Capítulo 6 - O Preço da Escolha

885 Palavras
Virgínia Eu m*l consegui dormir. Quando o dia começou a clarear, levantei da cama, sentindo o meu corpo pesado e a cabeça latejando. As imagens da noite passada ainda estavam frescas na minha mente. Cada toque, cada beijo. Eu me sentia arrependida e, ao mesmo tempo, apavorada com o que poderia acontecer. Não podia perder tempo. Eu precisava ir à farmácia comprar a pílula do dia seguinte. Se eu tomar logo, tudo vai ficar bem. É o que eu espero. Tomei um banho rápido, tentando ignorar a culpa que parecia grudar na minha pele como o vapor quente. Vesti uma roupa qualquer e desci as escadas devagar, tentando não fazer barulho. Não queria que ninguém acordasse. Abri a porta da sala, sentindo o alívio de que estava conseguindo sair sem ser notada. Mas, para meu azar, minha mãe apareceu na sala, já vestida para sair. Maria: Virgínia, você tá acordada cedo hoje. Ótimo! Vamos nos arrumar. Hoje a gente vai passar o dia na igreja. Vai ter oração especial. Meu coração despencou. Como assim o dia todo na igreja? Eu não posso perder tempo. Tenho que ir na farmácia agora. Virgínia: Ah, mãe, eu tava pensando em sair pra resolver umas coisas... Maria: Nada disso, filha. Hoje é um dia especial. Vamos orar pela nossa família, pelo seu futuro. Você precisa disso. Eu já falei com seu pai, ele tá nos esperando lá. Eu senti o desespero crescer dentro de mim. Queria gritar, queria dizer que eu precisava sair, mas não podia. Minha mãe me olhava com aquele olhar de expectativa, esperando que eu dissesse sim, que eu fosse a filha obediente de sempre. E eu, sem escolha, assenti com a cabeça. Virgínia: Tá bom, mãe. Eu vou me arrumar. Subi as escadas de volta pro quarto, sentindo as lágrimas queimarem meus olhos. Não podia acreditar que isso tava acontecendo. Cada minuto que eu perco, o risco de engravidar aumenta. Eu precisava daquela pílula agora, e, em vez disso, eu ia ficar presa na igreja o dia todo. Na igreja, o tempo parecia se arrastar. As horas passavam devagar, e eu me sentia presa. As palavras dos pastores ecoavam pelo salão, mas eu não conseguia prestar atenção. Minha mente tava a mil, repassando tudo o que eu precisava fazer. E se não der tempo? E se já for tarde demais? Eu não posso engravidar, não posso acabar com minha vida assim. A tarde chegou, e a oração parecia não ter fim. Minha mãe segurou minha mão, me puxando pra frente, pedindo pra orarem por mim. Maria: Orem pela minha filha, para que ela encontre o caminho certo, para que Deus proteja o futuro dela. Eu fechei os olhos, sentindo o nó na garganta. Se ela soubesse... Se ela soubesse o que eu fiz ontem, ela não estaria pedindo isso. Eu respirei fundo, tentando segurar as lágrimas. Eu só queria sair dali, só queria resolver isso. Quando finalmente conseguimos voltar pra casa, já era noite. Meu pai ainda ficou conversando com as pessoas, e eu aproveitei a chance. Corri até a farmácia mais próxima, o desespero me fazendo tropeçar nos próprios pés. Entrei na farmácia, o coração na boca, e fui direto pro balcão. Virgínia: Me dá a pílula do dia seguinte, por favor. É urgente. A atendente olhou pra mim, analisando meu rosto como se soubesse o que eu estava passando. Ela pegou a caixa e me entregou. Atendente: Você tem que tomar o quanto antes. Já se passaram quantas horas? Virgínia: Eu... Eu não sei. Mais de 24, eu acho. Ela suspirou, como se tivesse pena de mim. Atendente: Quanto antes você tomar, melhor. Mas já passou bastante tempo. Reza pra que funcione. Paguei e saí correndo, m*l agradecendo. Voltei pra casa, minhas mãos tremendo enquanto eu abria a caixa e pegava a pílula. Olhei pra aquele comprimido pequeno e engoli, sentindo um gosto amargo que parecia se espalhar pela minha boca. Me sentei no chão do banheiro, abraçando meus joelhos. O medo agora era insuportável. Eu tinha tomado a pílula, mas já tinha passado do tempo ideal. E se não funcionar? E se eu estiver grávida? Senti as lágrimas escorrerem, e pela primeira vez, eu me ajoelhei e rezei de verdade. Virgínia: Deus, eu sei que eu errei. Eu sei que não fui a filha perfeita, que não segui o caminho que meus pais queriam. Mas, por favor, não me deixe grávida. Eu não sei o que fazer se isso acontecer. Eu prometo que vou mudar, que nunca mais vou fazer isso de novo. Só me dá essa chance. Eu fiquei ali, ajoelhada, chorando, pedindo uma chance. Nunca fui de rezar, nunca acreditei que isso resolveria alguma coisa. Mas agora, é tudo o que eu tenho. Eu me sinto pequena, frágil, e pela primeira vez, realmente assustada com o futuro. Depois de um tempo, me levantei, limpando as lágrimas, e olhei meu reflexo no espelho. Vi uma garota diferente. Não a filha perfeita do pastor, mas uma menina perdida, cheia de medo e arrependimento. Suspirei e saí do banheiro, me jogando na cama, o travesseiro molhado pelas lágrimas. Virgínia: Que seja o que Deus quiser. Fechei os olhos, tentando dormir, mas o sono não veio. Fiquei ali, no escuro, esperando. Esperando por uma resposta, por um sinal de que tudo ia ficar bem.
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