CAPÍTULO 2

1567 Palavras
NARRAÇÃO RENATA - Antes de atirar, apenas me escute. Abro meus olhos e ele se mantém na mesma posição, pronto para me matar. - Aurora, Jorge, Sawyer e Marcela estão bem e seguros. Dei a parte que cabia a Aurora para que pudessem sumir dos olhos do Banks. Vem andando até mim e coloca a arma na minha cabeça. Ergo meus olhos para olha-lo. - Meu nome é Renata Schneider. Sinto meu coração acelerar e minhas mãos ficarem frias. - Me desculpa te usar, mas eu precisava. Seguro a vontade de chorar e seus olhos continuam sem qualquer emoção. - Por que você precisava me usar? Pergunta com a voz carregada de rancor. - Porque esse golpe era importante demais pra mim. - Por que? Enfia mais a arma na minha cabeça. - Por que f***r o Banks era tão importante? Desvio meus olhos do dele e encaro minhas mãos sobre minhas pernas. - Sou filha de Alberto Schneider, o maior golpista que o mundo já viu. Conto com as lágrimas já descendo pelo meu rosto. Se vou morrer nas mãos de Fábio, que ele pelo menos saiba quem está matando. - Há vinte anos meu pai entrou em um golpe enorme, que quase o levou a morte. Assim que o finalizou, desapareceu no mundo para salvar a mim e a minha mãe. Ele precisou nos abandonar para que ninguém nos usasse contra ele. Seco minhas lágrimas e tento erguer meus olhos, mas ainda não consigo olha-lo. - Cresci ouvindo da minha mãe as historias do meu pai pelo mundo, dando seus golpes. E meu maior sonho, a coisa mais importante na minha vida era voltar a vê-lo. Respiro fundo e tento conter minha emoção. - Entrei para o mundo dos golpistas. Treinei para enfrentar qualquer coisa. Dei golpes pequenos, mas ele nunca apareceu, talvez nunca tenha chegado aos seus ouvidos que sua filha seguia seus passos. Encolho minhas pernas e as abraço, tendo ainda uma arma apontada em minha cabeça. - Para que ele pudesse saber de mim. Pra que ele talvez viesse me procurar, eu precisava de um golpe grande. Precisava do Banks. Finalmente consigo encarar seus olhos. - Sou uma filha, desesperada para encontrar seu pai. Sou uma filha que entrou para esse mundo, porque é o único jeito de ficar perto daquele que por anos ela vem chorando uma saudade que sufoca, querendo um abraço que não lembra mais como é. Nada é mais importante pra mim, do que abraçar novamente meu pai e encontrar meu lugar. Fábio abaixa a arma e solta um longo suspiro. Enfia a arma no bolso e tira um celular, apertando o botão. Ele estava me gravando? Sai de perto da cama e vai em direção a porta do quarto. É isso? Ele só queria uma confissão? Destranca a porta e tenho medo que tenha policiais prontos para me prender. Abre a porta e sai da frente, dando passagem a alguém. Não acredito! Pulo da cama e corro em direção ao meu pai. - Pai! Grito e me jogo em seus braços, finalmente sentindo o seu abraço. - Que merda você está fazendo da sua vida, Renata! Diz com a voz cheia de preocupação. - Estou tentando ver o meu pai! O homem que por anos fez uma falta enorme dentro do meu coração, do meu abraço. - Pedi tanto pra sua mãe te deixar longe desse mundo. - Esse mundo está em nosso sangue. Me afasta de seu abraço e segura meu rosto em suas mãos. Abre um enorme sorriso e seus olhos estão marejados. - Você cresceu tanto! Quase não cabe mais no abraço desse velho. - Isso significa que agora você cabe no meu. Beija minha testa e respira fundo. - Quando Fábio me disse que você estava entrando na vida do Banks para dar um golpe nele, quase tive um ataque cardíaco. Solta meu rosto e me olha fingindo estar bravo. - Você quase acabou com meus planos ali. Olho para Fábio, que esta de braços cruzados nos observando, encostado na parede. Ainda sem qualquer expressão em seu rosto. - Então Fábio é um golpista? - Sim! - Ele sempre soube quem eu era? - Sim! Me avisou na hora e minha primeira ordem foi que te protegesse do Banks. Aquele homem podia te matar. Tudo que vivi ao lado do Fábio nesses últimos dias repassa em minha cabeça. - Então ele sabia que eu estava lá para dar o golpe? Olho para ele que se mantém vazio. - Sim! Você entrou no meio de uma operação de resgate. - Operação de resgate? - Fábio estava tentando tirar Jorge, Marcela e Aurora das mãos do Banks. - Espera! Não estou conseguindo entender nada. - Há vinte e quatro anos atrás me uni a quatro amigos para dar o golpe em um jovem que acabava de assumir a empresa da família. Me leva para sentar na cama e vejo Fábio ir para a varanda, nos deixando a sós. - Jorge, Aurora, Ricardo e Lucia. - O que? - Sim! Lúcia se passava por empregada e fingia ser mulher do Jorge. Aurora era a mulher focada em seduzir o Banks e Ricardo assim como eu, seria o apoio fora do golpe. - O que aconteceu? - Lucia se apaixonou por Banks e ele por ela, que estava disposta a largar o golpe, tudo, para ficar com ele. - Lucia engravidou da Marcela. Digo em um sussurro e papai senta ao meu lado. - Banks estava disposto a assumir Lúcia, mas ele descobriu que ela era golpista. - Como? - Não sabemos quem, mas naquele momento o golpe se tornou nosso pior pesadelo. Ele ficou furioso e atacou Lúcia que estava no ultimo mês de gestação. Tudo foi muito rápido e se não fosse Jorge e Aurora, Marcela teria morrido ainda na barriga da mãe. Os médicos conseguiram fazer o parto, mas não salvaram Lúcia, que morreu dias depois. - Ninguém denunciou esse homem? - Banks já tinha o poder de Seattle nas mãos. Conseguiu colocar a morte de Lúcia como decorrência de uma hemorragia. - O que aconteceu depois? - Jorge registrou Marcela como dele e de Lucia, estava pronto para sumir, quando Banks o ameaçou. Ele sabia que Marcela era dele, não queria assumir, mas queria por perto. A ameaça causou desespero em Jorge que ficou, com medo de que algo acontecesse ao bebê. - Então Jorge estava preso no golpe há anos? - Sim! Aurora era apaixonada por ele e entrou na merda toda. Seduziu o Banks, casou com ele e aceitou a vida horrível, para ficar ao lado do homem que amava e cuidar da Marcela. - Meu Deus! Esse é o golpe mais longo que já ouvi falar. - Quando Ricardo faleceu, Fábio assumiu seu lugar ao meu lado nos golpes. Não podia mais aceitar ver meus amigos ali naquele inferno e coloquei meu homem de confiança lá dentro, para acabar de vez com esse golpe, com o Banks. - Quando eu entrei, apareci na vida do Banks, vocês já tinham algum plano? - Fábio já sabia do cofre, o que precisava para abrir, estava apenas pensando em como fazer e depois sumir, levando todos e deixando aquele merda sem nada. - As câmeras na casa do Fábio serviam para ele vigiar o Banks. - Sim! - Agora tudo faz sentido. Aurora e Fábio me deram informações para o golpe. - Sim! Eles sabiam o que você queria, te conduziram para tudo e deixaram você resolver o golpe de uma vez por todas. E devo dizer que foi incrível o que fez. Abro um pequeno sorriso. - Estou orgulhoso de você, apesar de quase ter me matado de medo. Beija minha cabeça e se levanta da cama. - Mais orgulho eu fiquei, quando soube que se importou com Aurora, Jorge e Marcela. Você foi incrível ao cuidar deles. - Não podia virar as costas e fugir com tudo, vendo o quanto eles eram infelizes ali. - Esse seu coração bom herdou da sua mãe. Sorri e anda em direção à porta. - Pra onde vai? - Voltar para o meu mundo fantasma. - Achei que ficaríamos juntos! - E vamos! Passa pela porta e me olha. - Partimos em meia hora! Pisca pra mim e fecha a porta. Meus olhos vão para a varanda e vejo as costas do Fábio. Me levanto e caminho até ele. Assim que passo as portas da varanda, o vento quente bate em meu corpo e sigo para o seu lado. Encaramos a bela visão a nossa frente. - Então você sempre soube quem eu era. - Sim! - Me torturava pedindo uma confissão, fez toda aquela cena para me enganar. - Seu pai me pediu para testa-la. Queria saber se suportava pressão e mantinha o segredo. Me viro, dando as costas para a paisagem e fico olhando para o meu quarto. - Então tudo o que aconteceu foi um plano seu e do meu pai para me proteger, me testar e me ajudar no golpe. Seu braço encosta no meu e sinto o desespero de sentir seu toque, seu corpo no meu. - Sim! Sua boca está perto do meu ouvido. Viro o rosto e sua boca fica perto da minha. - Foi tudo uma mentira? Pergunto com a voz baixa e meus olhos estão fixos em seus lábios. - Foi uma mentira pra você, Renata?
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