8º Capitulo – A Verdade por Detrás da Profecia

2297 Palavras
Percorri toda a extensão do corredor sem nunca avistar Melody, porém ouvia o seu riso alegre ecoar nas paredes de pedra. De vez em quando tinha de descer uma escadaria, levando-me a perguntar-me onde acabaria por chegar no fim de tudo. Embora o caminho não oferecesse perigos comecei a ficar cada vez mais preocupada por não enxergar a minha filha à medida que o percorria. - Mamã! - Não saias daí Melody – disse para o corredor vazio. A sua voz era de contentamento, só que eu não percebia o porquê, já que ali não havia nada. Continuei a andar, completamente confusa. “Eu já não tinha passado por aqui antes?” pensei. Parei de andar e chamei Melody que me respondeu imediatamente. - Estou aqui mamã. – Virei-me, seguindo o som da voz da minha filha, acabando por ver que esta se encontrava numa sala luminosa, que continha apenas uma mesa com algo em cima. - Isto não é possível… - Olhei para trás, vendo apenas uma parede de pedra, ao contrário do corredor por onde andara na última meia hora. Peguei em Melody, abraçando-a ao mesmo tempo que lhe dizia para nunca mais desaparecer assim, mas a resposta da petiza foi surpreendente. - Mas eu estive sempre aqui contigo! Olhei em volta, procurando a porta por onde entrara ou o corredor que percorrera, porém a única coisa que encontrei foram as paredes que formavam a sala. Dirigi-me ao centro, para perto da mesa e vi que lá se encontrava o que eu procurava. Agarrei no pedaço de papel e, antes que pudesse ler o que lá se encontrava escrito, senti o ambiente mudar. - Como é que fizeste isso? - Eliot? Laila? – Voltara à sala de estar, sem saber o que acontecera. Melody ainda estava no meu colo e a profecia na minha mão. - Ainda agora passaste pela porta… Mas que raio…? – Não havia porta em nenhum lugar, o que tornou tudo ainda mais esquisito. - O que estás a dizer Eliot? Eu passei pelo menos meia hora naquele corredor. - Não Emily, tu acabaste agora mesmo de lá entrar. - Tenho sono… - Parece que está na hora da sesta da Mel. Queres que a leve? - Não eu trato disso. – Olhei para a pequena, que parecia doente. Coloquei a mão na sua testa e esqueci-me completamente de tudo o resto. – A Melody está a arder em febre! - Ainda agora ela estava saudável. - Podia aparentar estar bem e já estar doente Eliot, as crianças são assim. - A Laila tem razão. Vou levá-la para o quarto e chamar o médico. – Eliot acompanhou-me, enquanto a minha prima se prontificou a chamar Robert. Depois de ser examinada a minha filha adormeceu, deixando-nos à v*****e para falar com o médico que nos sossegou dizendo que Melody devia ter apanhado um vírus e que ficaria boa em alguns dias. Peguei na mão da pequenina, sendo apanhada desprevenida por uma visão que me desconcertou. Por sorte Eliot, Aurora, Eileen e Laila estavam ocupados demais a conversar para repararem no meu estado. Recompus-me e caminhei até eles, não deixando o meu rosto demonstrar as minhas emoções. Nesse mesmo momento bateram à porta, pelo que a minha mãe foi abrir. - Cartas para vocês – referiu, entregando-me o envelope que me era destinado. O meu marido também recebera um, assim como Laila. - Mas o que… - comecei. - n******e ser! - Pode sim Eliot – concluiu Laila. – O nosso tempo de paz acabou. - O que se passa? - Uma ameaça do Dylan. – Enquanto o meu marido respondia à sua mãe, eu dava uma olhadela na sua carta. - Aparentemente ele acha que não sabemos que esteve em coma – comentei. Laila assentiu, voltando a ler a sua carta. – Ele escreveu ao Eliot a dizer que durante todo este tempo treinou para acabar o que tinha começado. - Ou seja, ele quer m***r-me. - Laila… - a minha mãe falava com calma, o que fez com que eu olhasse atentamente para as duas. – Querida, seja o que for que o Dylan te tenha dito sabes que aqui estás segura. - Eu sei mas... - O que foi Laila? – Aproximei-me dela, que me estendeu uma folha de papel. Li o seu conteúdo o mais rápido possível, não acreditando naquelas palavras. – Será verdade? - Não sei, mas vou descobrir. - É demasiado arriscado! Pode ser uma armadilha! - Mas e se ele não estiver a mentir Emily? Ela é minha mãe! Se na realidade tudo o que sei sobre ela estiver errado eu devia pelo menos tentar descobrir a verdade! - A Ebony está viva? - Pelo que diz na carta sim, Aurora. O Dylan diz que se eu acho que sofri muito deveria conhecê-la, porque foi muito mais maltratada e tudo o que sabemos dela é mentira. - Mas não podemos ir sem nenhuma preparação – afirmei. – Tens todo o direito de ir, mas por favor espera até que consigamos elaborar um plano. - Está bem. – Olhando-me nos olhos, a minha prima continuou. – O que ele te escreveu Emily? - Ameaças – respondi, tentando não dar muita atenção ao assunto da carta. – Mais que nunca, acredito que a Brook e o Keith nunca foram os nossos verdadeiros inimigos. - Temos mesmo de descobrir a verdade sobre a profecia. - Vão, nós cuidamos da Melody. – Eliot e eu assentimos às nossas mães e saímos do cómodo, acompanhados de Laila. Dirigimo-nos à biblioteca, que se encontrava vazia. Sentámo-nos a uma mesa, nervosos com o que encontraríamos escrito naquele papel antigo, e finalmente lê-mos o seu conteúdo. - Não percebi – começou Laila. - Está claro que fala da Em, mas… - Não faz nenhum sentido – terminei, confusa. – Lê de novo Laila. - As trevas aproximam-se, levando Cyon a anos de escuridão até que uma luz brilhante apareça e a desbrave. A incerteza será a maior inimiga, o desespero a sua ruína. O que uma rainha criou só outra pode destruir, mas as falhas serão grandes e os erros crassos. A vida e a morte, interligadas pelo destino, marcarão uma era que só a terceira rainha conseguirá terminar, porém sozinha enfrentará, também ela, o fracasso. - O que uma rainha criou…? De quem estão a falar? E porque dizes que fala de mim Eliot? - És a terceira rainha que ascendeu ao trono por direito, as outras só foram coroadas por casamento. – Fiquei espantada com os conhecimentos do meu marido sobre a genealogia da minha família, a qual nem eu tinha noção do quão antiga era. – Quanto à outra rainha que a profecia cita não faço ideia, nunca ouvi que Erell tivesse uma rainha. - Erell? - Onde toda a família do Sloan residiu até hoje. É lá que se encontra o Dylan. – Laila levantou-se e começou a percorrer a sala, procurando por algo. – Eu sei que a Brook e o Keith agiam como se reinassem Erell, mas pelos registos que temos nunca houve uma coroação. – Tirando um livro das estantes começou a folheá-lo atentamente. – Tal como eu disse, não existem registos de uma família real em Erell até há precisamente seis anos, mais concretamente desde que vieste para Cyon, já que os nossos espiões começaram a ter o trabalho dificultado pelos gémeos saberem que estavas aqui. - E até hoje ninguém analisou de que rainha a profecia fala? Será que esperavam que o caos em que o reino esteve durante todos estes anos desaparecesse por magia? - Provavelmente pelo aparecimento da terceira rainha, Eliot. Lembram-se do que a minha mãe disse? Os meus avós só lhe transmitiram que seria eu a escolhida caso ela tivesse uma menina, não lhe contaram nenhum dos restantes pormenores da profecia. - Ou seja, não temos pistas para essa parte… - Nem para nenhuma Eliot. – Laila voltou a sentar-se, pegando novamente na profecia. – Aqui fala na vida e na morte… - Serão todos os que viveram e morreram durante este tempo? – Sentia a cabeça às voltas, não conseguindo pensar com clareza. As palavras escritas tentavam ganhar um significado na minha mente, mas sem sucesso. - Fácil demais… A porta da biblioteca abriu-se subitamente, revelando-nos Melody completamente restabelecida com as suas avós estupefactas atrás dela. Dirigindo-se ao pai implorou por uma história, levando-nos a interromper as especulações, já que estávamos num beco sem saída. - Como é que isto aconteceu? – O meu marido estava espantado a olhar para a filha e para Eileen, como se não acreditasse no que via. – Ela está mesmo bem? - Sim – afirmei, convicta. – A Mel só gastou muita energia ao abrir a porta e acabou por ficar febril. – A ver que me olhavam com surpresa, esclareci: - nenhum de nós o conseguiu fazer, eu mesma fiquei esgotada. Porque com a Melody seria diferente? - Sabias que ela não estava doente? - Não vale a pena te irritares Eliot, eu não fazia ideia, mas quando a vi entrar percebi logo o que se passara. Eu passei pelo mesmo quando comecei a praticar magia. - Nunca te vi com febre Emily. - Embora ela estivesse constantemente, Laila. – Eileen sentou-se, assim como a Aurora, observando a minha prima enquanto o fazia. – Durante o primeiro mês de treino da Emily ela esteve constantemente com febre, mas tu não falavas mais do que o necessário com ela e a Jennifer e a Holly não podiam parar com o treino porque a Aurora não autorizava. Passei várias noites a tentar convencer a Emily a descansar um pouco mais, apesar de ela nunca me ter dado ouvidos… - Ainda aqui estou – comentei com um sorriso. – Não faria nada de diferente se pudesse voltar atrás, mas nunca vou deixar de estar grata por estares sempre lá para me ajudares a baixar a febre, Eileen. - Eu nunca soube disso… - Não é o momento correcto para falarmos nisso, Aurora. O que descobriram? – Laila mostrou-lhes a profecia e começou a explicar as nossas poucas teorias. Eliot foi arrastado por Melody para que ele lhe lesse uma história, levando-me a sair da biblioteca por um momento para respirar. Dirigi-me ao jardim, ainda com todas as novas informações na cabeça, ocorrendo-me pelo caminho que a minha filha precisava de aulas. Indubitavelmente a magia dela havia despertado, não havendo nada a fazer senão ensiná-la o melhor possível. Voltei para o palácio para falar com a minha mãe sobre isso, sendo, porém, parada por Jennifer e Holly, que queriam saber o que descobríramos. Contei-lhes tudo enquanto tomávamos um chá, ao que elas me surpreenderam quando mencionei a Melody. - Deixa-me ensina-la – pediu Jennifer. - E a mim também – acrescentou Holly. - E os vossos filhos? Precisam de estar com eles. - Se o Dylan conseguir tomar o reino achas que vai ser melhor para eles? - Não foi isso que eu quis dizer Jen… - Nós somos duas, podemos fazer turnos – sugeriu Holly. – Queremos ajudar e sabes que estamos preparadas para isso. - Mas… - Emily não te preocupes connosco. O Nathan e a Lily são muito pequenos, passam a maior parte do tempo a dormir. Podemos estar com a Melody e tê-los ao nosso lado, não precisamos de nos afastar deles. - Eu só não quero que percam o crescimento deles. – As minhas amigas abraçaram-me, fazendo-me recordar tudo o que já passáramos juntas. – Está bem – assenti, - mas vou arranjar mais alguém para vos ajudar. Fui ter com Eliot à biblioteca, onde Melody o espantava com mais uma habilidade. Sentada no sofá com um livro nas mãos, a minha filha lia sem se enganar uma única vez, trazendo-me mais lágrimas aos olhos que depressa limpei. Como já passava da hora de jantar dirigimo-nos à sala de refeições sendo que, após a refeição, levámos a pequena para o quarto, pois já bocejava. - Quem achas que é de confiança para ensinar a Mel? – Estávamos na varanda do nosso quarto, demasiado preocupados com aquilo que ainda não compreendêramos. - Vou pedir aos meus pais. Eles foram guardas da minha mãe e têm o mesmo treino que a Jennifer e a Holly, penso que sejam os mais indicados. - E se eles não quiserem voltar para Cyon? Nestes anos todos apenas fizeram algumas visitas. - Não acho que me recusarão esse favor, mas se o fizerem terei de pensar noutra solução. - Podíamos ensiná-la nós. - É nos impossível ensinar a Mel e estarmos atentos ao Dylan. Além disso há outro assunto que eu queria discutir contigo. – Eliot olhou-me curioso, não me interrompendo. – Eu e a Laila queríamos testar os limites dos nossos poderes, o que nos vai levar bastante tempo. - Se achas que é o melhor que têm a fazer… - Só que eu não vou poder ajudar-te a administrar o reino. - Durante todo o tempo que estiveste em coma eu consegui manter Cyon em ordem, Emily. Mais uns meses não será um problema, embora espere que os ataques do meu irmão comecem a qualquer momento. - É por isso que eu queria que deixasses a Aurora a administrar tudo o que não tiver a ver com a guarda. A Eileen pode ajudá-la, já o fez durante anos, e tu darias atenção ao problema principal. - Achas que elas aceitam? - A minha mãe esteve disposta a sacrificar a minha saúde pelo bem do reino – recordei tristemente, - não acho que se oponha a ajudar numa coisa que já fez durante vinte anos. – Ouvi a porta do quarto abrir-se e assim que me virei, vi a minha filha a correr para mim, chorando.
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