Capítulo 2

1082 Palavras
Após estar vestida e com as malas prontas, nos despedimos e prometo voltar no próximo final de semana. Esse, estarei com as crianças. Um meio de conhecê-las melhor, mas também porque foi o acordo feito com os meus novos chefes. Como ainda não estive com eles, apenas sei que são ricos, possuem três filhos e que saíram em uma nova lua de mel. Como foi através de Luce que tudo foi tratado, fiquei sabendo por alto o que precisaria fazer. A única coisa que tenho certeza, é que a minha futura chefe estava louca para ter alguém de confiança em sua casa, neste fim de semana, para que ela pudesse viajar com o marido. Encontro um carro de última geração na entrada do condomínio onde moro, e sei que está me esperando. Josefo, o motorista, pega as minhas malas e, após guardá-las com todo o cuidado, começa a dirigir. O senhor de idade avançada, nos encaminha para a zona Sul da cidade, o que não é surpresa para mim, uma vez que eu já sabia que a mansão se localizava em Vargem Grande. Durante a viagem, o motorista fala um pouco sobre sua família e menciona que todos trabalham na mansão durante anos. Ele comenta que sua esposa, a senhora Damiana, é a governanta da casa, enquanto seus filhos Izabela e Gustavo também têm suas funções lá dentro. Izabela, como ajudante de cozinha, e Gustavo, como jardineiro e motorista. O senhor tagarela comenta, todo orgulhoso, que sua filha faz curso de administração de empresas, e que Gustavo faz educação física aos trancos e barrancos. É com muita tristeza na voz que ele menciona que seu filho está numa fase em que só quer saber de festas e bebidas, e que está trazendo bastante desgosto para sua esposa. Ele me pergunta quantos anos tenho e se faço alguma faculdade, e respondo enquanto presto atenção nas ruas disformes que passam por nós numa velocidade impressionante: — Tenho vinte e cinco e terminei o meu curso de contabilidade há um ano, mais ou menos. — Ah, ele tem vinte e três. — Faz uma pausa, conforme paramos em um sinal. — Você tem cara de novinha, menina, e aliás, amei seu sotaque. — Solta uma risadinha fofa. — É de onde? — Minas, Belo Horizonte. — Amo, Minas. — Ele diz que está preparando uma viagem para a próxima semana com a esposa, mas logo volta a falar sobre os filhos: — A Iza tem vinte aninhos, vocês três serão grandes amigos, pode ter certeza. — Espero que sim! — digo animada, e mudamos de assunto: — E quanto às crianças? — Bom, elas são boas crianças. Os gêmeos estão sempre aprontando, mas é coisa da idade mesmo, a Alice é uma mocinha já, meio emburrada, mas é uma boa menina. A senhora Sophia e o senhor Nikolas são boas pessoas também, mas ela não é mãe de Alice. — Ah, não? — Não! Mas não diga nada que te falei, ninguém gosta de falar nisso naquela casa. — Ele faz uma pausa. — Não falamos no nome dos mortos para não os acordar. De repente, Josefo freia o carro bruscamente, e meu corpo bate com força no assento da frente. Um carro, do nada, costurou o nosso, e quase batemos. Noto-o ofegante, e percebo estar nervosa também. — Você está bem, menina? Assinto ao olhar para o meu corpo e constatar que não possuo nenhum arranhão. — Eu disse que nunca devemos mexer com os mortos! — ele solta uma risadinha fraca, e sorrio também, contudo, por dentro, sinto algo bem estranho. O restante da viagem foi feita em silêncio, e percebo que acabei adormecendo em algum momento, pois, acordo assustada com o som da voz de Josefo me chamando. Encaro a minha volta e noto que entramos num condomínio fechado, onde um vasto jardim me recebe com flores de várias cores, e arbustos quadrados cercam o caminho. Passamos por uma praia particular, e fico deslumbrada. Já me vejo pegando sol com as crianças enquanto fazemos um piquenique olhando para o mar. Há um parquinho fofo no meio do caminho e, de onde estamos, consigo vislumbrar a mansão. Ela é bem maior do que eu imaginava. O carro estaciona em frente, um tempo depois, e assim que saio do carro noto que ela parece ser três vezes maior do que pensei. — Bem-vinda à mansão Delamont. Encaro, perplexa, o senhor ao meu lado, que sorri para mim. Eu não fazia ideia para quem trabalharia até esse momento. Como contadora formada, meu dever é saber o nome da família mais poderosa do Brasil, financeiramente falando, e pensar que irei trabalhar para o bancário Delamont, torna-se demais para mim, porém, isso me traz esperanças, porque posso demonstrar-lhe o meu trabalho e, se eu tiver muita sorte, ainda conseguir um emprego no Banco em meu ramo. Não acredito que Luce deixou passar essa informação. Encaro novamente a propriedade e observo com mais clareza a mansão. Ela não é moderna, muito pelo contrário, sua aparência é antiquada e parece mais um mausoléu. A cor branca está sem vida, e a única coisa que a faz mais bela é o jardim bem cuidado à sua volta e a forma como a propriedade me lembra um palácio das histórias da Disney, com direito a pináculos, mas bastante desleixado. Meus olhos correm pelas janelas, e uma, em especial, me chama atenção, uma vez que vejo a cortina remexer-se rapidamente. Franzo a testa. — Quem dorme ali? — Aponto para o cômodo, e Josefo faz o mesmo. — Ninguém, aquele quarto está desativado há anos. Observo-o sem entender nada e volto o meu olhar para ela. A cortina cinza parece intacta, assim como a janela, como se nada tivesse acontecido. Pisco os olhos, algumas vezes, sentindo os pelos do meu corpo se arrepiarem, porém, não sinto nenhuma brisa. Josefo traz-me de volta à realidade incentivando-me a entrar na mansão. Sinto que minhas pernas tremem. É tudo novo, e tenho medo exatamente por isso. Não sei o porquê, mas acho que minha vida mudará bruscamente nesta casa. — Fique calma, menina, tudo dará certo, você vai gostar daqui! — Como se lesse meus pensamentos, Josefo fala baixinho, colocando a mão nas minhas costas. Confirmo com a cabeça, devagar, ao olhar para ele. De repente, volto há alguns anos vendo-me no leito de minha mãe. Meu pai falando a mesma coisa, porém, não ficou.... Nunca ficou.... E agora, estou aqui. Respiro fundo e entro.
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