RATO NARRANDO Eu tava sentado na beira da cama, calçando o tênis, quando ouvi a voz dela atrás de mim. — Você vai sair? Olhei pelo reflexo do espelho e vi Débora encostada na porta do banheiro, os braços cruzados, o olhar frio. A careca dela brilhava sob a luz do quarto. Ainda era estranho ver ela assim. E a culpa era toda da Clara e do Cobra. Fiquei de costas, amarrando o cadarço com calma. — Vou. — Pra onde? Suspirei, me levantando. — No baile. Ela riu sem humor. — Vai me deixar aqui sozinha? Parei perto dela, segurando a cintura e puxando contra mim. — Não vou demorar. Ela desviou o rosto quando tentei beijar. Ri baixo. Débora ainda não tinha digerido tudo o que aconteceu. — Preciso ir, bebê. Só cumprir meu papel. Ela me olhou desconfiada. — Papel de quê? Me afaste

