Eu tenho que sair daqui, mas caramba, eu realmente quero olhar para ela. Olho por olho. Ela olhou para mim, então eu posso olhar para ela. Mas olhar não implica tocar. O que justifica o fato de eu estar aqui olhando para ela de boca aberta.
— Entre ou saia, Vito. Ela me diz, dando-me um sorriso malicioso. — Vou embora! Saio do banheiro e fecho a porta do meu quarto.
Eu respiro fundo tentando me acalmar, e começo a me vestir. O que acontece? Meu Deus.
Coloquei shorts e tênis de corrida. Se eu não fizer algo com toda essa tensão acumulada, acabarei fazendo algo com ela.
Mesmo tendo acabado de tomar banho, vou correr pela fazenda. Não é longe o suficiente para gastar toda a minha energia, mas se eu fizer isso por tempo suficiente, pode ajudar a esquecer o que acabou de acontecer.
Quando suo o suficiente para precisar de um segundo banho, volto para dentro de casa, evitando contato visual com ela. Me jogo na água gelada e só então vou preparar o café da manhã que prometi fazer.
Melodie também não olha para mim, ela vira o rosto, então ela está provavelmente envergonhada por como ela agiu. Talvez seja melhor fingirmos que nada aconteceu. Ela deve ter tido um lapso mental ou estava um pouco perturbada devido ao confinamento.
— Café da manhã. Digo a ela, colocando os pratos na mesa da cozinha.
Melodie se levanta e senta na minha frente, mas não consigo fazer com que ela olhe para mim.
Então eu ajo como se nada tivesse acontecido e falo com ela como se ainda estivéssemos na noite passada.
— Se quiser, posso te ensinar a preparar alguma coisa na cozinha depois. Eu tento quebrar o silêncio constrangedor.
Melodie acena com a cabeça, com a boca cheia de bacon.
— Se estiver tudo bem para você. Ela soa distante e com raiva, como se eu tivesse feito algo errado.
Me comportei como um cavalheiro quando recuperei o juízo e fui embora. Ela não pode estar com raiva de mim, porque foi ela quem entrou no banheiro enquanto eu estava no chuveiro.
— O que você quer fazer? Eu pergunto, esperando que isso acalme as coisas.
— Tanto faz, você pode escolher. Ela se afasta de mim e leva o seu prato vazio para a pia. — Vou dar uma volta para ver as cabras. Ele amarra os cadarços do tênis e sai pela porta da cozinha.
Toda essa situação é estranha. Ela está me evitando. Eu só posso pensar que ela está envergonhada por se aproximar de mim do jeito que ela fez.
Melodie me confunde e me distrai. Graças a Deus não tenho nada importante para fazer aqui, ou seria um inútil.
No entanto, gostaria que tivéssemos notícias, pois sei que em breve ela perguntará sobre o pai e quero ter algo para dizer para ela. Mas meu pai nos isolou completamente.
Isso é culpa dela por desafiá-lo. Por esse motivo, ele acha melhor mantê-la fora disso. Mulheres intrometidas não são toleradas e isso é tudo que ele vê.
Eu, por outro lado, vejo tudo. Melodie tem uma grande força e eles não esperam isso. Ela pode fazer qualquer coisa que um homem pode fazer e não tenho dúvidas de que faria ainda melhor. Com uma ameaça como ela, não é de estranhar que tenham tentado fazê-la desaparecer. Anos e anos de tradições, juramentos e toda a nossa história seriam esquecidos. Não conheço muitos homens que possam lidar com isso. Os meus instintos me fazem pensar que há muito mais por trás da tentativa de sequestro, que alguém sabe dela e quer impedir isso antes que venha à tona.
Os Stiddas. Esses homens não são leais a ninguém, apenas ao dinheiro e aposto esta fazenda miserável que eles foram pagos por isso.
A questão é quem pagou. Ando de um lado para o outro pela pequena casa, pensando em todas as possíveis ameaças à vida dela, e a lista aumenta a cada passo que dou. Melodie não é apenas filha de outro Capo, ela é o Capo.
Mas, os meus pensamentos não param por aí e me lembro do que aconteceu esta manhã no chuveiro. Assim como ontem à noite, na minha cama.
Não consigo parar de pensar no quanto quero o que já sei que não posso ter.
MELODIE
Sei que estou sendo infantil e evitar isso não vai consertar a bagunça que fiz esta manhã. Estou muito envergonhada. Eu pensei que porque ele estava e******o, ele me queria. Eu podia sentir que ele estava duro quando se levantou da cama. Eu pensei que ele estava atraído por mim, mas eu fui tão estú*pida. Eu apareci lá e pulei sobre ele, como uma completa idi*ota. E ele me rejeitou.
Isso doeu. A maneira como ele rejeitou os meus avanços me machucou profundamente. Nunca em toda a minha vida eu me joguei em qualquer homem. Mas Vito é diferente ou assim pensei. Isso me fez querer coisas que eu sei que não deveria. Eu odeio que ele consiga fazer isso comigo.
Então passo metade do dia lá fora, sob o sol, me repreendendo por ser tola o suficiente para pensar que qualquer homem vale a pena.
Como posso olhar nos seus olhos agora? Fiquei nua e fui até ele e ele literalmente me recusou, pulou do chuveiro como se eu tivesse algum tipo de praga.
— Ahhhh! Eu grito bem alto e as pobres cabras fogem de mim. Hoje nem os acho adoráveis, nada me faz sentir melhor.
Mesmo cabrinhas não fazem o meu dia melhor e isso é péssimo. Não há outra palavra, é uma me*rda. Em momentos como este, eu teria ido ao meu pai e ele teria me dito se isso é um problema mental ou um problema cardíaco.
Prefiro pensar que é um problema de frustração s****l que fez a minha cabeça uma bagunça.
Sinto falta da minha casa e do meu pai. Me sinto um pouco perdida aqui, nada faz sentido. Além disso, sou um prisioneira. Está tudo errado e, no entanto, quando subi na cama de Vito, me senti bem. Essa foi a única vez desde que deixamos a Sicília que algo parecia certo. Eu estava calma, quieta, relaxada e consegui dormir. Um verdadeiro sono reparador, não com um olho aberto, incapaz de adormecer.
Eu ando pela fazenda. Há algumas árvores frutíferas que me lembram os bosques do nosso quintal em casa. É bonito e tem cheiro de frutas cítricas.
— Senhorita Melodie. Uma voz firme me assusta. — Você não pode estar tão longe de casa. Não temos segurança suficiente aqui.
Claro, não posso nem dar um passeio entre as árvores. Eu sou uma cad*ela. Foi o que o pai dele disse, que preciso de uma coleira.
— Obrigado. Eu digo, querendo desafiá-lo com cada fibra do meu ser, mas tendo certeza de que seria inútil fazer isso.
Então eu volto para casa para beber alguma coisa.
Vito ergue os olhos de uma revista de dez anos atrás que está lendo quando entro pela porta e a fecho com força. Eu não posso fazer isso, sentar aqui olhando para ele, depois que ele me rejeitou. Não posso. Então pego um refrigerante na geladeira e vou para o meu quarto, fechando a porta atrás de mim.
Estou presa e tudo o que quero é fugir. Eu quero escapar de tudo isso. E da minha vida. Deito-me enrolado na cama desejando e rezando para ter nascido numa família diferente. Uma normal. Aquela em que um homem não me rejeita porque sou muito especial e é por isso que ele não pode me tocar. Eu quero ser humana.
— Melodie. Vito bate na porta horas depois. — Ainda quer cozinhar?
Ele me pergunta como se absolutamente nada tivesse acontecido. O que acontece?
— Sim, estou indo. Se ele pode agir como se nada tivesse acontecido, eu também posso.
Para o inf*erno. Temos que viver juntos e é impossível voltar atrás e mudar isso. Arrumo o cabelo no pequeno espelho da cômoda e não consigo me reconhecer. Este não sou eu. Nem a roupa, nem o que sinto, não sou o mesmo aqui. Corrijo a minha postura e vou procurar Vito na cozinha.
Ele colocou música no radinho acima da geladeira e está arrumando os ingredientes no balcão.
— Frango com legumes cozidos no vapor e batatas com alho? Ele pergunta, embora eu ache que eu não possa escolher.
— Trouxeram comida fresca, mandei uma lista e já está quase tudo aqui. Ele parece satisfeito consigo mesmo.
Eu lavo as minhas mãos na pia e as seco, talvez eu posso tentar. Não custa nada aprender algo durante o confinamento.
— Posso ajudar em algo? Eu pergunto a ele, olhando para tudo o que ele arranjou.
Eu não tenho ideia por onde começar.
— Você pode cortar os legumes? Ele me pergunta, verificando se eu posso fazer isso.
— Eu sei usar uma faca, só que costumo usar com pessoas e não com cenouras. Ele ri e me entrega uma pequena faca com cabo verde.
— As cenouras são um pouco mais delicadas que as pessoas, então, tente algo assim... Ele demonstra como devo cortá-las em rodelas finas e eu o imito. — Dessa forma. Ele sorri e preparando a carne.
Não consigo parar de olhar para ele e, uma ou duas vezes, o peguei fazendo a mesma coisa.
— E agora quê? Pergunto depois de cortar todas as cenouras e outros vegetais que ele colocou na minha frente.
— Estou bastante impressionado por não ter cortado os dedos. Gostaria de servir um pouco de vinho? Ele me diz — Tem um pouco de Lambrusco en la nevera.
Abro alguns armários até que finalmente encontro algumas taças de vinho empoeiradas. Depois de lavá-las e secá-las, retiro o espumante de tom avermelhado profundo. A rolha dispara como um tiro e Vito pula no ar. Então encho os nossos copos e passo um para ele.
Isto é normal. Se eu tivesse que imaginar uma vida normal, acho que seria algo assim. Duas pessoas na cozinha, preparando algo para comer, bebendo e dançando música antiga no rádio. Eu gosto disto.
E o problema é que gosto demais.