A protegida do rei

casamento fúnebre

Eu caminhava para o altar, mas no meu coração parecia que eu estava no meu próprio cortejo fúnebre.

Depois da conversa com o rei e a rainha, que deixaram claro que a decisão já havia sido tomada, não me restou alternativas. Nem genevieve pôde interceder por mim dessa vez, pois, até na cabeça do rei ,o que ele estava fazendo era o melhor pra mim.

Como meu primo havia alegado que precisava voltar a sua propriedade logo após o baile, e o rei não poderia mandar uma moça solteira viajar com seu noivo, meu casamento foi marcado para um dia antes da festa, durante esse período evitei ao máximo o conde de downton, mas, nas poucas vezes que nos aproximamos sentia o mesmo calafrio passeando pela minha coluna.

Ele não era um homem f**o ou algo do tipo, mas o seu olhar carregava algo sombrio e assustador. George foi a última pessoa que esteve com o meu pai antes de sua morte, em uma de nossas conversas ele disse que justamente por esse motivo decidiu me desposar, não poderia deixar uma parente desamparada de família, mas algo nele não parecia sincero, na verdade, nada nele parecia.

- senhorita Stevens?

o padre que realiza a cerimônia chama minha atenção, acho que é a hora que devo dizer sim, como fui educada durante toda minha vida para dizer, afinal, uma dama não poderia se rebelar e negar o pretendente escolhido por seus pais ou quem quer que fosse o seu tutor, e no meu caso, era o próprio rei.

-sim.

O resto da cerimônia foi automática pra mim, e a festa se resumiu a um jantar para poucos amigos, já que o grande baile de genevieve seria no dia seguinte e eu também ainda estava de luto.

conforme o tempo passava durante o jantar eu sentia que literalmente estava engolindo um sapo. minha ânsia de vômito aumentava a cada minuto.

Até que chegou a hora de me retirar, e já no meu quarto, a rainha Dafner apareceu, para termos a conversa que eu deveria ter com a minha mãe antes da primeira noite com meu marido.

-acho que tudo o que precisa saber é que deve ser submissa ao seu esposo querida, no começo pode ser desconfortável mas você se acostuma logo, e se o conde for um bom marido, você pode até gostar!

-com todo respeito, magestade, não desejo saber de nada disso, a única resposta que espero da senhora é: porque me quer tão longe? o que fiz pra que me odeie tanto?

-é muito ousada ao falar assim com sua rainha, mas vou deixar passar, já que hoje é o seu casamento e você está indo embora. Mas, respondendo a sua pergunta, quando eu tinha sua idade fiz a minha estréia na sociedade, e fui considerada a jóia da temporada. o próprio príncipe herdeiro do trono, me cortejava, apesar de eu não ser uma princesa, mas, não era por ele que eu havia me apaixonado! Eu amei a Tomás desde a primeira vez que vi seu pai...

Solto um grito de espanto diante da revelação da rainha, que continua falando calmamente.

-de todos os solteiros mais cobiçados da temporada, o seu pai foi o único que não me bajulou, na verdade, ele nem se quer olhou pra mim, não da mesma forma que eu o via, ele estava perdidamente apaixonado pela sua mãe. A estréia dela na sociedade causou um alvoroço, e de repente eu deixei de ser tão preciosa, pra dividir o brilho com uma mulher de família inferior, e que além de tudo, conquistava todos os homens como se tivesse uma espécie de feitiço!

Eu podia sentir a raiva em cada palavra da rainha, ela deveria ter amado muito meu pai, se é que isso pode ser chamado mesmo de amor, pois, já faziam anos que a minha mãe havia morrido e agora até o meu pai também se foi, e ela ainda guardava todo esse rancor.

- logo seu pai anunciou o noivado com a Carmem, e eu noivei com o príncipe Edgard, que aliás, nunca teve olhos para outra além de mim. Infelizmente, com a proximidade que seu pai e Edgard tinham, eu tive que conviver com os dois pombinhos praticamente morando nesse palácio, e quando Edgard assumiu o trono e tornou seu pai o principal conselheiro, os dois se mudaram de vez para o castelo, o antigo ducado de downton foi dado ao seu falecido tio, como um dote a emma, irmã de Tomás. Agora sabe porque não a quero aqui? Você é como uma cópia da sua maldita mãe. Sempre que eu ia apresentar Genevieve para nossos amigos e ela estava ao seu lado, eles olhavam para você,como se você fosse a verdadeira princesa! Sempre que a olho lembro daquela mulher e não quero que roube o brilho de Genevieve e a sua felicidade como sua mãe fez comigo!

Ao dizer isto a rainha saiu do meu quarto enquanto eu permanecia estática, era coisa demais para assimilar em uma única noite!