Perder um companheiro era a coisa mais c***l para um lobo; era uma dor insuportável, como se parte de sua alma estivesse morta. Sarah se sentia vazia, em um buraco n***o que, a cada ano vivendo no automático, aumentava aquela solidão.
A jovem havia perdido os pais em um assassinato e, na mesma noite, seu companheiro. A morte dele ainda era cheia de mistérios e segredos. Por uma década, a loira tentou de todas as formas desvendar tal segredo, mas sempre andou em círculos.
Sarah ainda estava com a roupa do casamento de Luka e Nanda; a loira foi uma das madrinhas. Realmente parecia uma princesa naquele vestido azul-marinho tomara que caia, com uma maquiagem leve que destacava seus lindos olhos azuis quase cinza, o cabelo loiro cortado em um chanel de pico perfeito e o batom vermelho que deixava seus lábios convidativos.
— Agora é oficial, perdemos ele, Stella. Na verdade, ele nunca foi nosso — Sarah conversava com sua loba enquanto olhava uma foto dela com Luka. A loira brindou a taça de vinho com o vento, tomando o líquido com elegância. — Essa casa fica sem graça sem o Oliver...
Sarah colocou a foto novamente na estante e caminhou até a cozinha, deixando a taça lá. O vestido arrastava no chão. A loira não estava mais de salto alto, o que mostrava que ela não era tão alta.
— Boa noite, Batata. — A loira fez carinho no gato, que miou como resposta. Assim que a jovem apagou a luz da cozinha, a campainha tocou. — Luka? — Assim que Sarah abriu a porta, o espanto foi nítido. — O que está fazendo aqui?
— Preciso que você venha comigo. — O recém-casado e beta da alcateia ainda estava com seu terno preto.
— Ué, o que aconteceu? Acabei de me despedir de vocês, achei que estavam a caminho da lua de mel...
— Por favor, Jacob está esperando na casa grande.
— Vou trocar de roup...
— Não precisa, vamos logo — era nítido que Luka estava nervoso e ansioso.
Sarah colocou apenas um chinelo e saiu junto com Luka sem falar mais nada. Solaria havia acabado de sair do mês em que o sol deixava a cidade quente, e a madrugada começava a ficar fria.
— Odeio morar na parte nórdica às vezes — a loira tentou puxar assunto enquanto caminhavam até o casarão, mas não funcionou muito bem.
— O alfa queria falar comigo? — Sarah fez uma pequena reverência assim que entrou na residência.
— Sim... — Jacob estava nervoso; ela sentia o peso no ar. — Preciso perguntar se você está no controle.
— Sim... estou correndo todos os dias... era isso? Juro que, se o Oliver falou alguma mentira, eu...
— Não, Oliver não falou nada. Precisava saber porque tenho uma coisa para mostrar. Vem comigo... — Sarah seguiu o alfa até seu escritório. Assim que entrou no cômodo, fez uma reverência rápida para a Luna da alcateia.
— Jacob, eu... — Assim que o alfa deu espaço, Sarah finalmente viu algo que seus olhos recusavam acreditar. — J-Jac... Jackson?
Não podia ser, aquilo era uma miragem. Um rapaz ruivo estava deitado no sofá do escritório. Os cabelos estavam grandes, a barba por fazer. Aquele não era o corte de cabelo dele, muito menos o jeito de sua barba, mas mesmo que ele estivesse careca, ela o reconheceria.
— Estávamos a caminho da lua de mel, mas, quando chegamos na entrada de Solaria, o farol do carro mostrou o corpo dele... — Luka dizia com as mãos no bolso da calça social. — Sarah, quando o achamos, ele estava acordado e sussurrava seu nome. Lembrei da foto que você me mostrou e, bem... — Assim que as mãos do beta tocaram seu ombro, o corpo da loira tremeu e as pernas falharam. — É o seu companheiro, não é?
Sim, era. Morto há três séculos. Com certa dificuldade, a loira caminhou na direção do sofá. Sua voz não saía, seus olhos não paravam de deixar as lágrimas rolarem. Assim que a ponta de seus dedos tocou o rosto do ruivo, tudo em volta ficou escuro e seu corpo leve demais.
Como seria possível alguém dado como morto há três séculos voltar?