capítulo 2

3089 Palavras
Alex NOVA IORQUE – ESTADOS UNIDOS Minha atenção está completamente voltada para a rua movimentada em frente ao café em que eu havia combinado de me encontrar com o João Ricardo. Virou uma espécie de passatempo vir até aqui e ficar observando o fluxo de carros que transitam por aqui, o engraçado é que sempre tem movimento, não importa o horário. — Animado para voltar ao Brasil? — meu amigo pergunta, chamando minha atenção. Lembro que eu não estou sozinho e olho para ele, processando sua pergunta e por fim dou de ombros. — Não diria animado, mas também não estou triste — explico. — No final vai te fazer bem voltar para o Brasil — diz e eu arqueio uma sobrancelha, querendo saber o que ele quer dizer com isso. — Respirar novos ares — explica e eu sorrio, concordando com sua colocação, talvez realmente me fizesse bem. João Ricardo é um amigo de longas datas, passamos por altos e baixos, tanto por conta da empresa, quanto por opiniões divergentes, mas nossa amizade provou ser forte o bastante para superar essas barreiras. Ele sabe que para mim ele sempre será mais que um amigo, ele é como um pai de coração. Nossa amizade é tão importante para mim, o apoio dele me dá tanta força, em diversas causas e momentos da minha vida, que não consigo pensar em como estou aqui se não fosse pelo seu apoio incondicional, principalmente quando perdi a Rafaela, minha esposa. O João e a esposa me puxaram do fundo do poço quando pensei que estava tudo acabado. Perder alguém que amamos é difícil, perder a esposa e o filho de uma vez é algo que eu não desejo nem ao meu pior inimigo. É uma dor inexplicável, não tem como explicar em palavras o que estamos sentindo, tudo que fazemos é apenas sentir. — Apesar de tudo, estou com saudades do Brasil, o calor me faz falta — falo, fugindo dos meus pensamentos. — Eu não diria que está fazendo aquele calor de 40 graus, mas o tempo está mais quente que Nova Iorque nesse instante. — Se eu puder andar sem sobretudo, meu amigo, estarei no paraíso — brinco e o João ri, em seguida ele me encara atentamente. — Louise te falou do jantar? — Ela me mandou uma mensagem notificando que faria um jantar de boas-vindas, mesmo eu tendo dito que não precisava. — Você conhece minha esposa, ela não aceita um “não” como resposta. Assinto, rindo. É incrível a maneira como eles dois se completam, é por isso que se dão tão bem, seja no amor, na amizade ou nos negócios. A cumplicidade dos dois me dá certa inveja, não vou mentir, quando conheci a Rafaela era isso que eu almejava em nosso relacionamento, essa confiança mútua, esse desejo que não se apagava mesmo depois dos pormenores da vida, porém não foi isso que tivemos. Apesar de todas as brigas, das curvas tortas que enfrentamos em nosso casamento, eu a amava e mesmo depois de quase dois anos após tê-la perdido, o sentimento ainda permanece em meu peito, mesmo que mais brando. — Mas me conte, como estão as coisas em Londres? — Resolvo mudar de assunto e falar de negócios. — Melhores do que encomenda, ontem ainda consegui almoçar com a Stephanny Miller, uma das designers de joias em ascensão no país. — Já ouvi falar dela, inclusive vi alguns dos desenhos dela, ela é muito boa. — Sim, ela é muito boa e inteligente, devo ressaltar. — Talvez seja uma boa tê-la na equipe de designers de Londres. — A deixei de sobreaviso — explica, tomando um gole de sua bebida. — Podemos aproveitar a minha volta para o Brasil para prepararmos o lançamento da próxima coleção da Amorim Joias, o que acha? — pergunto. — Uma oportunidade perfeita, me diga sua ideia e vamos ver se vai casar com algumas ideias que eu tenho em mente e no papel — fala, cruzando a perna. — Tenho absoluta certeza de que se as ideias não casarem nós daremos um jeito delas se relacionarem. — Isso é um fato meu amigo, isso é um fato. Sorrio, esse é um dos motivos para eu ter apostado tão alto no talento do João, nós dois somos ótimos separados, mas quando estamos juntos e unimos nossas ideias, somos imbatíveis. *** Me sirvo de uma taça de vinho e me sento em frente a lareira do meu apartamento, ligo o som e coloco uma playlist de música clássica apenas para que eu relaxe o corpo enquanto ouço. O dia foi muito produtivo, João e eu colocamos as ideias no papel e durante os próximos dias vamos condensar todas as informações até termos uma ideia concreta sobre a nossa próxima coleção de joias, mas a ideia está pré-definida em nossas cabeças, o que é meio caminho andado. Agora com todos os detalhes definidos e a minha volta para o Brasil confirmada, pedi para a minha secretária reservar minha passagem e a do João, para sexta-feira, quanto mais cedo melhor, assim eu estaria descansado para o jantar que a Louise insistiu em preparar para mim. Apesar de ter 41 anos, nunca gostei de me socializar com as pessoas diretamente, sempre foram a Louise e o João que iam às festas, eventos de lançamentos e beneficentes, mas meu amigo está cansado da parte da socialização e de ir representar a empresa em todos os lugares, o que me faz ter que aparecer mais vezes nesses eventos. João Ricardo já tem seus 53 anos e eu sei que a cada dia que se passa a vontade de se aposentar vem com força. Eu no lugar dele já teria feito isso, ele está com a vida ganha, tem dinheiro guardado, uma esposa que o ama e uma filha, que pelos relatos que ele me dá, é o seu maior orgulho. Eu não me lembro muito da Adele, acredito que a última vez em que a vi ela não tinha nem 14 anos, era apenas uma criança passando para a adolescência e juventude, e que ainda teria muitos percalços para enfrentar durante a vida. Porém, oito anos se passaram e por tudo que o João e a Louise falam da filha, ela está se tornando uma mulher inteligente e sensata, e eu fico feliz pelos meus amigos, afinal, nada melhor do que ver os filhos dando frutos. Meu celular começa a tocar e eu vejo o nome da minha mãe na tela, sorrio ao pensar que tem alguém mais animado do que o João para a minha volta ao Brasil, abaixo o volume do som e atendo a chamada. — Mãe — falo, sorrindo de lado. — Alex, querido, estava esperando você ligar. — Acabei me distraindo por aqui e perdi a hora — explico. — Já comprou a passagem de volta para o Brasil? — Já sim, dona Maitê. — Não tem como falar com ela e não colocar um sorriso no rosto, minha mãe é uma das maiores alegrias da minha vida e conversar com ela faz meus dias melhorarem em 200%. — Que maravilha, nem acredito que finalmente você vai voltar para casa, parece um sonho! — Fala isso como se eu tivesse 18 anos de idade — murmuro. — Eu sei, querido, mas me sinto sozinha sem você aqui, será maravilhoso quando você vier para cá. — Eu já disse que não seria problema se a senhora resolvesse morar comigo — alfineto. Já tinha falado para ela vir morar comigo várias vezes, na verdade, desde antes de perder a Rafaela, mas minha mãe é um pouco cabeça para mudanças, de acordo com ela, radicais. — Sei disso, meu bem, mas não saio daqui para morar em outro país nem que me paguem. — Sorrio ainda mais diante de sua resposta, é uma verdade incontestável essa. — Já mandei arrumar o seu quarto por aqui, tudo do jeito que você gosta. — Sabe que será por pouco tempo, não é? Apenas até que eu organize meu apartamento. — Infelizmente sei disso, mas nada pode apagar a minha alegria de que você ficará aqui em casa por pelo menos alguns dias. Seria muito simples pedir para que a Louise arrumasse alguém para organizar meu apartamento, mas eu não iria tirar a alegria da minha mãe de me ter em sua casa por alguns dias. Além do mais, será bom eu acompanhar a organização do meu apartamento pessoalmente, apesar de confiar no gosto de Louise, sei que posso encontrar algo que eu não goste, então optei por acompanhar de perto. — Louise te ligou? — pergunto, mesmo sabendo que seria impossível ela não ter ligado. — Sim, ela ligou! Estamos organizando o jantar de boas-vindas juntas, tenho certeza de que você vai gostar da pequena recepção que vamos preparar. — Eu tenho medo do que vocês podem aprontar juntas — confesso e ouço a risada gostosa dela do outro lado da linha. — Bobagem, querido. — Ela suspira em seguida e eu sei que ela está cansada. — Vai dormir mãe, já está tarde — falo. — Está certo, querido, vá dormir também, nos falamos mais amanhã. Irei preparar o meu chá e dormir. — Boa noite, mãe, amo a senhora. — Também te amo, querido. Até amanhã. — Até amanhã. Encerro a chamada e coloco o celular em cima da mesinha que havia no centro da sala. No fim das contas será bom passar um tempo com a minha mãe, já tinha dois anos que não nos víamos pessoalmente e estou com muitas saudades dela. Para ser bem sincero, voltar para o Brasil não será tão r**m assim. *** São exatamente seis da tarde, quando o avião pousa em solo brasileiro, por incrível que pareça o sol ainda não sumiu completamente, seus raios podem ser vistos claramente. Abro um sorriso de lado ao observar o céu, ele está com uma coloração alaranjada, aquela cor típica de pôr do sol, mas que me faz sentir certa nostalgia por estar de volta depois de alguns anos. Abaixo os óculos escuros e sorrio, me sentindo bem por estar em casa. — Bem-vindo de volta ao Brasil, meu amigo — João Ricardo diz, parando ao meu lado e colocando uma mão sobre meu ombro. — É bom estar de volta — concordo. João aponta para frente e começamos a caminhar em direção as esteiras para pegar nossas bagagens, mas não temos pressa, na verdade, para quem está de mudança eu estou muito tranquilo. Assim que pegamos nossas malas, seguimos em direção ao portão de desembarque. Paro de andar e, finalmente, respiro fundo. Não posso negar que me sinto em casa, é muito bom estar de volta. Tiro os óculos escuros e percorro o saguão à procura da minha mãe, que insistiu em vir me buscar junto com a Louise. Após alguns segundos de procura, sorrio ao ver uma senhora acenando alegremente para mim. — Sua mãe parece uma criança, acho que ela só não pula de felicidade ao te ver porque a idade não permite — João Ricardo brinca e eu concordo. — Tenho que concordar com essa teoria. — Sorrio e sigo na direção da senhora que agora abre os braços para me receber. — Alex, meu filho! — dona Maitê exclama ao me abraçar apertado. — Mãe, que saudade que eu estava da senhora — falo, apertando-a contra mim. Abraço de mãe é uma coisa que nunca vamos encontrar em outro lugar, não importa quanto tempo se passe ou quantas pessoas passem por nossa vida, abraço de mãe é algo único e especial, feito especialmente para nos dar uma dose de ânimo e fortalecimento, além de ser repleto de amor, carinho e saudades. — Eu também, meu filho, eu também. — Ela se afasta de mim e segura meu rosto. — Nem acredito que você está aqui, finalmente minhas preces foram atendidas. — Olha o exagero, dona Maitê — alerto e ela apenas abana com a mão e se vira para o meu amigo, que está abraçado junto com a esposa. — João Ricardo, meu querido, como você está? — pergunta, sorrindo. — Vou muito bem, dona Maitê e a senhora? — Muito melhor agora, ainda não acredito que você conseguiu trazer o Alex de volta para o Brasil. — Mãe, a senhora fala como se o João tivesse me amarrado e me colocado à força dentro do avião — murmuro. — Querido, esse era o plano se você não tivesse cooperado conosco — diz, sorrindo e eu balanço a cabeça em negação. — Como foi de viagem, Alex? — Louise pergunta, se aproximando para me dar um abraço. — Tranquila e confortável, como sempre — falo. — Que bom! — Ela se afasta e já vai segurar a mão do marido, que olha para ela completamente apaixonado, eles parecem um casal jovem que não aguenta mais a saudade um do outro. — Vamos levar vocês para casa. — Não queremos incomodar — falo, já sabendo que meu discurso será inútil. — Não vai incomodar de jeito nenhum. — Louise se vira para o marido. — Vamos, meu amor? — Vamos querida. — Ele beija a mão da esposa e seguem caminho na frente, enquanto eu ando ao lado da minha mãe. — Tão lindos juntos — murmura ela, observando nossos amigos andarem mais à frente, praticamente abraçados. — Não acha que está na hora de você procurar outra mulher também, querido? — Não comece, mãe — peço. — Apenas comentei, não é bom ficar sozinho, meu filho, e você ainda é jovem, tem a vida inteira pela frente, seria interessante se você encontrasse alguém também. — Dona Maitê, nem pense em bancar o cupido para cima de mim, já estou meio grandinho para ter encontros arrumados pela minha própria mãe. — Nem seria assim, Alex, eu apenas te apresentaria algumas mulheres, que eu tenho certeza de que mexeriam com seu coração e você decidiria se alguma era adequada ou não para você. — Como um leilão? — brinco e recebo um tapa no braço. — Ai, mãe! — Não seja tão baixo, Alex! Não será assim. — Certo, mas me diga, como pode ter tanta certeza das mulheres que balançariam meu coração? — pergunto, arqueando uma sobrancelha para ela. — Esqueceu que sou sua mãe, Alex? Te conheço a vida inteira — diz, erguendo o dedo para mim e tenho que rir, ela tem um ponto bem convincente. — E qual seria o tipo de mulher ideal para mim? — resolvo perguntar. — O completo oposto da Rafaela — fala de uma vez e isso me faz parar de andar. — Por que o oposto dela? — questiono, sem entender. — Querido, sei que você amava a Rafaela, eu também gostava dela, achava uma mulher comprometida com os negócios e com você, mas apesar de tudo isso, ela ainda não era mulher que fará o seu coração balançar por completo. Sorrio de lado. — E isso existe, mãe? — questiono. — Claro que existe, querido. O amor não é algo calmo ou brando, ele é avassalador. Destruidor e reconstrutor na mesma medida, ele é acalento para os dias maus e o fogo consumidor para os dias calmos. Ele é tudo aquilo que nos faz querer viver intensamente, o amor é o fogo que aquece nossos corações quando pensamos que talvez nada mais possa os aquecer. — Está apaixonada, dona Maitê? — pergunto, sorrindo. — Deixe de bobagem menino, acha que eu tenho idade para me envolver com alguém? — Não dizem por aí que o amor não tem idade? — Querido, se eu fosse uns vinte anos mais jovem pode ter certeza de que eu já teria encontrado outra pessoa, mas como não sou irei seguir meu caminho tentando fazê-lo encontrar um novo amor. — E se eu não quiser um novo amor? — indago e volto a olhar para os meus amigos. É nítida a felicidade de ambos ao se reencontrarem. Às vezes me dá vontade de procurar um amor assim, mas eu sei que será difícil, não são todas as pessoas que são abençoadas com um verdadeiro encontro de almas como Louise e João Ricardo foram. — Alex, Alex... Quando você menos esperar o amor vai aparecer na sua frente e você não vai perceber, mas é pra isso que estou aqui, quando isso acontecer e vai acontecer, irei fazer com que perceba que vivemos apenas uma vez e não temos podemos desperdiçar as oportunidades que a vida nos dá. — A senhora fala como se eu fosse conhecer a mulher que vai mudar a minha vida da noite para o dia — argumento. — É um pressentimento, não sabemos o dia de amanhã, você pode esbarrar em alguém e, como em um passe de mágica, descobrir que esse alguém é a mulher que você quer viver o resto de sua vida. — A senhora tem lido livros de romance demais — alerto. — É o curso da vida, Alex, é o curso da vida! Paramos de andar assim que nos aproximamos do carro da Louise e do João. O motorista prontamente vem pegar nossas bagagens e coloca no porta-malas do carro, ajudo-o no que posso e Louise se vira para minha mãe e eu, sorrindo. — O que vocês tanto conversavam lá atrás? — Não acha, querida, que está na hora do Alex arrumar outra pessoa? — Maitê pergunta para a amiga. — Sim, eu acho. Viver sozinho não é bom, tem que aproveitar enquanto ainda está jovem e bonito. — Bonito posso até ser — falo ao descer os óculos escuros para o rosto. — Jovem já não tenho tanta certeza — brinco, fazendo-as rir. A verdade é que quanto mais distante de relacionamentos eu estiver, melhor eu estarei. Uma vida a dois pode ser extremamente complicada, ainda mais se a outra pessoa não estiver disposta a se entregar 100% em um relacionamento. Como eu disse para a minha mãe, eu não quero encontrar um novo amor. Eu não vejo m*l em seguir minha vida sozinho, apenas conhecendo mulheres aleatoriamente. Eu já coloquei na minha cabeça, se não for para conhecer a mulher que mudará completamente a minha vida, que me fará enxergar que o amor é algo que eu posso, como minha mãe mesmo falou, destruir e reconstruir com a mesma intensidade, eu prefiro continuar do jeito que estou. E conforme os dias se passam eu tenho cada vez mais certeza de que estar sozinho é a minha melhor escolha.
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