“Quando o desejo se mistura com a raiva, o prazer se torna perigoso.”
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Alicia subiu as escadas correndo, o coração batendo forte, a respiração descompassada. As pernas ainda tremiam pelo orgasmo inesperado que Rafael provocara. Sua pele estava quente, o gosto dele ainda em sua boca, e a mente… um caos.
Ela entrou no quarto e se jogou na cama, apertando os olhos com força.
— Por que você faz isso comigo, Rafael? — murmurou para si mesma.
Pegou o celular. Uma mensagem de Lucas piscava na tela:
“Boa noite, princesa. Você é maravilhosa. Dorme bem ❤️”
Ela não respondeu. Ficou apenas olhando para as palavras como se fossem de outro mundo. Aquele carinho, aquela doçura… e ainda assim, o que latejava dentro dela era o toque bruto de Rafael. Seu cheiro, sua boca, a posse no olhar.
Alicia virou de lado, encarando a janela fechada. Sabia que Rafael a observara antes. Sabia que ele estava lá. E, agora, tinha certeza de que ele não aguentaria ver outro homem ocupando um lugar que ele considerava dele.
E o pior? Ela gostava disso. Gostava de provocar. Gostava de sentir que ele estava perdendo o controle.
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Na casa ao lado, Rafael andava de um lado para o outro, completamente perturbado.
Ainda sentia o gosto de Alicia nos dedos.
Aquela camisola curta, o perfume, o gemido abafado contra sua boca… Tudo fazia seu corpo latejar de desejo e frustração. E mais do que isso: de ódio por ela se deitar com Lucas como se fosse qualquer um.
— Filha da p**a… — murmurou entre dentes, socando a parede do corredor.
Seu pai, Senhor Miguel, chamava ao fundo.
— Rafael? Você está aí, filho?
Ele respirou fundo, tentando se controlar. Foi até o quarto onde o pai descansava. O enfermeiro havia acabado de dar banho nele e ajeitava os travesseiros.
— Oi, pai.
— Quem é você mesmo? — perguntou Miguel com os olhos perdidos, o olhar confuso, embora terno.
Aquilo ainda doía. Mas Rafael já havia aprendido a sorrir mesmo assim.
— Seu filho. Rafael.
— Ah… sim, sim. Você… você era bom em matemática, não era?
— Era, pai.
— E ainda está com aquela moça? Aquela que… ah, que me dava bolo de fubá?
Rafael congelou. Por um segundo, achou que o pai se lembrava de Luciana, sua noiva morta. Mas logo percebeu que era apenas uma memória solta.
— Não, pai. Essa já foi embora faz tempo.
— Ah… ela era bonita. Você devia casar.
Rafael forçou um sorriso.
— É… vou pensar nisso.
Saiu do quarto com um nó na garganta. Casar. Ele nem conseguia se manter perto de alguém tempo suficiente para tomar café da manhã. Depois de Luciana… depois do acidente, tudo em sua vida se transformara num buraco escuro. Só o sexo preenchia o vazio. Sexo sem vínculo. Sem afeto. Sem passado. Sem promessas.
Mas Alicia… ela estava destruindo aquela lógica.
E ele odiava isso.
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No dia seguinte, Alicia foi para a faculdade com o coração apertado. Lucas não comentou nada sobre Rafael, mas ela sentia que ele havia notado algo estranho. Talvez um olhar, talvez a maneira como ela parecia… inquieta.
Durante o intervalo, ela se reuniu com Júlia, Caio, Pedro e Mel no pátio da faculdade.
— O que está acontecendo com você? — perguntou Júlia direto ao ponto. — Você está com uma cara de quem transou e depois se arrependeu.
Alicia arregalou os olhos e fingiu tossir.
— Eu não me arrependo de nada — respondeu.
Pedro deu risada.
— Isso é praticamente uma confissão, hein?
Mel se debruçou sobre a mesa.
— Foi com o Lucas ou com o professor?
Todos olharam para ela, curiosos.
— Que pergunta, Mel!
— Só estou dizendo o que todo mundo está pensando.
Alicia suspirou.
— Eu estou confusa, ok? O Lucas é incrível, mas… o Rafael mexe comigo de um jeito que eu não sei explicar. E ele não demonstra nada, só aparece quando quer, faz o que quer e some de novo. E isso… me irrita, mas também me vicia.
Caio cruzou os braços.
— Você precisa decidir se quer ser o brinquedo dele ou a rainha da própria vida.
As palavras ecoaram na mente dela.
E do outro lado do pátio, parado na varanda da sala dos professores, Rafael escutava tudo. Não o conteúdo exato, mas os risos, os olhares, a leveza da presença dela.
Se sentiu… excluído. Do lado de fora.
Como sempre.
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Mais tarde, quando chegou em casa, Alicia subiu para o quarto e trocou de roupa. Vestiu uma regata colada e um short curto de dormir. Estava quente, abafado. Prendeu o cabelo num coque e ficou escutando música enquanto pintava as unhas sentada na cama.
Já era noite quando o celular vibrou.
Rafael: Desce agora. Preciso falar com você. Vem até minha casa.
O coração dela disparou.
Ela hesitou. Por que ele não podia simplesmente mandar um “oi, tudo bem?” como qualquer pessoa normal? Mas, mesmo assim, colocou um moletom leve por cima e saiu pela porta dos fundos.
Alicia caminhou até a porta lateral da casa ao lado, onde Rafael morava. m*l encostou a mão na madeira, a porta se abriu de repente, e ele a puxou para dentro, pressionando os lábios contra os dela com uma urgência quase selvagem.
O beijo foi intenso, como se ele precisasse recuperar tudo o que vinha reprimindo.
Ela afastou o rosto, empurrando o peito dele com força.
— Você me chama assim, no meio da noite, só pra isso? Achei que fosse algo sério.
Rafael segurou o queixo dela, mantendo o olhar fixo e intenso.
— Cansei de esperar, Alicia. Não consigo mais ficar longe de você.
Ele segurou a cintura dela, colando o corpo ao dela, a respiração pesada batendo na nuca dela.
— Hoje, você é só minha — murmurou, antes de beijar o pescoço dela.
Com mãos firmes, ele a levou até o quarto, fechou a porta atrás deles, e o ar se encheu de tensão elétrica.
Ele a fez tirar a roupa lentamente, como se cada peça arrancada fosse uma vitória. Os olhos de Rafael brilhavam com desejo, a boca lambia os lábios sedentos. Ele amarrou os pulsos dela com uma faixa de seda que encontrou no criado-mudo, deixando-a vulnerável, exposta à vontade dele.
O toque dele era c***l e doce ao mesmo tempo, explorando cada centímetro do corpo dela, dominando-a com autoridade e cuidado. Alicia se entregou como nunca antes, misturando medo, prazer e um desejo quase perigoso.
Quando ele a penetrou, foi firme, intenso, exigente. Cada movimento tinha o peso da posse, da promessa de que ninguém mais tocaria nela. Os gemidos abafados se misturavam aos suspiros, preenchendo o quarto com a presença deles.
Depois, o silêncio. Só os dois, ofegantes, suados, ligados por algo que nenhuma palavra poderia definir.
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A madrugada passou como um borrão.
Pela primeira vez, Rafael não a expulsou. Mas também não a abraçou. Apenas deitou de costas, olhando para o teto, os pensamentos longe.
Alicia percebeu. Vestiu a camisa dele e desceu devagar, cruzando o jardim sozinha, sentindo-se desejada… mas não amada.
E isso começava a doer.