Realidade Na Favela

Capítulo 3

Chegou o tão esperado sábado, e eu nem sei o que minha mãe resolveu sobre os mil reais, ela não comentou nada comigo sobre isso essa semana, e eu também não procurei saber. Nem sei qual horário eles chegaram ontem e novamente, não quero saber.

Vou até o banheiro para tomar um banho, me observo no espelho, e admiro a minha beleza. Não sou muito alta, tenho mais ou menos 1,63cm, meu corpo é um pouco magro, sempre gostei muito dele, tenho a cintura fina e o quadril um pouco largo, herdei da minha mãe, já a minha pele é n***a, porém clara, como o meu pai, tenho cabelos pretos longos e ondulados, mistura dos meus pais. Mas atualmente estou usando tranças loiras com algumas pontas soltas.

Só de pensar que sou o oposto fisicamente da Carina, isso me tira umas boas risadas. Minha amiga é mais baixa que eu, tem a pele parda, mais clara que a minha, os seus cabelos também são longos, porém lisos, ela tem o corpo mais cavalona, já que costuma frequentar a academia, o seu corpo é bem definido, ela é uma tremenda de uma gostosa, não dá pra negar. Acabo sorrindo lembrando daquela maluquinha.

- Sonhando acordada? – ouço a minha mãe falar e olho para ela.

- Tava lembrando da maluca da Carina – digo e ela sorri – Aconteceu alguma coisa?

- Acabei de pagar a dívida do seu pai – ela diz meio desanimada.

- Onde arranjou dinheiro? – pergunto curiosa.

- Peguei emprestado com uma amiga, para pagar no final do mês – ela diz e balanço a cabeça em forma de negação.

- A senhora vai acabar se afundando por causa daquele cara – digo sincera e me levanto da cama, começo a arrumar o meu quarto.

- Por isso vim aqui conversar com você – ela diz e vai me ajudando a colocar umas roupas no guarda-roupa. – Ontem tive que levar ele para tomar glicose no postinho, e a enfermeira conversou comigo sobre uma reabilitação em um interior próximo daqui, me mostrou o i********: deles, dei uma olhada e me parece um bom lugar.

Encaro ela surpresa. A cinco anos tento convencer ela de fazer isso, ver essa evolução me deixou surpresa.

- Eu acho ótimo, se era isso que queria saber - Digo sincera e saio do quarto em direção a cozinha. Pego algo para comer na geladeira e me sento no banco do balcão.

- Eu já esperava, então liguei para eles hoje de manhã e conversei com o seu pai, ele ficou relutante, mas depois concordou. – Ela diz – Eles disseram que logo vão chegar para buscar o seu pai.

- E cadê ele? – pergunto após não ter visto sinais dele em casa.

- Estou aqui – ouço a voz de Eduardo enquanto abre a porta – tinha ido comprar pão para você tomar café.

Apenas olho para ele, sem emitir resposta.

- Sei que está chateada comigo, antes de ir queria conversar com você – ele diz se sentando do meu lado e a minha mãe sai, indo para o banheiro. – Entendo a sua raiva por mim, e respeito o seu afastamento, mas quero que você saiba que sempre vai ser minha princesa, o meu maior motivo de orgulho – ele diz com lágrimas no olho, e eu me encontro da mesma forma, mas evito chorar – Errei feio com você e com a sua mãe, mas eu prometo a você que eu vou embora, mas quando eu voltar, voltarei sendo o seu pai de cinco anos atrás.

Não conseguia dizer nenhuma palavra, apenas as lágrimas escorriam pelo meu rosto. E então ele me abraçou, com isso, me desabo no choro, o abraçando forte.

- Sinto falta do meu pai, sinto falta da minha adolescência perdida por conta de ter que trabalhar pra ajudar em casa, sinto falta de muita coisa, que infelizmente não voltam. – Digo limpando as lágrimas – Você já não é mais o meu herói, e eu ainda não te perdoei, mas quando você voltar, eu vou pensar melhor sobre tudo isso.

Ele apenas concorda com a cabeça. Na mesma hora batem na porta, ele abre e se depara com os rapazes da reabilitação, chamo a minha mãe, ela se despede dele, dou um tchau de longe para ele e eles saem. Vejo as lágrimas no rosto da minha mãe, mas ela logo vai para seu quarto. E eu volto a tomar o meu café da manhã.

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Passei a manhã e um pouco da tarde arrumando a casa, botei um som para tocar, pra tirar a energia triste que tava aqui em casa, lavei algumas roupas, dei uma boa limpada na casa, fiz o meu almoço, já que a minha mãe ia almoçar na casa da patroa dela. A gente tem muita sorte da minha mãe ter conseguido esse emprego de diarista, a Clara, patroa dela, é um amor de pessoa, sempre manda coisas pra gente aqui, quando viaja quer levar a minha mãe com ela, às vezes até me chamava. Porém, por conta do meu pai, ela sempre negava ir. Quem sabe agora ela não aproveite um pouco. Saio dos pensamentos com uma mensagem da minha mãe e acabo rindo da mensagem.

"A Clara vai viajar pra Angra dos Reis hoje e volta segunda, me convidou pra ir e eu aceitei, se vira aí sem mim esse fim de semana" – Mãe

- Que mulher ousada! – falo rindo da sua mensagem. Respondo ela e de repente alguém bate na porta. Vou abrir e me deparo com o Diego, arqueio a sobrancelha olhando para ele e ele sorri.

- Vim visitar a minha preta, já que tô de folga hoje – ele diz e entra sem a minha permissão.

- c*****o, que ousado você em garoto?! – digo e ele ri.

- Trouxe uns bagulho pra nois comer – ele diz – Biscoitinho, chocolate, um vinho, queijo e outras coisas.

- Esse vinho tá suspeito – digo e ele ri.

No final das contas ficamos na sala, coloquei Velozes e Furiosos para gente assistir, ficamos a tarde e a noite toda assistindo, comemos e bebemos bastante e acabo pegando no sono. Quando acordo já é no outro dia, já estava na minha cama, pego o celular e vejo uma mensagem dele no i********:.

"Acabei caindo no sono com você, acordei de madrugada e te coloquei na cama e fui embora, não te acordei porque cê tava muito linda dormindo."

"Obrigada pela companhia. Beijos, minha preta" – @Diego_Souza

Sorriu com o "Minha Preta", tá sendo bacana conhecer o Diego, porém não tô afim de me envolver com os caras da boca não. Saio dos pensamentos e resolvo ir na casa de Carina, antes mando uma mensagem avisando a ela e digo para ela não fazer almoço. Saio do quarto e vou para cozinha, faço uma lasanha rápida. Vou para o banheiro, tomo um banho rápido, visto um vestido longo, soltinho e fresco, calço a minha havaiana, pego as minhas coisas e saio de casa.

Em menos de 10 minutos chego na casa de Carina, chamo ela e ela logo abre a porta. A gente fica batendo papo enquanto almoça, conto a ela sobre o Diego e ela fica toda animada, mas explico que não vou me envolver com ele e nem com nenhum outro que trabalhe na boca.

- Amiga, você não precisa casar com o Diego, você só precisa dar a sua b****a – ela diz rindo e me faz rir horrores.

- Você é ridícula, garota – digo rindo. Ela recebe uma mensagem e logo para de rir, acho estranho seu semblante. – O que foi?

- Pedro me mandou mensagem, falando que o Diego vai ir para São Paulo, Terror mandou ele para um morro lá – ela diz chateada.

As palavras dela me afetam um pouco, apesar de eu não querer isso, porém saber isso e saber que ele nem me contou, me deixou um pouco chateada. Tento ignorar esse sentimento.

- Pra tirar esse clima r**m, vamo no baile hoje? – Carina fala animada e tentando me animar – E nem adianta dizer não

Acabo concordando com ela e então começamos a nos arrumar, pego uma roupa dela emprestada, já que não queria voltar em casa.