8ª part

1609 Palavras
Mayla... Com o comentário deixado ao vento pela agente B, busquei pensar com calma em todas as perguntas que pudessem me ajudar a entender como tantos fatos aleatórios os trouxeram até mim. Não era nada muito complexo, mas se possuíam a certeza de que somente eu conseguiria o encontrar, porque levaram tanto tempo para me procurar? Por que precisam encontrá-lo? Ninguém se mantém escondido por longos anos sem ter um motivo. Tão pouco deleta de sua vida a única família que sobrou, se esse motivo não fosse algo muito importante. Essa era mesmo a questão principal, nenhuma outra importava tanto. O que podem estar querendo com o senhor, pai? Fazer a pergunta era algo preso a minha mente, mas deixar de fitar o quadro montado a minha frente para observar a agente Ruschel levando a mão até o ferimento que se abria em seu peito, foi a ação para o momento. Um barulho não havia sido emitido, com isso, ninguém se preocuparia em chamar a polícia local, ninguém se preocuparia em acionar o resgate o mais breve possível. Estávamos por nossa conta e risco, estávamos contando com a sorte quando nada mais parecia estar do nosso lado. Sem saber como reagir ao que acontecia, de forma inconsciente me vi dando alguns passos a frente apenas para lhe ceder apoio até seu corpo alcançar o estofado do sofá a poucos metros atrás da porta. Sua situação não era das melhores, necessitava urgentemente de um hospital. E mesmo tendo uma noção sobre aquilo que a mulher a nossa frente era capaz de fazer, não esperava pelo que veio a acontecer. Aquele disparo era desnecessário, uma intervenção da parte da agente B não era mais possível. Tirar a sua vida não deveria ter sido uma ação executada. Estando em uma situação tão crítica, ela não deveria ter provocado, não devia ter tentado um diálogo. O chamado feito ao teclar em seu relógio deveria ter sido o suficiente, nada mais precisava ser feito antes da chegada daqueles que poderiam ajudar. Sentindo o calafrio percorrer todo o meu corpo com o que meus olhos presenciaram, me afastar imediatamente foi o movimento executado. O toque presente em meu pulso me causou arrepios, o medo parecia querer me dominar. Frente a uma assassina tão fria e sem uma defesa para poder contar, as minhas chances não existiam. Ignorar os motivos para aquele relógio estar em minhas mãos e me focar em conseguir tempo era tudo o que eu poderia fazer, qualquer outra ação seria o suficiente para que toda essa fuga tenha sido em vão. Com isso, novamente evitei o contato de sua mão contra o meu braço, mas tremi ao ter sua arma erguida em minha direção. Me afastar continuava sendo opção, a parede atrás de mim a responsável por prender os meus passos. Não havia mais para onde ir, e na espera do que seria o meu fim, recebi o seu golpe abraçando a escuridão com uma amiga e talvez, um modo de redenção. Não perdi a vida, mas também não sabia o que esperar. Quando acordei, a minha primeira ação foi procurar por ela, mas não a encontrei. Saber que lugar era aquele, não me parecia ser uma missão muito fácil, assim como não conseguia decifrar quanto tempo havia se passado. Ao centro do que me parecia ser uma espécie de galpão, busquei por brechas que poderiam me servir de ajuda em algum momento, mas elas não pareciam existir. Em uma rápida observação sobre os pontos que meus olhos conseguiam alcançar, estava claro que contingências haviam sido feitas. Não teria como deixar aquele lugar, não sem antes me livrar daquelas amarras. Depois de longas tentativas em conseguir a minha liberdade, senti minhas mãos pedirem por ajuda. Estava exausta, cansada de tanto buscar por uma escapatória, cansada de não alcançar resultado algum. Enquanto meus pulmões exigiam por uma maior quantidade de ar, minha boca se via implorando por ao menos uma gota d'água. Estava a ponto de abraçar a desistência, pronta para aceitar tudo o que viesse pela frente. Ao meu ver, aquele me parecia ser o fim, o fim da minha trajetória. Com a negação presente em cada célula do meu ser, nem mesmo soube como reagir a presença daquela mulher no momento em que a vi se aproximando. Tudo o que fiz foi soltar um longo e cansado suspiro. Após falhar em deixar aquela cadeira, não me via mais em condições de fazer a minha auto defesa. O medo havia se dissipado, e junto dele se foi a minha força para continuar tentando algo. Estava mesmo no meu limite. Parando em minha frente logo depois de fazer uma breve análise em um ângulo de 360°, sem demonstrar expressão alguma, com o auxílio de um canudo me cedeu alguns goles da água presente no copo que ocupava a sua mão. Agredeci mentalmente por isso, mas não pensei que essa ação pudesse significar algo positivo para o meu lado. Sua falta de comunicação me deixava ansiosa, me tirava a esperança de voltar a viver momentos melhores. – Obrigada, eu acho - ignorando a força dos pensamentos, vi as palavras deixando minhas cordas vocais em um agradecimento audível. Ela então se limitou ao aceno positivo antes de tomar posse de uma segunda cadeira para poder se acomodar de melhor forma - O que está planejando fazer comigo? - era uma questão até curiosa para tudo o que vinha se estabelecendo ao longo das intermináveis horas já passadas. Não estava certa se realmente desejava ouvir a resposta. – Se tivesse sido contratada para tirar a sua vida, saiba que teria o feito no momento em que te avistei deixando os limites da rua de sua casa. Não teriam uma chance nem mesmo para tentar te salvar, pois sou uma profissional sem falhas no currículo. Então não se preocupe com mais este detalhe, não te trouxe até aqui para te m***r - me parecendo ser alguém um pouco mais aberta ao diálogo, cedeu sua explicação de forma simples. Porém, me senti perdida com tudo isso. Ao início do dia, quando tudo começou a desandar sem pedir permissão para nada, aqueles que me tiravam do seu caminho deixaram claro qual a sua intenção. Durante cada percurso traçado, frente a cada perda desnecessária. Independente da cena, tudo o que gritava em minha mente era o porquê de estarem querendo me m***r. Após a afirmação jogada pela agente B, não havia como não pensar em uma resposta para tal questão. No entanto, agora o jogo se mostra completamente invertido. As palavras da bela mulher a minha frente plantava uma dúvida enorme em minha mente. Se tornava ainda mais complicado conseguir entender todo o problema no qual me via envolvida, pois as narrativas se distanciavam sem medir esforços. Com isso, cabia exclusivamente a mim escolher aquela que passasse uma maior veracidade. Mas como conseguiria associar a verdade em uma das versões contadas? Não seria simples, mas teria de tentar. – Não tenho certeza se devo acreditar. – Te passar uma prova para o que estou dizendo, não faz parte do meu trabalho. Então não o farei apenas porque você não consegue decidir em quem confiar. Mas tendo em mente que em momento algum agi como uma verdadeira ameaça. Deve-se compreender que alguns fatos não batem, não precisa ser um gênio para analisar isso - novamente não fugindo do diálogo que se estabelecia, relatou aquilo que continha alguma razão. Mas confiar em alguém que me perseguia com uma arma nas mãos, não me parecia ser uma decisão muito inteligente. – Por duas vezes você quase atirou em mim, e como quer que eu confie em algo do que está me dizendo? - era uma boa pergunta, duvidava que existisse uma maneira simples de a contornar. Porém, foi exatamente o que ela fez. Problemas com as palavras não se encaixava em seus defeitos. Na verdade, me questionava se eles realmente existiam em alguém que se dizia ser tão perfeito. – Por duas vezes, assim como você mesma disse. Eu analisei a situação e efetuei disparos conscientes. O alvo foi encontrado e atingido da forma programada, nada mais aconteceu – explicou durante o tempo gasto para recolocar o seu assento no mesmo lugar que o pegou, então novamente voltou a me encarar de frente - Não fiz de você um alvo, pois se fosse essa a realidade.. – Eu não estaria mais viva, já entendi essa parte - interrompendo sua fala, disse aquilo que provavelmente seria a sua conclusão. Não precisava ouvir - Mas se me m***r não é o objetivo, porque estava atrás de mim? Por que estou aqui? – Resumindo ao máximo, em partes é pela sua segurança - sem se preoucupar em dizer mais nada além disso, simplesmente me deu as costas pronta para me deixar sozinha outra vez. Não era uma ação educada, mas me preocupei mais com a falta de resposta, me focando sem precedentes a mesma abordagem usada pela agente Ruschel. Era muita coincidência para um único dia, um dos lados realmente não estava sendo tão sincero quanto pensei. Mas antes de uma decisão final, precisava de uma resposta para a pergunta feita. – Isso não responde tudo o que perguntei, não tira todas as minhas dúvidas - com a minha verdade jogada ao vento, o seu olhar caiu sobre mim - Se não vai me m***r, podia ao menos me soltar. – Se quer mesmo sair daí, terá de fazer por si mesma - voltando a me dar as costas, disse se distanciando a passos lentos. Não sem antes completar - Quanto as suas respostas, as terá no momento em que vier ao meu encontro.
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