Quatro

3877 Palavras
O dia estava chuvoso e tudo o que menos queria era ter de levantar da cama, principalmente com tudo que havia acontecido. Ao descer vejo que sair da cama foi algo muito bom, deparo-me com Jackie, sentado no sofá, que logo ao ver-me vem ao meu encontro e diz: - Achei que ia precisar de alguma ajuda para... Não o deixei terminar a frase e joguei-me nos seus abraços dizendo: - Não sabe a felicidade que me dá por ser você a estar aqui comigo, obrigada. Ele retribui fortemente o abraço e enxugou minhas lágrimas. Mesmo com tudo que aconteceu, precisava cuidar do funeral de minha avó e comunicar meus pais, que pra variar atrasaram a chegada mais uma vez. Sempre que estavam voltando de suas viagens, eles inventavam de parar em alguma cidadezinha para dormir e por ali descobriam algo “divertido” para fazer; concursos de beleza caipiras, concursos de quanto gordos homens sem limites vão ficar, por comer tanto milho e por ai vai. Sempre ficam uma ou duas semanas a mais fora de casa e quando voltam, já é planejando a próxima “tour”. Precisava realmente entrar em contato com eles, contar o que aconteceu e pedir para apressarem-se para o velório, mas não estava confiante de que conseguiria, pois, da última vez que tinha tentado, perdi todo e qual sinal deles, deviam estar em algum fim de mundo. Perdida em meus pensamentos, nem havia percebido que Jackie havia preparado um reforçado café da manhã; panquecas, café com leite, ovos e bacon, não era lá a melhor comida do mundo, ate porque ele nunca aprenderá realmente a cozinhar, mas tinha certeza que tinha sido feito com muito carinho, pois vinha de alguém como ele. Percebendo meu silencio profundo, Jackie tenta puxar assunto: - Então, espero que tenha conseguido pelo menos descansar um pouco, apesar de toda situação ser difícil. Ainda olhando para as panquecas postas na mesa, respondi: - Bom, tirando um sonho estranho que tive, até que consegui ter uma boa noite. Disse isso, com as lembranças de Will em cima de mim, me beijando, me tocando. Jackie parecia está interessado no que eu dizia, tanto que ao acordar de mais um devaneio, percebo que estava me encarando, como se estivesse esperando por algo mais. Vendo que não diria mais nada, ele retomou a conversa: - Recebeu a visita de alguém? Aquela pergunta me deixou alerta, será que ele sabia que Will tinha vindo me ver na noite passada, ou melhor, plena madrugada. Mas como ele haveria de saber disso, só se ele estivesse nos vigiando e talvez ele fosse o motivo pelo qual, Will tenha saído com tanta pressa. Queria saber o real motivo dessa pergunta, então decidi jogar uma verde: - Visita, tipo quem? Ele olhou-me ainda mais curioso, com uma pontada de que tinha recebido a resposta que esperava. - Não sei, por isso estou perguntando. Achei que Brown ou alguém mais pudesse ter vindo aqui, ver como você estava. Bingo, ele queria realmente saber se Will tinha vindo me ver. Resolvi ser direta e acabar com a curiosidade dele: - Acho que você quer saber se Will veio até aqui, não é? Não demonstrando nenhuma surpresa, ele respondeu: - Não quis parecer intrometido, é só que, me preocupo muito com você Susan, e não quero que nada r**m lhe aconteça e estando perto desse cara é procurar encrenca. Senti em seu tom, uma pontada de tristeza e carinho, ele realmente queria meu bem. Jackie e eu nos conhecemos desde crianças, sempre estudamos juntos e sempre frequentamos a casa um do outro e sempre fomos muito próximos, com isso acabei me acostumando muito com suas emoções; sabia quando estava triste ou feliz. Mas naquele momento, eu senti algo diferente, ele estava realmente sendo sincero, queria meu bem, então para tentar acalmá-lo e mostrá-lo que estava tudo bem, relembrei algo que nos aconteceu quando criança: - Lembra, quando tínhamos uns 6 ou 7 anos e que nossos pais nos levavam para a casa da tia Roosely e nos obrigava a ficar com os filhos mais velhos dela, enquanto eles saíam para fazer compras na cidade. Mesmo pelos puxões de cabelo que levava da filha doida e fascinada por cabelo, eu adorava aqueles fins de semana na casa dela, naquele fim de mundo, mas só gostava porque você estava lá comigo, sempre me defendida daquela louca quando queria me fantasiar com roupas de boneca gigante e do irmão dela, que sempre me batia. Isso serviu para nos unir mais ainda, porque foi nesses momentos de precisão que percebi que você sempre estaria comigo, para me ajudar e sou muito grata por isso, e é por isso que amo você Jackie. Fiquei sem jeito com o que tinha dito, mas já tinha saído e não podia mesmo negar que o amava, era como um irmão pra mim, impossível não ter algum tipo de afeto por ele. Ele fitava-me com muita atenção, acho esperando algo á mais de mim, mas antes de falar mais alguma coisa, o telefone toca, eram meus pais, dizendo que chegariam dentro de algumas horas. Logo a casa estava cheia de pessoas grande parte idosas e amigos de minha avó. Ela sempre foi uma pessoa amorosa e dedicada, que adorava ajudar quem precisasse, nunca negou um favor a quem quer se seja. Toda essa bondade dela me fez refletir; como alguém tão doce e que gostava de ajudar o próximo, teve um fim tão trágico e pior, quem poderia ter feito isso, porque ate onde eu saiba, ela não tinha inimigos. Não conseguia aceitar o fato de perder alguém tão especial, mas infelizmente a única coisa que poderia fazer dali por diante, era seguir em frente. Após 6 e longas horas de espera, escuto uma voz familiar, cumprimentando os que estavam presentes, era minha mãe, corri em sua direção e não consegui conter as lagrimas, chorei como uma criança desamparada, ela me acolheu dizendo: - Pronto, não chore mais, mamãe está aqui. Algo estava estranho, sua voz estava grossa demais para ser de uma mulher, quando levanto o rosto em sua direção, percebo que não era ela, mas sim um homem que nunca havia visto. Soltei-me imediatamente de seus braços e perguntei: - Quem é você, onde está minha mãe? Nesse momento todos param de conversar e ficam nos olhando. O homem nada disse, então tornei a dizer: - Onde está minha mãe?! Disse com um tom rude e agressivo. O homem olhava-me da cabeça aos pés e antes de fazer-lhe a mesma pergunta novamente, ele diz: - Susan, curiosa como sempre. Não entendendo nada do que estava acontecendo, sai da sala e fui até a cozinha, onde vejo Will fico feliz em vê-lo e fui ao seu encontro: - Will, o que está acontecendo, quem é aquele homem, eu estava abraçando minha mãe quando de repente ela se transformou naquele homem. Will somente olhava-me e nada dizia. Comecei a sentir um medo muito grande, um vazio, até que senti a casa tremer, abaixei-me e fechei os olhos, quando tornei a abrir, todos haviam sumido. Sai correndo de dentro de casa e percebo que a rua estava deserta, as casas eram diferentes. Sai batendo nas portas dos vizinhos, mas ninguém respondia, comecei a chorar e a gritar: - Tem alguém ai? Somente o barulho das árvores e de pássaros ao longe. Um desespero abateu-me e comecei a correr, mas quanto mais corria, mais perdida ficava. Acabei em um lugar que parecia ser um cemitério, logo ao entrar, percebo que os túmulos estavam novos, como se tivessem sido feitos recentemente. Um deles datava de 1850, Roberta Morales, morreu aos 21 anos, outro era de 1730, Julieta Amarantes, morreu aos 21 anos de idade. Todos os túmulos que via, eram de jovens meninas que haviam morrido aos 21 anos de idade. Devia ter uns 30 túmulos, um deles isolados dos demais datava 1910 Caroline Vissoto, este não datava o ano da morte, talvez houvesse sumido e ninguém a encontrou, e a família decidiu apenas colocar o ano de seu nascimento. Andando um pouco mais, avistei uma cripta, logo ao entrar sinto cheiro de rosas e de mar. Era bonita, toda em mármore preto e branco de cima a baixo com um túmulo no meio, que ao chegar perto, tomo um grande susto, era eu deitada dentro daquele túmulo. Fiquei gelada e pasma, não conseguia me mover, até que meu eu abriu os olhos e disse: - Olá querida, finalmente nos encontramos. A única reação que me surgiu foi gritar tentei correr, mas não conseguia sair do lugar, meu eu dentro do túmulo, começou a se levantar, começou a fazer força para andar, mas só consegui dar uns passos para trás, acabei esbarrando em algo e cai sentada no chão, meu outro eu já estava fora do túmulo e vinha andando em minha direção. Fiquei cara a cara com meu eu, estava com medo, queria gritar, chorar e sair dali, mas não conseguia se quer piscar. Meu eu chegou perto de mim e pôs a mão no meu rosto dizendo: - Não se preocupe, estou aqui nada de m*l vai lhe acontecer. Um batido de porta fez-me abrir os olhos e pude notar que tudo aquilo não havia passado de um sonho e quem estava passando a mão em meu rosto, era minha mãe que já havia chegado. Não conseguia acreditar que ela estava ali, fiquei tão feliz que a única coisa que consegui fazer foi abraça-la forte e chorar, ela retribuiu o abraço dizendo: - Tudo bem minha querida, mamãe já sabe de tudo que aconteceu, estou aqui, para o que precisar meu anjo. Olhei-a nos olhos e disse: - Mãe, ela se foi, não consigo acreditar que ela foi embora, ela nos deixou mãe para sempre. Mesmo que tentasse me controlar, não conseguia, não conseguia conter as lágrimas, e o sentimento de revolta por ter perdido alguém tão especial. Mamãe me olhou e continuou: - Eu sei meu anjo, o quanto é difícil, se você está sofrendo, imagine eu que sou filha. Perder alguém que amamos, nunca é fácil, mas uma mãe é a pior coisa que existe. Olhei-a fixamente e pensei como ela poderia dizer que sentia muito e que podia estar sofrendo mais que eu. Ela estava sofrendo, mas não mais que eu, ela nem estava lá quando recebeu a noticia, m*l passava um tempo com a vovó, vivia viajando por ai e nos largava sozinhas em casa. Tentei tirar esses pensamentos da cabeça e tornei a dizer: - O que vamos fazer? Olhando para um lugar qualquer e perdida em seus pensamentos, ela respondeu: - Amanhã será o enterro, acho melhor dormimos e descansarmos, o dia de amanhã será longo, boa noite querida. Disse dando-me um beijo na testa. Dormir, seria a ultima coisa que conseguiria fazer naquele momento, já que havia dormido o dia todo. Sentei-me na cama e fiquei pensando no sonho estranho que havia tido, foi ai que caiu a ficha; como vim parar no meu quarto? A última lembrança que tenha, é de estar sentada a mesa da cozinha e ouvir mamãe chegar, depois disso só o tal sonho e mamãe me acordando. Tentei deitar e me concentrar em dormir mais um pouco; era 1:45 da madrugada quando decidi descer e tomar um copo de água. A casa estava tão silenciosa, parecia que estava sozinha, parecia até que o barulhento do meu irmão, louco por rock, guitarras e baterias não estava em casa, mas fiquei feliz em ter todo aquele silencio. Peguei meu copo de água e ia voltar para o quarto, quando vejo a porta da frente um pouco aberta. Olhei para os lados, para ver se tinha alguém por perto, mas não havia ninguém. Aproximei-me para fecha-la quando reparo uma sombra do outro lado rua olhando em minha direção. Fiquei parada por um instante observando aquela pessoa do outro lado, até começar a andar em minha direção, algo me alertou e fez-me trancar a porta rapidamente e correr para cima passando pelo quarto de meus pais, e os vi dormindo tranquilamente, pareciam cansados da viagem, meu irmão parecia mais um morto, nenhum barulho de ronco se ouvia, o que me fez sentir mais medo ainda. Chegando ao meu quarto, ponho o copo em minha cabeceira e começo a relembrar os acontecimentos dos últimos dias. Muita coisa havia acontecido desde que Will havia aparecido; infelizmente coisas ruins, Jackie sendo suspenso e a morte da minha avó, sem falar nos sonhos estranhos com ele e com aquele rapaz que apareceu justamente para me avisar da morte de minha avó, , e o mais estranho é Will conhecer ele e não gostar do mesmo. Foi com esses pensamentos que logo adormeci e rapidamente o dia amanheceu. Logo ao descer, deparo-me com a casa cheia de vizinhos novamente, mas desta vez, mamãe, papai e meu irmão estavam lá. Hank meu irmão, foi o primeiro a vir ate mim com um sorriso de acolhimento: - Oi maninha, como você tá? Retribui ao seu abraço respondendo: - Não consegui dormir direito, ainda tá muito recentemente para dizer que estou bem. Apertando até me fazer dizer chega, papai apareceu em meio às pessoas dizendo: - Oi meu anjo, espero que tenha conseguido descansar, sei o quanto foi difícil para você, ter tido que segurar a barra sozinha por aqui, mas voltamos para ajudá-la. Não entendi o que ele quis dizer “voltamos para ajuda-la” o que ele queria dizer, eles iam viajar de novo e me largar ali, com a dúvida na cabeça, perguntou imediatamente: - Como assim, “voltaram para me ajudar” não vão ficar por muito tempo, vocês vão viajar de novo?! Ele e Hank entreolharam-se e ele respondeu: - Pensei que sua mãe, já tivesse lhe dito. Quando voltávamos, decidimos não continuarmos mais aqui, depois de tudo isso Dallas é o último lugar que queremos ficar, vamos nos mudar para Ohio. Fiquei sem reação diante daquilo, tomaram uma decisão sem mim e pior, querem largar as coisas da vovó para trás, por conta de capricho. Não ia deixar isso acontecer, então disse: - Como assim, ir embora para Ohio? Nunca, jamais sairei daqui, vocês são muito hipócritas que só pensam em si mesmos. Passaram os últimos 10 anos viajando pelo mundo, me deixando sempre com a vovó, para realizar caprichos idiotas. Essas viagens de vocês nem tem sentido, só servem para gastar dinheiro que não tem, nunca consegui entender como pertenço a essa família, porque vocês nunca me levaram ou fizeram questão de eu estar presentes nessas malditas viagens. Todos que estavam presentes só observavam com atenção, alguns pasmos outros nem tanto. Antes de meu pai interromper, continuei: - E quer saber, vocês não sabem o que passei desde o instante que soube da morte da vovó, eu sofri, eu chorei, eu desejei alguém para me ajudar a passar por isso, mas onde estava minha família, viajando pra variar. Quer saber, vocês não amavam a vovó, porque se amassem, não ficam viajando por ai, inventando desculpas para nos deixar sozinhas aqui. Querem ir embora, vão, mas eu fico aqui, junto de quem me ama; de minha avó, porque ela sim foi minha mãe, meu pai, minha família, vocês pra mim, são meros conhecidos, que vejo de vez em quando. Sai e bati a porta, sem olhar pra trás. Por volta das 14:00 horas da tarde, minha avó foi enterrada, observei de longe, não queria olhar na cara daqueles que só me desprezaram e me deixas sozinha. Todos estavam presentes, ate mesmo Jackie, que em um momento olhou diretamente para onde eu estava, como se tivesse sentido que eu estava ali, mas ele pareceu entender e não saiu de seu lugar, somente quando todos saíram. Quando não havia mais ninguém por perto, fui até o tumulo dela e debrucei-me sobre ele chorando e dizendo: - Por que me deixou sozinha? Eu a amo tanto, queria que estivesse aqui, a dor que sinto pela sua falta é irreparável. Eu juro, vou descobrir quem fez isso a você e vou me vingar fazê-la pagar por isso, por tira-la de mim, tirar quem mais amo de meus braços, eu juro. Não queria ir para casa, mas ir para casa de Jackie, também não era boa opção, já que nossas mães sempre foram grandes amigas, na hora ela avisaria que estava lá. Resolvi andar, já devia ser umas 10 da noite, quando cheguei a Forrest Hills School, eles não costumavam trancar os portões, já que era uma escola velha, ninguém entraria lá para roubar. Precisava de um lugar para passar a noite, nos fundos da escola, no meu lugar “secreto” havia uma arvore que de dia fazia sombra, fui para lá e sentei-me um pouco. Tornei a chorar por minha avó, não conseguia esquecê-la por um instante sequer, tentei aconchegar-me e dormir um pouco, o lugar não era lá muito apropriado, já que os faxineiros m*l cuidavam da limpeza interna da escola, quanto mais das redondezas dela. Não demorou muito, para começar a fazer frio e os barulhos da noite me deixarem com medo. Ouvi um barulho de passos, olhei para os lados, mas nada vi, virei para o outro lado para tentar dormir novamente quando vejo Will deitado ao meu lado. Levanto-me assustada dizendo: - O que faz aqui, uma hora dessas? Ele olha-me curiosamente e responde: - Eu é que pergunto o que você faz aqui essas horas. Sabia que aqui é perigoso?! Até parece que eu não sabia, mas não tinha outra opção, qualquer lugar naquele momento, era melhor que minha casa. Ainda me olhando fixamente, ele disse: - Sinto muito pela sua avó, mas n******e ficar aqui Susan, é muito perigoso, caso não saiba, tem muita gente r**m que gosta de fazer coisas ruins com pessoas boas como você. Senti que ele estava mesmo preocupado comigo, então resolvi explicar o porquê de estar ali: - Não tenho escolha, não quero ir para casa e se fosse para casa de Jackie, a mãe ligaria na mesma hora para minha, e tive alguns problemas hoje de manhã com minha família. Ele olhava-me atentamente. Um silêncio ficou entre nós por um tempo, ate que ele retomou a conversa: - Entendo, mas colocar sua vida em risco, ficando aqui sozinha, não é a melhor opção, se quiser pode passar a noite na minha casa. Fiquei assustada com convite, mas o que seria melhor, passar a noite na rua ou na casa de um garoto que era quase meu namorado, já que havíamos nos beijado e as coisas esquentaram entre nós. Resolvi aceitar. Não sabia muito sobre Will, só que ele era um garoto lindo e maravilhoso, com marra de vândalo educado e gentil. Ele não estava com seu carrão, fomos caminhando e aproveitei esse tempo para saber um pouco mais sobre ele: - Will, você foi a minha casa, ofereceu carona da outra vez, nós quase... Você sabe, mas você nunca falou sobre sua vida e família. Ele olhou-me profundamente e disse: - O que você quer saber? Como qualquer coisa para passar tempo servia, eu disse: - Ah, sei lá, tipo você tem irmãos, de onde seus pais são; qual sua comida preferida, essas coisas. Ele deu uma pequena risada, como quem não quer nada e respondeu: - Não tenho irmãos, sou filho adotivo, saí de casa quando tinha 15 anos e adoro macarronada e comida francesa. Fiquei pasma com o jeito natural dele em dizer que era adotado, parecia não se incomodar em não saber quem era seus pais. Naquele momento nos achei bem parecidos, como se também fosse adotada, porque não tinha quase nada em comum com minha família. Depois de uns 7 quarteirões, chegamos em frente a uma construção. Paramos ali e fiquei pensando, é ai que ele mora, por um instante pensei que fosse alguma piada, mas para minha surpresa, não era, ele morava ali sim. Era uma espécie de casa, mas estava m*l acabada, parecia estar em construção, mas tinha móveis dentro e todos novos. Will pediu que me sentasse que ele ia pegar algo para comer e beber. Fique reparando em suas coisas, havia uma coleção de cartas que pareciam ser de baralho sobre a mesa, numa espécie de caixa de vidro. Tinha uma lareira, um conjunto de armas na parede e na sala de jantar, que ficava ao lado da de estar; um quadro enorme de uma mulher, uma espécie de pintura em que ela olhava para o seu pintor. Ela era linda, cabelos negros compridos, lábios vermelhos ardentes, um pequeno sorriso, mas encantador e um olhar profundo. Enquanto admirava o quadro e perdia-me nos seus ricos detalhes, nem percebo Will me observando, só percebo sua presença quando ele diz: - Linda não é? Esta é minha maior riqueza, Julieta Amarantes. Ela morava aqui nesta cidade, era a mulher mais bela da cidade, mas infelizmente morreu cedo. Julieta Amarantes, já havia visto aquele nome, em meu sonho. Como Will poderia ter um quadro dela, não consegui conter-me e disse: - Ela morreu aos 21 anos. Como conseguiu esse quadro?! Ele olhou-me surpreso e disse: - Como sabe disso? Retruquei-o: - Will, responde como conseguiu esse quadro, ele deve ser de 1730, foi por essa data que essa moça morreu. Ele olhava curioso e pasmo, como se não esperasse por aquilo. Nada disse, apenas saiu da sala e foi para cozinha. Segui e continuei a perguntá-lo: - Anda, me diz logo como conseguiu esse quadro ou vou embora. Ele olhou profundamente e respondeu: - Ele estava sendo leiloado na cidade e como achei muito bonito, decidi comprá-lo. Agora me diga como sabe o nome dela. Foi uma resposta conveniente, para quem queria escapar da verdade, mas respondi a pergunta: - Vi no meu sonho, estava em um cemitério, e via vários túmulos onde todas as moças que estavam enterradas, haviam morrido aos 21 anos. Ele ficou estático, sem acreditar no que eu disse: - O que?! Como assim, você viu no seu sonho?! Tentei explicar-lhe, contei todo meu sonho, no final ele não conseguia entender como ele podia ter um quadro da mulher que eu havia visto em meu sonho. Querendo saber mais, ele perguntou: - Mas, você chegou a vê-la ou não? Não conseguia entender o interesse dele naquilo tudo, então decidi cortar o assunto: - Não entendo o seu interesse nisso, me diz a verdade, porque tem um quadro da mulher que apareceu morta no meu sonho e não diga que é mera coincidência, porque não é. Já não me olhava mais, estava novamente a admirar o quadro da tal mulher, seus olhos perdiam-se nas riquezas de detalhes, era como se aquela mulher estivesse viva e ele a ouvisse falar. Quando já estava pra desistir e sair dali, ele diz: - Se eu dissesse que esta mulher é você, acreditaria em mim? Não queria acreditar em uma só palavra dele, mas aquelas palavras fez acender algo dentro de mim, me fazendo acreditar que aquilo poderia ser verdade, que eu poderia ser aquela mulher do quadro, e no instante que olhei para ela no quadro, não vi seus olhos, seu cabelo e sua boca, mas sim meus olhos, minha boca pequena e meus cabelos lisos.
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