Courtney POV.
Hoje é meu aniversário de 20 anos.
Estou aqui sozinha, vestida toda de preto. A chuva bate contra o guarda-chuva que está na minha mão, imitando minha própria tristeza enquanto as lágrimas caem em silêncio. Minha mão livre sobe até a corrente dourada que está em volta do meu pescoço. Onde está o anel de casamento da mamãe. O anel que meu doador de esperma deu a ela quando se casaram.
Eu nem sei quem ele é ou por que ela o deixou. Tudo o que sei é que ela fugiu comigo quando eu era um bebê. Ela me prometeu que contaria no meu aniversário de vinte e um anos. Mas isso nunca vai acontecer.
Um pequeno chute me faz soltar o colar e eu acaricio minha barriga inchada. Sim, vinte anos e grávida. O homem por quem achei que estava apaixonada e que achei que me amava durou apenas alguns meses antes que eu o encontrasse comendo outra mulher. Segundo ela, eu era uma criança e não conseguia lidar com um homem como ele. Babaca. Ele nem se deu ao trabalho de calar a boca dela — ela pode ficar com ele.
Eu não preciso dele nem do clube precioso dele. Kaden Venom Frost é presidente de um motoclube ou MC chamado Satan’s Reapers. Eu não tinha nada que me envolver com um homem como ele, mas me envolvi e olha como isso terminou.
Mamãe sempre me avisou para ficar longe de motoqueiros. Tudo o que eles fazem é partir seu coração, ela dizia. Ela não estava errada, porque é isso que eles fazem.
Nos mudamos pra cá pouco depois que descobri que estava grávida, para onde não havia motoqueiros. Se algum era visto em qualquer cidade em que estávamos, nós íamos embora, sem deixar nenhum rastro da nossa presença.
Por que ela fugia assim?
De qualquer forma. Isso não importa mais. Ela foi diagnosticada com câncer pouco depois que nos mudamos pra cá. Estágio 4, deram a ela seis semanas de vida; ela aguentou doze. Segurei a mão dela quando ela deu seu último suspiro, logo depois da meia-noite no Natal. Não vou me lembrar dela assim. Vou me lembrar dela como a mamãe divertida, despreocupada e orgulhosa que ela era.
O padre está falando, mas eu não estou ouvindo. Só estamos eu e ele aqui. Sempre fomos discretas e, por nos mudarmos tanto, nunca fizemos amizade com ninguém.
Estou realmente sozinha. Bem, não completamente. Daqui a cerca de quatro meses, meu pequeno feijãozinho vai estar aqui. Esse bebê já é profundamente amado. Mamãe deixou muito dinheiro para nós. Acho que ela sempre soube que algo assim aconteceria.
“Amém”, diz o padre, e eu repito o que ele disse. Olho para baixo e minha mamãe agora está em seu lugar de descanso final. Caminho até o monte de terra, pego um punhado e caminho até a borda, sorrindo para baixo.
“Mamãe, você não está mais com dor. Por favor, não se preocupe com a gente, nós vamos ficar bem. Eu sei que você sempre vai estar aqui, mamãe. Eu te amo tanto. Descanse em paz.” Eu jogo a terra e dou um passo para trás e apenas observo enquanto o chão vai sendo lentamente coberto.
Eu espero até que ela esteja completamente coberta. m*l haviam jogado a última pá de terra e a chuva parou e o sol apareceu. Os raios de Deus brilhando sobre o local de descanso final da mamãe. Eu dou uma risadinha e olho para o céu. Um sorriso triste no meu rosto.
“Te amo, mamãe. Sempre ilumine o caminho.” Me viro para caminhar em direção ao meu carro quando ouço o distante ronco de motos. Eu congelo, depois balanço a cabeça enquanto continuo andando. Só paro quando um enorme comboio de motos entra no cemitério. Eu apenas fico parada e observo.
O líder encosta e salta da moto, jogando o capacete enquanto corre em direção... ao túmulo da mamãe. Ele cai de joelhos e grita de dor. Quem é ele? Eu fico ali parada em choque com o que estou vendo. Cambaleio levemente. Não. Agora não! Por que agora?
“Caitlyn!” Ele ruge e meu fôlego prende na garganta. Eu estou paralisada. Não consigo me mover, mesmo que tudo em mim esteja dizendo para eu mexer a b***a e dar o fora dali. Ele está chorando quando vira a cabeça e olha diretamente para mim.
Seus olhos se arregalam como se estivesse vendo um fantasma. Ele murmura algo e todos os homens se viram para me encarar. Ah, merda!
“Courtney, garotinha, é você?”
Eu caminho o mais rápido que consigo em direção ao meu carro quando meu braço é agarrado. Eu me viro e, por instinto, dou um soco no rosto dele. Os homens ofegam e alguns fazem careta com a força que usei. Ele me olha, com sangue escorrendo do nariz e do lábio.
“Nunca, e quero dizer nunca, coloque as mãos em mim, senhor. Eu não sei quem diabos você pensa que é ou por que está aqui. Mas se afaste.” Eu disparo, e ele me encara, atordoado. Acho que quebrei ele.
“Courtney. Finalmente te encontrei, garotinha. Eu estive procurando por você e sua mamãe por vinte anos.” Nem fodendo! Não, não, não, não, eu me recuso a acreditar que esse babaca é meu doador de esperma. Sem chance.
Eu luto contra a vontade de vomitar. Meu coração está batendo forte e alto. Será que ele consegue ouvir? Por que ele é tão fodidamente grande? Mas, de novo, todos os motoqueiros são.
Tenho quase certeza de que eles são lobisomens ou algo assim. Ou então realmente amam esteroides. Quero dizer, ele faz o Hulk parecer fraco. E eu… Ah, merda, acabei de socar ele na cara.
“Você está confundindo com outra pessoa. Eu não sei de quem você está falando. Sinto muito pela sua perda.” Digo enquanto dou um passo para trás antes de olhar ele de cima a baixo com nojo. Como ele ousa? Sério mesmo. f**a-se ele e a dor de coração dele. Filho da p**a. Se a mamãe pudesse me ver agora, ela estaria rindo da minha escolha de palavras logo depois de atirar nele.
“Você é tão parecida com ela, uma verdadeira tempestade. O mesmo cabelo ruivo dela, mas esses olhos, garotinha, esses olhos são meus. Sem falar nessa corrente de ouro com a aliança de diamante no seu pescoço — era da sua mãe. Minha esposa.” Eu toco instintivamente na corrente. Não! De jeito nenhum.
“Courtney Nevaeh Morrison, você é minha filha. Eu estive procurando por vocês duas nos últimos vinte anos. Agora que te encontrei, não vou deixar você ir.” As lágrimas escorrem dos meus olhos, mas não de alegria. Não, é de ódio, raiva e fúria. Estou tremendo, pronta pra explodir como uma bomba atômica. Como ele ousa? Quem c*****o ele pensa que é? Ah, claro, o queridinho do papai.
Pois bem. Que se f**a!
“Você acha que pode me reivindicar como sua filha perdida depois de vinte anos? Tá bem enganado. Eu não vou a lugar nenhum com você. Tenta, se tiver coragem. Mas não pense que eu não vou lutar, porque eu vou te derrubar com prazer.” Digo, e ele sorri pra mim, cheio de divertimento.
“Ok, ok. Você vai vir até mim quando estiver pronta. O nome é…”
“Não dou a mínima pra quem você é ou qual é seu nome. Eu não preciso de você e nunca precisei. Tenho me virado muito bem sem você. Adeus.” Eu me viro e caminho em direção ao meu carro.
“Continue dizendo isso pra si mesma, querida. Mas você e seu bebê vão acabar vindo até mim. Eu não vou desistir de você, Courtney. Nem agora, nem nunca.” Ele grita atrás de mim. Eu chego ao meu carro e paro. Olho por cima do ombro.
“Que pena que você vai esperar por muito tempo. Porque isso nunca vai acontecer. Eu diria que foi um prazer te conhecer, mas mamãe sempre me disse para dizer a verdade. Então não vou dizer.” Abro a porta do carro e entro, batendo a porta com força.
Minhas mãos estão tremendo e meu coração está disparado. Meu pequeno feijão está quieto por enquanto. Ligo o carro e vou embora. Verifico o retrovisor para garantir que não estou sendo seguida. E não estou. Obrigada, mamãe — e a Deus, é claro.
Parece que preciso ir embora e encontrar uma nova cidade. Dou uma risada. Qual é o ponto? Ele me encontrou agora; preciso me livrar do carro e usar o da mamãe por um tempo. Viro na rua onde fica nossa casa.
A rua está silenciosa; os vizinhos cuidam uns dos outros e é super segura. Dirijo até a casa e estaciono o carro na garagem. Graças a Deus. Saio do carro e saio da garagem, apertando o controle para fechar as portas.
Subo os degraus da varanda e abro a porta da frente. Dou um chute para fechá-la atrás de mim. Tiro os sapatos e o casaco. Caminho descalça até a sala de estar. Olho para o sofá, esperando vê-la sentada ali. Suspiro e enxugo os olhos enquanto vou até a cozinha, lavo as mãos e preparo uma bebida.
Me apoio no balcão com a b***a e penso na merda completa que foi o dia de hoje. Acaricio minha barriga quando o feijão chuta de novo.
“Está tudo bem, bebê, nós vamos ficar bem. Eu vou garantir isso.” Suspiro enquanto volto para a sala e me sento no sofá. Antes que eu perceba, estou chorando, abraçando um travesseiro contra o peito enquanto deixo tudo sair. Amanhã é um novo dia. Sempre há um lado bom, afinal.