ISABELA
Quando acordei, a primeira coisa que senti foi uma leve dormência no rosto. Estava com os olhos, boca e nariz descobertos apenas. Meu corpo ainda parecia pesado pela anestesia, mas minha mente despertou na mesma hora ao ouvir a voz do médico.
— A cirurgia foi um sucesso, Isabela. Seu namorado está ansioso para vê-la.
Meu coração congelou. Meu estômago revirou, e o pânico tomou conta.
Ryan está aqui?
Como assim?
Minhas mãos tremiam sobre o lençol, e eu senti minha respiração falhar. Eu queria perguntar, queria gritar, mas nada saiu da minha boca.
Foi quando a porta se abriu e a enfermeira entrou trazendo Jace. Meu corpo relaxou de imediato ao ver ele ali, com aquele sorriso largo e confiante. Ele estava radiante, como se tivesse ganhado o dia apenas por me ver acordada.
— Fala aí, Bela Adormecida. Tava demorando pra acordar, hein? — ele brincou, se aproximando da cama.
Minha tensão aliviou, e um suspiro escapou dos meus lábios. Ele ficou no hospital esse tempo todo?
— Jace... você já pode ir. Eu tô bem. Com certeza você tem mil coisas pra fazer.
Eu esperava que ele apenas concordasse, talvez fizesse alguma piada e fosse embora. Mas ele não fez nada disso. Pelo contrário, me surpreendeu completamente.
— Nem vem, Isabela. Cancelei minha agenda pelos próximos seis dias. Eu mesmo vou cuidar de você. Inclusive, quando tiver alta, você vai direto pro meu apê.
Eu pisquei, absorvendo cada palavra dele. Cancelei minha agenda. Vou cuidar de você. Vai direto pro meu apê.
Ele só podia estar louco.
— Jace, não precisa. A gente é só amigo. Você não tem essa responsabilidade...
— Exatamente, Isa. Somos amigos. E amigos cuidam um do outro.
Ele interrompeu antes mesmo que eu terminasse, sua expressão mais séria agora.
— Além do mais, Ryan ainda não foi preso. Enquanto isso, você precisa de proteção, segurança e conforto. Ao meu lado você vai ter isso.
Eu engoli seco, sentindo o peso das palavras dele. Ele estava disposto a tudo isso por mim? E eu... estava pronta para aceitar?
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Nos três dias que passei internada, Jace esteve ao meu lado o tempo todo. Ele só saía para jantar na cantina ou para tomar banho em casa, mas fora isso, não desgrudava de mim.
E mesmo quando saía, Paco ficava na porta do quarto, garantindo que Ryan não aparecesse. Saber que eu estava protegida me trazia uma paz que há muito tempo eu não sentia.
Quando o médico finalmente chegou com a minha alta, Jace fez questão de ajudar a arrumar minhas coisas. Ele parecia determinado a cuidar de mim, e eu nem sabia como reagir a tanto cuidado.
Fomos direto para o apartamento dele, e eu fiquei impressionada assim que entrei. O lugar era lindo, minimalista, sofisticado, mas ao mesmo tempo aconchegante. Um cheiro maravilhoso de comida vinha da cozinha, e meu estômago roncou na hora.
Jace sorriu ao perceber e logo me apresentou Carminha, uma senhora morena, baixinha, de uns cinquenta e poucos anos.
Ele me contou, com um brilho no olhar, que ela cozinhava para ele desde que era bebê, já que trabalhava para os pais dele. Mas, segundo ele, a comida dela era tão boa que ele teve que "roubá-la" para si.
Carminha riu, negando com a cabeça, enquanto eu observava a relação dos dois. Havia carinho ali, e isso só me fez admirar ele ainda mais.
Depois, ele me mostrou todo o apartamento e, por fim, me levou ao quarto onde eu ficaria. Era lindo, bem arrumado, e eu fiquei sem palavras. Tudo aquilo era tão surreal para mim... Apenas murmurei um "obrigada", incapaz de expressar a gratidão que sentia.
Quando fiquei sozinha no quarto, percebi que Jace teve o cuidado de trazer minhas coisas. Minhas roupas estavam dobradas no armário, algumas peças novas haviam sido adicionadas, e meus livros da faculdade estavam sobre a escrivaninha, organizados com perfeição.
Foi nesse momento que as lágrimas vieram.
Eu havia crescido em um orfanato, não conhecia o carinho de uma família, nunca fui adotada e, até então, nunca tinha recebido tanto cuidado de ninguém.
Mas Jace... ele estava ali, cuidando de mim como ninguém nunca cuidou.
Depois de tomar banho e me arrumar para o almoço, respirei fundo antes de sair do quarto. Ainda me sentia deslocada naquele apartamento tão sofisticado, mas, ao mesmo tempo, era impossível não me sentir acolhida.
Caminhei até a sala de jantar e encontrei Jace já sentado à mesa. Assim que me viu, ele se levantou e puxou a cadeira para mim, um gesto tão simples, mas que me pegou de surpresa.
— Tá cheirosa, hein? Que perfume bom é esse? — ele perguntou com um sorriso divertido.
Senti minhas bochechas queimarem. Não estava acostumada a receber esse tipo de elogio e muito menos a reagir a eles.
— É só um body splash que eu gosto... — murmurei, sentando.
Carminha, a cozinheira dele, surgiu logo em seguida trazendo a comida. O cheiro delicioso de carne assada, purê de batatas, arroz e feijão tomou conta do ambiente, e meu estômago roncou baixinho.
Eu estava realmente com fome.
Assim que provei a comida, senti um calor no peito. Estava tudo delicioso, tempero caseiro, com gosto de lar, algo que eu nunca tive de verdade.
— Tá maravilhoso, Carminha. Sério! — elogiei genuinamente.
A senhora baixinha sorriu tímida e acenou com a cabeça.
— Que bom que gostou, menina. Fiz com carinho.
Depois do almoço, veio a sobremesa. Quando vi que era pudim de leite, não contive um sorriso.
Lembrei que, dias atrás, tinha comentado com Jace que era minha sobremesa favorita.
Era muita coincidência?
Não, não era.
Ele tinha pedido de propósito. Meu coração deu um salto estranho no peito.
— Acho que agora Carminha virou sua cozinheira preferida, hein? — ele brincou, me observando enquanto eu saboreava a sobremesa.
— Com certeza! — respondi, arrancando uma risada dos dois.
Mais tarde, fomos para a sala assistir a um filme.
Jace parecia relaxado, jogado no sofá, com um braço apoiado no encosto, e eu me sentei ao lado dele, tentando ignorar a proximidade. O tempo foi passando, e a conversa fluiu naturalmente.
Falamos sobre música, filmes e até rimos de algumas situações engraçadas da vida dele na estrada. Quanto mais conversávamos, mais eu sentia que havia uma conexão crescendo entre nós.
Era estranho. A vida toda eu fui sozinha, me acostumei a contar apenas comigo mesma.
Mas agora, ali, naquele apartamento enorme, sentada ao lado de um cara que eu achava ser apenas mais um cantor famoso metido, eu me sentia... bem.
Segura.
Como se, pela primeira vez, alguém realmente se importasse comigo.