Rotina de escritório

843 Palavras
Assim como todos os outros dias da semana, Dani e Isa tomavam café da manhã juntas no botequim que ficava pertinho do escritório onde trabalhavam. Raramente, Pedro matava aula e as encontrava por lá. - O que você e o Pedro ficaram fazendo até tarde? Nem te vi ir dormir... - Isa perguntou tentando fingir uma completa indiferença e se escondendo nas lentes do óculos escuro - Nada demais, só conversando besteiras mesmo...até o momento que ele me beijou - Dani falou despretensiosamente, como se fosse algo normal Isa não respondeu. Respirou e prendeu o ar junto com as lágrimas que pareciam surgir sem motivo, em seus olhos. Guardou a indignação que parecia crescer sem motivos em seu peito e fez um enorme esforço para não gritar e xingar tudo e todos. - Como assim? Vocês estão juntos? - Isa fez uma cara de quem não estava espantada - Tá louca? Ele tem namorada! É apaixonado por ela e eu não gosto de homens! Eu hein...me tira dessa... - Dani respondeu sem perceber a mudança e o enrijecimento do corpo de Isa - Então...qual foi? - A gente tava cansado, eu fui dar um beijo na testa dele de boa noite e ele me deu um estalinhos, não foi grande coisa não... A desimportância de Dani com o caso fez Isa ficar um pouco mais tranquila, ou completamente atordoada. Ela não conseguia entender porque tinha se sentido tão irritada com a situação. Ela não era nada de Dani e sabia de todas as traições dela com a namorada também não tinha nada com Pedro e por mais que gostasse da namorada dele, não era tanto assim. Porque ela ficou tão irritada e tão incomodada com um beijo que aprecia ser despretensioso? A segunda no escritório começava igual a todas as outras. Dani e Isa dividiam um dos lados da enorme mesa que ocupava a sala toda. Pedro, que só chegava a tarde, sentava de frente para uma delas e as duas cabeceiras eram ocupadas por Carlinhos e Tamires, que completavam a equipe responsável pela campanha política no Rio. Já passavam das 11 e o trabalho estava em um ritmo cada vez mais frenético. Elas tinham ficado até agora respondendo emails e enviando as novas instruções acertadas com Ed no fim de semana para o resto da equipe, que trabalhava de casa. Ali funcionava uma espécie de quartel general de tudo que era feito. Dani e Isa eram apaixonadas por aquela sensação de serem as pessoas responsáveis por iniciar uma ação e depois vê-la crescendo e se tornando maior do que qualquer outra coisa. Era instigante, estressante, mas também era uma injeção de adrenalina diária. Café ou almoço? A fome começava a voltar e Dani perguntou para Isa através do chat que usavam para conversar. Ou elas tomariam um café na cozinha do escritório ou já saíram para almoçar. O que você prefere? Isa respondeu deixando a escolha nas mãos da amiga. Café, assim almoçamos mais tarde e não precisamos lanchar. Que tal? Sem responder, Isa levantou e foi se encaminhando para a cozinha. Dani entendeu o recado, abaixou a tela do computador e seguiu atrás da amiga. No corredor, do lado de fora da sala, Isa esperava Dani chegar encostada na parede em frente a porta. Estava com o olhar baixo e não conseguia parar de pensar naquele beijo que Pedro tinha dado em Dani. - O que houve? - Dani perguntou assim que bateu a porta atrás de si - Cabeça longe... - Pensando em que? - Nada demais... - Isa começou a andar em direção à cozinha - Pensando em mim por acaso? - Dani riu e se divertiu com a própria brincadeira. Isa não respondeu, porque era verdade. Estava com raiva por causa do beijo, mas também com uma pontada de inveja de Pedro, que teve a coragem que ela ainda não teve. Riu de lado para Dani e chegaram na cozinha a tempo de morrer o assunto e não precisarem mais falar disso. A garrafa com o líquido preto salvador das manhã intermináveis ficava bem abaixo do microondas e com os copos plásticos do lado. Mas Isa e Dani tinham comprado uma xícara especial para elas. Eram bem simples e só as cores as diferenciavam. Isa abriu o armário, pegou a de Dani e entregou para ela pegar seu café sem açúcar enquanto ela colocava algumas gotas de adoçante antes de colocar o café. A proximidade delas na cozinha pequena era normal, mas naquela manhã Isa não conseguiu deixar de reparar no pescoço fino e na pele branca de Dani. Ela estava esticada em sua frente colocando mais café e o cheiro forte do grão se misturava ao perfume masculino que Dani usava. Era um perfume bom e com vontade, era um cheiro que dominava o lugar e fazia todo mundo saber quem era a dona dele. Era exatamente como Dani era, dona de onde quer que ela estivesse. Por vezes, parecia dona do mundo. Uma única coisa era certa: ela era dona de todos os pensamentos de Isa.
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