Episodio III- Recolha todas

1283 Palavras
Não era um momento feliz para Victor. Nem mesmo em seus piores pesadelos ele imaginara que um dos Salvatores viria em busca de vingança. Mas ali estava Claire, de pé em sua sala, sorrindo, exibindo um sorriso branco e amplo, com o rosto estampado na capa de uma revista. A incredulidade tomou conta de seu corpo ao ver a cena diante de si. Ele se aproximou rapidamente e pegou a revista de forma abrupta, quase arrancando-a das mãos de Claire, que ainda sorria. Até que ele se virou e lhe deu as costas. — Então, o que achou? A sua filha finalmente irá se casar, está feliz? — Claire perguntou, com os dedos tremendo levemente, enquanto o rosto sorridente na capa a incomodava, sem saber o que se passava nos bastidores. — Quando... por que estão expondo isso? Os olhos de Victor m*l podiam crer no que liam aquelas letras vermelhas. A frase anunciativa deixava claro quem era Claire: "Herdeira, Claire Belmonte, está noiva de Heitor Haviegas, futura esposa de gestor de finanças, nos confidencia com muita felicidade detalhes do noivado." Para Victor, aquele enunciado exalava problemas. — Como assim quando? Isso, papai? — Claire perguntou, com uma leve frustração, ainda sem entender a gravidade das intenções de seu pai com aquelas perguntas. Victor sequer se dignou a responder. Com um gesto impaciente, ele jogou a revista sobre a mesa e, com rapidez, sua mão se dirigiu ao telefone ao alcance. Claire, confusa, se aproximou. Ela sabia que ele estava chateado com a mãe desde a noite anterior, por causa do jantar, onde foram servidas pernas de rã — um prato francês que não agradou muito ao gosto de Victor. Não deu tanta importância ao episódio, mas agora a reação dele diante da revista parecia indicar que sua ira ainda não tinha passado. — Anelie, mande recolher todas as revistas que falem sobre a minha família. Cancele todas as matérias... — A voz de Victor ainda soava imponente e autoritária, enquanto ele permanecia ao lado da mesa, a raiva evidente em seu tom. Claire, sem entender o que estava acontecendo, agarrou o telefone de sua mão. — Não, papai! Por que quer fazer isso? — ela questionou, tentando entender a razão de tal atitude. Victor, porém, segurou mais firme o telefone, e como sempre, Anelie, secretária eficiente, já respondia do outro lado da linha. — Sim, senhor Belmonte. Claire ficou estupefata. Como era possível? Ela não conseguia entender a situação. Para ela, o mundo parecia desabar. — Avise-me quando tudo estiver feito. — Victor desligou o telefone abruptamente, enquanto a ira de seu pai se transformava em tirania. Claire, sem conseguir suportar mais a tensão, gritou. — Pai! — Sua voz soou frustrada, e o silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Ela, então, se aproximou, decidida a discutir. — O que está acontecendo com você? Por que está fazendo isso? — Claire insistiu, tentando quebrar a barreira que ele havia colocado entre eles. Victor, porém, parecia imperturbável. Cada ação, cada palavra dele mostrava um homem ainda em guerra consigo mesmo, em meio a uma tempestade interna que ele não sabia como controlar. E Claire, agora, era a última a entender essa tormenta. — Pai, o que está acontecendo? Por que está me tratando desse jeito? — A jovem loira fez beicinho, buscando tocar seu pai, como sempre conseguira, mas desta vez, o patriarca sequer a olhou, levando mais uma vez a mão ao telefone. Nascia uma esperança interna em Claire que a fez sorrir. Ela sabia que seu pai não tinha razões para agir dessa maneira. Afinal, o seu namoro e o noivado com Heitor haviam sido aceitos tanto por sua mãe quanto por seu pai. Eles sempre souberam que Heitor era o dono de seu coração. — Anelie... — Ao ser atendido, Victor fez uma breve pausa. — Senhor Belmonte... — até mesmo a secretária do outro lado se surpreendeu com mais uma ligação do Presidente. — Já foi solicitado que recolha todas as revistas... Mas Victor, disposto a proteger a sua família de toda e qualquer artimanha do seu inimigo, logo a interrompeu. — Mande dois dos melhores seguranças da empresa à minha sala. — Ordenou impaciente. Amava sua filha adotiva como se fosse sua. Afinal, a viu crescer. Victor via em Clarice e Claire uma oportunidade de redenção, uma nova vida surgia com o nascimento de Claire. Apesar de não ser sua filha de sangue, isso era algo que somente ele e Clarice precisavam saber. Apoiando-se na poltrona à frente de seu pai, Claire não compreendia o que estava acontecendo. O que realmente estava havendo com ele? Questionou-se. — Pai, para que você quer dois seguranças? Irão levar algo? — Questionou, sentando-se na borda da poltrona. Deveria medir suas palavras antes de direcioná-las a ele, pois seu pai parecia estar muito nervoso. Mas Victor, ainda observando a revista, parecia preocupado, aflito demais. Nunca a viu assim. — Pai, estou falando com o senhor. — O homem de olhos verdes, cabelos castanhos meio bagunçados, blusa social branca fechada, parecia distante. Pensativo demais. Nem parecia o seu pai, aquele que sempre a recebeu com amor e carinho. Victor respirou fundo, como se tentasse absorver todo o ar do ambiente. Sem pensar muito, olhou diretamente para Claire. Seus olhos verdes repousaram sobre ela. Sempre a viu como uma promessa de recomeço, a promessa de mudança de si mesmo. Desde o nascimento de Claire, tudo havia mudado. — Papai... — Ouvi-la chamá-lo no silêncio pouco dourado tocava-o mais. Ele faria o possível para protegê-las, tanto Claire quanto sua mãe. Afinal, elas não tinham culpa alguma sobre as suas ações e decisões do passado. A voz de Anelie fez Victor despertar. — Pode entrar. — Indicou Victor, despertando ainda mais a curiosidade em Claire, que não entendia nada do que estava acontecendo naquela sala. Victor, imerso em sua ira, fez um gesto imperativo, e logo os homens de segurança entraram na sala. Sem palavras, eles se aproximaram de Claire, que estava claramente atordoada, ainda processando tudo o que acontecia. O olhar de Victor permaneceu impassível, seu semblante fechado e distante. — Levem Claire para casa — ele ordenou, sem sequer olhar para a filha. Claire, indignada, deu um passo à frente, os olhos ardendo de frustração. — Não, papai! — ela exclamou, sua voz firme e desafiante. — Não vou para casa assim, não vou deixar você me tratar como uma criança! Eu não aceito isso! Mas Victor não cedeu. Sua postura era rígida, os olhos, frios e implacáveis. Ele se virou para a janela, tentando ignorar a filha e a tempestade emocional que ela estava criando ali. — Claire, você não entende o que está em jogo aqui. — A voz dele era dura, mas controlada. — Este não é o momento para discussões. Não quero que você se envolva mais do que o necessário. Claire deu um passo mais próximo, o rosto carregado de raiva e confusão. — Então, o que você quer, papai? Que eu fique aqui, em silêncio, aceitando todas as suas ordens? Como se eu fosse apenas uma peça no seu jogo? Eu não sou! — Ela estava prestes a perder o controle, mas respirou fundo e, com voz mais baixa, acrescentou: — Eu sou a sua filha, Victor. Não sou uma marionete para você manipular. O silêncio se fez na sala por um momento. Claire, com o peito arfando, se virou para os seguranças, que aguardavam, esperando a ordem de seu pai. Ela os olhou com desdém. — Não me toque! — ela gritou, sua voz quebrando, mas ainda cheia de autoridade. — Eu vou para casa, mas vou do meu jeito. Se não for assim, vou caminhar sozinha.
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