PRÓLOGO

947 Palavras
PRÓLOGO Janine pensou ter visto uma sombra escura na água, não muito longe da margem. Era grande e n***a, e parecia mover-se ligeiramente nas brandas águas lustrosas. Sorveu o cachimbo de m*******a e entregou-o ao namorado. Seria aquilo um peixe de grandes dimensões? Ou seria um outro tipo de criatura? Janine sacudiu-se numa tentativa de não se deixar levar pela sua imaginação. Ter medo estragaria a euforia induzida pela m*******a. O Lago Nimbo era um grande reservatório artificial destinado à pesca, igual a tantos outros lagos do Arizona. Nunca houvera relatos de avistamentos de monstros Nessie por ali. Ouviu o Colby dizer, “Uau, o lago está a arder!” Janine virou-se para o namorado. O seu rosto sardento e cabelo ruivo brilhavam à luz tardia do fim do dia. Tinha acabado de fumar o conteúdo do cachimbo e olhava para a água com uma expressão de absurdo temor. Janine soltou uma risadinha. “Só estás iluminado, meu,” Disse. “Em todos os aspetos.” “Pois, e o lago também,” Respondeu Colby. Janine voltou-se e contemplou o Lago Nimbo. Apesar de ainda não ter atingido o apogeu do efeito da m*******a, o que viu era deslumbrante. O sol do fim de tarde iluminava a muralha do desfiladeiro em tons de vermelho e dourado, e a água refletia as cores como se fosse um grande espelho liso. De súbito lembrou-se que nimbo era a palavra espanhola para auréola. O nome enquadrava-se perfeitamente no cenário que presenciava. Pegou novamente no cachimbo e inalou profundamente, sentindo um agradável ardor na garganta. A qualquer momento, estaria completamente pedrada. Ia ser divertido. Ainda assim, que forma n***a era aquela na água? Apenas uma ilusão da luz, Disse Janine para si própria. Fosse o que fosse, o melhor era ignorar, não ficar amedrontada com aquilo. Tudo o resto era tão perfeito. Aquele era o seu lugar preferido, dela e do Colby – tão belo, aninhado numa das baías do lago, longe de acampamentos, longe de tudo e de todos. Ela e Colby gostavam de lá ir aos fins-de-semana, mas naquele dia tinham faltado às aulas para lá estar. A doçura daquele fim de verão era demasiado agradável para não ser aproveitada. Ali era bem mais fresco e aprazível do que em Phoenix. O carro velho de Colby estava estacionado na estrada de terra batida logo atrás deles. Quando percorreu o lago com o olhar, Janine começou a sentir o efeito a apoderar-se dela – a sensação de que a pedrada estava iminente. O lago quase parecia demasiado belo para ser contemplado. Então olhou para Colby. Também ele parecia intensamente belo. Agarrou-se a ele e beijou-o. Ele retribuiu o beijo. O sabor dele era incrível. Tudo nele parecia e sabia maravilhosamente. Apartou os lábios dos dele, olhou-o nos olhos e disse ofegante, “Nimbo significa auréola, sabias?” “Uau,” Exclamou Colby. “Uau.” Pela sua reação, parecia ter acabado de ouvir a coisa mais interessante que alguém já lhe dissera na vida. Ele parecia e soava tão engraçado ao dizer aquilo, quase como se fosse algo religioso. Janine começou a rir e Colby seguiu-lhe o exemplo rindo também. Dali a momentos, estavam completamente embrulhados nos braços um do outro. Janine conseguiu desembaraçar-se. “O que é que se passa?” Perguntou Colby. “Nada,” Respondeu Janine. De repente, tirou o top. Colby abriu muito os olhos. “O que é que estás a fazer?” Perguntou ele. “O que é que te parece que estou a fazer?” Ela começou a tentar tirar-lhe a T-shirt. “Espera,” Disse Colby. “Aqui?” “E por que não aqui? Sempre é melhor do que no banco traseiro do teu carro. Ninguém está a ver.” “Mas talvez um barco…” Janine riu. “E se houver um barco? Que importa?” Colby ficou mais animado, ajudando-a a tirar-lhe a T-shirt. A excitação tornava-os desajeitados, aumentando ainda mais o entusiasmo. Janine não compreendia porque é que ainda não o tinham feito ali. Não era propriamente a primeira vez que fumavam e**a naquele lugar. Mas Janine não conseguia deixar de pensar na forma que avistara na água. Alguma coisa era e até descobrir o quê, não ia descansar. Ofegante, ergueu-se. “Vem,” Disse. “Vamos ver uma coisa.” “O quê?” Perguntou Colby. “Não sei. Limita-te a vir.” Pegou na mão de Colby e tropeçaram na encosta escarpada que dava para a margem. A pedrada de Janine começava a amargar. E ela odiava que isso acontecesse. Quanto mais rapidamente descobrisse que se tratava de algo perfeitamente inofensivo, mais depressa voltaria a sentir-se bem. Ainda assim, começava a desejar que a pedrada não tivesse surgido tão rapidamente e com tanta força. A cada passo que davam, o objeto começava a ganhar forma. Era feito de plástico preto e, aqui e ali, bolhas subiam à superfície. E havia qualquer coisa pequena e branca ao lado dele. A cerca de um metro de distância da água, Janine pode ver que se tratava de um grande saco preto do lixo. Estava aberto na extremidade e dessa a******a espreitava a forma de uma mão, anormalmente pálida. Talvez um manequim, Pensou Janine. Debruçou-se sobre a água para ver melhor. As unhas estavam pintadas de um vermelho vivo que contrastava com a palidez da pele. Uma terrível perceção atravessou o corpo de Janine como se de uma corrente elétrica se tratasse. A mão era real. Era a mão de uma mulher. O saco continha um cadáver. Janine começou a gritar e ouviu Colby também a gritar. E soube que o grito uníssono de ambos se prolongaria por muito tempo.
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