Capítulo 4
Pedro narrando :
A favela era só barulho. Tiros estourando, gritaria pra todo lado. A polícia já tava subindo o morro, e a guerra ia começar de verdade. O medo tava no ar, cara. Dava pra sentir na pele. O coração batia na garganta, e não era só eu que tava assim, não. Todo mundo tava cagando de medo. O morro inteiro sabia o que vinha. Alice tava do meu lado, com os olhos arregalados e o rosto molhado de tanto chorar.
— Pedro, Pedro, eu tô com medo! — Ela soluçava de chorar.
— Calma, Alice, vai ficar tudo bem, tá? Eu tô aqui, não vou deixar nada acontecer com você. — Tentei ser forte, segurar a barra, mas p***a, como é que eu ia garantir isso? Os tiros tavam mais perto, e eu não sabia se a gente ia sair vivo dessa.
Segurei a mão dela, forte. Ela tava tremendo. Parecia que o medo tinha tomado conta do corpo dela, e não era pra menos. A gente tava no meio de um inferno, e nem sabia pra onde correr. As vielas já tavam cheias de gente fugindo. Cada um se virando como podia, buscando um lugar pra se esconder, pra não levar bala perdida.
— Vai dar certo, Alice. Só fica comigo.
Enquanto eu tentava achar um canto seguro, escutei o ronco de um motor lá no fundo. Olhei pra cima e vi o carro blindado do Fumaça passando em alta velocidade. O desgraçado tava vazando do morro, claro. Filha da p**a que ele era, nunca ia ficar pra ajudar ninguém. Fumaça era o dono do morro, mandava e desmandava, mas na hora que a chapa esquentava de verdade, ele era o primeiro a meter o pé. Ele não dava a mínima pra quem morava aqui. Só queria o dinheiro do tráfico, e o resto que se fodesse.
— Olha lá, Alice. O Fumaça tá fugindo. Filho da p**a. Vai deixar todo mundo aqui pra morrer e vai se esconder na casa dele, onde nem bala chega. — Cuspi as palavras com raiva.
Era revoltante ver esse desgraçado sempre sair impune, enquanto o resto do morro, o povo que sofria todo dia, ficava na mira da polícia.
Alice olhou o carro sumindo no horizonte e voltou a chorar mais forte. A cena dela ali, sem entender direito a merda que tava acontecendo, me partia ao meio. Eu tinha que fazer alguma coisa. Não podia deixar minha irmã assim.
— Vem, Alice, a gente tem que sair daqui. — Puxei ela pela mão e comecei a andar rápido, tentando achar um caminho longe dos tiros. Só que cada viela que a gente entrava tava cheia de gente correndo, portas fechando com força, gritaria misturada com o barulho dos disparos.
As coisas começaram a piorar. Os fogos que os bandidos soltavam já tinham parado, e agora era só o som dos tiros ecoando. Aquela p***a parecia o fim do mundo. Alice tropeçou algumas vezes, e eu tive que pegar ela no colo em um ponto, porque ela tava muito fraca de tanto medo. Mas eu também tava no limite, mano. O coração batia tão forte que eu achava que ia explodir no peito. A adrenalina era o que me mantinha de pé.
— Fica quietinha, Alice. Tenta não fazer barulho. A gente vai achar um lugar pra se esconder, eu juro.
Eu tava desesperado. Procurava alguma casa, alguma porta aberta, qualquer lugar que pudesse proteger a gente. Mas o morro era um caos. As vielas estreitas pareciam labirintos, e o som dos disparos só ficava mais forte. Não tinha onde se esconder. Era um campo de guerra, e a gente tava no meio, sem escudo, sem proteção, sem p***a nenhuma.
Foi aí que vi mais gente passando correndo. O Tutu vapor de uma das bocas gritou de longe:
— A polícia tá vindo com tudo, Pedro! Vai f***r com todo mundo aqui! — Ele nem parou pra falar, só correu feito louco.
Eu sabia que ele tava certo. Já tinha visto isso antes. Quando a polícia subia com blindado e helicóptero, não sobrava ninguém. Era tiro pra todo lado, não importava quem tava no caminho. Gente inocente, criança, velho… todo mundo virava alvo. E eu só tinha Alice pra proteger.
— A gente precisa ir mais pra baixo. Vem, Alice! — Falei, puxando ela pela mão mais uma vez. Só que dessa vez, eu percebi que a mão dela tava gelada. Ela tremia tanto que m*l conseguia andar.
— Pedro, eu tô com muito medo… — A voz dela saiu baixinha.
O choro dela não parava, e eu sabia que, se a gente ficasse ali, seria só questão de tempo até um tiro encontrar a gente. Comecei a correr de novo, segurando a mão dela firme. Mas cada passo era um tormento. As vielas tão apertadas, o som dos tiros ecoando nas paredes, as pessoas gritando… tudo misturado num caos que só fazia a situação piorar.
E então, no meio de todo aquele barulho, eu ouvi um som diferente. Um disparo mais perto do que os outros. Um estalo seco, forte, como se tivesse sido do lado da gente. Na hora, meu corpo travou. Fiquei imóvel por um segundo, tentando entender o que tinha acontecido.
— Alice? — Falei, sem resposta.
Continua ....