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2452 Palavras
Flávia Simões — Ana, onde está a proposta de Roma? — Agnes pergunta para sua secretária, perdida em pilhas de papéis. Ela bufa irritada, quando não encontra o que procura. A secretária abre a porta, adentrando a sala e se põe a procurar a tal proposta. Eu apenas assisto as duas malucas remexendo a papelada, quase que perdendo o juízo. Olho para mesinha de centro e pego o único documento esquecido no tampo de vidro temperado, e me levando do sofá macio, indo de encontro das duas. Paro de frente para Agnes e lhe estendo o papel. A mulher para o que está fazendo e olha o papel e depois para mim. Ela sorri. — Eu já disse que te amo hoje? Deus, achei haver perdido a maldita proposta! Agnes se joga, sentando-se na cadeira e respira aliviada. — Pode ir, Ana. — Ela dispensa a secretária, e mete a cara nos papéis.        — Hoje é sexta — digo, me sentando de frente para ela. — E? — pergunta, sem tirar os olhos do papel. — Pensei em sair essa noite, você vem? — Ah! Não dá amiga! Tenho que acordar cedo e começar com os preparativos para mais um evento — diz quase como uma lamentação. — Ah! Qual é, Agnes? Você precisa sair mulher, precisa se divertir, dá para algum carinha. — Ela para o seu trabalho e me encara séria. — Sabe o que penso sobre sexo casual, não é? — Sei o que você acha sobre o sexo em si. Acredite amiga, se você não usar isso aí criará teias — ralho bem séria. Agnes me olha por um tempo e meneia a cabeça em um não lento.  — E quem disse que eu não uso? — Arqueio as sobrancelhas sugestivamente. — Pênis de borracha não conta, Agnes — resmungo. Ela larga o papel e me encara irritada. — Quem disse que não conta? É melhor que um namorado possessivo, controlador e… — Pode parar por aí! Estou falando sério, Agnes, você precisa sair, precisa se divertir, ver gente! Do jeito que você anda, ficará doente. — Exagero — retruca. Ela volta para os seus papéis e eu volto para o meu celular. Definitivamente trabalhar como assessora de alguém muito importante é gratificante, mas é muito, muito estressante também. Você tem que estar atenta as suas redes sociais, se livrar das imagens negativas, que surgem em alguma atitude inesperada, desenhar, projetar, arquitetar e moldar a imagem perfeita que levará o seu cliente ao topo. Contudo, com a Agnes, isso está sendo fácil demais. A mulher vive do escritório para casa e de casa para o escritório. O que custa ela manchar só um pouquinho essa reputação, para eu ter algum trabalho a fazer? Solto um suspiro audível. Ok, falei, falei e falei, mas vocês ainda não sabem quem sou eu. Olá, eu me chamo Flávia Simões, sou a assessora da Agnes Ferraço, como podem ver. Ela é uma produtora de moda conhecida mundialmente. Agnes faz eventos dentro e fora do país. É do tipo compulsiva mesmo, ela vive só para isso, mas nem sempre foi assim. Minha amiga já teve uma vida amorosa, com um cara chamado Adam Clive Parker; um empresário e banqueiro americano, que conheceu ainda na faculdade. O cara proporcionou a Agnes uma relação de contos de fadas por dois anos, mas em uma de suas inspeções, ela o pegou no flagra com uma d e suas modelos do Fashion Week, e isso já tem o quê, três anos? E desde então ela desistiu do amor, ou do sexo, ou dos dois. Agnes e eu somos amigas desde sempre, nos conhecemos praticamente no jardim de infância e só nos separamos durante a faculdade. Durante dois longos anos, construí uma carreira impecável, fui assessora de jogadores famosos, de atores de Hollywood, alguns cantores e apresentadores também. Estava ganhando muito, muito bem, até que uma proposta tentadora me trouxe até aqui. Hoje assessoro apenas a Agnes, e ela me paga o triplo do que eu ganhava com toda aquela clientela do meio artístico. Preocupa-me o fato de minha amiga e chefe ter perdido o seu brilho, a sua alegria e de ter desistido de viver o lado divertido da vida, digo de passagem. ┈──∙✿∙∙✿∙──∙┈ Uau, isso aqui está tão apertado que m*l consigo mexer o meu quadril, para dar uma viradinha! Calor humano é bom, é ótimo, mas isso aqui, Jesus!  — Viu a Agnes? Ela precisa olhar as modelos antes que entrem no palco. — Petrônio, um dos ajudantes de palco da Agnes pergunta, segurando uma prancheta e uma caneta nas mãos. O cheiro do perfume do cara é de deixar as calcinhas molhadas. Ui! O homem é uma delícia! — Deixa que entrego para ela — peço. Os olhos azuis anises, me encaram e sinto que estou mergulhando em um oceano profundo. Definitivamente preciso pegar o carinha, anseio sentir seu sabor, nem que seja uma lasquinha dele, mas eu preciso! — Tem alguma programação para essa noite? — questiono quando ele me entrega o material. O homem me lança um olhar sugestivo, e eu me derreto todinha por dentro. Delícia de homem! O quê? Não estou morta gente, sou solteira e tenho muito tempo livre para curtir, ok? Não acredito nessa história de príncipe encantado, mas espero encontrar um carinha legal, que bata com o meu perfil e quem sabe em um momento de loucura, nos casamos e temos filhos. Mas, enquanto esse príncipe não chega, eu vou curtindo, fazendo alguns estágios, para não fazer feio quando finalmente encontrá-lo, ou se ele me encontrar primeiro, vai saber? — Uma danceteria, Voguel — Ele diz, me despertando dos meus loucos e deliciosos pensamentos. Arregalo os olhos. Estou literalmente de boca aberta, o coração chega a alcançar a minha garganta em um pulo só. Voguel, é uma danceteria para troca de casais. Nunca fui lá, até porque não tenho um par para isso. Mas, saber que Petrônio curte esse tipo de coisa me deixou sem ar definitivamente. Minha cabeça chegou a viajar. Petrônio, um moreno alto, forte, com esses malditos olhos azuis, em uma cama redonda, com duas garotas, ou alguns casais… Sacudo minha cabeça de um lado para o outro, jogando os malditos e safados pensamentos para longe. Deus do céu, não adiantou muito o sacolejo, a coisa só piorou a minha situação. Estou vendo a mim, nessa maldita cama com o delicioso Petrônio, bem atrás de mim, enquanto… Ui! Parou, parou! Não posso pensar nessas coisas agora, não mesmo.  — Ok — digo meio sem jeito, pisco um olho para ele, e me viro de costas, saindo dali sobre os meus potentes saltos altos, rebolando na medida do possível no aperto da multidão de assessores, modelos e agentes no salão mediano. É quando subo as escadas e encontro o hall pequeno e lustroso, que me leva ao escritório da Agnes, que consigo respirar melhor, e pensar melhor também. p***a, eu disse sim, para um programa na Voguel? Tô ficando maluca, só pode! ┈──∙✿∙∙✿∙──∙┈ Meia hora de evento… A música eletrônica dita os passos firmes e, simultaneamente, graciosos das modelos, que exibem os novos passos da moda. Há uma onda gigante de flashes, inundando a todos no evento e eu só consigo pensar que em algumas horas estarei dentro da Voguel, com um belo par de olhos azuis anis e nem sei se tiro uma lasquinha dele, ou se ele tirará de mim… Ou se alguém fará isso por mim. Pai do céu, e se eu não gostar da troca? Sou desperta por um burburinho agitado no meio da multidão e olho imediatamente para o alto do palco. Agnes… Entro em pânico quando a vejo caída ao chão de madeira branca, lustrosa e imediatamente passo um rádio para os seguranças, seguindo apressada para o palco. — Ponham ela aqui — peço, apontando para o sofá que fica por trás das cortinas. — Wall, continue com o evento, eu cuido da Agnes — peço para a assistente de palco. Ela me mataria se soubesse que não levaram o evento adiante. — Ok. ┈──∙✿∙∙✿∙──∙┈ — Senhorita Agnes Ferraço — O médico diz, enquanto olha alguns papéis em suas mãos. Por um segundo ele olha de mim para a minha amiga e volta para os papéis. — Vejo que tem um problema com sua alimentação.  — Como assim? — perguntamos juntas.  — Suas taxas estão baixas demais — fala de um modo completamente profissional. Agnes sorri, ela parece aliviada. — Então está me dizendo que não tenho nenhum problema? Quer dizer, uma anemia não é nada de mais, certo? — O médico suspira, eu suspiro e ambos a encaramos.  — A coisa é bem mais séria do isso, senhorita. Está propensa a ter um diabetes, a glicemia está baixa além do normal, sem falar no seu colesterol. O que anda comendo? — Agnes dá de ombros. — Não sei, o que der. Sou uma pessoa bastante ocupada, doutor Prado. Não tenho tempo para avaliar minhas refeições! — resmunga. O médico larga os papéis em cima da cama de hospital e encara sua paciente seriamente. — Tenho uma coisa para lhe dizer, senhorita Ferraço. Se continuar dessa forma, acho melhor comprar logo o seu caixão. — O meu o quê? — Ela quase grita a pergunta. — Do jeito que está indo, pode ter um infarto a qualquer momento. Então, se não quiser correr esse risco, sugiro que arrume "tempo" para uma boa alimentação. — Noto um pouco de rispidez em sua resposta, mas está valendo. Agnes realmente precisa cair na real. — Viu o que ele disse? — Ela pergunta em um tom irritado, me olhando. Dou de ombros. — Você mereceu! — retruco e ela me lança um olhar possesso. — Não vem não, Flávia, eu não preciso ouvir isso de você também! — Então não pergunta! — E agora? — indaga — Agora, penso que vamos para casa. — A mulher solta um suspiro audível, pulando imediatamente da cama. — Ainda bem, odeio hospitais! — resmunga, colocando seus sapatos. Rolo os olhos com impaciência. ┈──∙✿∙∙✿∙──∙┈   — E a chefa, não quis vir? — Ana pergunta assim que entro no carro. Bufo de modo audível. É claro que não! Definitivamente Agnes parou de viver, no instante em Adam terminou com ela e isso já tem o quê, quase cinco anos? Meu Deus, o mundo não acabou não garota! Mas, fazer o que, né? A mulher está irredutível. — Nem a chamo mais — retruco com um tom sério. Eu realmente queria tirá-la de dentro desse mundinho só dela e trazê-la de volta a realidade nua e crua, mas desde que o casamento acabou, tudo se resume ao trabalho. Agnes é uma mulher jovem e muito bonita e ela merece uma segunda chance na vida. Se não for ao amor, que seja com uma boa trepada casual. O carro para em frente a uma danceteria muito conhecida por mim. Não, não é a Voguel e não, definitivamente o encontro não rolou, e não sei dizer se digo; “Obrigada Deus!” ou se lamento para o resto da minha vida. Vai que eu goste do movimento. Ana paga o táxi e nós seguimos imediatamente para dentro do prédio. O lugar está super lotado e não vejo uma mesa disponível para nós duas. — Eu me contento com um banquinho no bar e você? — Ana pergunta, olhando minuciosamente em todas as direções. — Por mim tudo bem, não vim assistir nada de camarote mesmo. Quero é encontrar um n**o lindo, me esfregar nele a noite toda, beber o meu drink e dançar até as pernas ficarem bambas. — Ana abre um largo sorriso. — Sei como as suas pernas vão ficar bambas — comenta, cheia de insinuações. Pisco um olho e estalo a língua, abrindo um sorriso presunçoso.  — Você me conhece. Uma hora depois de esquentar o banco perto do balcão, decido ir dançar. A música do momento é eletrizante e ela é tudo o que eu preciso para me soltar. Qual é, é sábado à noite e eu quero beber e curtir cada minuto! Enquanto jogo os meus braços para cima e mexo o meu corpo, deixo as ondas sonoras me levarem para onde elas quiserem. Vocês não fazem ideia de para onde elas me levaram. Um esbarrão forte me jogou para frente e automaticamente um braço musculoso alcançou a minha cintura, me impedindo que eu quebrasse a cara no chão, no meio da multidão. Ele me virou de frente e eu encarei a barba cheia e bem feita, e um par de olhos escuros me encararam com diversão. Suspirei. Sério, eu precisei suspirar.  — Adonis? — digo, recuperando os meus sentidos. Tá! Vocês devem estar pensando, é uma v***a mesmo! Mas, caiam nos braços de Adonis para vocês verem. Quero só ver se não vão ficar amolecidas como eu fiquei. Não, vocês precisam sentir a pegada desse homem.  — Está me seguindo, dona Flávia? — pergunta com tom de brincadeira. Sorrio. Só queria. — Oi! Pra você também! E não, estou aqui para me divertir. — Adonis, encontrei uma mesa — Alguém grita atrás dele. Adonis se afasta para falar com seu amigo, me dando uma bela visão do moreno, de porte atlético e com um olhar n***o, dominador. Olho de um para o outro. Deus do céu, os anjos da guerrilha desceram até aqui, só para mostrarem o quão gostosos eles são?! O que há com o Adonis, resolveu pegar todos os amigos delícias do mundo só para ele?! Eu hein, vai ser lindo, delicioso e gostoso assim lá no inferno! Resmungo internamente. Sinto as mãos do Adonis abandonar a minha cintura e fazer um gesto para o amigo, que me olha rapidamente e faz um gesto sutil com a cabeça, se afastando. — Preciso ir maluquinha, está sozinha? — Faço não com a cabeça. — Estou com uma amiga. — Ele sorri. Faz isso não Deus grego! Suplico internamente. — Porque você e sua amiga não vem para nossa mesa? Tem um carinha da nossa época que você vai gostar de ver. — Sorrio ainda mais amplo. — Na verdade, estou interessada em conhecer aquele que ainda não conheço. — Solto a insinuação.  — O Oliver? — Arqueio as sobrancelhas.  — Oliver? Ui! Até o nome é uma delícia! — falo e Adonis rir, inclinando a cabeça para trás.  — Você é mesmo uma maluquinha, sabia? — Ok, ok, algo que esqueci de mencionar para vocês. Flávia Simões não tem filtro, ela diz o que quer e o que pensa também. Mas, acredito que vocês já perceberam isso. 
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