Lisandra sentiu como se estivesse num pesadelo sem fim. Enquanto era arrastada com as mãos algemadas para a frente por dois soldados que a seguravam pelos antebraços.
Ela cantarolou mentalmente para sua mente se distrair do horror que virou sua vida mergulhada em caos e chance máxima de morrer queimada por fogo de dragão.
Caminharam, ela e os dois soldados, pelo caminho feito no salão do trono com um tapete azul estendido. Havia castiçais com velas brancas de chamas azuis e lustre de velas também no teto azul com clarabóia. Mas o luar se manifestava como um canhão de luz prateada pela clarabóia no teto, banhando todos os objetos de prata e o ambiente azul e branco onde ficava o trono. O que acabou criando um ar mágico.
As paredes azuis com detalhes brancos pareciam se fechar ao seu redor como dois paredões de armadilhas e sentia um nó na garganta.
Foi deixada pelos guardas, ficou posicionada parada de joelhos no piso azul escuro que reluzia e era como um espelho com reflexo distorcido cujas chamas das velas tremulavam no reflexo.
Na frente do trono de vidro que pertenceu ao seu pai, confrontou o belo feérico de orelhas pontudas e cabelo prateado que se autoproclamou rei depois de destruir tudo com fogo, caos e sangue. Deixando só cacos do que foi uma nação de vidro para trás.
A moça estremeceu desesperada. Ia morrer por ser filha mesmo que bastarda do rei antigo?
Não podia nem argumentar que se pudesse não ia ter nascido só para ser vista por todos da corte de vidro como um erro.
— Então, você estava se escondendo do seu mestre, sua danadinha. — Se pronunciou Castor, se dirigindo a Lisa.
Lisandra o estudou, desnorteada, pelo modo que pendeu a cabeça para o lado, tentando entender o que foi aquilo e estudou o mestre dos escravos que tomou a palavra perante aquele intimidante rei dominador. E, então, se dando conta de seu passe de saída, Lisa, aceitou ser uma escrava.
Lisa entendeu o que Castor fazia, que era basicamente salvar sua pele de ser queimada pelo dragão do rei Dantalian, por ser, mesmo que de uma maneira bem distorcida, uma nobre também.
Rastejou de quatro até Castor para provar perante o rei ser o que não era com a idolatria ao mestre de escravos.
— Meu senhor, peço desculpas por fugir da galeria de escravos. Me perdoe pela minha imprudência. — Lisandra se dirigiu a Castor, se curvando com o rosto até o chão e beijando a ponta das botas de couro dele como via os escravos de prazer fazerem.
O próprio Castor ficou aturdido pela atitude da princesa rebelde.
O rei assistiu a submissão da menina que lhe pareceu numa primeira vista bem impetuosa, curioso e intrigado, sobre aquele comportamento destoante da aparência masculina dela que já demonstrava que não se moldava a submissão.
— Por que se escondeu, Dinah? — Exigiu Castor dela a dando um nome novo e assim protegendo sua identidade.
Lisandra colocou sua vida na interpretação:
— O ataque começou e eu me desesperei e me escondi junto a um servo da cozinha que só queria ajudar uma jovem assustada.
O rei mirou o mercador de escravos e apontou para a moça.
— A menina que se escondia debaixo do piso de madeira junto ao rapaz é sua escrava então, Castor?
Lisandra corou que de primeira o rei já soubesse que era uma menina.
Quer dizer, era uma tábua, quem não a conhecia a confundia. Já foi até chamada de moleque e estapeada quando saiu pelo reino.
— sim, majestade. — respondeu Castor ao ser no trono.
O mercador de escravos acabou mirando Lisa impressionado com a farsa dela.
— Quanto quer por ela? — Sondou o rei indecifrável.
Lisandra sentiu o sangue gelar e calafrios na espinha. Seu olhar desamparado se encontrou com o da mulher que se sentava ao lado de Dantalian, que a matou com olhar. A possível esposa sentada só que num trono menor que o do rei que pertenceu à rainha Eleanor, madrasta de Lisa.
E, então, deixou a vista vaguear aos olhos do próprio rei que a mirava fixamente e depois aos de Castor implorando a ele por ajuda.
— Majestade, ela é bem indisciplinada. — Debochou Castor e coçou a nuca. — tenho uns bem melhores e bem mais obedientes com os quais pode se deleitar... Por conta da casa.
— Quero ela. Pago o que for.— Respondeu o rei, intimidante e sem meio termo.
Castor olhou para Lisandra com um pedido mudo de desculpas. Já havia se colocado em risco o suficiente por um dia.
—- Cinco moedas de ouro já que a menina é bem selvagem e indomável. — Negociou Castor tentando aparentar normalidade ao vender uma princesa.
— Pegue sua recompensa com o tesoureiro, Castor. — Respondeu o rei.
— Bem, majestade… Lembre-se que eu o avisei que a menina é bem arisca. — Se despediu Castor, com um olhar para Lisa de “ eu bem que tentei.”
Castor havia tentado mesmo ajudá-la, Lisa não o culpou por sua desgraça. O mercador não tinha culpa do rei ter a escolhido. Pensou Lisa, lamuriosa.
— O que pretende fazer com ela, majestade? — Questionou-o a mulher no trono ao lado dele friamente.
— Isso não te diz respeito, Katharina.— Respondeu colérico.
A mulher no trono menor o estudou profundamente ofendida e algumas lágrimas se formaram nos olhos castanhos dela.
— Planeja engravidar a menina por que não te dei um filho e estou velha para o serviço? — Provocou amarga, batendo a mão no braço do trono e se remexendo no assento visivelmente desconfortável. — acha que uma jovem vai conseguir…
—- Não penso em procriar com ela, Katharina. Por favor, seja caridosa e me preserve de seus ataques de ciúmes. — Repreendeu o rei num tom calmo, mas muito intimidante.
Lisandra presenciou a mulher se levantando do trono e deixando a sala do trono, pisando duro. Lisa se concentrou em mirar o chão.
Um silêncio tenso se formou. Os dez soldados na sala eram silenciosos como túmulos.
— Já está acostumada a servir homens, não está? — Exigiu ele de repente.
Lisa ia gritar com ele pela ofensa. Até que se lembrou de que era uma reles serva agora e que estar viva era lucro.