Capítulo 12: Inútil

954 Palavras
RYAN Eu batia em Isabela. E sabia que era errado. Em tantos níveis, eu sabia. Mas sempre repetia a dose. Ela era uma pessoa boa, do tipo que não merecia nada daquilo. Eu sabia da violência que ela tinha sofrido no orfanato, sabia que ela carregava cicatrizes que nem eu conseguia entender. Eu devia cuidar dela, dar amor, ser o porto seguro que ela nunca teve. Mas não conseguia. A violência estava enraizada em mim, como uma doença que eu não sabia como curar. Quando batia nela, eu sumia. Era o meu jeito de "dar um tempo". Eu sabia que, depois de alguns dias longe, ela ficava mais calma, mais dócil. E eu voltava, como se nada tivesse acontecido. Ela era carente, raramente falava em terminar, e eu usava disso. Usava da fragilidade dela, da necessidade que ela tinha de se sentir amada. Era egoísta, eu sei. Mas, naqueles momentos, eu não pensava nisso. Mas não pense que, nessa semana longe dela, eu ficava na cama chorando, arrependido. Não. Eu ia pra farra. Pegava mulher à vontade, curtia como se fosse solteiro. E, mesmo quando estava com ela, vez ou outra eu dava um jeito de sair, de me satisfazer. Ia a um puteiro ou simplesmente arrumava alguma garota que estivesse afim. Era assim que eu funcionava. Naquela semana em particular, eu estava em um bar com uns amigos, bebendo e rindo como se não tivesse nenhum problema no mundo. Uma garota se aproximou, com um sorriso provocante, e eu não pensei duas vezes. Ficamos ali mesmo, no canto do bar, sem me importar com quem poderia estar vendo. — Você é solteiro, gato? — ela perguntou, passando a mão no meu braço. — Por que? Quer saber se tem chance? respondi, com um sorriso malicioso. Ela riu, e eu sabia que era só uma questão de tempo. Mas, no fundo, algo me incomodava. Algo que eu não conseguia colocar em palavras. Quando cheguei em casa naquela noite, sozinho, me sentei no sofá e peguei o celular. Vi que Isabela tinha postado um story. Ela estava com os amigos, rindo, parecia feliz. Mas algo no rosto dela me chamou a atenção. Um leve inchaço, uma vermelhidão que ela tentou disfarçar com maquiagem. Eu sabia o que era. Sabia que tinha sido eu. Por um momento, senti algo que poderia ser arrependimento. Mas logo afastei o pensamento. Eu não era feito para sentimentos assim. Eu era violento, egoísta, e não havia nada que pudesse mudar isso. No dia seguinte, decidi que era hora de voltar. Ela já devia estar mais calma, mais disposta a me perdoar. E, quando eu chegasse, faria o de sempre, diria que estava bêbado, que não era eu, que nunca mais faria aquilo. E ela acreditaria. Porque ela sempre acreditava. Mas, no fundo, eu sabia que aquilo era só mais um ciclo. Um ciclo que eu não sabia como quebrar. Mas, por enquanto, eu continuava fingindo que estava tudo bem. Afinal, era o que eu sempre fazia. Só criei coragem mesmo quando já era tarde. Estava bêbado, fedendo a sexo e a álcool, mas não me importava. Ela sempre me perdoava, sempre aceitava minhas desculpas. Então, entrei sem bater, como se fosse minha casa e, de certa forma, era. Ela não estava na sala. Ouvi vozes vindo do quarto e, quando me aproximei, vi que ela estava em uma chamada de vídeo. Conversava com alguém, rindo, completamente distraída. Nem notou que eu tinha entrado. Mas eu notei. Notei que ela estava falando com um cara. E algo dentro de mim estalou. Antes que ela pudesse reagir, puxei seus cabelos com força, fazendo a p*****a gritar de dor. O cara na chamada gritou também, mandando eu largar ela, mas eu não dei bola. Peguei o celular da mão dela e gritei para o talarico do outro lado. — Vai se f***r, seu merda! Tá achando que pode falar com a minha mina? Ela agora vai apanhar pra aprender. Você eu pego depois! Desliguei a chamada e joguei o celular na cama. Isabela tentou se afastar, mas eu a segurei com força. — Você tá me fazendo de o****o, é? — gritei, enquanto descia a mão nela. — Tá me colocando chifre, sua vagabunda?! Ela chorava, tentando se proteger, dos socos que eu dava na cara dela, mas eu não parei. Continuei xingando, dizendo que ela era uma p**a barata, uma vagabunda, que não valia nada. Palavras que eu sabia que a machucavam, mas que eu não conseguia controlar. A raiva tomava conta de mim, e eu não pensava nas consequências. — Ryan, por favor, para! Tá doendo, para! — ela gritou, mas eu não dei ouvidos. — Cala a p***a da sua boca Isabela, você é uma inútil desgraçada. Eu nem sei por que ainda estou com você, sério. Só parei quando ela caiu no chão, chorando, encolhida. Respirei fundo, tentando me acalmar, mas a raiva ainda estava lá, latejando. — Você não vale nada, Isabela. — disse, olhando para ela com desprezo. — Ninguém vai te querer além de mim. Você é só uma v***a que não sabe o que é amor. — Esse cara do vídeo, ele vai te comer, gozar na sua cara e te chutar. É só pra isso que você serve Isabela, só pra satisfazer. Ela não respondeu. Apenas chorou, encolhida no chão, enquanto eu saía do quarto, batendo a porta com força. Fui até a cozinha, peguei uma garrafa de cerveja e sentei no sofá, tentando me acalmar. Mas, no fundo, sabia que aquilo era só mais um ciclo. Um ciclo que eu não sabia como quebrar. Logo vazei dali, vai que esses x9 desses vizinhos ligaram pra polícia, aí eu estaria ferrado. Deu no pé.
Leitura gratuita para novos usuários
Digitalize para baixar o aplicativo
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Escritor
  • chap_listÍndice
  • likeADICIONAR