JACE
Mano… que merda.
A festa dos boleiros tava daquele jeito, MD rolando solto, p**a pra todo lado, bebida que não acabava mais… Eu já devia ter sacado que isso ia dar r**m.
Mas na hora tu nem pensa, né?
Só vai… só que sempre tem um filha da p**a querendo aparecer.
O combinado era não entrar com celular, essas festas são no sigilo total. Mas sempre tem um esperto, um vacilão que fura o esquema.
Eu já tava bebaço, cabeça avoada, e pronto, beijei uma garota.
Só um beijo, mano!
Só que claro, alguém filmou e jogou na internet.
Quando o Paco me chamou no canto e falou.
— Deu r**m, bro. Vazou vídeo teu com uma mina se beijando.
O coração gelou na hora.
Peguei o celular tremendo, liguei pra Isabela de primeira.
Ela não atendeu.
Mandei mensagem, liguei de novo.
Eu já tava chorando. p**a que pariu, me partiu no meio, aquela merda toda, nunca chorei assim daquele jeito.
— Anjinha... pelo amor de Deus... não acredita em nada do que tão falando... eu tô voltando pro Rio agora... eu te juro, não é o que parece.
Ela não disse nada e desligou.
Mano… eu queria sumir.
Eu sei que errei, mas c*****o, não era pra estarem filmando essa p***a. Essas festas sempre rolam e fica por isso mesmo, cada um sabe o que faz… mas logo agora, logo comigo… justo quando eu tava levando ela a sério.
Só pensava nela… na merda que eu fiz… e no medo de perder minha anjinha.
Quando cheguei no apê, o coração já tava apertado, mas eu ainda tinha esperança de trocar ideia com ela, pedir desculpa, me explicar… sei lá. Só que quando entrei, o segurança veio na hora, com a cara de quem tava nervoso.
— Patrão… ela saiu.
— Como assim saiu, mano?! — já senti o sangue subir.
— Eu tentei segurar, mas ela ameaçou chamar a polícia, disse que ia armar barraco, falou em cárcere, sequestro, se eu não deixasse. Não tive escolha…
Fiquei parado, olhando pro nada.
Ela foi embora.
Mano… minha anjinha me deixou.
Encostei na parede, passei a mão no rosto… o coração apertando de um jeito que eu nunca tinha sentido antes. Eu não sabia o que fazer, onde procurar. Liguei pra ela de novo, mensagem, chamada de vídeo… nada.
Ela já tinha me bloqueado em tudo.
Eu me sentia um merda.
Um i****a completo.
Ela confiava em mim, acreditava em mim, e eu joguei tudo no lixo por causa de uma merda de festa.
— E agora, mano? — falei sozinho, olhando pro teto.
Eu só queria ela de volta.
Só queria minha anjinha perto, me xingando, brigando, mas perto. E eu ali, perdido, sem rumo, com um buraco gigante no peito.
Eu fiquei sentado no sofá, olhando pro celular sem reação. As redes sociais dela tudo fechado, perfil trancado, bloqueado de tudo.
Mano, ela me apagou da vida dela.
E eu entendia... de verdade.
Se fosse o contrário, eu faria igual ou pior. Mas doeu, doeu num lugar que eu nem sabia que existia.
Eu sempre fui vida loka, cheio de mulher, farra, show, curtição… Nunca tive que me importar com ninguém além de mim e da minha responsa com o som.
Aí vem ela, do nada, muda tudo, me faz querer ser melhor, me faz pensar em futuro, em família, em construir algo.
E eu, o****o, vacilei feio.
Ela era a primeira pessoa que eu fiquei sério de verdade, tá ligado?
Aquela mina que tu apresenta pra mãe, que tu quer levar pros rolê e dizer, "essa aqui é minha mina".
Eu tava namorando de verdade pela primeira vez na vida… e agora ela não queria nem olhar na minha cara.
Essa parada de sentir dor no peito, angústia, esse medo do c*****o de não ter ela nunca mais... isso tudo era novidade pra mim.
E, mano, que bagulho r**m.
Eu precisava dela de volta.
Precisava ouvir aquela vozinha me chamando de "bobo", me enchendo o saco pra comer direito, me perguntando se eu tinha dormido bem.
Eu trocava tudo, palco, fama, dinheiro, por mais dela aqui do meu lado.
Peguei o celular de novo, fiquei encarando a foto de perfil dela, a última que eu ainda conseguia ver em algum grupo antigo, e pensei.
"Eu não vou desistir de você, Isabela. Eu vou te provar que eu sou teu."
Minha mãe me ligou, vídeo chamada.
Quando atendi, ela já veio na voadora.
— Que merda tu fez, moleque? Como assim tu traiu a Isabela? — ela falou, com aquele olhar de quem quer me dar um tapa na orelha.
Eu não aguentei.
A voz dela, a bronca dela... parecia que eu era um moleque de quinze anos de novo, tomando esporro porque aprontei na escola. Eu desabei, chorei na frente dela igual um i****a.
— Eu vacilei, mãe... eu vacilei feio... não foi nada demais, só um beijo, mas... mano... olha a merda que virou — falei, a voz falhando, nariz escorrendo.
Minha mãe respirou fundo, me olhou com aquele olhar de mãe que dá bronca mas também acolhe, e disse.
— Jace, tu ama essa menina?
— Amo, mãe... de verdade... nunca senti isso por ninguém — falei chorando ainda mais.
— Então mete a cara, filho. Fala a verdade, assume teu erro. Mostra pra ela que tu tá arrependido. Fala pros teus fãs, fala pra todo mundo. Isso vai chegar nela. Não adianta fugir, não. Seja homem, assume seus erros.
Fiquei ainda um tempinho chorando, ela me dando aquele sermão carinhoso, falando que eu não podia deixar a melhor coisa da minha vida escapar por um vacilo.
Quando desliguei, enxuguei o rosto, respirei fundo e decidi, é isso.
Abri o i********:, coloquei pra entrar ao vivo, minha cara inchada, olho vermelho, nariz escorrendo ainda.
Comecei a falar.
— E aí, família... é o seguinte... eu sei que tá todo mundo vendo as paradas aí, e eu não vou fugir. Tô aqui pra assumir meu vacilo... sim, eu beijei uma mina no rolê dos boleiros... foi um momento de fraqueza, de burrice, cachaça na cabeça, eu sei que não é desculpa... não passou disso, não paguei ninguém, não rolou nada além do beijo, mas... mano, já foi o suficiente pra machucar quem eu mais amo na vida.
Minha voz falhou, dei uma respirada, continuei.
— Isabela... se isso chegar até você... eu te peço do fundo do meu coração, me perdoa. Eu fui um o****o. Um moleque. Mas eu te amo. E eu tô aqui, mostrando pra geral que eu sou um vacilão, mas que eu tô arrependido de verdade.
Começou a chover comentário, um monte de mina me xingando, falando que eu era lixo, que a Isabela merecia coisa melhor.
E eu só respondi.
— Cês têm razão... se fosse comigo, eu também ia tá puto... mas eu não tô aqui pra bancar o certo, tô aqui pra assumir meu erro e pedir perdão. Se ela não quiser mais, eu vou entender... mas eu não podia ficar calado.
Desliguei a live com o coração nas mão, mas aliviado por ter falado tudo. Agora era torcer pra chegar nela.
Fiquei malzão, de verdade.
Parecia que tinham arrancado um pedaço de mim. Tinha show marcado pra aquela noite, casa cheia, ingresso esgotado… mas eu não tinha cabeça pra nada.
Liguei pro Paco e falei.
— Mano, cancela essa p***a toda… não tô bem, irmão.
Ele ainda tentou insistir.
— Pô, Jace… vai te distrair, mano! Tu é brabo no palco, cê vai se sentir melhor.
— Não tem distração, irmão… eu perdi a mina que eu mais amo, por ser um o****o. Não tem palco, não tem som que cure isso agora.
Desliguei e fiquei jogado na cama, olhando pro teto, me sentindo o maior cuzão do mundo.
Como que eu fui tão burro?
Tinha uma mulher firmeza do meu lado, que me dava amor de verdade, que me apoiava, que não tava comigo por dinheiro, fama, p***a nenhuma… tava comigo por mim.
E eu joguei isso fora.
Fiquei lembrando dos rolês com ela… o jeitinho que ela me olhava, a risada boba dela, o cheirinho do cabelo… mano, parecia que cada lembrança me dava um soco no peito.
E vou te falar… é difícil pra c*****o mudar, tá ligado?
Eu cresci nesse mundão, rodeado de mulher pra tudo quanto é lado, tentação em cada esquina, cachaça, festa, luxúria.
Isso era a vida que eu conhecia. E, do nada, aparece uma mina como ela, me mostrando que existe algo além disso… lealdade, parceria de verdade.
Eu tava aprendendo, na marra.
Ela tava me ensinando a ser homem de verdade, a ser fiel, a ser responsável com o coração de alguém.
E eu vacilei… mas, juro por Deus, se ela me der outra chance… eu não ia decepcionar ela, não.
Eu ia mostrar que posso ser o cara que ela merece.
Fiquei ali, afundado na cama, sentindo um buraco no peito, torcendo pra, de algum jeito, ela ouvir meu pedido de perdão e acreditar em mim. Porque perder ela seria meu maior castigo.