Isabella.
No dia seguinte, me levantei cautelosamente e fui tomar meu banho para me arrumar e ir ao meu serviço, para quem não sabe eu trabalho em uma empresa de tecnologia, sou desenvolvedora de aplicativos. Quando eu disse que era uma nerd eu não estava brincando, eu sou uma nerd que ama dançar, meu estilo de roupa na empresa são meus terninhos, tenho um de cada cor, e também amo um sapato confortável, então raramente uso saltos, apenas em eventos, ou na boate. Hoje escolhi um terno cinza, fiquei entre ele e o preto, mas acabei optando pela primeira opção.
Prendi meu cabelo castanho em um r**o de cavalo, e peguei meu óculos de grau, eu não enxergo quase nada a olho nu, tenho miopia, por isso se eu te ver na rua e estiver sem óculos ou lentes de contato, eu provavelmente não irei te enxergar, não é nada pessoal é cegueira mesmo.
Peguei minha bolsa e fui para cozinha meio hesitante, quando cheguei meu pai e minha vó já estavam na mesa.
__Bom dia! - dei um sorriso amare-lo.
__Bom dia filha, que horas chegou ontem que eu não vi? Aliás, onde estava para começar?
__Alice, o senhor sabe todas as noites temos nossas reuniões de garotas. - Estreitou os olhos analisando meu comportamento.
__Deixe-a filho, a garota trabalha demais, é bom ter esses momentos de descanso. - Sorri agradecida para minha vó puxando a cadeira e pegando a garrafa de café, despejei na xicara e fui levar até a boca.
__Você não está namorando escondido, está? - cuspi o café fora e comecei a tossir afogada.
___Querida? Você está bem?
___Sim vovó, obrigada. - Desviei meu olhar na sua direção. __ Pai não estou namorando escondido, porque eu faria isso? Já sou uma mulher adulta.
__É o que espero. Não esconda nada de mim Isabella, eu sou seu pai, e não gostaria de saber que minha filha favorita está fazendo algo pelas minhas costas, a traição é a pior dor que se possa provar, ainda mais de quem amamos. - Engoli seco.
__Claro papai, prometo que quando eu namorar, o Senhor será o primeiro a saber.
Me despedi deles e chamei o taxi para ir a empresa, eu ainda não tirei carta, eu peguei medo de dirigir depois que soube do acidente da mamãe, eu sei que é besteira minha e que um dia vou ter que vencer esse medo, convenhamos que um carro me livraria de muitos problemas, como agora por exemplo, o motorista do carro está fumando charuto e isso está ardendo meus olhos já que tenho alergia.
__Senhor, podemos ir? - cutuquei seu ombro.
__Sim senhorita, só um minuto. - Revirei os olhos.
Minha sensibilidade foi aumentando e ergui meu óculos de graus, e comecei a coçar meus olhos freneticamente, não via a hora de chegar ao meu destino final e me livrar desse desconforto, eu não acreditava em dias azarados, mas pelo visto eu não estava em um dia de azar apenas, estava vivendo uma década inteira, porque foi somente o taxi estacionar e tirar o dinheiro da minha bolsa e pagar o motorista, que ao tentar descer pela porta do carro meu óculos caiu da minha cabeça perto da sarjeta, me virei para avisar o motorista, mas o infeliz arrancou com tudo e apenas tive tempo de escutar o barulho de estouro do meu precioso óculo se partindo em mil pedacinhos.
Me ajoelhei no chão apalpando procurando pelo bendito óculos, quem sabe ainda houvesse um pedaço intacto que se pudesse aproveitar, embora eu não conseguia enxergar absolutamente nada na minha frente tudo estava totalmente embaçado, minha visão era uma grande janela de vidro fosca.
Continuei procurando quando minha mão esbarrou em algo pontudo, comecei aperta-lo e o objeto foi ganhando formato era um sapato social de couro preto, e tinha umas fivelas nas laterais.
__ Só um minuto, depois eu te ligo. - Uma voz grave surgiu e ergui a cabeça estreitando os olhos para poder ver melhor, pisquei algumas vezes, e a imagem foi ganhando forma, era a silhueta de um homem.
__Posso saber o que está acontecendo aqui? Estou acostumado com as mulheres caindo aos meus pés, mas não no sentido literal. - poderia notar o tom de deboche na sua voz.
__Muito engraçado, me ajude por favor, eu acabei perdendo meu óculos. - Me agarrei firmemente nas suas pernas, como se fosse o último bote do titanic.
__ótimo! Era só o que me faltava. - Suas mãos seguraram meu braço com firmeza me erguendo em um solavanco, isso fez com que me desequilibrasse. Minhas mãos se apoiaram em seu peitoral duro deixando claro que por trás daquela camisa agarrada tinha um belo monumento de músculos, mesmo sem ousar inclinar meu pescoço e encarar seu rosto, até porque eu não conseguiria ver nada, o que era uma pena, eu podia sentir a tensão no ar de ambas as partes, suas mãos deslizaram meus braços e pousaram na minha cintura, sua respiração quente bateu contra meu rosto me fazendo perceber o quão próximo estávamos, ainda mais depois dele respirar fundo.
__Você não consegue ver nada, certo? - neguei com a cabeça mordendo o lábio inferior sem graça.
__Meu óculos caíu em algum lugar perto da sarjeta.
__Eu sei, estão quebrados, você trabalha aqui? - questionou prologando ainda mais essa tortura.
__Sim, no departamento de aplicativos e jogos virtuais.
__Eu estou indo para lá, aguarde um momento, vou apenas buscar algo no carro. - Informou se afastando e abracei meu próprio corpo um pouco tensa. Eu conhecia todos que trabalhavam nessa empresa, e ainda mais no meu departamento e poderia afirmar que ele não era nenhum dos rapazes, mas estranhamente sua voz me soava familiar, como tinta fresca na parede, assim era sua voz marcante na minha memória.
__Prontinho, vamos! - segurou minha mão levando até seu braço de maneira cordial e me conduzindo para dentro do prédio. Comecei a escutar burburinhos dos funcionários, ótimo Isabella! Ira virar a piada do ano. Seus passos eram rápidos e precisos e eu já estava praticamente tropeçando nos meus próprios pés, grudei minhas mãos na sua camisa o puxando bruscamente.
__ Não dá para ir mais devagar, não sei se percebeu eu não enxergo nada.
__ E não sei se notou, mas já estou a meia hora atrasado. E eu odeio atrasados, minha presença é crucial para essa empresa. - comentou categórico.
__ Até parece, nem se você fosse dono dela. - dei uma risadinha irônica.
__ Você ficaria surpresa se eu te dissesse.
Chegamos perto do que parecia ser um elevador e eu breco novamente, o impedindo de prosseguir.
__ O que foi agora? - sua voz parecia irritadiça.
___Eu não vou entrar em um elevador sozinha com você.
__E posso saber o porquê?
__ Eu não sei quem você é, não posso ver seu rosto e se for algum tarado ou psi.copata, ou pior um estuprador?!
__Engraçado, você deveria ter me perguntado isso antes de entrarmos no prédio, não acha?
__ O que está querendo dizer? Você é um bandido? Socorro!! Alguém me ajude por favor!- comecei a gritar histericamente.
__ Que merda é essa?! - tampou minha boca bruscamente enquanto eu me debatia desesperada contra seu corpo masculo, poderia sentir seus músculos se contraindo nas minhas costas.
__ Você ficou louca? Quer me envergonhar na frente de todo mundo. Trata de se acalmar agora, entendeu? - assenti com a respiração entrecortada. Ele tirou minha sua mão da minha boca vagarosamente.
__ Se você não me disser quem é agora, eu juro que vou gritar. - o ameacei seriamente.
__ Logo você saberá, então não se preocupe. E se eu fosse algum tarado eu já teria te atacado, não acha?
__Não sei, talvez esteja esperando eu entrar no elevador. - Retruquei.
__ Escuta só garota, eu apenas resolvi te ajudar de bom agrado, agora não me meta em problemas que você não faz ideia com quem está lidando, ou você entra na droga desse elevador comigo, ou te deixarei abandonada como um cego no tiroteio.
__Tudo bem, eu vou entrar, mas com uma condição. - Girei meu corpo de frente para ele vendo sua imagem borrada. __ Eu estou cega e indefesa, e como pode perceber eu não confio no Senhor que está livre e pode me atacar a qualquer momento, isso é totalmente injusto, então somente entrarei nesse elevador se me deixar amarra-lo.
__ O que? Jamais! Escute? se fosse em outra ocasião eu até gostaria de ser dominado por uma mulher, mas não no meu local de trabalho. - Alegou fielmente.
__Tudo bem, nesse caso eu ficarei por aqui. - Rebati decidida.
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__ Eu não posso acreditar que estou permitindo você me colocar nessa situação humilhante. Eu só posso estar pagando pelos meus pecados, desde que voltei para esse país somente mulheres loucas cruzaram meu caminho, Aii caramba! - protestou quando apertei a gravata ao redor do seu pulso de propósito.
__ Finalizado, agora vamos entrar no elevador. - ele deu passos para frente e eu o segui com cuidado.
__Eu não sei que tipo de fetiche maluco é esse, amarrar um desconhecido no elevador. - Soltei uma bufada de ar.
__ Pare de reclamar, você só resmunga desde que chegou nesse lugar. Agora aperte o botão e vamos terminar com isso logo.
__ Claro, porque é muito fácil apertar o botão amarrado de costas na situação que me colocou. E ainda estou segurando uma sacola se não percebeu- rolei os olhos.
__Isso é para você sentir na pele, como é tentar fazer as coisas sem enxergar, depois você vai me agradecer pela aula de empatia. - Sorri falso e ele dá uma gargalhada assustadora.
Ficamos em total silencio apenas ouvindo o barulho das nossas respirações, parabéns Isabella! você está indo maravilhosamente bem, ontem você beijou um completo desconhecido e hoje está presa no elevador com outro estranho, você realmente está se superando! A porta do elevador se abriu.
__ Chegamos, se segurem em mim. - deu passos para trás amarrado e apertei seu braço segurando firme.
__ Não se preocupe, continue andando enquanto isso eu desamarro. - Soltou um suspiro invasivo.
__Ande logo, todos estão nos olhando estranho. - falou entre dentes.
__ Calma! Se você andasse mais devagar ajudaria, ou esqueceu que não enxergo quase nada? Estamos quase lá, um minutinho, mas um pouco, pronto! Eba! Conseguimos desamarrar. - exclamei comemorando e segurando sua gravata nas mãos.
__ Isabella? Senhor tho... o que aconteceu? - a voz da Milena surgiu.
__Milena? Graças a Deus! me ajude por favor. - Fui até ela apalpando o ar e choramingando. Seus braços me envolveram em um abraço confortante.
__ O que houve amiga? - alisou minhas costas.
__Ela quebrou o óculos, por favor providencie um imediatamente, essa mulher cega é um perigo. Agora já vou, como pode perceber estou atrasado.
__ Quem esse idi.ota pensa que é?! -Hei volta aqui, ainda não terminei com você. - exclamei tentando me soltar e Milena me apertou me controlando.
__Shiii, Isabella ficou louca? Sabe com quem está gritando?
__ Não sei e não quero saber, vamos amiga, me leva para meu escritório, eu preciso pegar meu outro óculos. - Ela deu uma risadinha me guiando.
Milena me dirigiu até minha mesa de trabalho, escutei quando ela abriu a porta e entramos, mas meu tremor começou quando ela cumprimentou o Senhor Thomas Parker, esse não era o nome do filho do nosso chefe? eu expliquei para ela que meu óculos de grau estava na última gaveta e ela retirou me entregando.
Peguei o óculos de grau na mão e limpei na minha blusa com eficiência, em seguida levei até o rosto colocando em mim, as imagens que antes estava embaciadas, foram se tornando nítidas conforme meus olhos se acostumavam com a claridade. Meu sorriso foi se abrindo ao vislumbrar o rosto delicado da minha amiga Milena e rostos familiares dos meus colegas de trabalho. Fiquei olhando em volta como se fosse uma criança que acabou de nascer e viu a luz. Então meu pescoço foi girando e meu rosto congelou na visão de uma silhueta masculina na minha frente.
Ele estava vestido todo de preto com um colete por cima, relógio de marca no pulso, uma mão no bolso e a outra segurando uma sacola entre os dedos, meu coração começou a palpitar em alerta dentro do peito, fui subindo meu olhar tão rápido quanto uma lesma, e parei no detalhe do seu pescoço que não estava usando uma gravata, isso só pode ser uma coincidência certo? talvez ele não goste de gravatas por serem desconfortáveis, é ridículo pensar que é o homem m*l humorado que veio junto comigo no elevador é o filho do meu chefe.
Isso é um completo absurdo! Mas o que também era um absurdo e que quando meus olhos finalmente foram de encontro a sua face e o reconheci, como poderia ser possível? Ele estar bem aqui na minha frente? seus cabelos loiros dourados, sua barba por fazer, suas sobrancelhas marcantes e seus olhos castanhos. Bem na minha frente estava o homem estranho que beijei naquele carro.
__ Olá Isabella, espero que esteja gostando do que está vendo? Já que terá essa imagem para apreciar todos os dias de agora em diante. - Seus olhos brilharam em satisfação. E como se a voz se conectasse perfeitamente com o restante do corpo, cheguei à conclusão que para meu azar, o homem egocêntrico parado na minha frente, também era Thomas Parker, o filho do meu chefe.