Capítulo 7: Até Quando?

1215 Palavras
ISABELA Quando cheguei em casa, ele estava lá. Meu namorado, sentado na sala, visivelmente embriagado. O ar pesado do ambiente já me fez sentir um nó no estômago antes mesmo de ele abrir a boca. Ele se levantou, cambaleando, e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele me pegou pelos cabelos, puxando com força. — Onde você estava? — ele gritou, o hálito carregado de álcool atingindo meu rosto. Tentei me soltar, mas a dor no couro cabeludo era intensa. —Eu estava trabalhando, eu juro! Por favor, me solta! — Minha voz saiu trêmula, e as lágrimas já começavam a escorrer pelo meu rosto. Ele não me soltou. Em vez disso, deu um tapa forte no meu rosto, tão forte que eu caí no chão, desequilibrada pelo impacto. A dor latejou no meu rosto, mas era o medo que dominava tudo. Ele continuou a gritar, dizendo coisas sem sentido, palavras que eu nem conseguia entender direito. Cada insulto, cada acusação, parecia uma facada. — Você não presta, sua vagabunda! Sempre mentindo pra mim! Você é uma v***a! — ele berrava, enquanto eu me encolhia no chão, tentando me proteger. Eu chorava, implorava para ele parar, mas ele não estava em condições de ouvir. Depois de mais alguns minutos de xingamentos e ameaças, ele finalmente se cansou. Com um último olhar de desprezo, ele saiu, batendo a porta com força. Fiquei ali, no chão da sala, chorando. Meu rosto doía, meu corpo tremia, e o sentimento de impotência era avassalador. Ele foi embora, mas a dor, o medo e a humilhação ficaram. Levantei devagar, com dificuldade, e me arrastei até o sofá. Sentei ali, encolhida, tentando entender como tinha chegado a esse ponto. As lágrimas não paravam de cair, e eu sabia que, naquela noite, o sono não viria. Eu estava sozinha. E, no fundo, sabia que precisava fazer algo. Mas, naquele momento, tudo o que eu conseguia fazer era chorar. Depois de ficar um tempo encolhida no sofá, sentindo o peso da noite esmagando meu peito, levantei devagar. Meu corpo ainda tremia, mas eu sabia que precisava me recompor. Fui até o banheiro, quase que no piloto automático, e abri o chuveiro. A água gelada era o meu refúgio, a única coisa que me fazia sentir viva de novo. Era algo que uma amiga do orfanato me ensinou, lá atrás, quando a vida parecia insuportável. — “A água fria acorda a gente, Isabela,” — ela dizia. — “Tira a dor, limpa a alma.” — E eu levei aquilo para a vida. Sempre que tudo parecia desmoronar, era para o banho gelado que eu corria. Entrei no chuveiro e deixei a água cair sobre mim. O frio cortante fez meu corpo estremecer, mas, aos poucos, fui sentindo a dor física se misturar com a sensação de alívio. A água gelada era como um choque de realidade, me lembrando que eu ainda estava ali, viva, respirando. Fiquei debaixo da água por um tempo, deixando que ela levasse embora as lágrimas que ainda insistiam em cair. Quando senti que conseguia respirar de novo, fechei o chuveiro e me sequei com uma toalha. Olhei-me no espelho e encarei o reflexo que me encarava de volta. Meu rosto estava vermelho e inchado, marcado pelo tapa que ele tinha dado. Meus olhos ainda estavam vermelhos de tanto chorar, e a dor no couro cabeludo persistia, lembrando do puxão brutal. Eu me vi ali, frágil, machucada, mas ainda de pé. Respirei fundo, tentando me acalmar. — Isso vai passar. — murmurei para mim mesma, como sempre fazia. Mas, dessa vez, as palavras pareciam mais vazias do que nunca. Vesti meu roupão e sentei na beirada da banheira, segurando a toalha com as mãos trêmulas. A noite tinha sido longa demais, e eu sabia que o dia seguinte não seria mais fácil. Mas, por enquanto, tudo o que eu queria era fechar os olhos e tentar esquecer, mesmo que por algumas horas. Levantei-me e fui até o quarto, onde me joguei na cama, ainda molhada e exausta. O silêncio da casa era ensurdecedor, e eu me senti pequena demais para enfrentar tudo sozinha. Mas, no fundo, sabia que não tinha escolha. E, enquanto o sono finalmente começava a me levar, uma única pergunta ecoava na minha mente. — "Até quando?" Na manhã seguinte, acordei assustada, apavorada, sentindo uma presença ao meu lado. Meu corpo reagiu antes mesmo de minha mente entender o que estava acontecendo. Ryan estava ali, sentado na beirada da cama, sua mão acariciando minha b***a e coxa. Imediatamente, me sentei, afastando-me dele. — Não gosto que você me toque enquanto estou dormindo. — disse, minha voz ainda rouca do sono, mas firme. As lágrimas começaram a escorrer involuntariamente, e eu não conseguia controlá-las. — Isso é errado, Ryan. Você sabe que é errado. Ele olhou para mim, surpreso, e então seus olhos caíram no meu rosto, ainda marcado pelo tapa da noite anterior. Sua expressão mudou, e ele baixou a cabeça, como se estivesse envergonhado. — Isabela, eu... eu sinto muito. — ele começou, sua voz carregada de arrependimento. — Eu não sei o que deu em mim ontem. Foi o álcool, eu juro. Eu nunca faria isso com você de cabeça fria. Você sabe que eu te amo, né? Eu jamais te machucaria de verdade. Respirei fundo, tentando me acalmar, mas as palavras dele ecoavam em minha mente como uma gravação que eu já tinha ouvido muitas vezes antes. Ele sempre dizia a mesma coisa. Sempre as mesmas desculpas. E, de alguma forma, eu sempre acabava aceitando. Ryan se aproximou novamente, desta vez com mais cuidado, e segurou meu rosto com delicadeza. Seus olhos estavam cheios de uma falsa ternura que eu já conhecia bem. — Eu prometo que isso nunca mais vai acontecer. Você é tudo pra mim, Isabela. Eu não sei o que faria sem você. Eu olhei para ele, sentindo um nó se formar na minha garganta. As lágrimas continuavam a cair, mas eu não tinha mais forças para discutir. Era sempre assim. Ele fazia algo horrível, se arrependia, e eu acabava cedendo, acreditando que, talvez, dessa vez fosse diferente. — Tá bom. — murmurei, minha voz quase inaudível. — Só... não faz isso de novo, Ryan. Por favor. Ele me puxou para um abraço, e eu deixei, mesmo sabendo que aquilo não mudaria nada. Enquanto ele continuava a sussurrar desculpas e promessas vazias, eu fechei os olhos e me perguntei, mais uma vez, por que eu continuava aceitando isso. Mas, no fundo, eu já sabia a resposta. Era porque, em algum lugar dentro de mim, ainda acreditava que ele poderia mudar. Ou talvez porque eu tinha medo de estar sozinha. Medo de enfrentar o mundo sem alguém ao meu lado, mesmo que esse alguém fosse a razão da minha dor. Quando ele finalmente se afastou, prometendo que ia fazer um café da manhã especial para mim, eu me deixei cair de volta na cama, exausta. As lágrimas secaram, mas a dor no meu peito continuava. E, enquanto ouvia os barulhos dele na cozinha, eu me perguntei, mais uma vez, até quando eu seria forte o suficiente para aguentar tudo isso. Até quando eu iria aceitar desculpas bobas e promessas que nunca seriam cumpridas. Até quando eu iria me enganar.
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