Helena
Chego na empresa na qual eu sempre sonhei em trabalhar, pois o salário deste lugar é o melhor de todos os lugares que já passei.
Eu sempre quis trabalhar aqui pois sei que com o tempo não estarei sempre dependendo das outras pessoas, mas sim terei tudo que eu quero e desejo.
Com uma entrada sofisticada, toda ela decorada de preto e branco, e vidro fumado por todos os andares que mais parece ser um prédio de vidro .
Ao chegar as portas automáticas abrem-se.
O som dos meus saltos ecoava pelo hall de entrada como um lembrete constante de que eu não pertencia a aquele tipo de lugar.
Tudo naquele prédio exalava luxo e poder.
Espelhos espelhados por todos lugar, mármore frio sob meus pés, homens de terno, e mulher com os seus terninhos e o cabelo preso a um coque bem feito sem nenhum fio de cabelo fora, e falavam em tom contido, como se cada palavra tivesse um preço.
Eu era apenas uma recém-contratada, tentando esconder o nervosismo sob um sorriso profissional.
Mas, por dentro, algo me dizia que aquele lugar não era apenas um escritório. Era uma arena.
E que quem comandava tudo ali... era mais que um simples chefe misterioso.
Tudo naquele prédio exalava luxo, status e controle. E eu? Eu era só uma mulher tentando reconstruir a vida da maneira mais simples e modesta, trabalhando como uma assistente novata em um império de ferro e vidro.
O elevador subia devagar, e cada número iluminado no painel parecia contar os segundos de um destino inevitável.
Respirei fundo, ajustei o blazer e tentei controlar o tremor das mãos, uma missão que se tornava impossível. Porque eu parecia mais com uma vara verde, de tanto que tremia.
Era meu primeiro dia como assistente executiva do CEO da Navarro Corp., uma das maiores empresas do país — e também uma das mais misteriosas.
Um nome que sempre dominava todas as manchetes e os corredores corporativos da cidade.
Essa vaga tinha surgido de repente. O salário era alto demais para ser real, e a seleção, estranhamente rápida mais mesmo assim aceitei.
Porque eu precisava do um emprego. Precisava de um novo começo para mim.
Ding... o som do elevador anunciou minha chegada ao último andar.
As portas se abriram e, de imediato, senti o ar diferente — mais frio, mais silencioso.
E agora, por um golpe do destino — ou do azar mesmo, pois parece que eu sou o próprio azar em pessoa—, eu estava prestes a trabalhar diretamente com o homem que comanda tudo aqui.
Assistente pessoal, é o que disseram. Uma oportunidade única, assim me disseram.
Mas ninguém me disse que meu novo chefe tinha olhos frios como o inverno e um sorriso que parecia esconder segredos demais.
Um andar inteiro dedicado a um homem. Um homem que, segundo os rumores, era tão brilhante quanto implacável.
Damian Navarro.
O nome parecia carregar um peso muito grande, como se tivesse poder próprio.
Eu o conhecia apenas por fotos — perfis de revistas, reportagens e jornais que o descreviam como gênio dos negócios, predador do mercado, o homem de olhar impossível de decifrar”.
Mas nenhuma imagem poderia me preparar para o que encontrei a minha frente.
Ele estava lá, diante da parede de vidro que revelava a cidade em movimento.
Alto, de ombros largos, o terno perfeitamente ajustado ao corpo.
Quando se virou, o tempo pareceu parar por um instante.
Os olhos dele — de um cinza profundo — pousaram sobre mim como uma lâmina afiada.
Não havia curiosidade naquele olhar.
Havia conhecimento.
Como se ele já soubesse quem eu era, o que eu pensava, o que eu temia.
— Helena Duarte — ele disse meu nome sem consultar nenhum papel, nenhuma agenda.
A voz dele era grave, firme, com um toque rouco que fez minha pele arrepiar.
— Seja bem-vinda ao seu novo mundo.
Por um instante, não consegui responder.
A forma como ele disse “seu novo mundo” soou como uma promessa ou uma sentença.
Recuperei o fôlego, tentando parecer mais segura.
— Obrigada, senhor Navarro. É uma honra fazer parte da sua equipe.
Um leve sorriso surgiu em seus lábios, sem realmente alcançar os olhos.
— Equipe? — ele repetiu, como se provasse a palavra.
— Aqui, Helena, não há equipe nenhuma. Há quem comanda... e quem obedece.
Engoli em seco, sentindo o ar intenso entre nós.
Ele deu um passo à frente, e o perfume amadeirado que o cercava me envolveu — discreto, mas viciante.
Por um momento, desejei recuar, mas minhas pernas pareciam presas ao chão.
— Não precisa ter medo — ele murmurou, com uma serenidade que soava quase perigosa. — Desde que saiba seguir as regras.
— Quais regras? — perguntei, a voz saindo mais fraca do que eu gostaria.
O sorriso dele aumentou, lento, calculado.
— As minhas.
E então, o telefone em sua mesa tocou, quebrando o transe.
Ele não desviou o olhar, mas atendeu com naturalidade, como se ainda me estudasse em silêncio.
Enquanto esperava, observei o ambiente.
O escritório era amplo, mas não havia um único objeto desnecessário. Tudo ali tinha propósito.
Quadros abstratos, tons frios, janelas que revelavam o céu nublado — e uma sensação constante de vigilância, como se cada passo meu fosse observado.
Quando ele desligou, aproximou-se mais uma vez.
— Sua sala será ao lado da minha. Quero você por perto. Sempre.
O modo como ele disse sempre fez meu estômago revirar.
Assenti, tentando parecer profissional, mas o olhar dele me segurava como grilhões invisíveis.
Ele me estendeu a mão.
Por instinto, toquei-a.
O calor da pele dele contrastava com a frieza de tudo ao redor.
Aquele toque breve foi o suficiente para acender algo dentro de mim — algo que eu não compreendia, e que, por instinto, sabia que devia temer.
Quando ele soltou minha mão, inclinou-se levemente, os olhos ainda cravados nos meus.
— Espero que esteja pronta, Helena. Porque a partir de hoje... tudo muda.
E naquele instante, mesmo sem entender o porquê, soube que estava presa ele.
Não através de um contrato de trabalho.
Mas a um homem que parecia feito de ferro e gelo.