Capítulo 5

1814 Palavras
Sofia Adams - Março, 2012 Eu odiava aviões. Tinha um pavor tão grande que não cabia em mim. Mas aqui estava eu, enfurnada em um prestes a decolar em direção a Las Vegas. Para minha sorte seriam poucas horas de vôo. Eu podia aguentar, certo? Ouvi as turbinas começarem a ganhar força e o avião tremer se preparando para levantar vôo. Deus do céu, alguém me tira daqui! Respirei fundo e apertei a mão de Anne que estava do meu lado e ela sorriu para mim. Tom ao seu lado dormia profundamente e não tinha nem 5 minutos que embarcamos. Como ele conseguia? Anne, prática como sempre, cuidou para que ficássemos com as poltronas do meio do avião, dessa forma sentaríamos os três sem precisar nos separar. Agradeci internamente por isso, se eu estivesse sozinha em um avião já teria pirado há muito tempo e tentado sair nem que fosse pela descarga. Comecei a pensar em nossa primeira viagem a Vegas na tentativa de me distrair do pânico crescente na boca do meu estômago. Graças a Deus foi uma viagem de carro. Lembro de nós passarmos horas na estrada rindo e fazendo rodízio de música. Foi a última vez que a turma toda se reuniu pra valer. Passamos uma semana inesquecível juntos. Se eu fechasse os olhos, ainda podia sentir a sensação do vento no meu rosto ao som dos Backstreet Boys, escolha de Anne, obviamente, ela estava naquela fase de adoração por eles. Voltei minha mente para o presente ao lembrar de um detalhe. - Onde vamos nos hospedar dessa vez? - Perguntei. - Ué, no mesmo lugar de antes - Respondeu Anne tranquilamente. Imediatamente enrijeci. Aquele lugar amaldiçoado não. - Não podemos ficar em outro lugar? - Perguntei com a voz trêmula. Anne que até então folheava uma revista levantou os olhos para mim. Seu olhar era questionador, mas ela resolveu deixar para lá. - Claro que podemos - Respondeu por fim e eu respirei aliviada. - Obrigada - Murmurei baixinho e me virei para o outro lado sem dar espaço para mais conversa. Anne não sabia o que aquela viagem significou para mim. Eu nunca contei. As vezes até eu fingia que nunca aconteceu. Claro que a maior parte da viagem foi um sonho, nós fomos para muitas festas, spas, cassinos. Aproveitamos tudo que a maioridade podia nos oferecer. Tom ficou tão bêbado em uma noite que caiu dentro de uma fonte no centro da cidade. Anne foi tentar ajudar e caiu antes mesmo de oferecer a mão, como eu disse ela era péssima para beber. Só sei que no fim todos nós fomos expulsos de dentro da fonte por uns guardas que estavam patrulhando a área. Foi uma noite marcante de muitas formas. Fiquei o vôo todo ansiosa esperando o momento em que anunciassem que finalmente eu estava de volta em terra firme... Quando esse momento veio eu já tinha tomado cinco xícaras de chá e comprovado que não há escapatória pela descarga. Saímos daquela máquina de Satã e fomos direto para o centro da cidade procurar um hotel decente. Pude vislumbrar pela janela do Táxi o mesmo hotel que nos hospedamos sete anos atrás. Ele continuava exatamente igual. Olhei para o telhado, tinha tantas lembranças agridoces. Anne digitava furiosamente em seu celular enquanto Tom se ocupava em me irritar para passar o tempo. Grande novidade. Eu estava distraída olhando para as ruas de Vegas quando senti outro peteleco na nuca e me virei furiosa. - Eu juro que se você fizer isso de novo eu vou arrancar seus dedos fora - esbravejei para Tom que apenas sorriu e fingiu que não era com ele. - Será que vocês dois podem parar? - Perguntou Anne irritada. - Ela que começou - Resmungou Tom, aquele safado mentiroso. Esperei Anne voltar para o celular e belisquei Tom no braço. Garoto abusado. - Ai solzinha, essa doeu - Reclamou enquanto esfregava por cima da blusa. A cachorra da vó ganhou um apelido, e consequentemente, eu também. As vezes eu me perguntava por que não envenenei Tom quando criança. Seria muito mais fácil que agora. - Anne, controle o animal do seu marido antes que eu o jogue pela janela e o abandone nessa selva de cidade - Pedi. Tom bufou - Credo Sofia, nem em Vegas seu humor melhora, relaxa um pouco - Eu nunca seria capaz de relaxar totalmente em Vegas. Anne nos fez ir em um monte de hotéis, nenhum era bom o bastante, sempre tinha alguma coisa errada, embora todos parecessem ótimos para mim. Eu já estava cansada quando adentramos o quinto e seus olhos brilharam. - É esse aqui - decretou Anne já se encaminhando ao balcão para pedir dois quartos. - Sério? Esse? O que esse tem de especial? É melhor que os outros? - Perguntei. Mas na verdade, esse era até um pouco pior, era antigo e estavam reformando o saguão de entrada. Tinha poeira e entulho. - Ele tem... Personalidade - respondeu Anne simples. Eu estava tão cansada que não questionei. Só queria uma cama quentinha e o doce sono me embalando. Por isso, quando tudo foi resolvido segui direto para meu quarto, tínhamos duas semanas para aproveitar, Vegas não ia fugir enquanto eu tirava um cochilo. *** Sentada no chão do telhado, enrolada em um cobertor vendo o sol nascer eu vi que tinha razão quando imaginei que a vista daqui deveria ser de tirar o fôlego. Estava tão absorta que não percebi a movimentação ao meu redor até ouvir sua voz. - Estou impressionado, você nunca foi uma pessoa matinal - Ethan. Sempre era Ethan. - Você anda me seguindo? - perguntei sem olhá-lo ainda. Eu queria contemplar o sol o quanto pudesse. - Eu sempre vou te encontrar, Sofia - respondeu sério para logo em seguida sua voz assumir um tom brincalhão - Isso e você não é exatamente a rainha do silêncio - zombou - Eu pude ouvir você tropeçando no corredor e xingando quando saiu do quarto - Virei-me para encontrar Ethan parado na escada de incêndio, com os braços cruzados sobre o peito largo usando calças de pijama simples e camiseta cinza de algodão. Eu raramente reparava em Ethan quando era mais nova, eu só gostava dele por ser o meu amigo Ethan, mas meu Deus, como eu estava cega. Ele tinha ficado tão alto, mais que qualquer um de nós, seu cabelo preto absurdamente escuro e sedoso sempre na mesma altura dos ombros e seu corpo forte e estruturado. E o principal de tudo, seus olhos. De um castanho profundo que parecia conter todas as respostas que eu quisesse. Ele era lindo. Sorri e abri meu cobertor o convidando a entrar. Ethan arqueou uma sobrancelha, e eu boba, tentei imitar seu gesto que saiu mais como uma careta. Ele sorriu da minha tentativa patética e por fim veio se juntar a mim. Ele cheirava a roupa limpa e desodorante masculino. - Parece que não levo jeito pra rainha do silêncio... E nem pra qualquer outra coisa - Dei de ombros tentando me desapegar do que me assombrava. - Então esse é o motivo... - Ele falou recebendo um olhar confuso da minha parte - Eu sabia que você não acordaria tão cedo á toa... - Esclareceu. Lá vamos nós. - O que você vai fazer agora, Sofia? - Perguntou. Dessa vez fiz uma careta voluntariamente. - Só mesmo você pra pensar nessas coisas em uma viagem de curtição em Vegas - apontei ao redor enfatizando - Já percebeu que estamos em Vegas, certo? - - Claro que percebi, sua performance ontem na boate não deixou dúvidas disso - Ethan empurrou meu ombro brincalhão. Fechei meus olhos com força tentando espantar as lembranças da noite passada. Jesus, a boate. Se tinha uma coisa que eu me arrependia desde que chegamos há dois dias foi essa noite. Eu estava tentando chamar a atenção de Ethan de qualquer forma, fui inventar de dançar em uma mesa e caí com tudo de b***a no chão em menos de um minuto. Foi tão vergonhoso! - Grande show, né? - Ri nervosa desviando o olhar. Ethan sorriu em resposta, seus olhos enrugando nos cantos com o movimento. - Pode apostar - Em seguida ele colocou a mão em minha bochecha, chamando automaticamente minha atenção para seu rosto. Sua mão era macia e quente contra minha pele, era uma sensação tão boa que estava fazendo meu coração disparar. Segurei o ar nervosa. - Não fuja do assunto, pequeña... A escola acabou, e agora? - Perguntou ele de novo. Pequeña. Ele não me chamava assim desde que éramos crianças. A família de Ethan era hispânica, ele não havia herdado o sotaque por ter nascido em solo americano, mas algumas expressões ele deixava escapar. Essa era uma das minhas favoritas. Soava tão carinhoso vindo dele. Tão... doce. Depois de tantos anos sem ouví-lo me chamar assim eu pensei que tinha esquecido, mas aqui estava ele mexendo com minhas emoções de novo. Ethan esperava uma resposta para uma pergunta que eu estava evitando. Como se já não bastasse meus pais me pressionando... O resto da turma sabia exatamente o que queria, Anne inclusive já estava recebendo um monte de cartas de admissão em faculdades com bolsa em Direito. Mas eu? Eu estava apavorada por não fazer ideia do que queria. Eu poderia fazer uma piada para fugir da pergunta como fazia com todos, mas não com Ethan. Ele sabia mais que isso. Por isso respondi o mais sincera que consegui. - Eu não sei - E nessas três palavras coloquei todo o meu desespero e frustração. Ethan me analisou longamente, profundamente, me perfurando com seus olhos. Ele parecia ler tudo através de mim. Essa era uma das coisas que a gente tinha e eu não sabia explicar. Ethan e eu conversávamos com o olhar. Por fim, com toda a gentileza do mundo, ele beijou minha testa e murmurou com os lábios ainda contra mnha pele: - Você vai descobrir. Eu sei que vai. Depois disso apenas ficamos ali olhando o sol crescer e brilhar em silêncio. Pouco a pouco, como se quisesse prolongar nosso momento, como se estivesse nascendo exclusivamente para nós, a luz foi tocando cada edifício e construção. Os raios se espreguiçando. Só quando o sol estava alto no céu que nos levantamos para ir embora. Ali, eu tive certeza, eu amava Ethan profundamente. *** Acordei suada em minha cama, confusa entre o sonho e a realidade. A lembrança ainda vívida em minha cabeça tão forte quanto a luz do sol era naquela manhã. Minhas mãos ardiam, devo ter esfregado durante o sono. Olhei em volta para aquelas paredes desconhecidas desejando minha casa. Eu m*l chegara aquele lugar e ele já estava mexendo comigo. Ainda eram onze horas da manhã, mas meu corpo dormente e minha mente agitada sabiam do que precisavam. Eu precisava de uma bebida.
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