Cap. 3 - O Mago da Cozinha.

1961 Palavras
_ Há 9.185 km do México, ou melhor dizendo, do outro lado do oceano _ Granada, Espanha. Existem pessoas que nascem com muitos dons. Umas nascem com o dom da música, outras com o dom da dança, umas com o dom da palavras, outras com o dom desenhar. Mas existem aquelas que nascem com o dom de conseguirem juntar tudo isso numa coisa só. E Leonardo Monteiro tinha esse dom. Ele cozinhava. E não era cozinhar por si só. Tudo o que ele fazia era uma obra de arte, que encantava não somente o paladar, mas a visão e o olfato também. Leonardo aprendeu as mais variadas e sofisticadas técnicas para se tornar um dos chefes mais renomados do mundo. Nada, para ele, era um desafio; e não havia nada que não pudesse ser aprendido e aprimorado por ele. Graças à esse empenho, conseguiu erguer um império de cadeia de restaurantes em diferentes lugares do mundo. Era um homem discreto e reservado. Não gostava de badalações e, dificilmente, dava entrevistas. Estrelismo?... Não. Simplesmente, Leonardo queria ser conhecido por seus pratos e não por sua imagem. Sua vida pessoal?... Bem... Vamos dizer que sua cozinha era bem mais organizada. Nesse momento, por exemplo, ele estava na cozinha de sua casa, preparando algo especial para o café da manhã. De repente, uma linda mulher vestida com uma de suas camisas aparece na porta. – Eu, realmente, preciso me acostumar com isso. – disse ela. – Bom dia, Sophia. – disse ele com um sorriso. – Com o quê precisa se acostumar? – Com essa sua mania de acordar cedo demais. – disse ela ainda sonolenta. Ele vai até ela e a abraça pela cintura. – Ah, querida. Me desculpe. Não quis te acordar. – Você me deixou esgotada noite passada, amor. – É sempre um prazer te satisfazer, meu bem. – disse ele sorrindo beijando o pescoço dela. – Já que é assim, porque não voltamos pra cama e continuamos de onde paramos, hein? – disse Sophia sussurrando no ouvido dele. – A proposta é tentadora, querida, mas não posso. Preciso terminar o que o que estou fazendo aqui. – disse ele mostrando tudo que já havia preparado. – Pra quê tanta coisa? Quem vem pra cá, um exército? – ela brinca. Leonardo dá uma risada. – Você sabe, gosto de mesa farta. E também, Bianca vem tomar café da manhã aqui e gosto de fazer tudo o que ela gosta de comer. – Ela está vindo pra cá?? – espanta-se Sophia. – Ah, então eu já estou indo. – disse ela se soltando dele. – Por que você sempre se comporta assim quando falo da Bianca? – Querido, sua filha me odeia. E ela faz questão de deixar isso bem claro, sempre que nos vemos. – Não seja exagerada, Sophia!... Bianca não te odeia. Ela só... – ele gesticulava tentando achar as palavras. – Ela só não gosta de mim. – disse Sophia ironicamente. – Eu não disse isso. ... Olha, querida, vocês só precisam se conhecer melhor. Sair juntas, fazer compras. – disse Leonardo. – É inútil, Leonardo! ... Eu já tentei várias vezes me aproximar da Bianca, mas ela não deixa. ... Quer saber? Eu desisto. – disse Sophia. – Sophia, Bianca é minha filha. – Eu sei, Leonardo. Agora me diga, o que eu sou pra você? – pergunta Sophia. – Como assim? – Há quanto tempo estamos juntos? Dois anos? – O que quer dizer com isso? – Quero dizer que estamos juntos há um bom tempo e você parece que não me leva à sério. – Mas o que é isso, querida!... – disse Leonardo a abraçando. – É claro que te levo à sério. – O bastante, pra se casar comigo? – pergunta Sophia "entrando de sola". – Casar??... – ele engole em seco. – Você quer casar?? – E qual o problema disso?? – pergunta Sophia um pouco ofendida. – Nenhum, doçura, nenhum. – disse Leonardo tentando remediar a situação. – Vamos fazer assim, deixe eu conversar com a Bianca, primeiro. Sabe como ela é. – Sério, meu amor?! – disse Sophia pulando em seus braços. – Claro, já está mais do que na hora de refazer a minha vida e esquecer o passado. – Ai, meu amor! Te amo tanto!... Que bom que você está disposto a esquecer de uma vez o seu casamento fracassado. Mas de que casamento Sophia poderia estas falando?... E será que esse era o passado que Leonardo queria esquecer? Pouco tempo depois de Sophia ir embora, Bianca chega à casa de seu pai, e já sente aquele cheirinho gostoso e convidativo de longe. – Meu Deus, que cheiro delicioso é esse?! – exclama ela. Bianca vai até a área da piscina, onde encontra uma mesa farta e seu pai sorrindo de braços abertos. – Bom dia, princesa! – Ah, paizinho!... Só o senhor mesmo! Os dois se abraçam bem forte. – Que saudade eu estava da minha florzinha! – disse Leonardo enchendo a filha de beijos. – Eu também, papai. Desculpa não ter vindo mais vezes, mas a mamãe não estavam me dando folga, sessão de fotos de um lado, desfiles do outro. Tô farta disso! – E a faculdade que você está fazendo às escondidas da sua mãe?... Como consegue conciliar isso tudo, filha?? – Não é fácil, paizinho. Mas eu sempre dou um jeito. ... Se bem que... – O que foi? – Vem, pai. Vamos comer e eu te conto. Depois de um tempo, ou melhor, de um longo tempo até Bianca contar toda a situação para seu pai, Leonardo ainda tentava entender. – Espera, está me dizendo que surgiu uma chance de um estágio numa revista? – Exatamente, paizinho. – disse Bianca com a boca cheia. – E esse estágio é no México? – Aham!... Não é o máximo?!... Vou poder conhecer seu país de origem, papai. Vai ser demais!... Vamos nos divertir muito! – Opa!... "Vamos"?!... Que história é essa de "vamos"…?! – espanta-se Leonardo. – Ué?... O senhor não vai viajar ao México, pra inaugurar o se novo restaurante? – Sim. Mas o que isso tem a ver com você? – Enquanto o senhor resolve os seus assuntos do restaurante, eu cuido do meu estágio. – disse Bianca, como se fosse a coisa mais natural do mundo. – Tá, entendi. E a sua mãe? – Ela não tem que saber o motivo da minha viagem. – Bianca, é da sua mãe que estamos falando. Ela tem o direito de saber. Você quer que eu te acoberte, nessa mentira, filha?? – Não é uma mentira, é uma omissão, pai. – É tudo a mesma coisa pra mim! – disse Leonardo. – Ela é sua mãe, você não devia ter segredos pra ela. – Pai, o senhor sabe que ser jornalista sempre foi o meu sonho, mas mamãe embarcou nessa de modelo e fica infernizando minha vida por causa disso! – Porque você sempre foi linda, meu amor. – disse Leonardo pegando na pontinha do nariz da filha. – E você é o melhor pai que existe. – disse Bianca sorrindo. – E é por isso que preciso que o senhor me ajude nessa. – Olha, filha, eu também nunca gostei dessa história da sua mãe de te fazer uma modelo. Não sei de onde ela tirou essa ideia de querer te ver como aquelas modelos esquelética, anêmica e bulímica!... Mas mentir pra ela... Isso não está certo. – disse Leonardo. – Papai, por favor! Bianca fazia uma cara que Leonardo não conseguia resistir. – Não me olhe assim, Bianca! ... Bianca!... Ah, está bem! – Ah, obrigada, paizinho! – disse Bianca pulando nos braços de seu pai. – Sua mãe vai nos matar quando descobrir! – disse ele. O receio de Leonardo tinha um certo fundamento. Júlia Ancira, sua ex-esposa, era uma mulher... Como direi?... Bem decidida naquilo que queria. No que sempre quis. Ela quis se casar com Leonardo, e se casou. Logicamente, por causa de uma gravidez, mas um homem como Leonardo, jamais fugiria às suas responsabilidades. Depois vieram as brigas, os ciúmes de Júlia, sua obsessão por Leonardo. Tudo foi se acumulando tanto, que ele não viu outra opção, a não ser se separar dela. A única coisa boa que ficou dessa união foi Bianca, que sempre demonstrou uma preferência maior por seu pai, que sempre a apoiou em seus sonhos. Em contrapartida, Bianca não se dava bem com sua mãe, e nunca apoiou as tentativas de Júlia de tentar se reaproximar de Leonardo. A revolta de Júlia só aumentou desde que se ex-marido engatou um romance com Sophia Pinheiro, uma mulher que o que tinha de atraente, tinha de interesseira. Porém, Júlia sabia que a mulher que sempre povoou o coração e os pensamentos de Leonardo, nunca foi Sophia, ou ela mesma. Júlia parecia ir no faro de sua filha. Foi bater direto na casa de Leonardo. – Onde ela está?! – disse Júlia entrando. – Bom dia pra você também, Júlia. – disse Leonardo com sarcasmo. – Não me venha com suas doses homeopáticas de sarcasmo, Leonardo! Eu sei que ela está aqui!... Sempre que discutimos ela vem atrás de você! – disse Júlia. – Ela esteve aqui, mas já foi. ... E por que discutiram, dessa vez? – pergunta Leonardo como se não soubesse de nada. – Conhece bem a sua filha, Leonardo, ela faz de tudo pra me tirar do sério. É igualzinha à você! – Se você não a sufocasse com coisas que você sabe que ela não gosta... – Ah, é claro!... Ela já veio se queixar pra você, não é?! – exclama Júlia. – Nossa filha não veio se queixar de nada, Julia!... Eu não sou cego!... E pra que te deixe menos paranóica, o que eu duvido, saiba que fui eu que a convidei pra tomar café da manhã comigo. – Eu já devia saber!... Às vezes me espanto como ela consegue ficar magra, comendo o q come, quando vem aqui. – disse Júlia. – Ainda bem que mantendo nossa filha bem alimentada, porque se fosse depender de você, ela morreria de fome! – exclama Leonardo. – Não seja dramático, Leonardo! Eu só cuido da alimentação dela. Se ela quiser uma modelo de sucesso, tem que se cuidar. – Aí é que está. E se ela não quiser ser modelo? – pergunta Leonardo. – O que quer dizer? O que vocês andaram conversando? – Nada demais, Júlia. Só acho que você precisa ouvir mais a nossa filha. – disse Leonardo. – Talvez, essa carreira de modelo, não seja bem o que ela queira. – Bianca não sabe o que quer. – Engano seu, Júlia. Nossa filha não é mais uma criança, ela já é uma mulher e muito segura de suas decisões. – Ela gosta de me enlouquecer, isso sim!... Ela herdou isso e você. – disse Júlia o fitando. – Não diga isso. Bianca herdou o seu poder de decisão, quando quer uma coisa, nada a impede. Júlia vai se aproximando de Leonardo. – É uma pena que esse meu jeito não conseguiu te manter do meu lado, não é? – Júlia, entenda, nosso casamento teve momentos bons, você me deu a Bianca. ... Mas nós dois, estava fadado ao fracasso desde o começo. Não era pra ser. – disse Leonardo se afastando. – Foi você que nunca quis nos dar uma chance! – exclama Júlia. – Eu te amava , Leonardo. Como ainda amo. – Júlia, pare com isso. Não vamos começar de novo. – É aquela mulher, não é?? – disse Júlia. – Lá vem você, colocando a Sophia no meio da conversa outra vez! – exclama Leonardo. – E quem disse que eu estou falando da Sophia?!
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