Capítulo 32 – Corações em Conflito

1171 Palavras
Alessandro acordou de um breve cochilo com uma leve dor latejante na cabeça. Passou as mãos pelas têmporas e praguejou baixinho, tentando afastar a neblina que ainda pairava sobre seus pensamentos. Então, como um raio, lembrou-se de Serena. Levantou-se de súbito e caminhou em passos largos até a varanda. Quando abriu a porta de vidro, a brisa fria da noite o atingiu, mas o que realmente gelou seu peito foi a visão diante dele. Serena estava encolhida no chão, os joelhos junto ao peito, os braços envolvendo o próprio corpo numa tentativa inútil de se aquecer — ou talvez, de se proteger do mundo. — Serena! — A voz dele cortou o silêncio como um chicote. Era dura, carregada de autoridade e impaciência. Ela piscou várias vezes antes de levantar lentamente o rosto. Os cabelos desgrenhados caíam sobre seus olhos úmidos. O olhar dela encontrou o dele: confuso, ferido... partido. Alessandro a observou por um momento, com a mandíbula tensa e os olhos semicerrados, como se travasse uma guerra interna. — Espero que tenha aprendido o seu lugar. — A frieza em sua voz era quase palpável. Os olhos de Serena brilharam, transbordando tristeza. As lágrimas não tardaram a escorrer. — Como pôde fazer isso comigo? — sussurrou, a voz trêmula, entrecortada pela dor e pela incredulidade. Por um breve instante, algo brilhou nos olhos de Alessandro — arrependimento? Mas ele desviou o olhar e passou a mão pelos cabelos, abafando qualquer emoção. — Não enche. — rosnou, virando-se bruscamente e desaparecendo para dentro do quarto, deixando-a sozinha, gelada tanto por fora quanto por dentro. No quarto, Serena tomou um banho demorado. A água quente descia por seu corpo como se pudesse lavar a humilhação, o abandono, o peso de ser tratada como nada. Vestiu-se devagar, evitando até mesmo olhar-se no espelho. Quando finalmente o fez, m*l reconheceu o reflexo diante dela: um rosto abatido, os olhos inchados, os ombros caídos. Deitou-se, abraçando o próprio corpo, e adormeceu com lágrimas secando no travesseiro. Quando o despertador tocou, ela simplesmente desligou e voltou a dormir. A faculdade podia esperar. Hoje não. Ela estava exausta — física, emocional e espiritualmente. Mais tarde, ao sair do banho, algo lhe veio à mente como um sussurro distante: seu aniversário. Ela encarou o próprio reflexo mais uma vez, soltou um suspiro profundo e murmurou para si mesma: — Hoje eu só quero esquecer que existo. Enquanto isso, em um restaurante elegante da cidade, Alessandro almoçava com Lucas. O clima entre os dois era tenso. — Você fez o quê?! — Lucas quase derrubou o talher no prato, boquiaberto. — Eu estava bêbado! — Alessandro rebateu, esfregando o rosto com frustração. — Já estou de saco cheio dessa situação toda. Simplesmente fiz. — Cara... isso passou de todos os limites. — Lucas encarou o amigo com reprovação. — Sempre soube que você podia ser frio, calculista... mas isso? Isso foi crueldade. Alessandro soltou uma risada seca e amarga. — Ah, agora você virou meu conselheiro moral? — Não é piada. — Lucas bateu o copo na mesa, irritado. — A Serena não é como as outras. Ela é... diferente. Você não percebe isso? Como seu amigo, eu preciso dizer: seu pai estava certo sobre você. Egoísta. Sem empatia. E eu ria das suas atitudes antes, mas com ela... sei lá, Alessandro. Essa garota não merece isso. Alessandro não respondeu. Apenas empurrou o prato para longe e recostou-se na cadeira, com um sorriso sarcástico nos lábios, mas os olhos distantes... sombrios. Mais tarde, de volta ao apartamento, Alessandro entrou acompanhado de Lucas. No sofá, Serena estava concentrada em um livro. Ao ouvir a porta, ergueu os olhos. Seus olhos estavam levemente inchados, mas ela tentou disfarçar com um sorriso contido. — Não foi à faculdade? — Alessandro perguntou com a sobrancelha arqueada. — Resolvi descansar. — respondeu num tom baixo, quase murmurando. — Oi, Serena. — Lucas sorriu, tentando amenizar o clima. — Tudo bem? Tirou o dia só pra você, né? Ela assentiu timidamente, fechando o livro. Antes que a conversa prosseguisse, a empregada apareceu na sala. — Dois amigos da senhorita Serena estão aqui. Alice e Miguel. Posso deixá-los subir? Alessandro revirou os olhos, impaciente. — Se importaria? — Serena perguntou, com a voz firme, sustentando o olhar dele. — Não. — respondeu seco, jogando-se no sofá com descaso. Lucas servia uma bebida e observava, atento. Quando a porta se abriu, Alice surgiu com um bolo nas mãos, e Miguel trazia flores e um balão colorido. — Parabéns, amiga! — Alice correu até Serena, envolvendo-a num abraço caloroso. Miguel entregou as flores com um sorriso gentil. — Pra você. Feliz aniversário. Serena sorriu, emocionada. Cheirou as flores com delicadeza. — Obrigada, Miguel. São lindas. Miguel a puxou para um abraço discreto, mas afetuoso. Alessandro, ao fundo, cerrou os punhos sem perceber. O maxilar estava travado. Lucas, notando a tensão, se aproximou rapidamente. — Você não falou que hoje era seu aniversário! — abraçou Serena brevemente. — Feliz aniversário. — Parabéns. — Alessandro murmurou, a voz desprovida de emoção. A conversa entre os amigos fluiu com naturalidade, risadas e lembranças leves. Mas Alessandro permanecia em silêncio, os olhos fixos em cada movimento de Serena, cada sorriso dado a Miguel. — Ah, é... — Serena respondeu quando Miguel perguntou por que ela faltou à faculdade. — Eu... resolvi dormir mais. Estava cansada. E hoje é meu aniversário... — E achou mesmo que íamos deixar passar em branco? — Miguel riu. Alice concordou com entusiasmo. Alessandro se levantou de súbito. Seus olhos faiscavam. — Ah, pronto. — murmurou, aproximando-se de Serena com passos firmes. Passou o braço ao redor da cintura dela, puxando-a com firmeza. — Acho que seus amigos já sabem, não é? — olhou diretamente para Miguel, o tom de voz venenoso. — Mas não se empolgue. Ela ainda é minha esposa. Serena enrijeceu, sentindo o toque como uma corrente ao redor do corpo. — No papel apenas. — Miguel respondeu com firmeza. Antes que a tensão explodisse, Alice se intrometeu: — Vamos cortar o bolo! — disse forçando um sorriso. Quando os amigos foram embora, o silêncio no apartamento se tornou denso. Alessandro aproximou-se de Serena devagar, os olhos perfurando os dela. — Enquanto estiver casada comigo, não se envolva com homem nenhum. Está claro? — A voz baixa, grave, carregada de ameaça. Serena engoliu seco, mas encontrou forças. — E você? Pode se envolver com outras? Isso é justo? O olhar de Alessandro escureceu. Segurou o rosto dela, os dedos cravando-se na pele delicada. — Está apaixonada por ele? É isso? — Não! Miguel é só meu amigo. E eu só quero justiça! — Serena respondeu com lágrimas nos olhos, a dor transbordando. — f**a-se a justiça. — Amanhã vamos para a fazenda. Prepare-se. Sem esperar resposta, virou-se e saiu do cômodo. Serena levou as mãos ao rosto, deixando que as lágrimas escorressem livremente. A sensação era de estar presa dentro de uma tempestade que não passava. Sozinha, no silêncio da sala, ela respirou fundo.
Leitura gratuita para novos usuários
Digitalize para baixar o aplicativo
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Escritor
  • chap_listÍndice
  • likeADICIONAR