CAPÍTULO 1 - RANYA

1761 Palavras
Me sentia péssima e não queria saber do que aconteceria agora, parecia que o que acabava de acontecer, apenas reforçava a ideia que homens podem ser cruéis, que as vezes compensa matá-los e jogar os pedaços cortados da ponte, que talvez isso seja uma saída viável para decepções e frustrações. Que talvez dar cabo deles antes da m***a toda seja melhor. Eu havia caído em dois golpes em menos de um ano, nos dois eu tinha sentimentos pela pessoa, com a diferença que um me fez gostar dele em pouco tempo, para só depois eu descobri que ele era casado e pai de um garotinho. Scott não iria para o céu. Eu tinha certeza disso, mas me assustava. Me sentia suja e usada, com culpa por não sacar que ele era casado, que ele não foi honesto desde o começo. Que era apenas uma diversão pra ele. Respirei fundo, Roman desviou dos pombos e se sentou ao meu lado no banco, era a segunda vez que ele tinha que me ajudar nas minhas decepções amorosas em menos de um ano. Eu começaria a anotar isso, esse tipo de coisa a gente não se esquece, acho que todos deviam ter alguém como ele, nesses momentos ruins a gente valoriza tanto quem está perto e presente, quem nunca solta a nossa mão e não deixa nada de r**m acontecer, foi pensar que ele poderia não estar aqui, mas ele estava, me ajudando mais uma vez. Ele não era nenhum psicólogo e nem alguém de bons conselhos amorosos. Mas era um bom ombro, era um bom amigo e um ótimo irmão. - Quer pipoca? - Quando éramos crianças a gente sempre vinha aqui, ainda mais quando tinha uma frustração enorme, a gente pensava que tudo iria ir embora, que quando voltássemos para casa, nada mais entraria na nossa mente. A última vez que havia estado ali foi quando descobri ser traída pelo meu ex-noivo, agora estava ali por descobri que o cara que estava me fazendo bem, que se esforçou em me surpreender e me fez gostar dele, de uma forma tão diferente. Era casado. Eu vi, eu poderia lembrar da cena, de mim entrando por uma porta e vendo a loira parada no meio da sala da casa dele, rodeadas de malas e ao lado, uma criança, se apresentando pra mim como mulher de Scott. Puta que pariu. Não havia como piorar a situação, saí de lá com meu r**o entre as pernas, me sentindo um lixo em ter contribuído para trair alguém, logo eu, que sabia o quanto doía e mudava uma pessoa. Senti o vento bater no rosto. Meu irmão jogou alguns pipocas no chão e os pombos se aproximaram. Quase pedi para um deles ir até Scott e cagar nele, naquele terno de milhares de dólares. - Obrigado por me atender e vir. - Eu sempre vou estar disponível, eu pensei que era algo mais sério, confesso. - Roman? - Isso pode acontecer, você não tem culpa, você não sabia da existência de uma esposa, não pode se culpar. - Eu ajudei a trair alguém, me coloquei no papel mais baixo que tinha, me sinto um lixo - Faço uma pausa. - Se você visse o filho dele, novinho, tão bonito e tão educado. - Ele usou você, então não foi sua culpa, você não sabia dessa m***a, eu tenho certeza que se soubesse teria falado pra ele ir plantar batata, não é? - Ele fez tanta coisa, me ajudou e me fez companhia, me levou pra sair e até cuidou de mim, como um cara livre poderia fazer - Sinto uma mágoa na ponta da língua ao falar aquilo, uma raiva e até um ódio monumental. - Mas ele não poderia ter feito, ele era a p***a de um homem casado, a p***a de um pai de família, que devia justamente respeito para aquela criança e aquela mulher. Qual a dificuldade de um homem fazer isso? Eu pensei, eu realmente pensei, que ele fosse diferente, que ele fosse um homem que eu poderia confiar e que saberia que não iria medir esforços para me agradar. - Eu sinto muito. - Não precisa sentir, eu mais que ninguém sinto por isso. - Ele vai te procurar de novo. - Eu juro, mato ele se fizer isso. - O que eu vou falar Ranya, pode ser que você não goste, mas como seu irmão, eu quero que saiba que não importa o que aconteceu, estou do seu lado, mas você tem que estar ao seu lado também, vi como a traição do seu ex te prejudicou, mas eu não quero ver isso agora. - Foi tão pouco tempo irmão, mas impregnou tão rápido. - Ele quis te conquistar, ele premeditou isso. Aquela palavra me corta ao meio. Premeditou. Porque as lembranças vem com força, os encontros, o tempo que passamos juntos e até o que conheci dele, assim como ele de mim. O s**o com ele, a forma que ele me tratava para sempre ter mais de mim, a boca cedendo aos caprichos dele. Mas pra que? Pra me ter em um jogo ridículo. Um que eu nem sabia que tinha enredo e nem papéis ruins. - Eu estou triste. Falando isso, eu deu um suspiro. Naquela praça não foi apenas eu que fiquei m*l, aos dezesseis eu vi com Roman aqui, o cachorro dele havia morrido, ele estava desolado e não tinha nada que consolava ele, mas aqui fez ele sorrir e voltar pra casa bem. Além dele ter vindo aqui também quando vovô morreu. Eu me aproximei dele e fiz algo que não esperava, algo que eu pensava não conseguir fazer depois de tanto tempo, encostei a cabeça no ombro de Roman e chorei. Não quero que pensem que sou fraca ou até estúpida, não quero que deixem de acreditar nas pessoas depois do que me aconteceu. Eu errei, não tive cautela e deixei ele entrar rápido demais. Mas decepções não vem com uma plaquinha escrita, não vem com pisca alerta e nem um sinal de fumaça. Acho que Deus poderia criar um radar pra isso, assim ele não veria seus filhos na m***a, sofrendo por idiotas, sim, era sobre isso. Cada lágrima que caia me fazia um bem, mas me fazia lembrar do motivo delas estarem caindo, dói a imagem e a voz da mulher falado que era a mulher de Scott, que aquele garoto era o filho deles. Eu devia imaginar que aquilo poderia acontecer, fui apenas o passa tempo até a mulher não estar na cidade. Eu fui o brinquedo. Eu me passei por uma amante? Isso era mesmo sério? - Eu quero tanto m***r aquele cara. - Mas não vai fazer isso - Roman ergueu a mão e começou a acariciar meu cabelo, como se aquilo fosse ajudar em alguma coisa. Queria mesmo que ajudasse, queria que apenas aquele gesto tirasse o vazio. - Eu fui tão burra assim? Como eu não percebi que ele era casado? - Você devia falar com ele, sabe que agora as coisas se complicaram, mas deve encerrar isso, te ver desse jeito, de novo, por mais um b****a, eu não sei o que vou fazer quando ele for na agência. - Era disso que você falava, sobre se envolver com algum cliente da agência. Acho que arrumei tudo. - Relaxa, não vou falar isso ou aquilo, você me ligou e me falou o que houve, estou aqui pra escutar você, estar do seu lado - Ergui o rosto e encarei ele, devia estar ficando péssima com aquele choro todo. - Você está chorando - Ele suspirou fundo. - Você não chorou nem quando descobriu sobre o outro, agora está aqui, chorando. - Estou chorando de raiva. - Vai ter que lidar com isso. Pelo menos agora você está coloca do pra fora. - Ou talvez, está mais insuportável que antes. Faço uma pergunta mental, do quanto eu gostava daquele cara, de quanto eu me envolvi sem perceber que eu iria cair e quebrar minha cara de novo. - Você tem que se recuperar, não dá pra ficar chorando e muito menos descontar na bebida como antes. - Talvez eu vá num terapeuta, o que me diz? - Que isso é besteira, mas se for necessário, vá. - Nunca entendi seus conselhos irmão, me deixam confusa as vezes. - Se eu seguisse os meus conselhos, eu também estaria bem amorosamente falando. Dou uma risada, lembrando da namorada dele ou noiva, nesse momento é apenas um detalhe que não é relevante, vejam, meu irmão não é o tipo de cara que namora ou vai se casar com qualquer mulher. Ele tem seu próprio parâmetro que ele nunca me disse e nem expôs, acho que ele nunca se apaixonou da forma que já aconteceu comigo. Isso me assusta. Ele não é mais um cara novo, daqui três meses ele completa seus 32 anos e eu nunca vi ele com o brilho nos olhos, vocês sabem o brilho que estou falando, o mesmo que eu comecei a ter anos atrás e no último mês saindo com Scott. Mas ele estava mais bem protegido que eu, eu não saberia se algum dia eu iria consolar ele, na verdade eu já até torci pra acontecer, pra entender a forma de amor e gostar dele. Mas nunca, em toda a minha vida, isso aconteceu. - Acho melhor eu ir pra casa. - Mamãe comentou que estava com vontade de comer pizza, acho que isso é um sinal que ela sabe que não tem algo certo com você. - Mesmo assim ela sempre sabe, não tem um dia que não percebe, não é? - A velha é esperta, maninha. - Vou em casa me trocar e pego caminho pra lá. - Quer que eu vá com você? - Não, prepare nossa noite da pizza - Ele sorriu. - Sempre usando, não é? - Eu sou a parte fraca da relação - Ele se aproxima e me abraça, deixando meu coração rachado quentinho. - Vai ficar bem? - Eu preciso ficar bem - Me levanto. - É daí se ele tem a esposa, eu não vou me sentir culpada, eu não sabia daquela m***a, eu vou seguir minha vida, vou superar essa m***a. - Agora sim, isso é algo que eu goste de ouvir. Roman se levanta e termina de jogar os farelo para os pombos. - Nos vemos daqui a pouco maninho - Me aproximo dele e o abraço. - Obrigado por estar aqui comigo, você é um bom irmão, chato as vezes, mas um bom irmão.
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