Estranha o Suficiente II

4*Pegar? Ha!

Maya narrando

       Assim que abri os olhos me deparei com um rosto desesperado. Era Louis. Assim que a noite terminou, demos um jeito de os três se deitarem na cama de casal de Lua.

O resultado fora: eu no lado esquerdo e Louis no direito. Já Lua, estava literalmente deitada em cima de Louis.

Continuando...

Louis me olhava desesperado, Lua estava desabada em cima dele, e ele queria sair. Ele gesticulava e os olhos estavam arregalados.

- O que eu faço? - sussurrou.

Dei de ombros e me segurei para não rir. Ele me olhou de maneira maléfica.

Oh, não.

- Louis, não. - sussurrei. - Ela vai te m***r.

Ele levantou e abaixou a sobrancelha algumas vezes.

- Não. Não. - tentei impedi-lo.

Ele sorriu e em dois segundos escutei o baque do corpo de Lua no chão. Primeiro, um grunhido de dor. E logo depois um grito:

- LOOOUUISSSS !!!

      Lua gritou e eu tapei os ouvidos, ela se levantou e Louis pulou da cama e começou a correr. Depois de 10 minutos fugindo de Lua, Louis caiu no chão e Lua montou nele, rapidamente desferindo tapas em seu corpo.

Corri para pega-la e a puxei pra trás.

- Não me segura, não me segura. - ela disse chutando o ar.

- Calma. Lua, calma.

- Esse v***o me paga. - falou emburrada.

Soltei ela, ainda rondando-a caso ela partisse novamente pra cima.

- Own. - falou Louis. - Calma. Eu tava brincando.

        Ela mandou um dedo do meio e foi se trocar. Eu e Louis nos olhamos e começamos a rir, sem parar. Eu havia conhecido os dois no mesmo dia, há quase dois anos, se não me engano. Sempre fui uma pessoa simpática, e tinha amigos.

Mas ainda sim, era n***a. Minha pele é linda, e carrega uma história de gerações, marcada por luta e sangue. Apesar disso, é inevitável sofrer preconceito, e ser subestimada o tempo todo. Tive que lidar com muitos obstáculos no meu caminho, com parceiros e amigos, mas não com Lua.

Ela sempre foi assim. Aceita qualquer um, gay, n***o, branco, lésbicas. Ela simplesmente não olha para sexualidade ou raça, e por isso eu a admiro muito e estimo sua presença na minha vida.

Gosto da companhia desses dois, eu não os trocaria por nada, mesmo sendo uma amizade de apenas 2 anos, criamos laços muito forte.

Lua voltou com uma saia marrom, um salto bege e um casaco marrom claro com botões.

- Fiu, fiu. - falou Louis.

Eu assenti e sorri.

- Está linda. - concordei.

- Tenho que trabalhar.

- Ainda esta no café? - perguntei.

- Sim, não quero que meu pai banque todas as despesas da casa. Ele já me deu o apartamentos e os móveis, quero ter meu próprio dinheiro. - falou ela. - Mesmo garçonete sendo um clichê, é esse clichê que vai me ajudar.

- Tudo bem. - disse Louis. - Carona?

- Na verdade, sim. Mas antes um café.

- Eu faço. - disse Louis.

- Não. - falou alto. - Desculpa, gato, mas seu café é h******l. Maya, por favor?

Ela olhou na minha direção e eu assenti, indo pra cozinha. Quando o café já estava passado, eles apareceram, sentamos,tomamos o café e logo nos levantamos. Me troquei rapidamente e segui para o carro com os meus amigos.

~•~

Lua narrando

- Sabe Lua. - chamou minha atenção, Louis.

- O que?

- Você está jovem.

Revirei os olhos, com o pensamento:

"Vai começar!"

- É bonita, é gostosa.- continuou.

Meu Deus.

- Está estudando, quer ter um futuro.

Ele tirou a atenção do volante e me olhou uma vez.

- Está tudo decidido na sua vida.

- Sim. - concordei.

Era verdade.

Desde muito jovem eu já tinha em mente o que eu queria fazer, e aos poucos tudo estava dando certo. E eu não posso deixar de agradecer, por que muitas pessoas não tem a mesma oportunidade que eu estou tendo agora.

- Quero terminar minha faculdade, e logo depois começar a trabalhar. - contei novamente.

- Sim. Uau. Olha isso. Está tudo pronto, mas você não acha que deveria deslizar um pouco?

Eu não havia entendido.

- Deslizar? Como assim?

- Deslizar. Quer dizer, fazer algo fora dos planos.

O que?

- Como assim Louis? Fora dos planos? Não. Siga o plano, é simples. Por que? Do que está falando?

- Acho que deveria dar uma pegas em alguém. - ele disse.

E no mesmo instante eu comecei a rir.

- Pegas? Oh, Louis. - limpei uma lágrima que escorria na bochecha, por causa da risada. - Primeiro, sabe que eu não tenho experiências boas com isso. Segundo, não sei se quero "dar uns pegas" em alguém.

- E por que?

- Não quero homens na minha vida, agora. - falei.

- Você tem que sair, ficar com umas pessoas.

- Ah, Louis, sabe que esse não é meu tipo. Eu já tenho 19 anos, não sou uma adolescente que pode ficar saindo e se divertindo com quem quiser e na hora que quer. Eu tenho responsabilidades.

- Você é jovem! Jovens fazem isso. Acha que não tem uns homens de 30 numa balada?

- Ok, Louis. Já sabe que eu não vou ficar saindo assim. Pode sair você e Maya, eu não me importo.

Louis se deu por vencido e enfim parou de pegar no meu pé. Eu sabia que ele queria que eu me divertisse, e entendia. Mas eu não era assim, nunca fui, nunca gostei de festas.

Eu prefiria algo mais calmo.

- Imagine all the peoples... - Maya começou a cantarolar.

Olhei pra ela sorrindo. Eu adorava Beatles, então comecei a cantarolar com ela "Imagine" de John Lennon. Logo, Louis também começou a cantar. Todos cantávamos a música perfeitamente, deixando o clima mais alegre. Paramos no sinal vermelho.

Eu estava no banco da frente, então aproveitei para abrir o vidro e sentir o vento.

        Encarei a rua e a pequena praça próxima. Pensei ter visto algo familiar, então firmei o olhar e encarei com mais atenção a praça. Sim. Tinha algo familiar.

Eu reconheceria um dos meus únicos amigos, na rua, e lá estava Mikael. Continuava lindo. Os cabelos pretos dançando e a roupa combinando com seu estilo. E não pude deixar de notar a bela moça que estava ao seu lado.

Um sorriso grande estampado em ambos os rostos. 

Lembrei-me do dia em que Yasmin me ligara chorando falando do acidente. Ele gesticulava a mão para a moça e ela parecia entender. Ele parecia feliz. 

Um sorriso cresceu em meus lábios, e senti saudade daquele menino.

Logo o sinal ficou verde e eu voltei a prestar atenção na estrada.