Capítulo 5

3108 Palavras
THEO Minha cabeça ainda doía quando meus olhos se abriram, não fazia ideia de onde estava e como havia chegado ali. Tentei olhar á minha volta na tentativa de achar alguma pista, mas foi em vão, apenas vi um quarto com paredes brancas, simples, que estava quase vazio. Quase porque só uma cama e um criado mudo se encontrava ali. Com um pouco de dificuldade me sentei na cama, os lençóis eram limpos e macios, seja lá quem me trouxe para este lugar, com certeza queria me deixar confortável. Me levantei sentindo meu ombro esquerdo doer um pouco e caminhei até uma das duas portas que tinham ali, quando abri a primeira me deparei com um banheiro, tomei a liberdade de entrar e só quando olhei para o espelho que notei que não vestia mais minhas roupas. Não sabia de quem eram, mas vestia uma blusa preta e uma calça de moletom, ambos um pouco maiores que eu mas ainda sim caíam muito bem em mim. Encarei o reflexo do meu rosto, procurando algum machucado e pra minha sorte, nenhum golpe me acertou ali. Me virei para voltar ao quarto e quando caminhei até a outra porta vi que ela estava trancada. _Olá? -gritei enquanto batia na porta- tem alguém ai? -bati novamente, mas fui ignorado. Minha garganta se fechou em um desconforto e eu senti minhas pernas bambearem com a falta da ideia de saber onde estou. Olhei em volta novamente e para a minha surpresa, havia uma câmera ali, com a luz acesa indicando que eu estava sendo observado a todo tempo. Pensei em tentar arrombar a porta, mas meu corpo estava fraco e eu não comia a horas, então fui até uma janela de vidro do outro lado do quarto mas vi que ela não abria. Tentei olhar o que estava do lado de fora, e foi ai que vi que eu estava em uma espécie de prédio. Não havia ninguém lá embaixo, somente carros passando em uma avenida, mas eu com certeza não estava no primeiro andar. A esse ponto eu me perguntava onde estava, o por que de eu estar ali e quem era aquela maldita mulher que me ajudou na noite passada, de alguma forma sei que ela me trouxe aqui, ou pelo menos me levou até alguém que fez isso.  E para a minha surpresa, a porta se abriu atrás de mim, olhei imediatamente e avistei um homem, alto, n***o, que vestia uma traje social risca de giz, que me olhava com tranquilidade e um sorriso no rosto. _Bom dia, Theo. Se sente melhor? _Como você sabe meu nome? -perguntei sem responder o que ele havia dito. Ele parou por alguns instantes e cerrou os olhos. _Eu te fiz uma pergunta -ele sorriu novamente- se sente melhor? _E eu não vou responder até me dizer quem é você e como eu vim parar nesse lugar! -ele se mantinha parado na porta, bloqueando minha passagem. Esse cara devia ter quase uns dois metros e tentar passar por ele pra fugir, seria idiotice. Mas não direi que não pensei. _Ninguém te ensinou que é feio responder uma pergunta com outra? -ele quer mesmo entrar nessa discussão agora? _Infelizmente não -afirmei rispidamente- responda as minhas perguntas droga! Acho que eu estou mais na posição de precisar de resposta que você, não acha? -não saber o que estava rolando me deixava cada vez mais inquieto. _Não serei eu a pessoa que responderá suas perguntas -começou o rapaz- mas, se é tão urgente assim, escove os dentes -ele apontou para o banheiro- e lave o rosto, quando acabar sua higiene acene para a câmera que virei te buscar. _Me buscar pra quê? _Pra conversar com a senhora Daskalaskis -e sem esperar a próxima pergunta, o guarda roupa ambulante me deu as costas e fechou a porta novamente. Tentei correr para abrir a mesma, mas ela já havia sido trancada. Me encostei na parede sentindo o choro se formar e não segurei uma lágrima se quer, apenas desabei e deixei com que aquela agonia tomasse conta do meu corpo. Minha mente parecia não entender nada do que estava rolando -e de fato ela não estava- e o medo era o último sentimento que eu sentia. Muita coisa havia acontecido. [...] Tentei lutar contra fome e ficar ali sem fazer o que aquele homem havia me pedido, porém era muito difícil me manter de pé na condição que eu estava, e se eu quisesse de fato sair desse lugar, precisaria estar bem, e claro, vivo. Então, juntei o resto de sanidade e de força que eu tinha e fui até o banheiro, lavar meu resto e escovar meus dentes. Será que essa senhora é a mulher que eu vi antes de desmaiar ontem? E se sim, o que ela quer comigo? As dúvidas não seriam sanadas se eu ficasse ali, então caminhei até o canto do quarto que me deixava de frente a câmera e com uma mão eu acenei, mas com a outra, mostrei meu dedo do meio, mandando quem quer que estivesse me vigiando, tomar bem no olho do cu. E assim que abaixei as mãos a porta destravou como se alguém já estivesse esperando eu fazer isso, quando ela se abriu dei de cara com o brutamonte novamente, ele me encarou de cima e sorriu, se eu corresse ele me pegava, se eu gritasse então... nem sei o que ele faria. Então apenas o segui. Calado. _Estamos indo ver a senhora não sei quem? Ele deu uma risada se divertindo. _Você faz mesmo todas essas perguntas? -quando ele me olhou eu estava o entregando um olhar incrédulo de ''sério que você fez essa pergunta?'', e o sorriso no rosto dele se transformou em uma risada, novamente. Do que será que ele está achando tanta graça assim. _Bom, se fosse você no meu lugar eu duvido que seria diferente -falei quando vi que ele não responderia minha pergunta. _Pra início de conversa, nem no seu lugar eu estaria. -juro que a resposta estava na ponta da minha língua mas seria gasto de energia soltá-la, então apenas fiquei calado me alimentando da raiva que me subia aos poucos, até que então chegamos do lado de fora do prédio. O sol machucou meus olhos levemente e eu coloquei na mão na frente do rosto para tentar ver algo, checar se poderia correr ou se estaria me metendo em mais confusão se o fizesse, e a resposta foi sim, para a segunda alternativa, haviam mais brutamontes do lado de fora. Caminhamos um pouco mais á frente até que chegamos em uma mesa farta de comida, haviam pães, bolos, sucos e outros pratos que eu não fazia ideia de como se chamavam. Uma mulher -que parecia ter um pouco mais que meia idade- que usava roupas monocromaticamente pretas ergueu o olhar da revista que ela estava lendo e deu um sorriso para mim, um sorriso destacado por conta do batom vermelho que usava. _Olha quem acordou -ela jogou a revista na mesa- sente-se Theo, você deve estar faminto -seu olhar se desviou para o homem ao meu lado e então ela o dispensou erguendo as sobrancelhas, mexendo a cabeça para o lado em uma espécie de sinal. E sem dizer uma palavra, ele saiu. _Como sabe meu nome? -perguntei enquanto me sentava. Ao contrário do guarda roupa, ela não se importou em responder. _Você me disse ontem, quando estava te trazendo pra cá, não se lembra? Eu disse? Tentei me esforçar buscando alguma memória de ontem a noite, mas tudo o que eu me lembro é do farol batendo em meu rosto antes de eu cair. Balancei a cabeça negativamente e ela continuou: _Imagino, você parecia estar muito m*l mesmo. _E quem é você? -eu precisava de respostas. A mulher se manteve calma o tempo todo, apenas me olhou com serenidade e mexeu em uma bolsa pequena que estava em seu colo, tirou um maço de cigarros dali de dentro e acendeu o primeiro que pegou. _Pode me chamar de Helena -ela me deu um sorriso amarelado. _E o que eu estou fazendo aqui, Helena? -diferente dela, eu não estava nem um pouco calmo. _Acho melhor você comer enquanto explico, ok? Ou se não, tenho quase certeza de que você vai desmaiar de fome -ela deu um longo trago no cigarro e depois bateu as cinzas do mesmo ao seu lado, no chão- fora que os medicamentos para dor não farão efeito de barriga vazia. Odiava saber que ela estava certa, mas comecei a comer da comida que estava sendo servida a minha frente. _Que lugar é esse? -olhei em volta enquanto falava, já segurando uma espécie de sanduíche natural. _Vai com calma garoto -ela riu- muitas perguntas de uma vez, não acha? Priorize suas dúvidas, que eu as responderei. O gosto do que eu havia acabado de pegar era horrível, mas fiquei com vergonha de devolver e o comi até o final, Helena me encarava paciente enquanto enquanto pensava em qual pergunta fazer primeiro. Quando todas são importantes configurar uma ordem pode ser uma tarefa difícil. _Por que você quis me ajudar? -comecei. _Porque eu tenho interesse no que você pode me trazer. Como assim? Do que essa mulher está falando? _E o que eu poderia lhe oferecer ao certo? _Seus serviços, ora -o jeito que ela falava me assustava. Será mesmo que essa mulher seria a minha salvação? Ela me ajudou ontem, me trouxe para esse lugar e cuidou de mim, mesmo sem saber quem eu era ou de onde eu vim. Mas, por quê toda essa bondade? E por que me trancar em um quarto com câmera? Havia muita coisa á ser respondida, e eu não poderia perder a oportunidade de entender o que está acontecendo. _Mas afinal, que lugar é esse? E sem enrolação ela respondeu: _Esse lugar é onde eu seleciono as pessoas que merecem trabalhar comigo. _E você seleciona pessoas para fazer o que, exatamente? Ela jogou o resto de seu cigarro no chão e pisou em cima apagando o mesmo, então se inclinou sobre a mesa colocando seus cotovelos ali e soltou a bomba: _Para se prostituírem. Pra fazer o que?!? Fiquei paralisado sem acreditar no que eu tinha acabado de escutar, mas antes que eu perguntasse outra coisa, quem me pegou foi ela. _Você tem para onde ir? Parei por uns instantes e pensei, quando a resposta veio na mente, me repreendi por não ter se quer me dado o trabalho de gravar o endereço de Molly que estava escrito no papel dentro da mochila que aqueles desgraçados levaram. Eu sabia o nome da cidade e com muito esforço me lembrava o nome do bairro, mas a rua e a casa me fugiram da memória. Merda! E o que a Molly vai pensar?  _Mais ou menos -falei inquieto com a situação. _Como assim?  _Bom, eu tenho para onde ir mas não sei onde é, não sou daqui e o endereço que precisava achar estava dentro da mochila que aqueles homens levaram -menti, e o embarassamento já era claro em minha fala . Ela apenas sorriu de lado. Sem demonstrar nenhum tipo de remorso, mexeu na bolsa, fez o mesmo procedimento e retirou outro cigarro dali. E olha que isso mata. _Você pode ficar aqui se quiser tentar a seleção -ela olhou em volta observando o lugar- aqui as garotas e os garotos são muito bem tratados. Não sei qual é a sua visão da profissão, porem garanto á você que será muito bem pago -e lá se foi mais um trago do cigarro- fora que, você terá uma moradia e todo o resto. Essa mulher está mesmo falando sério? _Não é exatamente aqui que você vai ficar, na verdade -continuou- se você for selecionado, você passa para um outro nível -a animação em sua voz já podia ser notada enquanto ela me explicava tudo que nem sei ao certo se quero mesmo saber- você sai daqui e vai para a minha mansão, morar com as outras pessoas já selecionadas. Mansão? Isso está ficando cada vez mais estranho! _Isso não é crime? -perguntei, ela deu de ombros despreocupada e bateu as cinzas do cigarro no chão novamente. _Podemos dizer que sim, mas como todo crime, ele tem um preço para ser ignorado. Mas fique tranquilo, que dessa parte quem toma conta sou eu -Helena se serviu de uma xícara de café enquanto falava- você tem que se preocupar somente em como meus clientes saíram satisfeitos daqui. O modo que ela fala me faz sentir que eu já aceitei a proposta. Pra ser sincero, eu de fato já me questionava sobre a situação, a princípio eu não entendia o por que de tanta bondade, mas agora tudo faz sentido, ou pelo menos está começando a fazer. _E como seus clientes saem satisfeitos daqui? -dei um gole no suco que havia pegado nesse intervalo de tempo. _Meus funcionários fazem tudo o que eles querem -o olhar em seu rosto parecia o de alguém que estava analisando algo- na verdade, cada um tem um preço, e cada preço quer dizer coisas sobre você. _Ou seja -a interrompi- quanto mais coisas a pessoa estiver disposta a fazer, mais caro é o valor para um encontro com ela?  _Parece que você já está começando a entender como as coisas funcionam -agora sim ela estava animada, a excitação em sua voz era palpável. _E como funciona a seleção? Daskalaskis mudou o semblante em seu rosto assim que fiz a pergunta, ela não estava preocupada em responder, isso era óbvio, e pra ser sincero eu devo ser só mais um garoto que ela achou atraente o suficiente para trabalhar pra ela. Isso aqui é tipo minha primeira entrevista de emprego, mas quem quer contratar sou eu, e quem quer ser contratado, nem precisa do dinheiro. Após apagar seu segundo cigarro, ela tomou um gole de seu café, colocou a xícara na mesa, se aconchegou na cadeira cruzando as pernas e colocando as mãos em cima dos joelhos, seu olhar era neutro, e ai ela soltou a segunda bomba: _Essa é a pior parte ao meu ver, não sei o que você pensa sobre isso ao certo porque você foi a primeira pessoa que eu trouxe até aqui, as outras sempre vieram me procurar -ela havia acabado de confirmar meu pensamento- mas a seleção funciona de uma maneira prática, você trabalha pra mim, aceitando as condutas de todos os clientes que te escolherem num período de um mês, sem restrições, se após isso você não tiver pedido para sair, ou sido desqualificado, você se muda. _Você está me dizendo que isso aqui é um reality show de garotos de programa? -ela deu uma gargalhada demonstrando divertimento, mas eu nem se quer quis fazer uma piada. _Atualmente tenho onze pessoas dentro da minha casa, lá, elas recebem o melhor tratamento de seus clientes, que na maior parte das vezes, é um único e fixo homem rico -Helena pareceu analisar o que tinha dito e então se corrigiu- eu até tenho algumas clientes mulheres, mas já lhe adianto que a maior parte deles são homens. Isso aqui está ficando cada vez mais confuso. _Olha, você não tem que ser necessariamente gay para trabalhar com homens. Dois dos meus melhores garotos são héteros e conseguem se sair muito bem, você só precisa ter uma ereção quando necessário -disse ela, chamando minha atenção novamente. Minha mente tinha muita coisa para processar, mas parecia travar cada vez que essa mulher abria a boca. _Quando necessário? -a quantidade de perguntas que eu fazia demonstrava um interesse incerto, mas eu não conseguia simplesmente não entender as coisas. Helena olhou para o relógio de ouro branco em seu braço se certificando da hora, e se notei bem, ela pareceu querer correr com a conversa logo depois. _As onze pessoas que moram na minha casa são chamadas de sugar babies, eles são pagos em valores que tenho certeza que você acharia um absurdo, simplesmente pra ter um relacionamento com os clientes, que nem sempre é voltado ao sexo -seu corpo se inclinou para pegar a xícara novamente e tomar o ultimo gole de café que estava ali, provavelmente gelado- a questão é que na minha casa existem somente doze quartos, e o último será preenchido nessa seleção, talvez eu abra outra casa, talvez não, mas sua chance é agora. _Como assim minha chance é agora? _Theo, eu te salvei e te trouxe pra cá porque sei do perfil que meus clientes buscam e você se encaixa nele perfeitamente, não sei o que veio fazer aqui na cidade e pra ser sincera acho que nem você sabe, a proposta está feita, você pode trabalhar para mim e ter tudo aquilo que sonha, ou pode ir atrás desse lugar que nem sabe onde é. O que me diz? Congelei naquele instante. Isso com certeza não era a entrevista de emprego que eu estava esperando conseguir, e tudo está acontecendo muito rápido. O medo do despreparo tomou conta de mim novamente, juntamente com a massacrante ideia do desconhecido. Quanto mais o tempo passa, mais coisas estranhas me acontecem. Mesmo que parte de mim queira simplesmente levantar daqui e ir embora, confesso que a outra quer que eu fique aqui e veja até onde isso vai dar. Não sei se essa mulher está de fato falando a verdade, mas ela deixou claro que se eu quiser, posso ir embora a qualquer momento. Mas muitos questionamentos estão na minha cabeça. Até hoje eu me envolvi com uma garota na escola, e não passamos de um beijo muito m*l dado, depois disso nunca me dei o trabalho de me questionar sobre o que eu de fato queria para mim, não sei como seria ficar com homens, ainda mais homens estranhos, e sei menos ainda como é ficar com mulheres. Não faço ideia se para conseguir um emprego lá fora, e se vou conseguir me manter com ele. E se eu conseguir algo melhor? Mesmo que eu ganhe pouco, pelo menos não teria que me expor tanto. Eram mais perguntas do que eu conseguia responder, ainda estava parado com o olhar fixado no nada enquanto absorvia tudo aquilo que me foi dito e também os meus pensamentos, que me bombardeavam freneticamente.  O celular de Helena apitou em cima da mesa chamando minha atenção novamente para o momento presente, ela olhou a notificação e pareceu ler uma mensagem. Não fazia ideia do que se tratava, mas estava explicito que agora ela tinha pressa. Seu olhar se deslocou do celular até mim, e então ela perguntou novamente. _Não tenho o tempo todo, Theo. Como vai ser? Sim ou não?
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