LUKA
Na sua conversa comigo, Pavel Korneev foi controlado e extremamente honesto.
Sentamos no seu escritório, na propriedade rural do homem mais influente da cidade, para onde os seus rapazes me trouxeram, e nos olhamos nos olhos. — Três anos se passaram, Pavel Yuryevich, mas não esqueci nada. Se chegou a hora de pagar a dívida, eu concordo, que seja com dinheiro ou com a minha vida. Apenas me diga. Nunca escondi que lamento o que aconteceu, mas não posso devolver Konor. Lembrei-me do filho morto de Korneev, que morreu há três anos, mas o cigarro fino na mão do seu pai, um homem magro com olhos e cabelos cor de aço, nem sequer vacilou. — Não tente me insultar, garoto, se quiser sair daqui vivo. Ouvi uma resposta direta. — Eu não preciso de dinheiro.
Eu corria um grande risco, mas ficar em silêncio era ainda pior. — Então você quer a minha vida?
O homem alto levantou-se da cadeira e foi até a janela, olhando através do tule fino para o amplo pátio inundado de sol. — Nunca te culpei pela morte do meu filho, mas isso não significa que te perdoei. Ele respondeu friamente. — Ele morreu por sua causa e não esqueci disso.
Eu também, embora nunca tenha pedido ao pirralho Konnor que escolhesse a minha companhia, mas naquela noite no clube era eu quem estava destinado à bala, e era eu quem estava sendo caçado. Konnor era meu fã e andava por aí, gastava dinheiro, investia grandes somas nas minhas lutas, e nunca me perguntei onde ele conseguiu isso. Só depois da sua morte, quando os homens de Korneev, me levando sob a mira de uma arma e me espancando, me deixaram para morrer numa vala fora da cidade, é que descobri quem era o seu pai.
Foi ele, o dono da cidade, quem de repente ordenou que me deixassem vivo, tirando-me da lama com as próprias mãos, e me dizendo que um dia eu teria que paga-ló. E agora essa hora chegou.
Quando uma Mercedes preta chegou até a minha casa e buzinou três vezes, me vesti, saí do quintal e entrei no carro. Eu não disse uma palavra até se encontrar no tapete na frente de Korneev.
— Eu sei. Ele olhou para mim e estreitou o olhar. — Você acha que o meu filho era uma boa pessoa? A pergunta me surpreendeu.
O que eu pensei? Só que milagrosamente nem um único músculo do meu rosto vacilou.
Falando francamente, ele era uma m*erda, não era melhor que eu, mas você não pode simplesmente contar a verdade ao seu
pai na cara dele? Sim, ele sabia de tudo sozinho. Eu sabia disso.
Durante o ano passado, Konnor tinha cheirado heroína e não teve vergonha de frequentar clubes gays. Participava de orgias mais de uma vez, mas ouvi dizer que ele também não desprezava os caras. Houve uma história completamente podre com a participação dele, mas eu já estava farto da minha própria mer*da para me aprofundar na de outra pessoa.
— Você está calado, Lukas? Você tem medo de incomodar o velho? O velho tinha cerca de sessenta anos e parecia um homem seco, mas magro como um chicote que pode cortar qualquer pessoa ao meio.
— Não, só acho que você não vai gostar da minha resposta. O homem assentiu, voltou para a mesa e apagou o cigarro. Pegando a garrafa de cristal nas mãos, ele serviu vodca em dois copos e me empurrou um prato de salgadinhos. — Beba. Ele ordenou.
— Lembremo-nos da alma de Konnor. O meu único filho que perdi enquanto ele ainda estava vivo.
Eu bebi tudo, e Korneev apenas tomou um gole e não tirou o olhar atento de mim enquanto eu secava o copo.
Ele esperou e eu também não tive pressa em fazer perguntas. Não era meu direito apressar a conversa com o dono da casa. Aqui eu era um convidado que foi levado em consideração por enquanto.
Mas é isso por enquanto. Eu não tinha ilusões de que tudo poderia mudar em um segundo. Eu me pergunto se o meu destino teria mudado há três anos se não nos conhecêssemos? Voltei os meus pensamentos para aquela noite mais de uma vez e em todas as vezes, não encontrei a resposta.
— Lembro-me de você quando era apenas um menino, Yaroslav. O homem começou de repente, como se os nossos pensamentos tivessem se cruzado mentalmente. — Você tinha onze anos quando a sua tia o trouxe para o seu avô e o deixou. Você não tinha nada além de escoriações no queixo teimoso, ranho enrolado no punho, jeans velhos e uma mochila, mas mesmo assim você era inteligente e ousado. Pode-se ler muito nos seus olhos... Korneev fez uma pausa. — Então você não sabia como esconder a suas emoções como faz agora.
Voltei instantaneamente no tempo. Caí nele, como se uma mão invisível tivesse me atingido no peito e me jogado para trás no pântano fedorento, odioso e gelado. Escondido dos olhares indiscretos pela prosperidade de hoje, que arranquei da vida com os dentes, mas não esqueci o passado.