Capítulo 23

1357 Palavras
Continuação Benjamim Narrando Dandara parecia estar no seu habitat natural. Com toda a energia que tinha, me puxou pela mão e me levou até o bar. O ambiente estava lotado, cheio de gente falando alto e rindo. Ela se inclinou no balcão, chamou a atenção do garçom, e pediu duas bebidas: uma pra ela, outra pra mim. Enquanto esperávamos, olhei ao redor, tentando não parecer deslocado. Dandara não parava de falar sobre como aquele baile era incrível e como eu precisava me soltar mais. Sorri sem graça, mas a verdade é que meu nervosismo só aumentava. O lugar era intenso, diferente de tudo que eu já tinha vivido, e eu sentia uma tensão crescente no ar, como se estivesse sendo observado. Quando o garçom colocou as bebidas no balcão, Dandara abriu a carteira pra pagar, mas uma voz masculina atrás de mim a interrompeu: — Pode deixar por conta da casa. Fiquei imóvel por alguns segundos. Conhecia aquela voz. Meu estômago afundou, e um arrepio subiu pela minha espinha. Me virei devagar e lá estava ele: Jacaré. Vestido como sempre, impecável e intimidador, mas havia algo no jeito que ele me olhava. Era diferente. Como se ele estivesse me estudando, analisando cada detalhe. Seus olhos tinham um brilho intenso, quase... predatório. Aquele olhar me deixou desconfortável de um jeito estranho. Era como se ele conseguisse atravessar minhas barreiras, expondo coisas dentro de mim que eu nem sabia que existiam. Senti meu rosto esquentar, e logo o calor se espalhou pelo resto do corpo. Meu coração começou a bater mais forte, e eu só conseguia pensar no quanto queria fugir daquele olhar. — Não precisava — murmurei, tentando soar casual, mas minha voz saiu mais baixa do que eu esperava. Ele apenas sorriu, de um jeito que me fez pensar se ele sabia exatamente o efeito que tinha sobre mim. Jacaré ergueu o queixo, como se estivesse testando minha reação. — Não custa nada — respondeu com uma calma que só tornava aquilo tudo mais inquietante. Dandara, alheia à tensão que eu estava sentindo, apenas agradeceu, pegou nossas bebidas e continuou falando, como se nada tivesse acontecido. Eu, por outro lado, ainda sentia aquele calor desconfortável dentro de mim. A ideia de encarar Jacaré de novo me assustava, então me virei para o balcão, tentando evitar qualquer contato visual. Por que ele tinha esse efeito sobre mim? E o que era aquele olhar? Balbuciei algo para Dandara e tomei um longo gole da minha bebida, tentando me recompor. Mas a sensação de que estava sendo vigiado ainda não tinha ido embora. Quando dei por mim, Jacaré já tinha dado a volta no bar e estava bem perto de mim. Podia sentir a força da presença dele, quase esmagadora. Ele olhou pra mim como quem já tinha uma resposta planejada, mas queria me desafiar. — Vem, moleque. Vamos subir no camarote, trocar uma ideia. — Sua voz era calma, mas carregada de autoridade. Eu já abria a boca pra negar, mas, antes que pudesse dizer qualquer coisa, Dandara sorriu animada e respondeu por mim: — Vamos sim, Jacaré! Tava querendo ver como é lá de cima! Olhei pra ela, incrédulo. Meus olhos transmitiam tudo o que minha boca queria gritar: Por quê?! Jacaré pareceu notar minha frustração, e o sorriso sacana no rosto dele me deixou ainda mais desconcertado. Ele sabia que eu não queria ir, mas isso parecia lhe dar ainda mais prazer. Sem escolha, segui Dandara enquanto subíamos as escadas até o camarote. Não consegui segurar a irritação e comecei a brigar com ela no meio do caminho. — Você não precisava ter aceitado! Eu tava de boa lá embaixo, por que me colocou nessa? — sibilei baixo, pra não ser ouvido pelos outros. Dandara olhou pra mim e deu risada como se eu estivesse exagerando. — Relaxa, Ben. É só um camarote, e, pelo visto, o dono do baile quer te tratar bem. Aproveita, não mata ninguém! — Ela piscou pra mim, fazendo pouco caso da minha ansiedade. Quando chegamos ao camarote, meus olhos rapidamente absorveram o ambiente. Havia muitos homens espalhados, vários deles com garotas sentadas em seus colos, rindo e flertando enquanto a música ensurdecedora ecoava ao redor. O ar tinha um cheiro forte de perfume misturado com álcool e tabaco. No centro do camarote, Jacaré sentou-se em uma grande cadeira, quase como se fosse um trono. Ele estava relaxado, mas ainda mantinha aquela postura de quem dominava tudo e todos ao seu redor. Apesar de todo o caos à volta, o olhar dele continuava focado em mim, analisando, quase saboreando a minha presença ali. Foi nesse momento que algo inesperado aconteceu. Uma mulher com uma saia absurdamente curta atravessou o espaço, parou na frente dele, e, sem pedir permissão, sentou-se no colo dele. Não era qualquer sentada; ela se encaixou nele de uma maneira quase teatral, passando os braços em volta do pescoço dele. Aquilo, no meio de toda a intensidade do ambiente, me pegou de surpresa. Antes mesmo que eu processasse o que estava acontecendo, Jacaré segurou a mulher pelos cabelos de um jeito firme, mas não agressivo, e a puxou pra longe dele. — Sai fora, garota. Não tô com cabeça pra isso hoje — ele disse, claramente entediado, enquanto empurrava a mulher para o lado, sem se importar com a indignação estampada no rosto dela. Uma parte de mim queria rir da situação, mas, ao mesmo tempo, eu me senti... incomodado. Não entendi de onde vinha aquela sensação, mas ver aquilo me causou um certo desconforto. Como se algo dentro de mim protestasse, mas não tivesse coragem de se manifestar. Desviei o olhar, tomando mais um gole da bebida pra tentar distrair minha mente confusa. Eu estava tentando focar em qualquer coisa que não fosse Jacaré, mas era impossível. Era como se ele tomasse conta do ambiente sem precisar de esforço. A sensação desconfortável que tinha sentido ao vê-lo tirar a mulher de cima não passava, mas eu tentava disfarçar. Ele chamou Jaguatirica com um simples gesto, e, como se já soubesse o que fazer, o cara veio direto na nossa direção com dois copos na mão — Bebida enviada pelo chefe - disse Jaguatirica com um meio sorriso. Dandara, sendo a Dandara, sorriu e pegou a dela sem pensar duas vezes. Eu hesitei, olhei para o copo e depois para Jaguatirica. Antes que eu pudesse negar, Dandara me cutucou com o cotovelo. - Aceita, Ben. Não custa nada! Suspirei, sem querer chamar atenção, e peguei a bebida. Olhei para Jacaré. Ele estava lá, me observando com o mesmo sorriso sacana no rosto, como se soubesse que eu estava desconfortável, mas aproveitasse isso. Quando ele viu que eu aceitei a bebida, balançou a cabeça em aprovação e se levantou. Meu corpo automaticamente travou quando percebi que ele estava vindo na minha direção. A música alta, as luzes piscando, tudo ao redor parecia ficar em segundo plano enquanto Jacaré se aproximava de mim com a confiança de quem sabia o efeito que causava. Ele parou tão perto que senti o perfume dele, uma mistura de algo amadeirado e intenso, como ele. Meu coração começou a acelerar, e antes que eu pudesse pensar em algo para dizer, ele se inclinou em minha direção, encostando os lábios perto do meu ouvido. — Ë tudo por conta da casa, moleque -ele sussurrou, a voz grave e rouca me fazendo arrepiar da cabeça aos pés. Antes que eu pudesse me afastar, processar ou sequer reagir, ele deu uma mordida leve na minha orelha, rápida e inesperada. O calor subiu pelo meu corpo, deixando-me completamente fora de controle. Ele se afastou com o mesmo sorriso malicioso, olhando para mim com a satisfação de quem sabia exatamente o que tinha feito. Eu estava ofegante, lutando contra a sensação avassaladora de calor e nervosismo que tomou conta de mim. Meu coração parecia que ia explodir, e eu não conseguia decidir se queria fugir dali ou encará-lo de volta com a mesma intensidade. Peguei a bebida e tomei um gole rápido, na tentativa de me acalmar, mas sabia que nada apagaria a marca que aquele momento deixaria em mim.
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