encarei.
- Vai embora por favor. - falei quase num sussurro engolindo toda a dor que meu peito sentia.
- Tudo bem, liga pra sua mãe, ela sente sua falta.
Disse ele e saiu quieto. Fechei a porta e fiquei um longo tempo escorada nela, respirava fundo para fazer aquela dor parar, eu só queria que ela parasse. Peguei o telefone e disquei o número da minha mãe.
*Ligação On*
- Mamãe - falei com a voz embargada.
- Alice? O que houve querida? - perguntou preocupada e eu respirei fundo.
- Nada, só queria ouvir sua voz - falei calma.
- Ah, minha pequena Alice. Sinto sua falta.
- Também sinto a sua.
- Seu pai te procurou, não? - eu respirei fundo.
- Sim. - era h******l falar com ela estando tão perto de casa e não ir ver ela.
- Você sempre será minha filha, não importa o que diga sua certidão de nascimento, querida. Quero que saiba, que sempre estarei aqui para te ouvir ou só ficar em silêncio.
- Eu sei - respondi com a voz embargada.
- Sabe, sempre lhe disse que não deveria ser tão dura com si mesma e chorar faz parte. - foi o estopim para que as lágrimas escorrerem por minhas bochechas. - você não é um robô meu anjo.
- É difícil não saber lidar com sentimentos. - falei rouca e respirei fundo. - você foi a única com quem mantive contato todo esses anos.
- Eu sei, mas como prometi, nunca contei ao seu pai e nem à sua irmã. Então, como vai o trabalho? - suspirei fundo.
- Estou em Nova Jersey há um tempo, eu sei que é perto de casa. Mas, não estou pronta.
- Tudo bem, se quiser, posso ir e jantar com você - eu sorri mesmo sabendo que ela não veria.
- Lembra do militar que me envolvi a anos atrás?
- Achei que nem lembrava mais dele - ouvi ela rir. - guardei a foto de vocês dois, quando me enviou com as cartas.
- Depois de todos esses anos? - perguntei surpresa e ouvi ela rir novamente.
- Claro, foi a primeira e única vez que falou sobre estar apaixonada por alguém. Mas porque falou dele agora?
- Eu trabalho com ele. Fui superior dele por um tempo, e agora somos detetives e colegas de trabalho. - suspirei.
- E como está sendo?
- h******l. - ouvi ela suspirar. - ele não se lembra de mim, eu mesma demorei a reconhecê-lo.
- Quando ele conheceu você, você tinha outro nome e cabelo tingido.
- Sim - falei rindo me lembrando da época em que tinha cabelos pretos.
- Porque não contou a ele?
- É complicado. - vi Parker acenando no vidro para que eu fosse lá. - Mãe, preciso desligar.
- Tudo bem querida. Ligue mais vezes.
- Prometo, te amo.
- Também amo você querida, se cuida.
*Ligação Off*
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