Barão
Meu nome é Barão. Tenho 26 anos e sou o dono do Complexo da Penha. Aqui, cada esquina me respeita, cada beco me pertence. Construí meu nome com suor, sangue e poder, e ninguém ousa questionar minhas ordens.
Acordo com a cabeça latejando, os olhos pesados, e o gosto amargo da noite passada ainda na boca. Meu quarto tá revirado, e o cheiro de perfume barato me lembra do que aconteceu. Olho para o lado e vejo uma mulher na minha cama, alguém que, sinceramente, não faço ideia de quem seja.
Barão: — Droga... que que eu fiz?
Passo a mão no rosto, tentando puxar a memória, mas só me vem flashes embaralhados: muita bebida, o som das risadas, e a sensação de que algo muito importante aconteceu ontem, mas que eu não tô conseguindo lembrar direito. Me levanto e encaro meu reflexo no espelho. A dor de cabeça insiste, mas, aos poucos, os flashes da noite passada vão clareando. Lembro dela, da Jerrane… e então um soco de realidade acerta em cheio minha consciência.
A imagem vem clara, nítida e brutal: o rosto da Jerrane depois que eu levantei a mão e bati nela. Na hora, uma onda de fúria me invadiu porque ela me disse que talvez nunca pudesse me dar um filho, mas agora só o que eu sinto é um peso esmagador no peito. Será que ela foi embora?
Vou direto pro armário dela, puxando as portas com violência, e só encontro vazio. Nenhuma roupa, nenhum rastro dela. Cada gaveta que eu abro confirma a mesma coisa: ela realmente se foi.
O som da voz da mulher atrás de mim interrompe meus pensamentos.
Mulher: — Amor, você já saiu da cama? Aquela confusão de ontem foi difícil, né? Ainda bem que você deu um tapa na cara daquela i****a e mandou ela embora.
Barão (encarando a mulher com desprezo): — Eu nem te conheço. E não quero que você fale assim da minha mulher.
Mulher (rindo e se aproximando, com um olhar insinuante): — Eu sou muito mais mulher que ela, tá? Você pode ficar comigo. Eu te garanto que posso te dar uma família, um filho... e ela nunca poderia fazer isso por você.
Ela tenta encostar em mim, mas eu me levanto com um olhar sombrio, os músculos tensos e a fúria queimando em cada palavra não dita. Puxo minha arma num movimento rápido e, antes que ela consiga reagir, puxo o gatilho.
O som do tiro ecoa pelo quarto, e o corpo dela cai no chão, sem vida, enquanto eu ainda respiro fundo, tentando controlar a tempestade que se formou dentro de mim. A raiva, a frustração, o desespero, tudo se misturam em uma única sensação.
Olho para o chão, vendo o sangue se espalhar, e uma necessidade urgente de me livrar disso toma conta. Pegando meu rádio, me dirijo aos vapores, minha equipe, os caras que sempre cuidam da bagunça.
Barão: — Vapores, venham aqui. Precisamos limpar a casa. Tirem o corpo dessa mulher e limpem todo esse sangue. Não quero nenhuma evidência disso aqui.
Ouço a resposta rápida e firme deles, sabendo que vão fazer o que eu mandei. Enquanto espero, minha mente gira em torno da Jerrane. Será que ela está bem? O que eu fiz?
Decido ir atrás dela, mas antes preciso conferir se ela ainda está no hospital. Com o coração pesado, sigo em direção ao hospital. Chegando lá, pergunto pela Jerrane, e uma atendente me informa que ela foi liberada ontem.
Médica: — O senhor está perguntando sobre a Jerrane? Ela foi liberada ontem, por volta das três da tarde.
Aquilo me acerta em cheio. Ontem… ela saiu daqui ontem, e eu nem tava por perto, ocupado com bebida e com uma mulher qualquer. Eu agradeço de qualquer jeito e saio quase correndo, minha cabeça girando enquanto tento pensar onde ela poderia ter ido. Será que ela ainda tá aqui, na Penha? Preciso encontrá-la.
De volta às ruas do Complexo, passo a palavra pros vapores, mando que busquem informações, que me avisem se alguém tiver notícias dela. Cada esquina que eu viro, cada rosto que eu encaro, só me dá mais desespero, e ninguém sabe onde ela tá. Os moleques me olham confusos e respondem a mesma coisa: ela foi embora, saiu do morro, mas ninguém sabe dizer pra onde.
Com a mente emaranhada, volto pra casa, ainda sentindo o peso da noite passada e a morte daquela mulher. Os vapores já devem ter resolvido o problema, mas mesmo assim, o cheiro do sangue me persegue. O que eu fiz? O que eu perdi? E o que vai acontecer agora?
O que eu sei é que preciso encontrar a Jerrane, pedir desculpas, falar que a gente pode passar por isso juntos. Assim que entro no quarto, me deparo com a cena que eu temia. O chão tá limpo, mas a presença dela ainda parece ecoar.