Perfeita demais

1228 Palavras
Ares A garagem é iluminada apenas por uma lâmpada fraca, projetando sombras que dançam nas paredes. Fico recostado no canto, aguardando ansiosamente por ela. Meu carro antigo está aqui, o carro que quase me tirou a vida. Meus olhos se fixam nela quando se aproxima, um sorriso de vitória brincando em seus lábios. – Você chegou antes de mim, que milagre é esse? – Ela provoca, o sorriso se alargando. – Não tinha muita coisa para fazer. – Jully mostra a língua para mim, um costume infantil que eu acho adorável. Ela acende as luzes, seu olhar desvia para o meu pescoço e ela comenta: – Parece que você estava mentindo, Ares. Tenho certeza de que a mulher que deixou isso aí queria bem mais do que você imagina. – Seu sorriso desaparece, deixando um rastro de seriedade. – Quem será o destaque nos jornais amanhã? – Apenas mais um rosto sem graça. – Respondo, tentando encerrar o assunto. – E como foi a entrevista? Ela solta um suspiro. – Foi boa, meu próprio chefe foi quem me entrevistou. Fiquei nervosa, mas acho que me saí bem. Consegui o emprego, então... Deixo a parede e a abraço, erguendo-a e girando seu corpo miúdo no ar. Seu riso preenche a garagem, ecoando por todo o lugar. Fico realmente feliz por cada conquista dela, isso jamais poderia ser diferente. – Fico feliz por você! Você é um amuleto da sorte Jully, não teria como você não ter sorte! – A coloquei no chão e ela bateu com o ombro em mim. – E quem é seu chefe? – Nicolas Ferri. – Meu corpo se tensionou assim que ouvi o nome. – Me parece alguém muito inteligente. Serei a secretária pessoal dele. Meu coração dispara ao ouvir o nome ao imaginar Jully perto dele por tanto tempo quanto ela fica comigo. Aperto o maxilar e tento disfarçar minha reação. – Também já ouvi falar muito sobre ele e o conheço pessoalmente, jantares e essas coisas que as vezes minha avó me obrigava. – Eu digo, tentando parecer indiferente Tento sorrir, mascarando a agitação que sinto por dentro. Ela está feliz e eu não quero estragar esse momento. Continuo a sorrir, embora meu coração esteja apertado. – Eu estou muito empolgada! Depois da entrevista pesquisei um pouco sobre ele... nem acreditei que ele consegue deixar a vida privada, ser privada de verdade! – Ela gargalha jogando a cabeça para trás. – Você deveria perguntar a ele, quem sabe te dá algumas dicas valiosas para que pare de se envolver em tantos escândalos. – Isso é incrível, Jully. Tenho certeza de que você vai se sair maravilhosamente bem. – Minha voz soa genuína, pois acredito em suas habilidades. – Sobre ele, pode ser que não seja alguém tão memorável quanto eu. – Seu ego é imenso. – Algo entre minhas pernas é tão grande quanto, viciante, eu diria, e é daí que vem os escândalos. – Você não presta, sabia? – Seu rosto se fecha em uma careta. – Não sei como conseguem se interessar por você... Enquanto Jully ri e compartilha mais detalhes sobre a entrevista e o trabalho que está por vir, eu me esforço para manter a compostura. – Talvez seja por ser bom demais na cama, mas você nuca quis experimentar. – Nunca! Não vou ser mais uma na sua longa lista de conquistas, já te falei isso... quer perder a nossa amizade? – E quem nos garante que perderíamos? E se ficássemos ainda mais próximos? – Ela estreita os olhos e se aproxima de mim. – E se fossemos o melhor dos dois mundos? – Tá a fim de arriscar? – Ergueu a sobrancelha. – Por que está sozinho, Ares Bacelar? Por que nunca deu certo com ninguém? Por que acha que daria certo comigo? Você enjoaria, como faz com todas e eu ficaria quebrada demais para conseguir manter nossa amizade. Nossos olhares se encontraram em um misto de desafio e tensão. Eu sabia que as palavras dela continham verdade, que nossos passados tumultuados e minhas falhas anteriores pesavam sobre nós. Por um momento, o silêncio pairou na garagem, apenas as luzes fracas e as sombras dançantes como testemunhas silenciosas. Finalmente, rompi o silêncio: – Você é diferente. Desde que entrou na minha vida, você tem sido um raio de luz, uma constante que eu não quero perder. E você está certa como sempre. Ela me olhou intensamente, como se estivesse avaliando cada palavra. O sorriso brincou novamente em seus lábios, mas dessa vez era um sorriso suave e sincero. O medo de falhar com ela se in filtrou novamente em meus pensamentos como faz todas as vezes que entramos nesse assunto. Jully era a única coisa real de verdade para mim, além da minha família, ela me conhece bem o bastante para saber que iria acontecer. – E você é importante demais para mim, não quero te perder como todas as outras tontas apaixonadas. Conheço os padrões, Ares, esquece que cresci no meio de três homens? Nem meu pai é santo! Eu engoli em seco, sentindo um nó na garganta. Eu sabia que acabaria quebrando o coração dela, e isso é uma coisa que eu jamais me perdoaria. – Isso é uma merda né? – É uma merda sim deus grego, mas é uma coisa que nós dois sabemos que é inevitável. – Por que você sempre tem que ter razão? – Perguntei com um sorriso resignado, apreciando a maneira direta como ela lidava com as situações. Ela riu, um som suave que preencheu o espaço entre nós. – Talvez porque eu esteja acostumada a ver através das fachadas das pessoas. E com você, Ares Bacelar, não é diferente. Espero que um dia você possa quebrar esse padrão. Ela se aproximou, colocando a mão no meu rosto com gentileza, e me olhou com aquele carinho que eu não via nos olhos de mais ninguém. – Ares, você não vai mudar da noite para o dia. Sua família é complicada, você e seus irmãos têm um jeito estranho de lidar com as pessoas, com a vida, mas principalmente com as mulheres. E está tudo bem ser assim, eu estou bem com isso, você está confortável com isso. Senti um calor reconfortante se espalhar por meu peito enquanto olhava para ela. Havia tanta verdade nas palavras dela, tanta disposição em aceitar o que éramos, mas não o que poderíamos ser. Um sorriso brilhante se espalhou pelo rosto dela, e ela assentiu com um olhar cheio de determinação. – Nós temos algo muito real, não é? – Sim. A amizade que tínhamos era preciosa, uma conexão que não queríamos arriscar perder. Sabíamos que nossos sentimentos poderiam complicar tudo, que a tentativa de cruzar essa linha tênue poderia levar a consequências irreparáveis. – Merda! – Nós dois caímos na gargalhada. Não era a primeira vez que eu tentava convencer Jully de que poderíamos ter alguns benefícios sem perder nossa amizade, mas contra fatos não há argumentos, Jully sabe que acabaríamos m*l. – As peças novas chegaram, quer dar uma olhadinha? Quando vamos instalar? – Nós dois éramos o mecânico, ela aprendeu tudo com o pai e irmãos, e eu praticamente aprendi sozinho e com ela. Era uma merda que Jully fosse tão perfeita para mim, perfeita demais para que eu seja o i****a de sempre e acabe fazendo algo para perdê-la
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